28 de julho de 2014

Selecção Nacional: O que falhou no Mundial?

    Passados alguns dias de terminar o Mundial 2014, decidimos - tal como prometêramos - analisar a paupérrima prestação da Selecção Portuguesa no Campeonato do Mundo no Brasil. A verdade é que foram um conjunto de factores que culminaram na eliminação precoce de Portugal e tudo começou bem antes da prova. Já na fase de qualificação e jogos amigáveis se previa que o resultado não seria bom.
  Enumerámos 4 razões fulcrais que achámos serem determinadoras do desfecho luso. Fiquem então a saber quais são:

1 - A Convocatória: Paulo Bento não escolheu os melhores para levar ao Brasil. Até aqui toda a gente tinha chegado. Contudo, o problema advém da não inserção de novos jogadores em jogos particulares e de qualificação. Não é numa grande competição que se faz a revolução na equipa. A entrada de novos jogadores deveria ser imposta gradualmente. Chamar atletas em boa forma como Adrien, Candeias, Bebé, José Fonte ou até mesmo Cédric para ganharem espírito de Selecção e se integrarem com o núcleo duro da mesma era extremamente importante. Porém, Paulo Bento tem uma teimosia inerente que o fez - e faz - apostar constantemente nos mesmos jogadores e Portugal sofreu na pele as consequências das escolhas de Bento. O técnico português criou na sua cabeça um conjunto de jogadores intocáveis que estariam destinados a jogar desde o primeiro jogo da qualificação até ao último do Mundial. Paulo Bento pretendia ter um grupo coeso com rotinas de jogo, mas esqueceu-se que os jogadores envelhecem, perdem qualidades e passam por fases menos boas. Raul Meireles, Postiga e Hugo Almeida - por exemplo - são jogadores fora de forma e que jamais mereceriam a titularidade. Os dois últimos nem sequer na convocatória mereciam constar. Nani, Ronaldo, Coentrão e Pepe seriam provavelmente os únicos que mereceriam sempre o benefício de dúvida, valendo o risco mesmo perante a desconfiança relativamente à componente física, dada a sua qualidade fora do normal que Portugal não tem para dar e vender. O seleccionador português, para além de não incluir novos valores na equipa, fechou ainda os olhos à temporada fantástica de Danny e não tomou a iniciativa de falar com Tiago para fazer com que este voltasse atrás com a renúncia. No fundo, Tiago até se colocou à disposição do técnico, mas Paulo Bento só olhou para os factos ditos oficiais e nem sequer pensou em ter no seu plantel um dos jogadores mais influentes do clube campeão em Espanha e vice-campeão da Europa, preferindo o seu Miguel Veloso e o seu Raul Meireles a todo o custo.

2 - Atitude Comodista e "RonaldoMania": Os lugares cativos de Paulo Bento levam - directa ou indirectamente - a uma atitude comodista dos jogadores em questão. Os atletas sentem que não necessitam de se empenhar tanto para agarrar o lugar e isso resulta numa displicência e falta de intensidade incríveis dentro de campo. E como se isso não fosse suficiente, ainda houve a "RonaldoMania". Durante as semanas de preparação, houve uma actualização diária sobre a lesão de Cristiano Ronaldo. No Brasil, todas as estações televisivas queriam acompanhar a Selecção de Cristiano Ronaldo, que por acaso também se chamava Selecção de Portugal. Na página do Facebook da Selecção e na imprensa portuguesa quase que se fazia um reality show à volta da equipa. Tudo isto, segundo a lógica, teria à partida um efeito positivo - Ronaldo lida bem com a pressão e alimenta-se dela como ninguém e os restantes jogadores teriam um menor peso nos ombros. Infelizmente, o facto de Portugal ter o melhor do mundo tornou-se em campo um problema e não uma solução. Os jogadores já por si só sem qualquer motivação em campo, completamente displicentes, ao invés de jogarem como uma equipa sólida beneficiando com o facto de terem o melhor do mundo do seu lado - prémio justamente atribuído a Ronaldo -, jogaram sempre com a cabeça levantada à procura de Cristiano Ronaldo. A selecção tornou-se desde bem cedo Ronaldo+10 e - dada a má condição física do jogador - tudo se  tornou ainda mais complicado. Se houvesse a tal entrada gradual de jogadores em boa forma, a competitividade seria maior entre os atletas e isso resultaria numa melhor performance em campo. Estes jogadores - na sua maioria jovens - têm como sonho representar o seu país. Aliando as boas exibições que até então tinham feito com o factor motivacional de poderem ajudar o seu país numa prova tão grande como o Campeonato do Mundo, talvez as coisas tivessem corrido melhor para a Selecção das Quinas.

