Setenta e três anos depois, o Sporting é bicampeão nacional. Com uma "dobradinha" (algo que também não acontecia há 23 anos para os lados de Alvalade) no bolso, o clube leonino voltou a tingir o Marquês de Pombal de verde e branco, num campeonato emocionante e disputado até à última jornada, e rico nas incidências que acabaram por conferir maior incerteza à competição.
O Sporting celebrou na jornada 34, com golos de Pedro Gonçalves e do inevitável Gyökeres, mas é razoável pensar-se que, se Ruben Amorim não tivesse saído para o Manchester United, a conquista poderia perfeitamente ter ficado sentenciada muitas jornadas antes.
O Benfica, que demorou 4 jornadas a chamar Bruno Lage para substituir Roger Schmidt (sintomático da incompetência e falta de visão/ planeamento da atual direção), perdeu no photo finish e teve inclusive o destino nas suas mãos, desperdiçando-o porém, em casa, em momentos distintos contra Arouca e Sporting.
Rui Borges não é Ruben Amorim, mas soube colocar o ego de parte e reaproximar-se da fórmula de sucesso do antecessor (esqueçamos, por um momento, João Pereira) e Viktor Gyökeres não é, há muito, jogador para este campeonato. O avançado sueco - 39 golos apontados na Liga em 33 jogos, e 54 no total de todas as competições - destruiu defesas, resolveu quase sozinho o campeonato e sai (certo?) de Portugal com um estatuto sem comparação num passado recente. Em Alvalade, além dos nórdicos Gyökeres e Hjulmand, destaque para o crescimento de Trincão, principalmente enquanto criador de oportunidades para os colegas.
Na Luz, Lage repetiu o seu padrão comportamental - focado e assertivo enquanto correu atrás, desnorteado e incapaz quando por fim passou a estar numa posição vantajosa. O capitão Otamendi liderou as águias, onde Carreras surpreendeu tudo e todos, onde Aursnes voltou a ser sinónimo de inteligência e flexibilidade, e onde Pavlidis passou de proclamado flop (nunca o foi, porque mesmo quando marcava pouco já dava imenso à equipa) a um dos melhores jogadores da prova.
A 1ª época de AVB, no pós-Pinto da Costa e Sérgio Conceição, apresentou um Porto irreconhecível. Os azuis e brancos acabaram por bater o Sporting de Braga na disputa pelo 3º lugar, mas toda a época foi uma travessia no deserto, com consciente enfraquecimento (Galeno e Nico González saíram em Janeiro) e apenas uma luz brilhante ao fundo do túnel, o prodigioso Rodrigo Mora (18 anos).
O nível global do futebol português baixou nesta edição, o que não impede elogios aos bons trabalhos de Vasco Matos (Santa Clara) ou João Pereira (Casa Pia) e não deixaram de surgir bons valores no universo para lá dos "grandes" - Clayton mostrou veia goleadora, e jogadores como Aranda, Begraoui ou Patrick Sequeira fizeram o suficiente para conhecer voos mais altos.
Mas 2024/ 25 será para sempre a temporada em que um super-herói loiro levou tudo à frente. Dois anos de Viktor Gyökeres foram 2 anos de Sporting campeão, consolidando-se o avançado da moda do futebol europeu num panteão muito restrito junto de craques deste século como Deco, Hulk ou Jonas.
Hjulmand revelou-se legítimo herdeiro do capitão Coates, Diomande alternou exibições dominantes com disparates pontuais (na reta final, emergiu inclusive Eduardo Quaresma como o melhor central leonino) e, com Pedro "Pote" Gonçalves muitos meses de fora por lesão, Trincão disse presente como farol criativo dos campeões nacionais.
Carreras passou de jogador tímido para alvo do Real Madrid e, além do duo turco ocasionalmente fenomenal, Kökçü e Aktürkoglu, foi o grego Vangelis Pavlidis quem mais vezes "inventou" o melhor futebol encarnado. Os grandes golos do mágico Rodrigo Mora e as defesas impossíveis do costa-riquenho Patrick Sequeira são outras das notas a reter num campeonato que se podia muito bem dividir em 3 ou 4 etapas, de acordo com a flutuação de tendências e momentos de forma, individuais e coletivos.
São os jogadores que fazem aquilo que o futebol é, e por isso os prémios abaixo são, praticamente, só deles. Abaixo encontrarão o nosso 11 do Ano, Jogador e Jovem do Ano, Treinador do Ano e algumas categorias adicionais:


