Balanço Final - Liga NOS 18/ 19

A análise detalhada ao campeonato em que houve um antes e um depois de Bruno Lage. Em 2018/ 2019 houve Reconquista.

Prémios BPF Liga NOS 2018/ 19

Portugal viu um médio carregar sozinho o Sporting, assistiu ao nascer de um prodígio, ao renascer de um suiço, sagrando-se campeão quem teve um maestro e um velocista.

Balanço Final - Premier League 18/ 19

Na melhor Liga do mundo, foram 98 contra 97 pontos. Entre citizens e reds, entre Bernardo Silva e van Dijk, ninguém merecia perder.

Os Filmes mais Aguardados de 2019

Em 2019, Scorsese reúne a velha guarda toda, Brad Pitt será duplo de Leonardo DiCaprio, Greta Gerwig comanda um elenco feminino de luxo, Waititi será Hitler, e Joaquin Phoenix enlouquecerá debaixo da maquilhagem já usada por Nicholson ou Ledger.

21 Novas Séries a Não Perder em 2019

Renasce The Twilight Zone, Ryan Murphy muda-se para a Netflix, o Disney+ arranca com uma série Star Wars e há ainda projectos de topo na HBO e no FX.

31 de maio de 2024

Prémios BPF Premier League 2023/ 24

  Os anos prosseguem e o Manchester City de Pep Guardiola continua a fixar novos recordes. Numa luta a três, que na reta final se tornou a dois, o desfecho foi o 4º campeonato consecutivo para os cityzens, uma marca que nunca ninguém (nem mesmo Sir Alex!) conseguira em Inglaterra. São 4 em 4 e 6 em 7, reforçando a hegemonia e previsibilidade que Pep normalizou na até então liga mais imprevisível da elite do futebol europeu.

    Os caminhos de Manchester City, Arsenal e Liverpool foram distintos. No adeus de Jürgen Klopp, os reds acumularam lesões, reconstruíram o meio-campo, viram o seu faraó prolongar custosa ausência com uma lesão na CAN, e mesmo assim aguentaram algum tempo o 1º posto, numa temporada de renascimento para Virgil van Dijk. Cada vez mais perto do título, que foge aos londrinos há 20 anos, o Arsenal fez o City suar até à última jornada - os gunners tiveram o bónus de, entre os três candidatos, terem podido apresentar bastantes mais vezes o seu melhor 11, e ficar-se-ão a queixar de uma derrota caseira frente ao Aston Villa, do não forcing por algo mais no 0-0 em casa do City e, claro, daquele momento de Son Heung-Min cara a cara com Ortega, qual Kolo Muani vs Emi Martínez. Quanto aos tetracampeões, Pep conseguiu novamente alimentar a competitividade e o apetite de ganhar de um conjunto que acabara de ganhar o triplete: mesmo muito tempo sem o melhor jogador do campeonato (Kevin De Bruyne falhou basicamente toda a 1ª volta) e privado do seu goleador Haaland na viragem do calendário, emergiu o animal competitivo e consistente que é Rodri e, sobretudo, a primeira grande época de Phil Foden como máxima figura da equipa.

    Na luta pelo Top-4, foi o extraordinário Aston Villa de Unai Emery a garantir o último bilhete para a Liga dos Campeões, deixando de fora o Tottenham (boa época de estreia de Postecoglou no pós-Kane), Chelsea (471 milhões gastos em transferências), o Newcastle e o Manchester United, com os red devils a ficarem pela primeira vez na sua História com uma diferença de golos negativa (-1).
    Brighton e Brentford, com treinadores da moda como De Zerbi e Thomas Frank, também desiludiram, ao contrário do Everton de Sean Dyche, que fez de Goodison Park novamente um estádio desconfortável e indesejável para qualquer rival. Sem a penalização de 8 pontos pela violação de regras do fair-play financeiro, os toffees teriam terminado três lugares acima. O Bournemouth de Iraola será uma equipa para continuarmos atentos, o Crystal Palace foi uma das 4 equipas a pontuar mais desde que o austríaco Oliver Glasner assumiu a equipa em Fevereiro, e na zona de despromoção, os 3 que tinham acabado de subir, descem novamente num trio de visitas de médico das quais só fica uma boa imagem de Luton Town.

    Individualmente, Phil Foden assumiu as rédeas do Manchester City e disse presente em variadíssimos momentos da época, ora na direita ora a atuar mais por dentro. E foi nessas mesmas zonas que Cole Palmer, transferido do City para o Chelsea, surpreendeu tudo e todos - o jovem inglês de 22 anos evoluiu de forma impensável, acumulou números surreais e provou ser simultaneamente o Reforço do Ano e o Most Improved Player desta edição.
    A fiabilidade de Rodri e Declan Rice, a tremenda consistência de Ollie Watkins (o melhor avançado da Premier League desta vez não foi Haaland) e Isak, as portentosas exibições dos centrais Van Dijk, Saliba e Gabriel, a verticalidade estonteante de Bukayo Saka e Anthony Gordon e a fantasia de Martin Odegaard foram pontos-chave de 23/ 24.

    Como todos os anos, é chegada a altura de indicarmos aqueles que foram para nós os melhores do ano: o nosso 11, o Jogador do Ano e o Jovem Jogador do Ano, o Treinador do Ano, e ainda algumas categorias complementares.



