Desta vez, não deu Manchester City. Após 4 anos de domínio azul celeste da turma de Guardiola, a Premier League tem um novo campeão. E se a ordem natural das coisas poderia levar a crer que seria o Arsenal de Arteta, Saka e Odegaard a dar o passo que faltava... quem acabou por sorrir foi o Liverpool, na estreia do neerlandês Arne Slot a substituir Klopp, e com um Deus egípcio a carregar os reds. Este foi, mais do que qualquer coisa, o campeonato de Mohamed Salah.
Anfield comemorou o 20º título inglês no já distante dia 27 de Abril (jornada 34), coroando uma temporada sem concorrência numa goleada por 5-1 diante do Tottenham.
Em crise, o Manchester City disse adeus a um dos melhores médios da História da Premier League (Kevin De Bruyne) após bizarra campanha: o Bola de Ouro Rodri falhou quase toda a época com uma grave lesão, mas surpreendeu a raríssima incapacidade de Pep em reinventar uma fórmula e acender a chama num grupo de jogadores que, finalmente, quebrou física e animicamente.
Arsenal, Chelsea e Newcastle vão à Champions, tendo o Aston Villa ficado a 1 ponto da prova milionária, e caindo o Nottingham Forest (equipa sensação, com extraordinário trabalho do português Nuno Espírito Santo) para a Conference League (7º lugar), quando passou muito tempo nos lugares cimeiros.
Manchester United (15º) e Tottenham (17º) disputaram não só a final da Liga Europa como o estatuto de equipa que mais defraudou as expectativas; e, em sentido inverso, além do Forest (emblema que esperávamos que lutasse para não descer) brilharam o enérgico Bournemouth, o jovem Brighton e o Brentford dos amigos Mbeumo e Wissa. O Fulham de Marco Silva bateu o pé aos grandes, o Everton encontrou-se ao confiar num amor antigo (David Moyes) e o Crystal Palace festejou em Wembley a FA Cup, primeiro troféu da História dos eagles.
Individualmente, Mohamed Salah deixou-nos sem palavras. Aos 32 anos, o melhor extremo direito da História da competição foi rei nos golos (29), foi rei nas assistências (18), bateu recordes no Fantasy (344 pontos) e fez mais do que suficiente para ser pensado para o Top-3 da próxima Bola de Ouro. A regularidade a alto nível e fome do camisola 11 do Liverpool fez desta sua temporada de 24/ 25 uma das melhores de que há memória na Premier, capaz de rivalizar com Henry ou Suárez.
De resto, o Liverpool voltou a contar com um central (van Dijk) sem igual, e no custoso adeus ou até já a Trent Alexander-Arnold foi um oito transformado em seis o ponto de partida tático para o cunho de Slot nesta equipa: quem viu Gravenberch, e quem o vê...
De forma resumida, Isak afirmou-se como melhor avançado da Liga, Mbeumo, Chris Wood, Delap, Kluivert, Semenyo e Elliot Anderson evoluíram a olhos vistos, Matheus Cunha e Cole Palmer espalharam técnica, Bruno Fernandes e Amad Diallo deram cor à tenebrosa campanha do United de Ruben Amorim, e Huijsen e Milenkovic revelaram-se autênticos "achados". Tudo isto sem esquecer as arrancadas de Morgan Rogers, o pulmão e capacidade de recuperação de Caicedo, as pilhas Duracell de Kerkez, Muñoz e Robinson, e o controlo dos ritmos de Mac Allister, Tielemans e Tonali.
Como todos os anos, é chegada a altura de indicarmos aqueles que foram para nós os melhores do ano: o nosso 11, o Jogador do Ano e o Jovem Jogador do Ano, o Treinador do Ano, e ainda algumas categorias complementares.
Guarda-Redes: Entre os homens que calçam luvas, os solitários heróis sem direito a errar, o melhor do ano em Inglaterra foi um veterano de 33 anos que na época passada fora suplente de Matt Turner e até mesmo de Odysseas Vlachodimos. O belga
Matz Sels, com um percurso essencialmente feito entre o campeonato do seu país e a Ligue 1 (Estrasburgo), agigantou-se e foi peça-chave num Nottingham Forest que se esperava que lutasse para não descer mas que acabou quase nos lugares de Champions. Bem escudado por uma defesa coordenada, com Milenkovic e Murilo a formarem soberba parceria, Sels foi mesmo assim chamado à ação e, qual guarda-redes de equipa grande, não vacilou em momentos em que os jogos podiam virar. Foram 119 defesas, aproximadamente 74% de remates defendidos e 13 jogos sem golos sofridos, partilhando assim as Luvas de Ouro com...
