18 de novembro de 2022

Mundial 2022: Previsão Grupo E

Em contagem decrescente para o Mundial 2022, prosseguimos a sequência de 8 artigos de análise detalhada a cada um dos grupos da competição. Neles, pretendemos realizar uma sumária contextualização de cada selecção, identificando forças e fraquezas, esquematizando como deve jogar cada equipa, até que fase imaginamos que chegue e que jogadores acreditamos que poderão ser destaques.

Chegados ao Grupo E, encontramos um quarteto de equipas bastante prometedor, com formas de estar e de jogar bem distintas. A Espanha quererá exercer controlo e dominar o esférico durante 65% do tempo, mas parece faltar à turma de Luis Enrique aquilo que a Alemanha tem: poder de fogo e gente que marque golos. Mas se na Espanha há equilíbrio até a mais, a Alemanha continua a ser uma seleção bastante imprevisível e desequilibrada.
    Ao olhar para os 2 favoritos deste Grupo E, salta à vista o ADN Barcelona e ADN Bayern Munique. A Espanha abusará sempre da vantagem de poder ter em simultâneo no onze inicial Pedri, Busquets e Gavi, três médios incríveis e que treinam juntos todo o ano, enquanto que Flick pode mesmo incorporar 7 jogadores (Neuer, Kimmich, Goretzka, Musiala, Sané, Müller e Gnabry) do campeão bávaro no seu 11. É quase batota.
    O apuramento foi tranquilo para ambas as equipas, e na Liga das Nações nuestros hermanos superiorizaram-se a Portugal, enquanto que a Alemanha ficou atrás da Itália e da Hungria.

    Mas a Alemanha e a Espanha não vão jogar sozinhas neste Grupo, e Japão e Costa Rica têm óptimas características para incomodar, respectivamente, germânicos e espanhóis. Seguramente a Mannschaft não quer reviver contra Minamino, Morita e companhia o chocante 0-2 de 2018 contra a igualmente asiática Coreia do Sul, ainda na fase de grupos.

    Sumariamente, julgamos que Espanha e Alemanha passarão (pode dar-se o caso do 2.º lugar ser mais interessante do que o 1.º) mas acreditamos que a energia do Japão a abrir por completo o jogo contra a Alemanha, e o bloco compacto da Costa Rica, explorando o espaço central-lateral da defesa da Espanha em contra-ataque podem reservar um ou dois jogos de fazer manchete.

    Cá vai então a análise completa ao Grupo E:


1. ESPANHA  
(Previsão: Oitavos-de-final, eliminada pela Croácia)

  • Guarda-Redes: Unai Simón (Athletic Bilbao), David Raya (Brentford), Robert Sánchez (Brighton)
  • Defesas: Dani Carvajal (Real Madrid)), César Azpilicueta (Chelsea), Éric García (Manchester City), Pau Torres (Villarreal), Aymeric Laporte (Manchester City), Hugo Guillamón (Valência), Alejandro Baldé (Barcelona), Jordi Alba (Barcelona)
  • Médios: Sergio Busquets (Barcelona), Rodri (Manchester City), Koke (Atlético Madrid), Pedri (Barcelona), Gavi (Barcelona), Marcos Llorente (Atlético Madrid), Carlos Soler (PSG)
  • Extremos/ Avançados: Pablo Sarabia (PSG), Dani Olmo (Leipzig), Marco Asensio (Real Madrid), Nico Williams (Athletic Bilbao), Yéremy Pino (Villarreal), Ansu Fati (Barcelona), Ferran Torres (Barcelona), Álvaro Morata (Atlético Madrid)
Seleccionador: Luis Enrique;
Baixa: José Gayá; Ausências: Thiago Alcântara, Álex Grimaldo

Forças: Identidade enraizada e tremendo benefício de poder exercer controlo e saber sempre o que fazer ao esférico com Pedri, Busquets e Gavi (trio do Barcelona) no centro de tudo;
Fraquezas: Espanha domina por completo o jogo entre as duas áreas, mas os seus centrais (sobretudo se Éric García for titular) deixam a baliza algo exposta e na grande área adversária falta maior poder de fogo para materializar toda a posse de bola e criação de oportunidades.