Guarda-Redes: Esta época não houve um destaque claro entre os postes em Inglaterra. Vários guarda-redes apresentaram um nível alto mas nenhum reclamou um lugar ao Sol de forma demarcada dos restantes. Raya recebeu as luvas de ouro ao manter por 16 ocasiões a baliza a zeros, mas o reforço do Arsenal foi beneficiado pelo irrepreensível comportamento da sua defesa, que o protegeu, possibilitando que apenas raras vezes fosse colocado à prova. Vicario deslumbrou Inglaterra com algumas das defesas por reflexo mais espetaculares do ano, mas viu ser explorada em particular na 2ª volta a sua relativa permeabilidade nas saídas a cruzamentos em bolas paradas. Leno esteve consistente, José Sá terá evitado 8,5 golos e Muric mostrou (tardiamente) a Kompany que a época do Burnley poderia ter sido diferente se a baliza tivesse continuado a ser sua e não de Trafford.
    O nosso Top-5 inclui, quiçá com alguma polémica, André Onana. O sucessor de De Gea em Old Trafford teve um ano atribulado, realizou uma Liga dos Campeões do pior que já vimos, mas na Premier League apresentou uma trajetória de rendimento ascendente, consolidando-se em 2024 como um guardião forte tanto no número de defesas (146, mais do que todos os outros) como na percentagem de remates defendidos (registo próximo de Alisson, Areola e Pickford).
    Alisson não esteve tão exuberante e colossal como noutras edições, falhando inclusive uma fatia da competição (Kelleher foi competente substituto nos 10 jogos em que foi a jogo), mas soube ser juntamente com van Dijk a constante numa defesa em permanente mutação e correção; Alphonse Areola realizou o maior volume de defesas "impossíveis" desta edição, e assim a decisão final deveria ficar entre Jordan Pickford e Emiliano Martínez. O britânico convenceu-nos de vez, realizando a melhor temporada da carreira num Everton que só ficou abaixo do Top-3 em golos sofridos, mas o argentino talvez mereça ligeira vantagem quando incluímos em equação o seu xGOT.


Lateral Direito: Ben White, o jogador de futebol que admite que não costuma ver futebol e que terá um beef com o atual adjunto da seleção nacional inglesa, merece todo o crédito que lhe possamos dar. Outrora visto como um lateral adaptado, nesta altura deve ser consensual a sua qualidade e naturalidade para desempenhar a posição - só um defesa (Romero) marcou mais do que os 4 golos com que Ben White fechou a época, juntando-lhes 4 assistências, uma cobertura exímia às ações de Saka e uma antecipação para estancar rapidamente e por dentro potenciais transições dos oponentes.
    Kyle Walker (continua a ser o melhor lateral do mundo em transição defensiva) realizou um primeiro terço de época incrível mas veio paulatinamente a cair, Trent Alexander-Arnold só foi titular em 25 jogos e teve números tímidos (3 golos e 4 assistências) para o seu standard, mas passeou qualidade e deu lições de distribuição e passe longo, permanecendo a dúvida se Arne Slot o vai utilizar como lateral ou, como Southgate deve fazer no Euro 2024, como médio.
    Pedro Porro participou ativamente em 10 golos e Ezri Konsa começou a central mas viajou com sucesso para a lateral direita quando Emery pôde promover Diego Carlos e Pau Torres como dupla preferencial.


Defesa Central: É bastante assustador pensar que William Saliba tem apenas 23 anos. Único jogador de campo que disputou todos os 3420 minutos possíveis desta edição, o central francês foi uma torre de controlo, sinónimo de segurança e tranquilidade. A parceria que forma com Gabriel é, aos dias de hoje, a melhor dupla de centrais do mundo.
    Nathan Aké foi o melhor central dos campeões, numa temporada em que Rúben Dias esteve muitos furos abaixo de outras épocas, podendo-se sim considerar Akanji para esta categoria. James Tarkowski, um central "duro" e à antiga, contribuiu para fazer do Everton uma defesa de topo, apadrinhando a evolução do colega Branthwaite. Joachim Andersen voltou a mostrar no Crystal Palace que tem qualidade suficiente para dar o salto para o Top-6, e Cristian Romero (defesa com mais golos apontados, 5) foi como sempre um osso duro de roer, numa estranha defesa dos spurs em que individualmente os jogadores pareceram bons sem formar um setor coeso.


Defesa Central: VVD está de volta. Numa temporada em que o Arsenal apresentou a melhor dupla de centrais da Premier League, o neerlandês Virgil van Dijk regressou ao patamar que o elevou há poucos anos a melhor central do planeta. Com tudo à sua volta a desmoronar (lesões motivaram que fizesse dupla com Konaté, Quansah, Matip e Gómez, com o guarda-redes suplente a ter que assumir a baliza em 10 jornadas e um meio-campo à sua frente em renovação), o capitão do Liverpool segurou a equipa e manteve-a viva na luta pelo título mais tempo do que seria expectável. Não fez parte da melhor defesa mas foi individualmente o melhor defesa.
    Gabriel Magalhães formou com Saliba uma parceria praticamente perfeita, Jarrad Branthwaite mostrou que tem tudo para se tornar num ápice o central da moda em Inglaterra, o filho de um espião Micky van de Ven impressionou com a sua velocidade e margem de crescimento, e Pau Torres não acusou a mudança para um campeonato mais físico, dotando o Aston Villa de uma peculiar capacidade de explorar as costas dos oponentes. 


Lateral Esquerdo: A posição mais débil das 11 em avaliação permite no final do artigo fazermos um sacrifício para conjugar no mesmo onze os médios ofensivos Cole Palmer e Martin Odegaard.
    A boa época de Diogo Dalot (eleito internamente jogador do ano do Manchester United pelos colegas) foi sobretudo no seu flanco de origem, mas a verdade é que o português ex-Porto também foi titular por 13 vezes a lateral esquerdo. Destiny Udogie começou melhor do que acabou, mas deixou no ar que poderá ser um dos laterais mais fascinantes dos próximos anos na Premier. Alfie Doughty viu o seu Luton Town descer, mas não deverão faltar interessados em garantir os seus serviços: foi o defesa que mais oportunidades de golo criou (70) e uma verdadeira máquina de executar cruzamentos (340).
    O norte-americano Antonee Robinson terá sido o lateral esquerdo mais regular nesta edição de 2023/ 24, pelo que não há grande contra-argumentação para quem o escolha. Porém, tem um peso diferenciado a importância da veia goleadora de Josko Gvardiol na caminhada final do Manchester City rumo ao primeiro lugar. O croata foi juntamente com Doku o reforço que mais acrescentou no conjunto de Pep, e os seus 4 golos nas derradeiras 10 jornadas tiveram um papel decisivo.