David Raya. O guarda-redes do Arsenal foi testado bastantes mais vezes do que na época anterior, consequência do pior comportamento coletivo dos
gunners, mas tranquilizou os colegas com estiradas plenas de elasticidade e um já reconhecido jogo de pés bem acima da média.
Na baliza do Brentford, Mark Flekken foi bombardeado. O guardião neerlandês chegou às 150 defesas (mais 30 do que o GR seguinte) e comprou assim o seu bilhete de regresso à Bundesliga, onde irá agora representar o Leverkusen.
Alisson (em condições normais, o melhor guarda-redes a atuar em Inglaterra, como bem demonstrou em casa do PSG) voltou a ser Alisson, embora sem a "aura" de outros tempos, tendo visto Kelleher (já adquirido pelo Brentford para o lugar de Flekken) a substituí-lo, sem se notar muito, durante 10 jornadas.
Por fim, Jordan Pickford voltou a segurar o Everton. O inglês conseguiu somar 12 clean sheets no 13º classificado e pode-se gabar de ter defendido 100% das grandes penalidades (2 em 2) que enfrentou.
Lateral Direito: À direita, qualquer uma de 3 opções é válida e reúne sólidos argumentos esta época. O colombiano Daniel Muñoz (4 golos e 5 assistências) pareceu quase sempre ter 3 pulmões, num vaivém constante, e Trent Alexander-Arnold colecionou cruzamentos açucarados e passes capazes de rasgar defesas, dizendo Adeus ao futebol inglês, e gerando com isso um misto de sentimentos em Anfield, rumo ao desafio Real Madrid. A nossa escolha é Ola Aina. O lateral nigeriano da equipa de Nuno Espírito Santo perdeu algum fulgor na reta final, mas isso não apagou muitos meses em que deu masterclass atrás de masterclass de como defender.
Há que juntar ainda Amad Diallo, cuja presença aqui é um pouco forçada para podermos apresentar os 5 que queremos nos extremos direitos, embora tudo leve a crer que em 2025/ 26 Amorim quer fixá-lo a ala direito e muito menos vezes a extremo. O entusiasmante craque do Manchester United deixou a sua impressão digital nesta Premier principalmente ao cair do pano, servindo de exemplos o seu golo em casa do City e o seu hat-trick express diante do Southampton.
Livramento e Timber podiam ocupar a última vaga, mas optámos por valorizar Aaron Wan-Bissaka, um dos únicos 2 jogadores do West Ham a sair com avaliação positiva, ora à direita ora adaptado ao flanco oposto.
Defesa Central: Escolher o central justo para figurar ao lado de VVD não foi fácil. O colega Ibrahima Konaté fez claramente um upgrade ao seu jogo, apresentando-se muito mais concentrado e com solução simples para todo, em comparação com outras épocas, e William Saliba é sempre uma opção válida, embora tenha cometido mais erros do que o normal, não sendo inclusive o melhor central do Arsenal em 24/ 25.
Nikola Milenkovic mudou-se para a Premier League, oriundo da Fiorentina e a troco de pouco mais de 12 milhões. A transferência, à data, soou a achado: o Forest conseguira um jogador acima da sua realidade e por um valor abaixo do preço de mercado. Mas não pensámos que estariam a contratar um futuro elemento do nosso 11 do Ano. Ao lado de Murillo, o central sérvio foi o complemento perfeito: imparável nas alturas (5 golos, todos na sequência de bolas paradas), discreto no estilo e determinante a comandar a defesa, permitindo a Murillo aventurar-se mais.
Entre os centrais de pé direito ou que atuaram preferencialmente do lado direito das suas defesas, Ilya Zabarnyi voltou a evidenciar que tem tudo para ser um dos melhores centrais do mundo (não surpreende a sua associação ao PSG) e James Tarkowski cimentou o seu estatuto como destaque recorrente dos toffees, levando o Goodison Park à loucura com o seu golo ao rival Liverpool aos 90+8.