Equipa-Base (4-3-3): U. Simón; Carvajal, Laporte, P. Torres, J. Alba; Busquets, Pedri, Gavi; Sarabia, F. Torres, Morata

Todos conseguimos adivinhar, mais ou menos, como é que a Espanha de Luis Enrique vai jogar. Óptima circulação, elevada posse de bola, procura constante e progressiva da melhor linha de passe (Pedri é demasiado bom). Mas tirando as seleções carregadas de craques como o Brasil e a França, ou conjuntos organizados e harmoniosos como a Argentina, Dinamarca ou Croácia, ninguém parece saber na prática como contrariar o que a Espanha quer fazer. E faz.
    Fiéis ao seu sagrado 4-3-3, os pupilos do streamer Luis Enrique têm no trio de médios a sua maior força, e a dupla Laporte-Pau Torres tem qualidade (por favor, que Éric García fique no banco). Na frente, La Roja tem diversos perfis e vemos alguns jovens ou elementos desaproveitados nos clubes (factor irrelevante para Enrique) a surgir em bom plano. Fosse Álvaro Morata um avançado melhor e quase ninguém parava esta Espanha.

Destaques Individuais (Previsão):


    Pedri, Sergio Busquets e Gavi valem o bilhete ou, no nosso caso, o ligar da televisão. O trio de médios do Barça, Sergio um trintão (34 anos) e os dois miúdos uns absolutos foras-de-série com 19 e 18 anos, vai deixar os adversários tontos.
    A um ponta de lança de distância de ser uma super-seleção (e será que não é, mesmo assim?), a Espanha pode encontrar em Ansu Fati um match winner graças a situações de 1 para 1, pode elevar Marco Asensio (há poucos anos parecia estar na calha para ser regularmente Top-10 da Bola de Ouro) a um estatuto incomparável ao castigo quase diário do banco que tem no Santiago Bernabéu, e poderemos ver Nico Williams a desequilibrar a partir do banco com a sua velocidade quase contra-natura numa Espanha cirúrgica mas que só procura aplicar "esticões" no jogo numa fase mais adiantada.


2. ALEMANHA  
(Previsão: Finalista vencido)

  • Guarda-Redes: Manuel Neuer (Bayern Munique), Marc-André Ter Stegen (Barcelona), Kevin Trapp (Eintracht Frankfurt)
  • Defesas: Lukas Klostermann (Leipzig), Thilo Kehrer (West Ham), Matthias Ginter (Friburgo), Niklas Süle (Borussia Dortmund), Antonio Rüdiger (Real Madrid), Nico Schlotterbeck (Borussia Dortmund), Armel Bella-Kotchap (Southampton), David Raum (Leipzig), Christian Günter (Friburgo)
  • Médios: Joshua Kimmich (Bayern Munique), Ilkay Gündogan (Manchester City), Leon Goretkza (Bayern Munique), Mario Götze (Eintracht Frankfurt), Julian Brandt (Borussia Dortmund), Jamal Musiala (Bayern Munique)
  • Extremos/ Avançados: Jonas Hofmann (Gladbach), Thomas Müller (Bayern Munique), Leroy Sané (Bayern Munique), Sèrge Gnabry (Bayern Munique), Karim Adeyemi (Borussia Dortmund), Kai Havertz (Chelsea), Youssoufa Moukoko (Borussia Dortmund), Niclas Füllkrug (Werder Bremen)
Seleccionador: Hansi Flick;
Baixa: Timo Werner

Forças: Enorme vantagem de Flick poder alinhar, se assim entender, com 7 jogadores do Bayern Munique, bebendo do entrosamento entre estes; Joshua Kimmich vai finalmente alinhar a médio centro, onde tanto gosta e donde consegue exercer brutal influência;
Fraquezas: Defesa muito inferior ao ataque, em especial do lado direito (adaptação de Jonas Hofmann é uma possibilidade); Craques como Sané e Gnabry são muito imprevisíveis.