Médio Defensivo: O homem não perde. Rodri (entretanto derrotado no tempo regulamentar de um jogo contra o Manchester United na FA Cup, depois de 74 jogos sem conhecer o sabor da derrota) é o melhor médio defensivo do mundo, e o jogador mais imprescindível na equipa que pratica o melhor futebol da atualidade. Jogador com insaciável fome de vencer, o espanhol voltou a exibir-se num patamar estratosférico, desta vez inclusive com números (8 golos e 9 assistências) e foi um dos jogadores da temporada. Rodri falhou 4 jogos, o City perdeu três deles.
    Além de Rodrigo Hernández, há que mencionar a grande época de Alexis Mac Allister, o novo senhor do meio-campo dos redsDouglas Luiz deu um significativo salto, assumiu todas as bolas paradas e veremos que clubes poderão estar interessados no seu passe. Bruno Guimarães (jogador que sofreu mais faltas) continuou a puxar pelo Newcastle e nos magpies ficou somente atrás de Isak e Gordon em brilhantismo e contribuição para golos, e finalmente o nosso João Palhinha recompôs-se da transferência falhada para Munique e, com todo o seu profissionalismo, terminou a temporada como jogador com mais desarmes.


Médio Centro: Quando o Arsenal pagou 116 milhões de euros ao West Ham por Declan Rice era exatamente isto que os gunners podiam desejar. Declan Rice chegou ao Emirates e teve impacto instantâneo: um líder por natureza, profundamente conhecedor do campeonato, não acusou em momento algum o salto para um candidato ao título e foi inclusive o melhor jogador numa equipa que contou com performers brilhantes como Saka, Odegaard ou Saliba. O camisola 41 teimou em aparecer nas tardes e noites difíceis - recordamos os golos contra Manchester United, Chelsea, uma exibição de mão cheia contra o City na primeira volta, e aquele golo aos 90+6 no reduto do Luton.
    Sempre em alta rotação, Conor Gallagher emergiu como inquestionável capitão do Chelsea, recuperando a posse e asfixiando o adversário como Pochettino lhe pediu. Pascal Gross manteve a bitola elevada numa época bastante fraca do Brighton, John McGinn foi um faz-tudo no miolo solidário e resistente do Aston Villa, e Ross Barkley renasceu das cinzas em Kenilworth Road.


Médio Ofensivo: Jovem Jogador do Ano, reforço do ano e Most Improved Player. Um dos jogadores mais marcantes do ano. Quando o recheado de qualidade Manchester City libertou o produto da sua formação Cole Palmer por 47 milhões de euros para o super comprador Chelsea, ninguém poderia prever o que estava para acontecer.
    Depois de um excelente Euro Sub-21, "Cold Palmer" (jogador com mais pontos no Fantasy da Premier League) passou de jogador sem qualquer golo marcado no principal escalão inglês para alguém que está às portas da titularidade na seleção inglesa, carregando o Chelsea com 22 golos e 11 assistências.
    Martin Odegaard foi inferior a Cole Palmer mas também merece figurar no 11 do Ano. O norueguês não esteve tão forte como na temporada passada, mas o progresso do Arsenal em 2024 deu-se quando o seu maestro começou efetivamente a fazer jogar toda a equipa.
    Kevin De Bruyne jogou apenas 15 jogos a titular, quantidade suficiente para somar 10 assistências. E continuamos a achar que os seus 21 minutos em casa do Newcastle, quando depois de muitos meses afastado entrou para marcar e assistir, foram incrivelmente determinantes na conquista do título. Disponível, é o melhor jogador em Inglaterra.
    Quanto a Bruno Fernandes, foi uma vez mais um farol de criatividade num United cinzento que não soube aproveitar a sua produção: com 114 oportunidades, bateu todos os outros criativos.


Extremo Direito: Castigado jogo após jogo pelos adversários, escrutinado pela crítica como poucos jogadores atualmente em Inglaterra, Bukayo Saka é pelo segundo ano consecutivo o nosso extremo direito do ano na Premier League. Saka, que tem 22 anos mas parece ser avaliado como se tivesse 28, jogou mais do que na época anterior e marcou mais do que na época anterior. Foi o jogador ofensivo mais constante do Arsenal, e com o passar dos anos será natural que passe a completar épocas com 30-35 contribuições para golo. Protejam-no, vale ouro.
    Mohamed Salah começou muito bem a época mas caiu depois da sua lesão na CAN, Bernardo Silva voltou a ser imprescindível para Pep Guardiola ora mais na direita ora mais ao centro (e sim, fez um jogo praticamente a lateral esquerdo, ironia do destino), Michael Olise deixou-nos encantados e só podemos desejar que falhe menos jogos por lesão. E Jarrod Bowen, umas vezes no corredor direito umas vezes a principal referência ofensiva dos hammers, não realizou a sua melhor campanha (foi melhor em 21/ 22) mas foi efetivamente aquela em que esteve mais goleador (16 golos).