Guarda-Redes: Não houve, como aconteceu com Ricardo Velho na última época, um destaque indiscutível nas balizas portuguesas. Rui Silva transmitiu a confiança necessária na segunda metade da temporada (efetuou apenas 21 defesas, jogando contra si o facto de ter sido pouco testado, embora esse seja precisamente o desafio dos guarda-redes de equipa grande, coisa que ele provou ser), Ivan Zlobin estava a ser o melhor guarda-redes da prova até se lesionar com gravidade nos rins e não teria sido descabido incluir no nosso Top-5 deste ano o polaco Miszta.
Anatoliy Trubin e Diogo Costa continuam a ser os guardiões mais completos da Liga portuguesa, o que não se tem traduzido porém em super-exibições com a regularidade que lhes é exigida. O português, com uma defesa fantasmagórica à sua frente, não conseguiu evitar que os azuis e brancos perdessem 7 jogos e empatassem 5 (foi, no entanto, o GR que acumulou mais clean sheets entre todos). Quanto a Trubin, que apareceu em grande plano nas últimas jornadas do campeonato - algo que pode toldar uma análise global mais objetiva - deixou em vários momentos uma imagem de "podia ter feito mais", bastando recordar que Samuel Soares chegou a ser titular nas jornadas 23 e 25 precisamente para estimular Trubin e não "queimar" a sua confiança antes da entrada na reta decisiva.
Assim, os três guarda-redes mais consistentes foram elementos de equipas abaixo do pódio. No sensacional Santa Clara, equipa que passou da II Liga para a Liga Conferência, Gabriel Batista (75,4% de remates defendidos e 81 defesas) foi o porto seguro de um conjunto que fechou a época apenas com mais 5 e 4 golos sofridos do que os dois primeiros classificados. No Braga, a saída de Matheus permitiu em boa hora a ascensão do checo Lukás Hornícek (um abismal registo de 82,8% de remates defendidos), jogador cuja afirmação queremos seguir com atenção em 25/ 26.
Mas o ano foi de Patrick Sequeira. O "novo Keylor Navas" da Costa Rica está definitivamente destinado a um clube e campeonato doutro patamar, tendo sido o guardião que mais vezes fez os avançados levarem as mãos à cabeça, e acumulando defesas impossíveis e exibições milagrosas. Ficou apenas atrás de Hornícek na percentagem de remates defendidos, destacando-se de toda a concorrência com umas expressivas 119 defesas. Melhor momento: as suas 13 defesas na receção ao Famalicão.

Lateral Direito: A posição de lateral direito é, tradicionalmente, a que reúne intérpretes menos brilhantes no nosso campeonato. O ano passado contou com Costinha, Geny e Rodrigo Gomes, e desta vez a qualidade manteve-se sensivelmente no mesmo nível, com os dois principais destaques a acabarem como "vítimas" de fatores externos.
Uns degraus abaixo, Tiago Esgaio voltou a primar pela competência, Gustavo Garcia deixou excelentes indicações na primeira vez que saiu do ninho (Palmeiras) para o estrangeiro, e o grego Marious Vrousai (muito forte nos duelos defensivos) foi o principal porta-estandarte da helenização do Rio Ave.
Como verão abaixo na esquematização do nosso 11 do Ano, optámos por adaptar um central do Sporting a esta posição, porque nenhum dos dois melhores DD do campeonato teve um impacto significativo no desfecho do mesmo. Tomás Araújo começou o ano em grande, e enquanto foi central foi inclusive considerado de forma unânime "o melhor central do Benfica". No entanto, a lesão de Bah condenou-o em definitivo a jogar muitas partidas onde, convenhamos, acrescenta muito menos. No Sporting, Geovany Quenda (transferência já acordada para o Chelsea, embora continue por cá a maturar em 25/ 26) foi extraordinário enquanto Amorim cá esteve. Dai para cá, foi um dos jogadores que Rui Borges não soube tratar: perdeu-se em muitos jogos como extremo esquerdo, e terminou inclusive a época como frequente suplente.