Defesa Central: Os atacantes das décadas anteriores continuam a enaltecer John Terry como o defesa mais complicado de enfrentar, Rio Ferdinand foi sempre diferenciado pela elegância com que fazia tudo, e pessoalmente achamos que Nemanja Vidic (Jogador do ano em 08-09 e 10-11, embora não com o mais prestigiante prémio PFA) tem que estar nestas discussões. Mas cada vez mais há razões para argumentar que Virgil van Dijk pode ser o melhor defesa central da História da Premier League.
Em vias de completar 34 anos, o centralão neerlandês foi esta época o 2º melhor jogador do campeão Liverpool, festejando o seu segundo campeonato em Inglaterra, o primeiro como capitão de equipa. Foi a voz de comando dos reds, com impacto positivo em vários jogadores à sua volta.
Gabriel Magalhães conseguiu a proeza de ser melhor do que Saliba, sendo ainda o jogador alvo dos sempre bem trabalhados cantos dos gunners, e o seu compatriota Murillo (ninguém diria que mede 1,80m) mostrou o brutal potencial que tem, "secou" adversários e brilhou na capacidade de distribuir a partir de trás, saindo em progressão com confiança.
O alto (1,97m) e esguio Dean Huijsen foi um dos reforços do ano em Inglaterra. O atento Bournemouth pagou menos de 20 milhões por um jogador que só não vai marcar a próxima década se não quiser, e que entretanto já se estreou pela seleção espanhola e fez as malas para o Real Madrid (60 milhões). Por fim, com mais minutos teríamos incluído o velocista van de Ven, mas Dan Burn merece estar neste leque. De resto, é sintomático que, entre 10 centrais que escolhemos, estejam as duplas de Liverpool, Nottingham Forest, Arsenal e Bournemouth.
Lateral Esquerdo: O nível exibicional dos laterais esquerdos subiu definitivamente esta temporada, e qualquer um de três (sobretudo dois) jogadores seria uma opção justa para esta posição. Comecemos, por isso, pelos outros: Marc Cucurella deu sequência ao seu excelente Euro 2024 e foi sempre osso duro de roer e um indiscutível no esquema de Maresca. Lewis Hall (acreditamos que 25/ 26 será a sua explosão) provavelmente estaria aqui se não se tivesse lesionado, mas sai beneficiado Rayan Aït-Nouri, o DE com mais qualidade técnica no campeonato que, após somar 4 golos e 7 assistências, estará bem encaminhado para reforçar o Manchester City.
Por falar em Man City, Josko Gvardiol foi certamente o melhor jogador da equipa nesta bizarra edição. O croata apontou 5 golos (foi o defesa mais goleador, juntamente com Milenkovic e Cucurella), terminou como central, posição em que se deve fixar em 25/ 26 ao lado de Rúben Dias, mas o facto de ter sido o melhor jogador do City não faz com que tenha sido superior aos nossos dois laterais esquerdos favoritos deste ano em Inglaterra.
Milos Kerkez, outrora alvo do Benfica, deixou-nos cansados só de o ver a correr. Um dínamo constante, o húngaro foi jogo após jogo um dos jogadores mais importantes na sempre enérgica, descomplexada e destemida identidade dos cherries. Faz todo o sentido que o Liverpool o veja como o sucessor de Robertson. Mas quando pomos tudo na balança, é Antonee Robinson que merece este reconhecimento: o norte-americano de 27 anos está no pico das suas faculdades, foi sempre uma parede até para craques como Salah e Mbeumo, completou 10 assistências e juntou a tudo isso uma regularidade superlativa em estatísticas defensivas como duelos ganhos ou interceções. Num Verão de novas aventuras para Kerkez e Aït-Nouri, será que também o jogador de Marco Silva vai fazer as malas?
Médio Defensivo: Ninguém mudou tanto. Quando Arne Slot chegou ao Liverpool, ficou claro que seria comedido na abordagem ao mercado, preferindo valorizar quem já estava em Anfield. Foi público, porém, que Zubimendi foi alvo para a posição de médio mais recuado dos reds, mas o médio da Real Sociedad deu nega aos ingleses. Sem reforços, Slot olhou para Ryan Gravenberch e fez do promissor box-to-box um "seis" do melhor que o futebol europeu viu este ano. O que impressionou mais na metamorfose do nosso Most Improved Player do ano foi a forma quase instantânea com que Gravenberch assimilou os bons vícios fundamentais para operar naquela posição, ao mais alto nível e numa liga com um ritmo tão próprio como a Premier League - o pescoço sempre ativo a "mapear" as redondezas e aquele jogo de anca a iludir a fuga de um lado para escapar pelo outro, ao receber de costas, parecem agora ter nascido com o 38.