Extremo Esquerdo: O MVP da Premier League 2023/ 24. A melhor forma de constatar o salto de importância de Phil Foden é recordar que na final da Liga dos Campeões de 2023 (Manchester City-Inter), o 47 dos cityzens foi suplente e só entrou em campo quando De Bruyne se lesionou. Um ano mais tarde, Phil Foden tornou-se tudo aquilo que vinha a adiar há um par de anos. Genial driblador, fino executante, assistente visionário e aperfeiçoando cada vez mais o "golo à Foden" (aquela diagonal da direita para dentro com remate fulminante, como fez diante do West Ham, Manchester United ou Real Madrid), o rapaz de Stockport abraçou em definitivo o destino que estava escrito nas suas botas e brilhou acima de todos os restantes. Sempre que foi preciso, Foden disse "eu estou aqui" - nos seus 19 golos, destaque sobretudo para o hat-trick contra o Aston Villa e o bis no dérbi de Manchester.
    Mohammed Kudus driblou tudo o que lhe apareceu à frente, embora maioritariamente a partir do flanco direito, Eberechi Eze espalhou perfume e futebol de rua, Son Heung-Min soube lidar com a missão de ser o porta-estandarte do Tottenham após a saída de Harry Kane para o Bayern (temos apenas dúvidas se não terá passado demasiado tempo a avançado) e Anthony Gordon foi seguramente um dos 20 melhores jogadores em competição.


Ponta de Lança: Erling Haaland foi o melhor marcador da Premier League com 27 golos (e falhou alguns por lesão) mas Ollie Watkins foi ao longo dos vários meses o avançado mais influente e consistente da melhor liga do mundo. O dianteiro do Aston Villa (com 19 golos e 13 assistências teve uma participação exatamente igual a Haaland, num registo acumulado em que ambos foram superados por Cole Palmer) multiplicou-se em esforços para fazer da equipa de Unai Emery um emblema capaz de terminar no Top-4, e o seu xG e xA mostra bem o quanto se superou. É que se Haaland esteve ligado a 32 golos quando era expectável que estivesse ligado a 31,5, Watkins acabou com os mesmos 32 a partir de uma expetativa de 21.
    Apesar de umas quantas perdidas invulgares, Haaland voltou a ser incrível e o mais certo será voltar a passar os 30 golos em 23/ 25; Alexander Isak (que jogador!) tornou-se mais eficaz na cara do golo, mantendo a passada larga e o drible imaginativo, Dominic Solanke chegou aos 19 golos quando nunca tinha marcado mais do que 6 numa época de Premier League, e Jean-Philippe Mateta tornou-se outro jogador com Glasner, passando de suplente com aparições ocasionais para potencial substituto de Osimhen no Nápoles. Gostávamos de ter incluído Matheus Cunha, mas não havia espaço.




    Chegou o momento de Phil Foden abraçar o seu destino enquanto craque diferenciado no futebol inglês. Numa época relativamente equilibrada nos destaques individuais, o número 47 do Manchester City merece ser considerado o MVP numa edição em que assumiu o protagonismo que vinha a adiar, com golos decisivos e de levantar o estádio, jogadas de génio pinceladas de azul celeste. Celebrou 19 vezes com a sua sniper, assistiu os colegas em 8 ocasiões, e somou mais prémios de "homem do jogo" do que qualquer outro jogador.
    Cole Palmer passou de pouco utilizado no City para grande figura do Chelsea (ninguém fez melhor do que as suas 33 participações em golo), Rodri recusou-se a perder e provou quão obrigatório é para o City tê-lo sempre em campo, e no vice-campeão Arsenal Declan Rice Bukayo Saka foram os dois jogadores que se mantiveram num nível mais alto ao longo da prova. Há ainda lugar para Ollie Watkins, jogador que merece todos os elogios que lhe possam ser feitos, tendo-nos custado deixar de fora destes nomeados sobretudo Martin Odegaard.



    Depois de Haaland, Foden, Alexander-Arnold, Mount, Dele Alli ou Kane, o Jovem Jogador do Ano só podia ser Cole Palmer. O jogador que mais cresceu esta temporada foi uma tremenda surpresa, exibindo-se como uma absoluta estrela sob o comando de Pochettino, que a seu tempo o comparou a Di María. A partir do flanco direito ou no meio, Palmer apresentou uma compostura e frieza (Cold Palmer) absurdas para alguém de 22 anos e acabou com uns 22 golos e 11 assistências que nem os seus melhores e mais devoto amigos ou fãs conseguiam antecipar.
   Tivemos que deixar de fora Olise, Doku, Adam Wharton (que calma e que pé esquerdo!) e van de Ven, para incluir o gigante Jarrad Branthwaite, o médio do futuro Kobbie Mainoo, o inesgotável e vertical Anthony Gordon e ainda a dupla de astros do Arsenal, Bukayo Saka e William Saliba.



Treinador do Ano: O campeonato foi uma luta entre Mikel Arteta Pep Guardiola, pendendo para o crónico e nato vencedor, mas o Treinador do Ano em Inglaterra foi outro. O basco Unai Emery (renovou até 2029) conseguiu levar o Aston Villa ao 4º lugar, com uma abordagem jogo a jogo, planificando quase sempre bem a estratégia e mostrando extraordinária leitura na reação aos acontecimentos. Venceu 3 dos 4 jogos contra Arsenal e Manchester City, sem sofrer qualquer golo nessas três vitórias. A equipa de Emery não foi uma das duas a praticar o melhor futebol, mas foi a que mais se transcendeu com os recursos disponíveis e aquela em que mais se viu, de uma forma positiva, "dedo" de treinador no decorrer dos jogos.
    Pep Guardiola é, com alguma distância, o melhor treinador da atualidade, mas não podemos afirmar que tenha sido superior a Mikel Arteta. O técnico do City teve mais contratempos do que o seu antigo adjunto, mas a verdade é que o City falhou em quase todos os jogos grandes e não marcou qualquer golo ao Arsenal em 180 minutos de futebol. Já no Arsenal, Arteta complicou e adulterou alguns princípios no começo da época, falou com soberba quando era desnecessário, mas a partir do momento em que os gunners engataram, aquilo que se viu foi uma equipa a exercer total controlo, a melhor do campeonato a pôr em prática o plano de jogo, e aquela que menos chances deu aos adversários pela forma como, em momento ofensivo, acautelou prontamente o contragolpe.
    Uma palavra ainda para a boa época de estreia de Andoni Iraola em Inglaterra, com um Bournemouth que joga como gente grande, e para a eficácia de Sean Dyche, que acordou Goodison Park e fez do Everton uma equipa tranquila (15º lugar) mesmo com uma penalização de 8 pontos na secretaria.