Defesa Central: Num ano de pouco fulgor para os centrais do Porto e do Braga, e onde António Silva falhou quando "recuperou" o seu lugar face à adaptação forçada do colega Tomás, o Sporting voltou a convencer, sabendo viver com a saída do capitão e comandante Coates. Ousmane Diomande, dominante e imperativo nos seus melhores dias, não foi imune ao erro (aproximadamente uma mão cheia de infantilidades ou instantes de indisciplina ao longo da época) mas dificilmente existiria um Sporting campeão sem Diomande no meio da linha de 3 centrais. Numa perspetiva de clube comprador, terão visto nesta edição aquilo que pode fazer de Diomande um dos melhores do mundo na sua posição, mas também aquilo que pode fazer dele um risco ou recomendar um stand-by. Na sua órbita, Eduardo Quaresma acabou a época num nível estupendo - o seu golo decisivo ao Santa Clara e uma exibição praticamente imaculada na Luz serviram para elevar a sua avaliação. Jogou apenas em 20 jogos (1.395 minutos), mas fez o suficiente para, como verão abaixo, entrar no 11 com o sacrifício do candidato de outra posição.
Também muito ativo na sua defesa, Cláudio Falcão completou a metamorfose de médio defensivo para central numa linha de 5, tendo feito tudo (insuficiente, no entanto) o que estava humanamente ao seu alcance para evitar a descida do Farense. Toni Borevkovic dominou nas alturas, nunca se coibiu de deixar evidente a sua impetuosidade (por vezes em excesso), e estabilizou quando teve Filipe Relvas (ótimo central) ao seu lado; e finalmente Sidney Lima foi um dos notáveis obreiros da campanha do Santa Clara. Provou que há grandes centrais com pouco mais de 1,80m e juntou golos (3) às suas prestações defensivas.

Defesa Central: Se as águias foram capazes de virar a página e manter a luta pelo título em aberto até à última jornada - além das óbvias facilidades e vicissitudes no trajeto do Sporting - muito o deveram a Nicolás Otamendi. O capitão encarnado, um exemplo de entrega e de competitividade ao mais alto nível, até somou alguns erros individuais ao longo da temporada, mas são fáceis de passar para segundo plano quando se coloca tudo em equação: aos 37 anos, marcou 6 golos, foi rei nas interceções, superiorizou-se pelo ar e no solo. Foi extraordinário na segunda volta, conseguindo um dos mais importantes desígnios de um capitão: fez acreditar.
Entre outros centrais, Gonçalo Inácio não esteve tão exuberante como na época passada mas voltou a demonstrar a sua qualidade a desbloquear através do passe, Justin De Haas foi "patrão" no Famalicão, impressionando ainda o contributo de dois veteranos, Luís Rocha (38 anos) e Marcelo (35) nas prestações de Santa Clara e Moreirense.

Lateral Esquerdo: No começo da época, com Schmidt no clube e Beste (ficarão sempre como boa memória aqueles cantos) como reforço, poucos diriam que um jovem espanhol que se apresentara tímido na reta final de 23/ 24 viria a ser um dos melhores jogadores desta Liga Portugal Betclic. Álvaro Carreras não foi o melhor jogador dos encarnados em 24/ 25 mas foi sem dúvida, entre as águias em destaque, o mais regular. Aos 22 anos, o lateral impressionou sobretudo pela forma como tantas vezes pareceu intransponível em situações de 1 para 1, galgando metros em transição com uma resistência extraordinária, quase sempre até ao minuto 90. Apontou 3 golos, podia claramente ter assistido mais (apenas uma assistência) mas fez mais do que o suficiente para justificar o compreensível interesse do Real Madrid.
Uns furos abaixo de Carreras, Francisco Moura foi um dos poucos jogadores do Porto que mostrou que podem contar com ele na próxima época. O ex-Famalicão somou 3 golos e umas notáveis 11 assistências, descobrindo a sua melhor versão com Anselmi. E entre os 3 grandes, Maxi Araújo demorou um pouco a adaptar-se ao futebol português e a criar raízes no 11 do Sporting, mas nas jornadas finais houve poucos leões a demonstrarem a sua vontade e firmeza em todas as ações.
Matheus Araújo, mais conhecido como MT, deve ter atraído muitos interessados com as suas performances, ora a lateral ora a central pela esquerda, e Leonardo Lelo fechou em bom plano o seu trajeto no Casa Pia (4 épocas), seguindo-se agora Braga.