3 - Teimosia no 11: Para além dos erros cometidos antes do Mundial, no decorrer do mesmo também houve a teimosia de Paulo Bento no mesmo 11. Se pensarmos no 11 que iniciou o jogo com a Alemanha, qualquer português teria escolhido 7 a 8 daqueles jogadores. Patrício justificava a escolha pese embora a melhor época de Beto, o quarteto defensivo seria aquele para todos nós, Moutinho e Ronaldo eram garantidos e Nani seria o único que não seria unânime, deixando assim 3 ou 4 vagas muito questionáveis. Fazendo este exercício, percebe-se que se houve sector em que Paulo Bento foi teimoso foi de facto o meio-campo. E foi sempre o meio-campo o problema mais evidente em termos de jogo. Moutinho - inferior ao nível habitual - precisava de outras peças para o contagiarem, uma vez que não conseguiu que a coisa se desse em sentido inverso. O comum adepto sabia que Meireles não tem hoje a capacidade física de 2012 e só para Paulo Bento é que Veloso levava vantagem sobre William Carvalho. Sempre defendemos que o meio-campo de Portugal deveria ser composto por William, Adrien/Tiago e Moutinho, sendo que, considerando a convocatória feita, automaticamente Rúben Amorim surgia como escolha óbvia para substituir os não-convocados. Curiosamente, foi este o meio-campo que Portugal apresentou no único jogo que ganhou. Um treinador que não arrisca e que prefere morrer agarrado às suas ideias, não conseguindo reconhecer que pode estar errado, é um treinador com medo. E num Mundial e sobretudo numa Selecção não-favorita como a nossa, um treinador precisa de inovar, de criar, de ousadia e de coragem.
    A juntar à teimosia do 11 inicial vem ainda a táctica utilizada. No plano teórico Portugal abordou todos os jogos no seu tradicional 4-3-3. No entanto, e observando o comportamento táctico da Selecção das Quinas nos 3 jogos, Portugal jogou em 4-4-2. Com Ronaldo limitado fisicamente, a vagabundear no ataque e para não ter responsabilidades defensivas, era esperado que Portugal privilegiasse um 4-4-2 sem bola, copiando de certa forma a solução criada por Ancelotti no Real Madrid. Problema? A diferença qualitativa dos jogadores, inclusive em termos físicos. E se isso resultou para o Real na Baviera e para Portugal na Suécia, o espaço que não foi concedido por Alemanha e EUA anulou essa nuance. O 4-4-2 acabou por ser o esqueleto de Portugal em todos os momentos (exceptuando no final do jogo com o Gana, e nos primeiros minutos da partida com a Alemanha) e desequilibrou por completo a nossa Selecção. O médio com responsabilidades de fechar à esquerda - Veloso no primeiro jogo e Meireles no segundo - nunca o conseguiu fazer com qualidade e critério e Portugal acabou nos 2 primeiros jogos a perder o controlo do meio-campo e do jogo porque nunca se equilibrou. Possivelmente uma solução simples teria passado por abdicar do ponta de lança puro de Portugal porque se o objectivo era Ronaldo estar próximo da baliza e não defender, mais valia ficar só ele, e apostar em Vieirinha+Nani nas alas. Embora o primeiro problema fosse, como já mencionado, os elementos que compunham o miolo.

4 - Lesões: Disse o médico Henrique Jones que neste Mundial 2014, por comparação com outras competições, o índice lesional apresentado por vários jogadores era superior ao normal. A Selecção Portuguesa cruzou jogadores com excesso de jogos nas pernas ou um final de época muito intenso - casos de Ronaldo e Coentrão, com jogadores com falta de jogos (Postiga, Hugo Almeida e Nani eram exemplos disso, embora o jogador do Manchester United pudesse valer o wildcard). Neste Mundial Hugo Almeida, Fábio Coentrão, Rui Patrício, Hélder Postiga, André Almeida e Beto acabaram todos por se lesionar, originando no conjunto 5 alterações forçadas em 9 realizadas. Houve neste capítulo várias coisas negativas como o peso que Coentrão tem no jogo de Portugal e a falta que a equipa sentiu, bem como o facto de Cristiano Ronaldo nunca ter estado realmente a 100%. De certa forma houve também consequências positivas porque Paulo Bento viu-se obrigado a aproximar-se daquele que seria o onze ideal de Portugal (considerando a convocatória feita), embora tenha acabado por alterar o cerne da questão tarde demais resultante da já tão mencionada teimosia do seleccionador. No fim de contas, Paulo Bento preferiu arriscar no seu 11 base mesmo que muitos jogadores estivessem em dificuldades físicas ou em baixo de forma, ao invés de arriscar em novos valores que poderiam acrescentar algo de novo ao futebol português.

    Estes são apenas alguns aspectos que achámos merecedores de destaque perante esta fase negativa da Selecção Nacional. Tal como os nossos antepassados que outrora navegaram por mares nunca dantes navegados, assumindo o risco com vista a eventuais conquistas - se nos permitem tal hiperbólica comparação -, a Selecção necessita desse mesmo risco. Ou se troca para um seleccionador com coragem ou Paulo Bento terá que sair da sua "bolha protectora" se almeja chegar longe com este país. Não nos podemos resumir a Ronaldo. Temos que ser 11 em campo com a importância distribuída por todos os elementos. Só construindo um novo grupo poderemos augurar com algo de bom para a Selecção Nacional.
    Portugal vai chegar a bom porto, e há craques já aí à espreita como Rony Lopes e Bernardo Silva. Tenham eles oportunidades..

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