Melhor Marcador: 1. Erling Haaland (Manchester City) - 27
2. Cole Palmer (Chelsea) - 22
3. Alexander Isak (Newcastle) - 21

Melhor Assistente: 1. Ollie Watkins (Aston Villa) - 13
2. Cole Palmer (Chelsea) - 11
3. Anthony Gordon (Newcastle), Brennan Johnson (Tottenham), Son Heung-Min (Tottenham), Kieran Trippier (Newcastle), Martin Ødegaard (Arsenal), Mohamed Salah (Liverpool), Morgan Gibbs-White (Nottingham Forest) e Pascal Groß (Brighton) - 10

Clube-Sensação: Aston Villa
Desilusão: Manchester United
Most Improved Player: 1. Cole Palmer, 2. Dominic Solanke, 3. Jean-Philippe Mateta
Reforço do Ano: Cole Palmer (Chelsea)
Flop do Ano: Moisés Caicedo (Chelsea)
Melhor Golo: Alejandro Garnacho (Everton 0 - 3 Manchester United) (Link)



Prémios BPF Liga Portugal Betclic 2023/ 24

 O campeonato português é novamente verde e branco. Pelo 3º ano consecutivo temos em Portugal um campeão distinto, e os leões podem agora afirmar o que há muito não podiam - numa visão a 4 temporadas, o Sporting tem tantos campeonatos como os dois rivais juntos.

    A Liga Portugal Betclic 23/ 24 ficou resolvida matematicamente a 5 de Maio (32ª jornada) quando o Benfica vacilou em casa do Famalicão, embora a passadeira verde já estivesse estendida a partir do momento em que Geny Catamo (mais um minuto 92 dos encarnados) bisou em Alvalade num derby eterno para o moçambicano.
    O Sporting venceu todos os jogos em casa, marcou em todos os jogos do campeonato, impressionando pelo volume ofensivo (96 golos apontados), que contribuiu para fechar a temporada com 90 pontos, mais 10 do que o rival Benfica, mais 18 do que o FC Porto.

    Rúben Amorim, treinador notável a simplificar o que outros tornariam complexo, reforçou a sua astúcia a estimular jogadores que passaram a render muito mais (Francisco Trincão, Eduardo Quaresma, Geny Catamo, Franco Israel e Daniel Bragança são disso exemplo), gerindo o seu grupo de trabalho com sensibilidade, equilíbrio e inteligência. Naturalmente, falar de 23/ 24 será sempre falar de Viktor Gyökeres. O ponta de lança sueco de 25 anos chegou do Coventry e, qual força da natureza, fez da Liga Portuguesa o que quis - marcou 29 golos (43 em todas as competições), fez 9 assistências, e levou tudo à frente, impressionando, contagiando e provando-se merecedor de pertencer a uma nata muito reduzida de jogadores que decidiram campeonatos sozinhos como Jardel, Hulk ou Jonas.

    Se no reino do Leão a época foi de sonho, para Benfica e Porto foi um prolongado pesadelo. Os encarnados acabaram esta edição com a relação entre os adeptos e Roger Schmidt (tudo indica, continuará no clube em 24-25) incendiada, surgindo o brilho do menino João Neves como raio de luz numa temporada em que falhou a correta substituição de Grimaldo e Gonçalo Ramos, e em que Schmidt demorou a perceber o seu melhor 11, insistindo em várias "soluções" difíceis de compreender.
    O FC Porto, vencedor da Taça de Portugal, teve como principal momento desta história a mudança de Pinto da Costa para André Villas-Boas, numa fantástica demonstração de coragem e democracia dos seus adeptos. Com Fernando Madureira de altifalante na prisão, os azuis e brancos até terminaram com o registo de melhor defesa, mas marcaram quase menos 30 golos do que o campeão. Seis derrotas na Liga é coisa muito invulgar para o clube, tendo o Estádio do Dragão passado a ser um recinto onde muitos adversários conseguiram pontuar. De bom, fica a boa réplica na eliminatória dos oitavos da Champions frente ao Arsenal.

    Moreirense, Arouca e Vitória estiveram soberbos, o Farense de José Mota ficou bem acima do que esperávamos e o Rio Ave aguentou-se num ano em que esteve condicionado no reforço do seu plantel. Chaves e Vizela descem, e foram indiscutivelmente os dois piores emblemas, numa edição em que do 12º lugar para baixo, salvo o Estoril, o nível médio apresentado foi bastante baixo.

    O campeonato de Viktor Gyökeres foi também a primeira época completa na auspiciosa carreira de João Neves, distinguindo-se estes dois de todos os outros atletas através da regularidade das suas brutais performances, um deles naturalmente com mais impacto e responsabilidade no desfecho do campeonato. Não podemos esquecer as prestações de Ricardo Velho na baliza do Farense, a segurança dos centrais do Sporting (sobretudo Coates e Gonçalo Inácio), uma âncora chamada Hjulmand, que melhorou muito em relação à sua versão mais destruidora quando atuava pelo Lecce, e se nos corredores vimos Jota Silva, o híbrido Pedro Gonçalves, Di María, Chico Conceição, Trincão, Galeno ou Guitane brilharem, na cara do golo Banza mostrou-se pronto para dar o salto e a dupla hispânica do Arouca, Cristo e Mújica, provou ser uma sociedade perfeita. Tivemos os golos cruciais de Paulinho, o adeus de Rafa, alguns flops (nada se compara ao downgrade de Grimaldo para Jurásek) e muito talento jovem a mostrar qualidade: além de Neves e Conceição, houve entre outros Diomande, Rodrigo Gomes, Gustavo Sá ou Mateus Fernandes.

