23 de junho de 2015

Revisão: 'Orange is the New Black' (3.ª Temporada)

Criado por
Jenji Kohan

Elenco
Taylor Schilling, Uzo Aduba, Kate Mulgrew, Laura Prepon, Nick Sandow, Danielle Brooks, Taryn Manning, Jackie Cruz, Dascha Polanco, Laverne Cox, Ruby Rose

Canal: Netflix

Classificação IMDb: 8.3 | Metascore: 83 | RottenTomatoes: 96%
Classificação Barba Por Fazer: 75


- Abaixo podem encontrar Spoilers - 
A História: 
    A prisão federal feminina de Litchfield ofereceu-nos mais um binge-watch irresistível, embora esta terceira temporada seja inferior às duas anteriores. Para começar, há boas notícias: Larry (Jason Biggs, actor de 'American Pie') não entra, e Alex Vause regressa para bem perto da protagonista.
    Depois de uma season em que Vee, magnífica interpretação de Lorraine Toussaint, virou Litchfield de pernas para o ar, à terceira a prisão acalma um pouco. A fórmula mantém-se: um humor muito próprio, a valorização das personagens secundárias, e o respeito pela mulher. Porque não há série que saiba melhor o que é ser mulher, mesmo que várias personagens estejam longe de ser respeitadas ao longo do seu percurso. E, já sabemos, que ampla riqueza e diversidade que existe em tons de laranja! Nesta temporada um dos pontos-chave é a privatização de Litchfield, solução encontrada por Caputo para que a prisão não feche - a redução de gastos precipita muita coisa, não só na realidade dos guardas (são contratados elementos novos, mas sem preparação) como na das reclusas (Piper Chapman entra em modo empreendedor..), acabando por surgir a maior das mudanças nos segundos finais da temporada, a aguçar o apetite para 2016. Para além da privatização e do triângulo amoroso de Piper, Alex e da rookie Stella, o foco está essencialmente nas relações familiares e na liberdade espiritual. A fé tem um papel significativo, quer no culto que envolve Norma, Leanne e muitas outras, mas também na conversão de Cindy ao judaísmo (uma brincadeira, inicialmente, mas que nos convence a todos na hora H).
    Como sempre há novidades imprevisíveis como o facto de Crazy Eyes se tornar a E.L. James do universo prisional ou o "clima" entre Red e Healy. Desta vez não há uma antagonista clara - possivelmente a 4.ª temporada tratará disso - e há sim evoluções inesperadas de determinadas personagens. E, principalmente e como sempre, informações adicionais do seu passado.
    Estar abaixo da temporada 1 e 2 não significa que a série assuma agora uma curva descendente. Pelo contrário. Esta temporada sabe sempre a preparação e enriquecimento, para 2016 ser um grande ano para a Netflix e 'Orange is the New Black'. Fé, liberdade, maternidade e família, é isto que irão encontrar na prisão mais cativante da actualidade.
    
A Personagem: Tiffany 'Pennsatucky' Doggett (Taryn Manning).
    Embora cada espectador tenha as suas preferências pessoais, será mais ou menos consensual que Crazy Eyes e Red são as duas personagens mais interessantes da série no seu todo. Foram por isso mesmo dos maiores destaques na temporada de apresentação, enquanto que a segunda etapa do percurso ficou marcada por um íman chamado Vee. Nesta 3.ª temporada há várias personagens-satélite que têm o seu momento - Norma e Daya, com a fé e o binómio infância/ maternidade a desempenharem um papel tão grande desta vez, mas também Caputo ou Soso. A introdução da australiana Ruby Rose é o "achado" da temporada, com a sua Stella aka Justin Bieber aka The Girl with the Teenage-Mutant-Ninja-Turtle Tattoo a animar a relação aborrecida de Piper e Alex Vause, mas apesar da temporada não ser monopolizada por nenhuma Vee, talvez Doggett seja a personagem com a evolução mais interessante. A temporada três visita o passado de 'Pennsatucky' nos episódios 01 e 10, descortinando um passado violado, com experiências sexuais abusivas e no qual a sorte (leia-se Nathan) durou pouco. No presente vemos Doggett menos fanática em termos religiosos, e a sua relação com o agente Coates acaba por marcar a temporada, para o bem e para o mal. O percurso de Doggett começa logo a marcar pontos no primeiro episódio, num diálogo forte com Big Boo, e poucas imagens têm tanto impacto quanto o fecho do episódio 'A Tittin' and a Hairin', um grande plano da personagem de Taryn Manning, incapaz de nos deixar indiferentes.

O Episódio: 13 'Trust No Bitch'.
    Com o formato já adoptado outrora em séries como 'Prison Break' e 'Skins' (no começo da série de Scofield e Burrows havia também, por episódio, os flashbacks de contextualização do passado de cada recluso; enquanto que 'Skins' sempre deu especial destaque por episódio à perspectiva de cada personagem), é inevitável que acabem por ter mais significado os episódios que acrescentam um background mais interessante a cada uma das presidiárias. Nesse sentido, os episódios 06, 10, 11 e 05 acabam por ser dos melhores da temporada. Quem diria que uma visita ao mundo - anterior e actual - de Chang seria um dos pontos altos ou que os espectadores viriam a sofrer com uma lágrima de Doggett. De resto, o episódio 11, dedicado a Joe Caputo, bate certo com a crescente importância da personagem nesta 3.ª temporada, e o final do episódio de Flaca (05) é o exemplo perfeito da interligação inteligente que a escrita de OitNB promove entre o passado de cada reclusa e as vivências em Litchfield.
    No entanto, o episódio que melhor representa a temporada é mesmo a finale. Em 'Trust No Bitch', a frase tatuada por Stella no braço de Piper, voltamos a testemunhar a frieza que Piper Chapman esconde atrás do seu sorriso e inocência habituais. É felizmente um dos episódios mais agitados numa temporada mais leve que as anteriores, mas a cena do lago acaba por ser o remate adequado - o verdadeiro momento de ode à mulher e à liberdade, reforçando temas focados ao longo da temporada como a família e a maternidade, a fé e a religião, e a capacidade de perdoar.

O Futuro: 
    É impossível antecipar a criatividade de Jenji Kohan e da sua equipa de argumentistas. No entanto, depois de uma temporada mais leve, espera-se que em 2016 Litchfield volte a "pegar fogo". E o aumento do nº de reclusas, expresso no fim ao som dos Foreigner, deixa antever a chegada de novas personagens (Judy King?) e criação de mais fracções. A 4.ª Temporada responderá ainda a várias questões: como fica a situação de Stella? O que aconteceu a Alex Vause? Nicky voltará depois de um desaparecimento precoce? Soso junta-se ao clã afro-americano? Que novos dias viverá a relação de Sophia e Gloria? 
    Faltando alegadamente cerca de 8 meses de pena para Piper cumprir, isso equivalerá talvez a mais 2 temporadas, salvo novas circunstâncias que surjam. A 3.ª temporada acaba por ser uma temporada de transição e construção, e nesse sentido exigir-se-á mais acção e momentos de deixar o espectador com o coração na boca na próxima vez que a prisão abrir portas.

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