Médio Defensivo: Além de Gyökeres, Morten Hjulmand é o único jogador do campeonato a repetir a sua presença no nosso leque de 6 jogadores do ano, como verão abaixo. Promovido a capitão (líder nato), o dinamarquês ajudou a desequilibrar a Liga a favor dos leões, através da forma como equilibrou sempre a equipa. Jogador irritante para os adversários, pelos múltiplos recursos que o tornam quase imune à pressão e à perda do esférico, o número 42 leonino foi nomeadamente uma das figuras nas duas voltas diante do Benfica. Quase a completar 26 anos, o médio que deu o mote para o grupo mal Ruben Amorim saiu ("Queremos agora mostrar que não precisamos do Ruben"), que não será tão irresistível como Gyökeres no mercado, corre o risco de permanecer em Alvalade nos melhores anos da sua carreira. Ótima notícia para o Sporting, péssima notícia para os adversários.
Entre os restantes pêndulos do meio-campo, Florentino voltou a ser um polvo e um acumulador de desarmes e recuperações. O médio encarnado também somou, no entanto, várias perdas de bola, e é provável que a posição 6 fique entregue em 2025/ 26 a um jogador de diferente perfil.
O turco Demir Tiknaz (emprestado pelo Besiktas ao Rio Ave) revelou-se um verdadeiro luxo para um emblema que terminou em 11º, impressionando com a sua serenidade e raio de ação. Zeno Debast chegou para ser central mas acabou por convencer e evoluir muito ao lado de Hjulmand; e Tomás Händel não explodiu de rendimento mas voltou a adornar o jogo vitoriano com muita elegância.

Médio Centro: Orkun Kökçü é um jogador muito peculiar. O máximo criador de oportunidades na Liga (com 76 oportunidades superou as 75 de Francisco Trincão) deu efetivamente o salto esperado ao atuar taticamente onde se sente cómodo - como 2º médio (e não como dez, como tanta gente teimosa e ignobilmente defendeu) com liberdade para progredir com bola, vendo o jogo de frente. Animado com a chegada do compatriota Aktürkoglu, o ex-Feyenoord até piorou as suas estatísticas (manteve o registo de 7 golos, baixando de 8 para 7 nas assistências) mas juntou grandes golos de meia distância a uma maior influência no jogo do clube da Luz. Porém, é razoável exigir-lhe que assuma muito mais a batuta, sem se esconder, é sensato pedir-lhe que suba a intensidade, e constata-se cada vez mais que se trata de um jogador muito facilmente condicionado pelas caraterísticas dos colegas à sua volta.
No miolo benfiquista, Fredrik Aursnes deu sequência ao que tem sido o seu percurso de águia ao peito: extraordinário QI, versatilidade tática que convida à sua utilização em várias posições e funções, sem estabilizar numa. O melhor Benfica apareceu quando Aursnes comandou a linha de pressão encarnada, mas marginalmente favorecemos Kökçü esta época.
Quanto aos demais, Tiago Silva foi o melhor médio do Vitória mantendo uma regularidade exibicional notável. Alanzinho (7 golos e 6 assistências) foi o melhor cónego, e aos 20 anos Gustavo Sá prosseguiu o seu desenvolvimento como atleta. O potencial continua lá todo, mas parece precisar de ser estimulado com o salto para outro clube, podendo ainda "especializar-se" numa de 3 posições.