A acompanhar Gravenberch, um autêntico luxo. Moisés Caicedo foi o melhor jogador do Chelsea, Youri Tielemans tornou-se ainda mais completo, Elliot Anderson mostrou no Forest que tem qualidade para representar qualquer clube em Inglaterra, e Sandro Tonali mudou completamente a época do Newcastle, a partir do momento em que assumiu ele uma função mais de retaguarda, por troca posicional com Bruno Guimarães.
Médio Centro: Alexis Mac Allister foi muito provavelmente o jogador mais underrated nesta edição. Num Liverpool que teve em Salah e Van Dijk os seus porta-estandartes, assistiu-se no meio-campo de Slot ao rebranding de Gravenberch, brilhando o campeão inglês sempre que Szoboszlai apareceu em grande. Apesar de tudo isso, foi Mac Allister quem fez a bola feliz mais tempo, adaptando o ritmo de muitos jogos ao que era favorável aos seus colegas. Um craque silencioso, sobre o qual tínhamos que fazer algum barulho.
Como dissemos, Dominik Szoboszlai foi sempre destaque nas melhores exibições coletivas do Liverpool este ano (por exemplo, os dois jogos com o Tottenham e a vitória sem espinhas em casa do City), Morgan Gibbs-White manteve a sua média de contribuições para golo mas fê-lo a contribuir para objetivos muito mais ambiciosos e com outra pressão, Declan Rice cresceu com a época, embora o seu pico tenha ocorrido na Liga dos Campeões, e Bruno Guimarães continuou a dar passos largos para ser uma Lenda contemporânea do Newcastle.
Médio Ofensivo: Entre criativos, Justin Kluivert disparou para a melhor época da sua carreira. Chegou a ser jogador do mês em Janeiro e marcou não um mas dois hat-tricks, com uns golaços pelo meio. Eberechi Eze esteve à margem do nosso Top 5 de médios ofensivos durante grande parte da temporada, mas a sua reta final tornou impossível não o incluir, fatura paga por outros excelentes candidatos como Iwobi e Damsgaard.
Depois de ser simultaneamente o Jovem do Ano, o Reforço do Ano e o Most Improved Player do ano passado, Cole Palmer tornou-se o jogador mais complicado de avaliar nesta campanha. O frio tecnicista do Chelsea foi o único jogador da Premier capaz de ficar próximo do rendimento de Salah na primeira volta, mas dos 15 golos e 8 assistências que somou, apenas 3 golos e duas assistências aconteceram na segunda metade da prova.
Morgan Rogers disse presente em todos os jogos grandes, afirmando-se como o mais entusiasmante jogador da Premier a progredir em arrancadas, num misto de força e drible, mas a nossa escolha acabou por ser Bruno Fernandes, um craque desacompanhado, um maestro com a lição bem estudada mas rodeado de colegas sem instrumentos.
É certo que o brilhantismo do português não contribuiu para nada (os red devils ficaram num humilhante 15º lugar) mas BF criou mais oportunidades de golo do que Salah e Palmer e "sofreu" com o facto do seu QI futebolístico lhe permitir cumprir mais do que apenas a sua função na ideia de Ruben Amorim, oscilando por isso entre as duas posições atrás do avançado e um papel como médio centro, que acreditamos que será onde vai jogar mais vezes em 25/ 26.
Extremo Direito: O Deus egípcio. Impedido de competir pela Bola de Ouro devido à sua eliminação precoce na Liga dos Campeões (oitavos-de-final, diante de um PSG que viria a conquistar o troféu), Mohamed Salah realizou uma época, analisando apenas o rendimento interno e excluindo as competições europeias, superior a qualquer outro jogador no futebol europeu. O 11 do Liverpool, que renovou entretanto contrato até 2027, somou recordes e distinções, manteve o nível altíssimo (29 golos e 18 assistências), fez semanalmente feliz quem o escolheu como capitão no Fantasy e, basicamente, teve uma daquelas épocas realmente especiais, num patamar digno de Henry (02/03) e Suárez (13/14).
