18 de janeiro de 2017

Crítica: Manchester by the Sea

A CAMINHO DOS ÓSCARES 2017
Realizador: Kenneth Lonergan
Argumento: Kenneth Lonergan
Elenco: Casey Affleck, Lucas Hedges, Michelle Williams, Kyle Chandler
Classificação IMDb: 7.9 | Metascore: 96 | RottenTomatoes: 96%
Classificação Barba Por Fazer: 84


    Depois de You Can Count On Me (2000) e Margaret (2011), Kenneth Lonergan voltou à carga com um Drama composto por problemas reais, pessoas palpáveis que podemos ver no nosso dia-a-dia e uma personagem principal condenada a sofrer, agarrado a um passado asfixiante e traumatizante.
    No centro de 'Manchester by the Sea' está Casey Affleck que, na pele de Lee Chandler, agarra o filme com a força com que deverá segurar o Óscar de Melhor Actor daqui a pouco mais de um mês. Lonergan mostra-nos este Lee Chandler como um porteiro faz-tudo, isolado de tudo e todos, numa rotina silenciosa que só é quebrada quando bebe demais e procura que o mundo o castigue com a mesma agressividade com que ele o incomoda. Tudo muda quando o irmão, Joe (Kyle Chandler), morre com problemas cardíacos para os quais toda a família já estava alerta.
    A viagem de regresso às suas origens, Manchester, torna-se um turbilhão que Lee encara em modo panela de pressão - ao luto pela morte do irmão junta a inesperada obrigação de ter sido escolhido como tutor do sobrinho, Patrick (Lucas Hedges, uma das revelações deste ano no Cinema), e um reencontro indesejado e penoso com a ex-mulher Randi (Michelle Williams), numa cidade em que o nome de Lee Chandler ecoa como se de um fantasma ele se tratasse.
    Um dos pontos fortes de 'Manchester by the Sea', gerador de uma tensão fundamental na construção da personagem de Casey Affleck, são as pontuais analepses que nos mostram as camadas de sofrimento e culpa que o protagonista carrega no presente. À medida que a música clássica (escolha talvez desadequada em algumas cenas, embora agigante o clímax dramático prematuro do filme) acompanha a relação de Lee com o sobrinho, uma segunda oportunidade, assistimos a vários apontamentos de humor, com Lonergan a desrespeitar propositadamente os tempos das coisas e a fazer o tom do filme flutuar de um modo a que o espectador não está habituado.
    A dinâmica entre Casey Affleck e Lucas Hedges é um dos destaques do filme, trabalhada do ponto de vista de um adolescente que enfrenta os típicos dilemas existenciais da idade até rebentar num ataque de pânico; e de um homem numa tortura perpétua que das cinzas nunca se conseguiu reerguer.
    Forte candidato a somar 5-7 nomeações da Academia, 'Manchester by the Sea' tem algumas gorduras por queimar (há cenas que pouco acrescentam e a história podia ser contada/ editada em menos 15 minutos sem nunca perder a difícil simbiose de tensão e descontracção conferida pelas personagens de Lee e Patrick), mas com uma tragédia de proporções inimagináveis torna-se o veículo perfeito para Casey Affleck brilhar e comunicar - muitas vezes sem palavras, garantindo o Óscar pelo todo como a personagem está trabalhada, mas sobretudo numa esquadra de polícia e mais tarde em conversa com Michelle Williams quando faz da linha de diálogo There's nothing there uma das mais marcantes do Cinema este ano, com tanto de profunda como de aberta a interpretações.
    Faz-nos rir quando não devíamos, e é uma verdadeira aula de acting de Casey Affleck, com Lucas Hedges a afirmar-se e Michelle Williams por vezes a exagerar. O arco de Lee Chandler é quase nulo, mas existe na medida em que no fim fica aberta uma janela capaz de fazer de Patrick um raio de luz no futuro do homem sôfrego e solitário. As três molduras estarão lá sempre onde Lee estiver, e é perceptível o conforto na rotina de porteiro faz-tudo - afinal, ainda há coisas que ele possa corrigir.

0 comentários:

Enviar um comentário