Extremo Direito: No ano passado elegemos Jota Silva nesta posição, numa edição que contou também com Trincão, Chico Conceição, Di María e Guitane em bom plano. Desta vez, ninguém tem dúvidas: Francisco Trincão foi o melhor extremo e um dos melhores jogadores da Liga Portugal Betclic.
Senhor de indefensáveis remates e de diagonais incisivas, o rapaz nascido em Viana do Castelo acusou bastante a saída de Ruben Amorim... mas reergueu-se - com a equipa privada da criatividade de Pedro Gonçalves, Trincão desbloqueou a sua faceta como assistente. Não surpreende por isso que a "ligação" mais frequente (aconteceu 5 vezes) deste campeonato tenha sido assistência de Trincão para golo de Gyökeres.
Ángel Di María não conseguiu escrever o capítulo que desejava na sua última página no Glorioso, mas abraçou os adeptos com uma excelente fase por volta de Novembro e Dezembro. Mais consistente foi o famalicense Sorriso, sem esquecer a extraordinária promessa que é Roger Fernandes (a sua lesão surgiu no pior momento possível) e Telmo Arcanjo, capaz de transpor para a I Liga o que já fizera no segundo escalão.

Extremo Esquerdo: Este miúdo vai dar muito que falar. Não discutiremos com aqueles que optarem por colocar Kerem Aktürkoglu no seu 11 do Ano - o ex-Galatasaray foi o único jogador da prova a atingir os dois dígitos em golos e assistências, mas faltou-lhe maior influência no futebol das águias além do golo (o mais difícil, é certo) e faltou "aparecer" durante o meio da época, acabando por brilhar sim nos seus primeiros dois meses em Portugal e nos últimos dois. Por sua vez, Rodrigo Mora (18 anos) agarrou a oportunidade e tornou-se símbolo de esperança e quase único motivo para sorrir e confiar no futuro, no universo azul e branco. Tecnicista de futebol puro, com a habilidade do seu pior pé a ser superior ao melhor pé dos outros, Mora encantou como poucos jogadores nesta Liga por vezes desenxabida, e entre os 10 golos que marcou, uns cinco podiam perfeitamente concorrer a Golo do Ano.
Além do duelo Mora vs Aktürkoglu, João Carvalho atingiu um patamar de consistência que há muito procurava, Félix Correia poderá ter feito o suficiente para deixar Barcelos pela porta grande, e o velocíssimo Gabriel Silva não foi capaz de manter o nível com que iniciou a temporada, mas não deixou de ser um dos extremos capazes de causar, individualmente, mais estragos.

Avançado: O que jogas, Vangelis... Honestamente, quando o Benfica contratou o grego Vangelis Pavlidis ao AZ pensámos que traria golos para o nosso campeonato, mas que a sua influência na dinâmica da equipa seria diminuta, limitando-se ao oportunismo sagaz e a finalizações clínicas. A pré-época de Pavlidis até foi um pouco isso, mas na época a sério ficámos realmente a conhecer o super jogador pelo qual os encarnados pagaram 18 milhões.
O homem que esta temporada apontou hat-tricks a Barcelona e Porto (no Dragão) revelou-se porventura o mais determinante elemento do futebol do Benfica. Incansável, ótimo a vir buscar jogo, a combinar com os colegas, a descobri-los através do passe ou depois de driblar uma defesa inteira (Benfica vs Sporting). Durante as primeiras 19 jornadas marcou 4 golos. Os mais incapazes não hesitaram em chamar-lhe Flop, e foi esse suposto flop que marcou depois 15 golos nas 15 jornadas finais.
Num plano bem abaixo, Samu Aghehowa totalizou os mesmos 19 golos que Pavlidis, mas deu muitíssimo menos noutras dimensões do jogo. Objetivamente, pode-se inclusive dizer que foi com Vítor Bruno que Samu rendeu mais.
Ricardo Horta voltou a apresentar números simpáticos (11 golos e 5 assistências), e ficaram-nos na retina o virtuosismo técnico de Óscar Aranda, jogador que completou mais dribles com sucesso na Liga e também o que mais faltas sofreu, e o francês Yanis Begraoui, que fechou a temporada com um hat-trick em 23 minutos e pode claramente deslumbrar em 25/ 26 se por cá ficar, seja no Estoril ou num clube acima na tabela.