    São os jogadores que fazem aquilo que o futebol é, e por isso os prémios abaixo são, praticamente, só deles. Abaixo encontrarão o nosso 11 do Ano, Jogador e Jovem do Ano, Treinador do Ano e algumas categorias adicionais. Comecemos:



Guarda-Redes: Em solo nacional, é inequívoco que Anatoliy Trubin e Diogo Costa são atualmente os dois guardiões com legítimas aspirações aos mais altos voos nas suas carreiras, mas nem o guarda-redes do Benfica nem o guarda-redes do Porto foram o melhor na sua posição na hora de avaliar a consistência ao longo de 34 jornadas.
    O quinteto onde também podia figurar Kewin (13 clean sheets pelo Moreirense) - e merece também destaque o facto do Sporting ter conseguido franca superioridade na prova mesmo ter um porto seguro entre os postes - começa com Jhonatan. O guarda-redes do Rio Ave defendeu 75,4% dos remates que enfrentou e, numa equipa pouco produtiva ofensivamente, foi o seu carácter tantas vezes intransponível que contribuiu para a manutenção e para um recorde de 19 empates na máxima prova portuguesa.
    Diogo Costa foi rei nos jogos sem sofrer golos (14) e afastou males maiores num Porto que acabou como melhor defesa mas colecionou alguns erros graves e mostrou-se permeável de forma incaracterística. O titular da Seleção Nacional brilhou sobretudo em Guimarães e contra o Braga mas, no geral, esteve aquém das suas capacidades.
    No Benfica, o ucraniano que herdou a baliza de Vlachodimos foi um significativo upgrade, tendo mesmo chegado a antecipar-se que poderia estar presente no final da época no leque de nomeados a jogador do ano. Porém, a 2ª volta de Trubin teve vários momentos negativos (contra Sporting e Porto não só não fez a diferença, como ainda cometeu erros) e se vemos em Trubin o potencial para ser um dos melhores do mundo, também se vê, aqui e ali, uma preocupante apatia ou facilitismo. Defendeu 60% das grandes penalidades e 79,6% dos remates que enfrentou.
    Em Famalicão, Luiz Júnior continuou em crescendo, mostrando aos 23 anos que está preparado para dar o salto para o Sporting, Porto ou Braga. Passou as 100 defesas, preservando uma percentagem de defesas na ordem dos 75%, tendo ainda a mais-valia de, ao contrário do nosso Guarda-Redes do Ano, parecer melhor preparado para o desafio numa equipa grande.
    Por fim, e de forma absolutamente indiscutível tal a margem com que se destacou, Ricardo Velho é o sucessor de De Arruabarrena como GR do ano Barba Por Fazer. O guardião português do Farense mostrou que a altura não importa assim tanto (mede 1,88m, estatura considerada baixa por alguns treinadores) e foi dominante da primeira à última jornada em que competiu - acumulou 135 defesas, mantendo mesmo assim uma % de defesas de 77,9 (ou seja, como comparação, defendeu quase a mesma proporção de remates de Trubin, tendo sido testado quase o dobro das vezes) e diz a matemática do xG que evitou objetivamente 13,5 golos, contra 9,5 de Luiz Júnior e 7,9 de Trubin. Senhor de defesas impossíveis, Velho está, aos 25 anos, destinado a uma promissora transferência neste Verão. O homem que defendeu 13 remates na Luz e em casa do Arouca, vale tudo o que o Farense pedir por ele.


Lateral Direito: No corredor direito da linha recuada, três jogadores seriam justas escolhas como principal destaque do ano - CostinhaRodrigo Gomes e Geny Catamo.
    O ala direito moçambicano foi peça fulcral na conquista do campeonato, ficando eternizado com um bis (e o segundo foi um golaço) no dérbi lisboeta. Um ambidestro cuja tomada de decisão é difícil de antecipar, Geny foi um dos melhores "trabalhos" de Rúben Amorim esta época, mas sai prejudicado pela utilização irregular que teve - somou menos de 1700 minutos.
    Emprestado pelo Braga e alegadamente já comprometido com o Wolves (será um bom substituto de Pedro Neto), Rodrigo Gomes encontrou no Estoril o seu espaço de plena afirmação. Álvaro Pacheco viu no jovem de 20 anos uma ótima opção para atuar a ala no 3-4-3 canarinho, e não a extremo como até então na sua curta carreira sénior, e Vasco Seabra manteve a aposta, alternando Rodrigo entre o corredor direito e o esquerdo. Com 7 golos e 7 assistências, sempre em alta rotação, mostrou versatilidade e criatividade. E ainda tem muito para evoluir.
    Tendo os 3 jogadores de Sporting, Estoril e Rio Ave atuado como alas em sistemas protegidos com 3 centrais, Costinha foi o menos vibrante e entusiasmante mas o mais impressionante e sério no momento defensivo. O lateral de 24 anos, que será reforço do Olympiacos (merecia mais), apresentou-se quase sempre intransponível (ninguém acumulou mais desarmes do que ele), registando 252 duelos ganhos e 193 recuperações ao longo do ano. Os 3 golos e as 5 assistências foram apenas um bom suplemento.
    Sem representantes de Benfica e Porto, optámos por premiar o renascimento de Bruno Gaspar e a afirmação de Tiago Esgaio em Arouca como o melhor mano Esgaio do campeonato.