Equipa-Base (4-2-3-1): Neuer; J. Hofmann, Süle, Rüdiger, Raum; Kimmich, Goretkza (Gündogan); Müller (Havertz), Musiala, Sané; Gnabry

A ideia de Löw com 3 centrais e Gosens e Kimmich nos corredores não correu bem no Europeu, servindo apenas para violar Portugal. O sucessor Flick optou pelo seu tradicional 4-2-3-1 e só o facto desta Alemanha poder ter tanto Bayern é que nos faz acreditar num trajecto tão duradouro.
    Equipa desequilibrada, a Alemanha continua a ter nas luvas e na (boa) loucura de Neuer o seu ponto de partida. Rüdiger é um central de topo, mas nenhuma das opções para seu companheiro convencem a 100%. O mesmo acontece nas laterais: David Raum deve ser o lateral esquerdo do Leipzig. Óptimo a cruzar, é muito ofensivo, o que pode impedir a melhor solução para o deficitário posto de lateral direito, que seria adaptar o extremo do Gladabach, Jonas Hofmann.
    Do meio-campo para a frente, a equipa joga de olhos fechados. O 2-3-1 pode até ser constituído apenas por jogadores da Baviera (Kimmich, Goretzka; Müller, Musiala, Sané; Gnabry) mas é natural que Flick acabe também por considerar Gündogan e Havertz, tal como também Werner estaria às portas do onze se não tivesse contraído uma lesão.

Destaques Individuais (Previsão):


    Se a Alemanha chegar longe, Jamal Musiala será o jovem jogador do torneio. Com a camisola 14, o médio ofensivo de 19 anos do Bayern é um jogador raríssimo e os seus números esta época (12 golos e 9 assistências) demonstram bem o momento de forma que atravessa. E muito vai pesar o momento neste Mundial, ainda mais do que nos outros.
    Indissociável de uma boa campanha germânica será o contributo de Joshua Kimmich. O médio defensivo é o pensador do jogo alemão, um exímio cobrador de cantos e livres, e um visionário lançador da velocidade de Leroy Sané. Esta Alemanha não tem Kroos, mas tem hoje Kimmich e é bom vê-lo a médio e não a lateral. Quanto à gazela Sané, falar dele é falar de um dos jogadores mais imprevisíveis deste Mundial - se estiver bem, ninguém o apanha e começa a marcar golos de todo o lado, mas também pode simplesmente passar ao lado.
    Thomas Müller, que talvez acabe por alternar entre o banco e o 11, chega ao Qatar como o melhor marcador em mundiais entre os jogadores ainda no activo. Tem 10 golos e quererá seguramente ampliar a sua conta pessoal.
    Antonio Rüdiger é uma das poucas garantias de segurança numa equipa profundamente viciada em atacar, e se Flick quiser ir mesmo all-in numa máquina trituradora que acabará por se expor em demasia então vamos mesmo ter Jonas Hofmann e David Raum como laterais.


3. JAPÃO  

  • Guarda-Redes: Shuichi Gonda (Shimizu S-Pulse), Eiji Kawashima (Estrasburgo), Daniel Schmidt (Sint-Truiden)
  • Defesas: Hiroki Sakai (Urawa Reds), Miki Yamane (Kawasaki Frontale), Takehiro Tomiyasu (Arsenal), Maya Yoshida (Schalke 04), Ko Itakura (Gladbach), Hiroki Ito (Estugarda), Shogo Taniguchi (Kawasaki Frontale), Yuto Nagatomo (FC Tokyo)
  • Médios: Wataru Endo (Estugarda), Hidemasa Morita (Sporting), Yuki Soma (Nagoya Grampus), Ao Tanaka (Fortuna Düsseldorf), Gabu Shibasaki (Leganés), Daichi Kamada (Eintracht Frankfurt)
  • Extremos: Takuma Asano (Bochum), Ritsu Doan (Friburgo), Kaoru Mitoma (Brighton), Takumi Minamino (Mónaco), Junya Ito (Stade Reims), Takefusa Kubo (Real Sociedad), Daizen Maeda (Celtic), Shuto Mashino (Shonan Bellmare), Ayase Ueda (Cercle Brugge)
Seleccionador: Hajime Moriyasu;

Forças: Nota artística no ataque, com a habitual qualidade de recepção e visão de jogo nipónica; Pressão em todo o campo, podendo enervar as favoritas Espanha e Alemanha;
Fraquezas: Melhor fórmula ainda por encontrar para o ataque, tendo Moriyasu alguma tendência para ignorar talentos como Kamada.