Avançado: Novamente, e por larga margem, o MVP da Liga Portugal Betclic. Depois de inexplicavelmente nenhum colosso europeu o levar de Lisboa no Verão passado, Viktor Gyökeres superou-se em todos os parâmetros e, podemos dizer, decidiu este campeonato sozinho.
O sueco passou de 43 golos em 50 jogos (em todas as competições) em 23/ 24 para uns arrasadores 54 golos (39 no campeonato!) em 52 jogos, deixando todos os defesas a seus pés e obrigando todo e qualquer adversário a render-se perante a sua força, energia e determinação. O leão da máscara marcou tantos ou mais golos do que 10 equipas da Liga, só precisou de 31 titularidades para ficar à beira dos 40 golos, perdendo tangencialmente a Bota de Ouro para Mbappé. Na Liga, o melhor jogador do campeonato apontou 2 pókers, 3 hat-tricks e bisou por 5 vezes.
Entre os comuns mortais, Clayton colocou-se na órbita dos grandes ao ser o melhor marcador pós-Gyökeres, Pavlidis e Samu; o seu substituto no Casa Pia, Cassiano, foi sempre um exemplo pelo trabalho a que sujeitou as defensivas contrárias; Vinícius Lopes colocou defesas em sentido, ora na asa direita ora no corredor central; e Conrad Harder seguiu de perto o seu tutor, acabando por funcionar como boa vitamina em alguns jogos do Sporting.

Anos mais tarde iremos recordar aquelas duas épocas em que o Sporting foi bicampeão, aquelas duas épocas em que o Sporting teve Viktor Gyökeres. Num patamar qualitativo estratosférico para a nossa realidade, o dianteiro sueco foi quase sempre uma espécie de "batota" para este campeonato, tal o seu impacto e capacidade de carregar a equipa. Marcou 39 golos, precisando em média de apenas 72 minutos para marcar 1 golo. Voltou a todo o gás para a reta final, depois de um pequeno problema físico a meio caminho, e nas jornadas finais ficou bem evidente como um candidato e rival com recursos mais diferenciados perdeu para um jogador muito, muito especial.
Está com 27 anos. Entrelaça os dedos mas os olhos não escondem a felicidade. Despe a camisola e grita, numa emoção musculada, o seu lugar para sempre na História do Sporting e do futebol português. É, ele sim, o verdadeiro dono disto tudo. Até quando?
Os restantes elementos do Top-6 deste ano, que não nos parece oferecer discussão, são o capitão leonino Morten Hjulmand (tal como Gyökeres, um repetente), o capitão encarnado Nicolás Otamendi (já não há palavras para a sua fome de competição e de vitórias), o goleador e faz-tudo Vangelis Pavlidis, o driblador em diagonais de bigode Francisco Trincão e um lateral esquerdo, Álvaro Carreras, destinado aos maiores palcos do futebol europeu.

João Neves (2024), Gonçalo Ramos (2023), Vitinha (2022), Pedro Gonçalves (2021), Marcus Edwards (2020), João Félix (2019), Rúben Dias (2018), Gelson Martins (2017), Renato Sanches (2016), Óliver Torres (2015) e William Carvalho (2014). Na 12ª vez que o BPF elege os melhores em Portugal, distinguimos pela 3ª vez um jovem estrangeiro e pela segunda vez um defesa - o espanhol Álvaro Carreras foi o Jovem Jogador do Ano em Portugal.
O futuro lateral esquerdo do Real Madrid chegou à Luz por apenas 6 milhões, numa espécie de "pode ser que dê jogador". Começou tímido, estava projetado como suplente de Beste, mas fez-se jogador e contagiou a equipa com a sua resistência sem limites, matando os sonhos dos extremos contrários e fazendo a equipa sonhar nos seus raides de apoio ao longo do corredor. Foi de uma extrema regularidade e tudo leva a crer que daqui a vários anos, quando estiver consolidado como um dos laterais esquerdos de topo, poderemos recordar "sim, antes disto tudo, ele foi do Benfica".
Rodrigo Mora (18 anos) apresentou um nível mais alto mas fê-lo durante menos tempo. O novo menino de ouro da Invicta só conquistou a titularidade na jornada 20, mas deslumbrou os relvados nacionais com pormenores de génio e golos para ver e rever. Torcemos para que esteja por cá em 2025/ 26, época em que parte como super-favorito para suceder Carreras. E dos 6 jovens que escolhemos, é quem vemos com melhores chances de surgir mais alto em futuros rankings Bola de Ouro.
Esta edição teve ainda os primeiros passos de Geovany Quenda (18 anos feitos em Abril), que talvez concorresse com outros argumentos se Amorim nunca tivesse saído; Ousmane Diomande fez sentir a sua presença no coração da defesa verde e branca; Samu Aghehowa só ca chegou na jornada 4 mas ainda foi a tempo de apontar 19 golos; e Tomás Araújo viu a sua cotação descer quando transitou de central para lateral.
Debast, Roger, Gustavo Sá e Tiknaz também merecem uma menção honrosa.