Defesa Central: Falar de centrais esta época em Portugal é invariavelmente falar do Sporting. Inácio fica para a próxima categoria, Eduardo Quaresma cresceu a olhos vistos pedindo a dada altura a titularidade, e o super promissor Ousmane Diomande confirmou o bom scouting leonino, que se rendeu às exibições do ex-Midtjylland em Mafra, pagando por ele 7 milhões e meio. É natural que o costa-marfinense rume à Premier League no próximo defeso, e o menor fulgor pós-CAN e o facto de ter sido apenas o 3º melhor central do Sporting não apaga que tenha sido um dos melhores do campeonato, sobretudo na primeira volta. Porém, mais do que ninguém, Sebastián Coates merece ser elogiado. O capitão uruguaio cimentou o seu estatuto histórico no clube, voltando a ser preponderante defensiva e ofensivamente tal como no título de 20/ 21.
    Entre quem atuou preferencialmente do lado direito, o cónego Marcelo (34 anos) contribuiu para a sólida defesa do Moreirense, tal como fizera no passado no Rio Ave ou no Paços de Ferreira, e António Silva caiu bastante em relação à sua temporada de revelação, mas com uma reta final a melhorar acabou como melhor central do Benfica. Por fim, o angolano Kialonda Gaspar mostrou ser um patrão a sério na defesa do Estrela, acumulando duelos ganhos no solo e nas alturas. Aos 26 anos, este é o momento de abraçar um desafio num clube com outros objetivos.


Defesa Central: Diz o CIES que Gonçalo Inácio foi em 23/ 24 o único central Sub-23 do mundo com mais de 80% de passes progressivos certos. O central esquerdino do Sporting, que acumulou 2412 passes (o segundo jogador na lista foi João Neves, com 1995), foi peça-chave na forma de atacar do novo campeão nacional, amadurecendo e apresentando uma regularidade notável. Diomande foi o melhor central do campeonato na 1ª volta e Coates o melhor na 2ª, mas Inácio terá sido porventura o mais consistente no conjunto da competição.
    Com Otamendi abaixo das expectativas, os centrais do Braga erráticos e os centrais do Vitória a formarem um bom todo embora sem particular brilho individual (Manu Silva terá sido o melhor), decidimos destacar Maracás (central sempre certinho), Otávio, que representou ao longo da prova Famalicão e FC Porto, o altivo Aderllan Santos e ainda Gabriel Pereira, central elegante que dificilmente continuará em Barcelos com o nível que apresentou.


Lateral Esquerdo: Naquela que terá sido porventura a posição menos pujante das 11 categorias, Nuno Santos sai vencedor, superiorizando-se marginalmente a Fredrik Aursnes e Francisco Moura.
    Um especialista em descobrir Paulinho (das suas 10 assistências, metade foram para o avançado português, e apenas 3 para Gyökeres), o rapaz do mau feitio e do cabelo oxigenado contribuiu sempre para o rolo compressor leonino. Nem sempre foi titular (começou de início em 25 partidas) mas sempre que Amorim lhe confiou a asa esquerda, o Sporting criou principal perigo a partir desse flanco, conjugando a sua largura junto à faixa com a excelente capacidade de sair a jogar de Gonçalo Inácio.
    Aursnes foi o nosso Jogador do Ano na temporada passada, mas a exploração excessiva do seu elevado QI futebolístico e do seu caráter multifunções prejudicou-o. O norueguês acabou por ser um constante tapa-buracos para Roger Schmidt, cumprindo e acrescentando, mas sem ter a possibilidade de criar rotinas numa só posição. Jogou 18 jogos como lateral direito e 17 como lateral esquerdo, e até foi bem mais valioso no flanco oposto (5 das 6 assistências foram junto a Di María). Fazemos votos que em 24/ 25 seja utilizado mais adiantado no terreno, ou no máximo a lateral direito, mas não como lateral esquerdo.
    Francisco Moura foi o melhor lateral esquerdo da primeira volta, perdendo algum gás em 2024 mas demonstrando-se equilibrado nos diferentes momentos do jogo. Wendell foi um dos elementos mais assertivos numa defesa do Porto que se fartou de comprometer, e Godfried Frimpong também merece uma palavra de apreço, incorporado numa defesa rigorosa e disciplinada do Moreirense. Está muito longe do nível do seu homónimo e compatriota do Leverkusen, mas é um jogador bastante decente.


Médio Defensivo: Em 4 anos, esta é a 3ª ocasião em que o Médio Defensivo do Ano é do Sporting, clube que se começa a especializar nesta posição. Depois de João Palhinha e Manuel Ugarte, Morten Hjulmand foi dono e senhor do meio-campo verde e branco, conjugando o dinamarquês a capacidade de recuperação e destruição que já apresentava no Lecce com uma maior influência ofensiva, magnífica leitura no posicionamento e pressionando alto. Foi a âncora, um jogador impossível de retirar da titularidade na ficha de jogo mas difícil de identificar nos clássicos resumos de consumo express para quem só quer consumir futebol em versão light.
    Na cobertura aos colegas, Gonçalo Franco pareceu omnipresente (foi recordista de interceções na Liga) em vários jogos do Moreirense, impressionando à data do Moreirense-Benfica pela forma como se superiorizou a João Neves, Alan Varela cresceu e cresceu e parece estar no ponto para ser uma das figuras da Liga em 24/ 25, e Florentino nem sempre mereceu a confiança de Roger Schmidt mas não deixou margem para dúvidas em relação à sua inclusão neste Top-5 com o patamar qualitativo que exibiu no último terço do campeonato.
    Jogador quase imune à pressão adversária e forte recuperador, o polvo Zaydou Youssouf fecha o nosso leque de escolhas, esperando-se que seja mais uma das boas vendas da fábrica de talentos famalicense.