Equipa-Base (4-3-3): Schmidt (Gonda); Sakai, Tomiyasu, Yoshida, Nagatomo; Endo, Morita, Kamada; Minamino, Mitoma, Ito (Maeda)

Hajime Moriyasu não convence os japoneses. O selecionador nipónico premeia quem luta, quem pressiona e quem tem físico, mas hesita na hora de confiar nos frágeis desequilibradores carregados de técnica.
    Com um corredor central defensivo forte (Endo como trinco e a dupla Tomiyasu-Yoshida), o Japão tem jogadores como o sportinguista Morita que conseguem acrescentar em todas as vertentes do jogo, mas pensar na melhor versão do país do Sol nascente é pensar na eletricidade e futebol de desenhos animados de Minamino, Mitoma e Kamada.

Destaques Individuais (Previsão):


    Takumi Minamino não resultou no Liverpool de Klopp, mas foi parar a Anfield por arrasar o clube da cidade dos Beatles quando representava o Salzburgo. Neste Mundial, o número 10 pode revelar-se um tormento para Alemanha e Espanha.
    Directamente da Premier League chega Kaoru Mitoma, extremo do Brighton que faz da simplicidade a sua principal arma. Mais do que habituado a competir com alemães está o trinco Wataru Endo (Estugarda), Takehiro Tomiyasu levará consigo toda a confiança que neste momento os jogadores do Arsenal têm, devendo porém actuar a central e não a lateral direito, e finalmente Daichi Kamada está longe de ser uma presença certa no 11 mas tê-lo no banco guardado para enfrentar jogadores cansados nas segundas partes pode ser apetecível.


4. COSTA RICA  


  • Guarda-Redes: Keylor Navas (PSG), Estebán Alvarado (Herediano), Patrick Sequeira (Real Unión)
  • Defesas: Carlos Martínez (San Carlos), Keysher Fuller (Herediano), Juan Pablo Vargas (Millionarios), Óscar Duarte (Al-Wehda), Kendall Watson (Saprissa), Francisco Calvo (Konyaspor), Bryan Oviedo (Real Salt Lake), Ronald Matarrita (FC Cincinnati)
  • Médios: Douglas López (Herediano), Daniel Chacón (Colorado Rapids), Yeltsin Tejeda (Herediano), Youstin Salas (Saprissa), Celso Borges (Alajuelense), Roan Wilson (Municipal Grecia), Álvaro Zamora (Saprissa), Gerson Torres (Herediano), Brandon Aguilera (Guanacasteca)
  • Extremos/ Avançados: Bryan Ruiz (Alajuelense), Johan Venegas (Alajuelense), Jewison Bennette (Sunderland), Anthony Hernández (Puntarenas FC), Joel Campbell (Club León), Anthony Contreras (Herediano)
Seleccionador: Luis Fernando Suárez;

Forças: Equipa confortável e preparada para deixar os minutos correr sem bola; Keylor Navas é um dos guarda-redes mais subvalorizados no mundo;
Fraquezas: Ataque tímido; Jogadores mais influentes estão em fim de carreira e muitos já em campeonatos periféricos.

Equipa-Base (4-5-1): K. Navas; Martínez, Calvo, Duarte, Oviedo; Bennette, Borges, Tejeda, Torres, Campbell; Contreras

Lembram-se quando a Costa Rica chocou o mundo e ficou em 1.º lugar no "Grupo da Morte" em 2014? Inglaterra, Itália e Uruguai ficaram todos atrás do milagre costa-riquenho, à data com Keylor Navas como máximo destaque e elementos como Campbell, Tejeda e Giancarlo González a apresentarem-se ao mundo.
    Dois mundiais depois, a Costa Rica surge com vários elementos dessa mesma geração já na pré-reforma, prontos agora para passar o testemunho para Bennette e Contreras.
    Desta vez, não esperamos um feito histórico como no Mundial do Brasil, mas é bem possível que a Espanha, em princípio mais do que a Alemanha, sofra para ultrapassar Keylor Navas e os seus soldados.

Destaques Individuais (Previsão):


    Simplificando, Keylor Navas procurará adiar o golo o mais possível, ele que merecia muito mais respeito tendo sido decisivo em mais do que uma Liga dos Campeões do Real Madrid. Jewison Bennette é o novo talento do futebol costa-riquenho, e Francisco Calvo pode atrair muitas atenções sendo o grande defesa e "patrão" desta geração de 2022.

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