Também à direita, o barbudo Bryan Mbeumo, amigo inseparável de Wissa, atingiu a sempre respeitável marca de 20 golos quando nunca antes tinha chegado sequer aos 30. E por isso mesmo como verão abaixo figura no nosso 11 otimizado, sacrificando aquele que seria em teoria o extremo esquerdo titular. Bukayo Saka foi um dos mais iluminados jogadores desta edição até se lesionar, Jacob Murphy teve numa só época a produção que tivera no total das suas 3 épocas anteriores, e Jarrod Bowen foi o farol recorrente no desinspirado e desconectado ataque do West Ham.
Extremo Esquerdo: Ruben Amorim recebeu um craque de todo o tamanho. Atleta de feitio ocasionalmente indomável, o brasileiro Matheus Cunha foi sem dúvida um dos jogadores que mais prazer nos deu acompanhar nesta Premier League 2024/ 25. Prejudicado apenas e só pelo seu temperamento (foi suspenso depois de uma altercação com um funcionário do Ipswich, e voltou a descontrolar-se na FA Cup ao "passar-se" com Kerkez), o craque do Wolves, já oficializado como reforço do Manchester United, espalhou técnica, marcou 3 ou 4 dos melhores golos deste ano e deixou clara a sua praia tática, no apoio ao ponta de lança e não como avançado centro.
Também maioritariamente nas faixas, Luis Díaz e Cody Gakpo foram alternando quem estava em melhor momento de forma, relegando Darwin e Jota para o banco, Anthony Elanga (mais vezes à direita do que à esquerda, nós sabemos) andou em excesso de velocidade e tão cedo não esqueceremos o seu jogão (3 assistências) no 7-0 ao Brighton, e Antoine Semenyo amadureceu, como quase todos os jogadores do Bournemouth de Iraola, conservando-se como seta e ameaça vertical, sempre apontado às balizas adversárias.
Ponta de Lança: Ninguém tem dúvidas que Alexander Isak foi o melhor avançado desta Premier League, e é aos dias de hoje um dos principais rostos do campeonato inglês. O sueco, camisola 14, passou dos 21 golos da época anterior para 23 nesta, ficando sobretudo na memória a sua sequência de 8 jogos consecutivos sempre a marcar.
Um degrau abaixo de Isak, Chris Wood foi juntamente com Mbeumo e Matheus Cunha um dos overperformers da temporada (20 golos a partir de um xG de 13.66). O neozelandês de 33 anos rendeu como nunca antes tinha sido capaz no primeiro escalão inglês.
Yoane Wissa (19 golos), em telepatia permanente com Mbeumo, exemplificou como um avançado de 1,76m pode fazer estragos em Inglaterra, Erling Haaland arrancou a todo o gás mas a vida não lhe correu tão bem assim depois de sugerir uma dose de humildade a Arteta, e Liam Delap marcou mais no fraquito Ipswich do que marcara no Championship ao serviço do Hull City. É reforço do Chelsea.
Mateta e Raúl Jiménez tiveram que ficar de fora.
Inglaterra não via uma época individual deste calibre desde que outro jogador do Liverpool, Luis Suárez, semeou o terror em 2013/ 14. Mohamed Salah colocou-se a anos-luz de toda a concorrência, e não deu qualquer hipótese aos rivais. Esta foi a Premier League do egípcio, que banalizou a forma como passámos a ver a presença crónica de 1 golo e 1 assistência sua na ficha de cada jogo.
O craque de 32 anos igualou recordes (em Dezembro marcou 7 golos e fez 7 assistências, repetindo as 14 contribuições para golo que Suárez conseguira também num mês de Dezembro; os seus 47 contributos finais chegaram para repetir o que Shearer e Yorke tinham feito, embora num campeonato de 42 jornadas e não de 38) e impôs uma fasquia só sua. Pessoalmente, o que mais nos fascinou foi o altruísmo renovado, com uma visão de jogo ímpar, assistências de trivela e aquele recorde de 20 assistências (Henry e De Bruyne como detentores) tão, tão perto. Se tivesse marcado e assistido mais nas últimas 9 jornadas, em que só marcou 2 golos e fez uma assistência, estaríamos aí sim perante a melhor temporada individual de todos os tempos na Premier League.
Virgil van Dijk foi um portento de segurança, Alexander Isak apontou 23 golos, e o trio Bryan Mbeumo, Matheus Cunha e Chris Wood rendeu o impensável. Não esquecemos o trabalho minucioso de Mac Allister e Gravenberch, a primeira volta de Cole Palmer, o incansável Caicedo e o sobrecarregado Bruno Fernandes.