Treinador do Ano: Quando o Sporting venceu o Braga por 4-2 a 10 de Novembro, no último jogo de Ruben Amorim, os leões tinham 11 vitórias em 11 jogos, 39 golos marcados e apenas 5 sofridos. O fantasma Amorim esteve sempre presente neste campeonato, pela fasquia inigualável e porque, se Old Trafford não tivesse chamado, este seria o seu bicampeonato. Mas foi, sim, o primeiro título de Rui Borges. O técnico de Mirandela, que já integrara o nosso quinteto de treinadores na época passada ao serviço do Moreirense, fez um trabalho sólido em Guimarães - equipa a competir pelo 4º lugar e um percurso europeu sem derrotas na Liga Conferência, ficando apenas atrás do Chelsea na fase de liga. O salto para Alvalade deixou a nu algumas limitações, principalmente a incapacidade de melhorar a equipa nas segundas partes, mas é importante não esquecer a humildade com que soube dar um passo atrás, ouvir os jogadores e pôr o ego de lado, abandonando um híbrido 4-3-3 / 4-4-2 para o regresso do 3-4-2-1. E é indiscutível como, a partir do banco, foi superior a Lage nos dois jogos do campeonato entre os rivais de Lisboa. Não perdeu qualquer jogo na Liga pelo Sporting (as duas derrotas foram de João Pereira).
Mas nem só por maus motivos se deve falar do nome João Pereira. O substituto imediato de Amorim foi um desastre mas o homónimo, treinador com apenas 33 (!) anos, foi um dos melhores da Liga. O seu Casa Pia teve "dedo" de treinador, e foi um excelente exemplo de um todo (equipa) melhor do que as partes levariam a crer.
Vasco Matos passou de 1º na II Liga para o quinto lugar da I Liga. O seu Santa Clara foi a equipa sensação, terminando inclusive acima do Vitória, e embora se pudesse pedir um pouco mais de entretenimento e desdobramento na frente de ataque, ninguém pode apontar nada à competência e rigor defensivo dos insulares.
O escocês Ian Cathro pôs o Estoril a praticar um bom futebol, e somou brilharetes nas conferências de imprensa com o seu português sem filtros e, por fim, a última vaga podia ser de Tiago Margarido (Nacional) ou Cristiano Bacci (Boavista e Moreirense) mas optámos por Hugo Oliveira, o ex-treinador de guarda-redes que deixou boas indicações na sua estreia como técnico principal.
Melhor Marcador: 1. Viktor Gyökeres (Sporting) - 39
2. Samu Aghehowa (Porto) e Vangelis Pavlidis (Benfica) - 193. Clayton (Rio Ave) - 14
Melhor Assistente: 1. Francisco Trincão (Sporting) - 14
2. Francisco Moura (Porto) - 11
3. Kerem Aktürkoglu (Benfica) - 10
Clube-Sensação: Santa Clara
Desilusão: Porto
Most Improved Player: 1. Álvaro Carreras, 2. Clayton, 3. Nuno Moreira
Reforço do Ano: Álvaro Carreras (Benfica)
Flop do Ano: Nehuén Pérez (Porto)
Melhor Golo: Kerem Aktürkoglu ft. Vangelis Pavlidis (Benfica 1 - 1 Sporting) (Link)