Será regra, desta edição em diante, não repetirmos nestas contas um jogador que já venceu numa edição anterior. Cole Palmer, Erling Haaland, Phil Foden, Trent Alexander-Arnold e Harry Kane foram alguns dos jogadores que elegemos no passado, e esta é a vez de Morgan Rogers.
Num ano com muita juventude com elevado rendimento - elementos como Elliot Anderson, Carlos Baleba, Myles Lewis-Skelly e os 2 laterais do Newcastle (Tino Livramento e Lewis Hall) também foram equacionados - o driblador do Aston Villa cativou-nos como mais nenhum wonderkid em Inglaterra. Com um gostinho especial por aparecer nos jogos grandes, o craque imprescindível para Unai Emery levantou os adeptos das cadeiras com as suas arrancadas. Uma força da natureza, e um jogador muito invulgar.
No Bournemouth, esta ficará seguramente como a temporada em que Dean Huijsen se deu a conhecer ao mundo antes de viajar para Madrid, e Milos Kerkez ainda deve estar a correr no Vitality Stadium, a todo o gás para a frente e a todo o gás para trás. Amad Diallo foi a boa notícia da vigência de Ruben Amorim, Murillo mostrou a Ancelotti que tem que contar com ele nos próximos anos na Canarinha, e Liam Delap deixou o seu pai, Rory Delap o homem dos lançamentos laterais, certamente orgulhoso.
Treinador do Ano: Decidir entre Nuno Espírito Santo e Arne Slot não foi fácil. O neerlandês ex-Feyenoord chegou a Inglaterra e, na sua primeira época e sem reforços, conseguiu o que Klopp só conseguira por uma vez em 9 temporadas. Slot teve múltiplos méritos: o impacto instantâneo levou a que nunca fosse lembrada a pesada herança de Klopp, a adaptação de Gravenberch a seis foi uma das melhores "criações" táticas do ano, e foi ele o ponto de partida deste Liverpool menos exposto e menos partido, mas sempre preparado para acelerar em bloco e aproveitar o erro adversário e as transições. Salah teve que defender menos, e foi mais difícil os adversários apanharem Trent em situações de desconforto.
Mas ainda assim não há como fugir ao milagre do português NES. O Nottingham Forest superou (e de que maneira!) as expetativas, escapando aos vaticínios de que ficaria perto de descer, acabando num extraordinário 7º com qualificação europeia (Conference League) e "custando" apenas o rendimento na reta final. O Forest esteve durante muito tempo em lugar de Champions, mas o sonho perdeu-se ao obter apenas 1 vitória nos últimos 5 jogos. Pela positiva, a habilidade de NES na abordagem individualizada aos jogos (quase sempre que escolheu uma linha de 5 em vez do habitual quarteto, o jogo mostrou que tinha razão) e o salto de rendimento em praticamente todos os jogadores do plantel.
Além deste duelo de titãs, num ano horrendo para Guardiola e internamente frustrante para Arteta, há que referir o incrível trabalho de Thomas Frank, o intenso carrossel de bom futebol de Andoni Iraola e mais uma nota positiva para Eddie Howe, com Champions (5º lugar), um troféu (Taça da Liga, pondo fim a 56 anos dos magpies sem nada para colocar no museu) e afinações suas na equipa a alterarem o curso dos acontecimentos. Oliver Glasner, David Moyes, Fabian Hürzeler, Vitor Pereira e Marco Silva também foram ponderados.
Melhor Marcador: 1. Mohamed Salah (Liverpool) - 29
2. Alexander Isak (Chelsea) - 23
3. Erling Haaland (Manchester City) - 22
Melhor Assistente: 1. Mohamed Salah (Liverpool) - 18
2. Jacob Murphy (Newcastle) - 12
3. Anthony Elanga (Nottingham Forest) - 11
Clube-Sensação: Nottingham Forest
Desilusão: Manchester United
Most Improved Player: 1. Ryan Gravenberch, 2. Chris Wood, 3. Bryan Mbeumo
Reforço do Ano: Nikola Milenkovic (Nottingham Forest)
Flop do Ano: Dominic Solanke (Tottenham)
Melhor Golo: Omar Marmoush (Manchester City 3 - 1 Bournemouth) (
Link)