Médio Centro: Entre os médios completos, uns mais criativos outros mais solidários, não foi certamente por Carlinhos (10 golos e 6 assistências) que o Portimonense foi condenado ao Play-off de despromoção. Rodrigo Zalazar (excelente negócio por 5 milhões) apresentou alguma inconsistência mas quando esteve bem arrasou com a sua meia distância e qualidade no último passe, e Hidemasa Morita perdeu a dado momento o estatuto de indiscutível perante a forma de Daniel Bragança, mas não podemos esquecer tudo o que aconteceu antes. Curiosamente, um futuro concorrente de setor de Morita foi igualmente destaque - Mateus Fernandes aproveitou da melhor maneira o empréstimo ao Estoril, foi uma das revelações, combina técnica, perfil físico e tático, e terá certamente uma oportunidade de Rúben Amorim em 24/ 25. 
    Mas falemos de João Neves. É difícil descrever o menino de ouro da Luz, jogador de rendimento apenas inferior a Gyökeres nesta Liga Portugal Betclic 2023/ 24. Quando os encarnados contrataram Kökçü no Verão, poucos antecipariam que o verdadeiro sucessor de Enzo era um rapaz à época com 18 anos que já fazia parte do plantel, e que na verdade acabara em grande 22/ 23. João Neves é especial, é uma força da natureza (de língua a pressionar a bochecha e 1,74m de talento, é quase impossível vê-lo perder uma dividida), um líder que contagia todos à volta com a sua personalidade. Um exemplo. 


Extremo Direito: Numa posição particularmente recheada de qualidade, aceitamos perfeitamente quem prefira eleger um dos outros 4 craques que deixámos em segundo plano (a qualidade foi tão maior à direita do que à esquerda que até nos vimos obrigados a atirar Belloumi para o flanco contrário). Rafik Guitane marcou o Golo do Ano (que chapelada!), foi mais vezes bem sucedido no drible do que qualquer outro e deixou água na boca. Jogadores como o argelino, com tanta técnica pura e fantasia, são aqueles que apaixonam os adeptos.
    Francisco Conceição demorou a conquistar a titularidade, mas na 2ª volta do campeonato não houve jogador dos azuis e brancos tão influente quanto o esquerdino. Vertical, atrevido, fortíssimo no 1 contra 1, deu por fim o salto para ser um jogador de Seleção e um titular indiscutível num grande. Tivesse ele outro carácter e o respeito e admiração seriam generalizados...
    Na sua segunda vida em Portugal, Ángel Di María criou oportunidades como ninguém, caiu no relvado como poucos, escapou a uns dois cartões vermelhos, mas também carregou o Benfica em muitos momentos. 9 golos e 10 assistências foram os números do campeão do mundo de 36 anos, que deveria ter sido gerido doutra forma por Roger Schmidt, quer nos minutos de utilização quer na pluralidade de posições que poderia ter interpretado em campo, em vez de se resumir ao seu T0 no corredor direito.
    Francisco Trincão foi fundamental no título, apresentando a consistência que era há muito o seu calcanhar de Aquiles. Num ziguezague constante entre defesas, brilhou na reta final, disparou de rendimento em 2024 mas na hora de eleger o melhor destes 5 convém não ignorar a sua menor preponderância até Janeiro. Assim, Jota Silva (discutível considerá-lo um extremo direito uma vez que o Vitória oscilou entre um 3-4-3 e um 3-5-2) ganha vantagem pela superlativa valorização que teve ao longo desta edição. O Grealish de Gondomar, que já tem alegadamente pretendentes na Premier League, passou de 2 golos e 2 assistências na última Liga para 11 + 5. A convocatória de Roberto Martínez foi um prémio justo para um jogador que merece figurar no 11 do Ano, convencendo com bola e na incansável capacidade de pressionar os defesas adversários e dar soluções aos colegas.


Extremo Esquerdo: Eternamente desvalorizado pelos adeptos rivais, cronicamente ignorado pelos selecionadores nacionais, Pedro Gonçalves voltou a deixar bem marcada a sua impressão digital num campeonato vencido pelo Sporting. Craque forte em quase tudo sem ser um especialista em quase nada, Pote chegou aos dois dígitos em golos e assistências (11 golos e 12 assistências), alternando entre o trio ofensivo e o duo de meio-campo. Entendeu-se às mil maravilhas com Gyökeres - não houve parceria com melhor sintonia, com o criativo português a oferecer 6 golos ao matador sueco.
    A partir do corredor, houve muito rasgo do agora internacional brasileiro Galeno, jogador que no entanto guardou para a Champions as suas melhores prestações, e Ricardo Horta esteve em bom plano, embora bastante abaixo de época anteriores. O argelino Mohamed Belloumi atuou sempre no corredor contrário, levando ao êxtase os adeptos do Farense com as suas diagonais, mas o excesso de opções à direita e a falta de destaques pela esquerda convidaram à sua adaptação forçada. Finalmente, João Mendes foi homem de grandes golos (aquele golaço a decidir o dérbi em Braga no período de compensação foi um dos momentos do ano) mostrando que pode ter um impacto bem superior no último terço comparativamente ao que vinha a demonstrar no Chaves.


Segundo Avançado: Numa mistura de médios ofensivos, segundos avançados e pontas de lança com papel decisivo na luta pelo 1º lugar, Rafa merece o maior elogio na sua despedida do futebol português. O velocista dos encarnados repetiu a irregularidade de outros tempos, virou fantasma e apagou-se em momentos-chave mas, não obstante, acumulou estatísticas às quais não podemos ser indiferentes: 14 golos e 12 assistências. Sim, podia ter dado muito mais, e sim, é discutível se se justifica mais a sua presença no onze ou uma dupla de verdadeiros pontas de lança, conjugando Gyökeres e Banza/ Mújica.
    De resto, Cristo González mostrou toda a escola (Real Madrid) e, focado e disciplinado, espalhou qualidade técnica nas costas do seu compatriota em Arouca; Paulinho marcou 15 golos, mesmo tendo sido titular apenas 11 vezes, e disse sempre presente em momentos de aperto, brilhando sobretudo no primeiro e no último mês da Liga.
    Uns metros atrás, a melhor versão de Pepê coincidiu com a versão mais criativa e dinâmica do FC Porto, e Gustavo Sá mostrou aos 19 anos todo o seu potencial. O miúdo do Famalicão é um dos projetos de jogador português mais interessantes atualmente, é praticamente certo que se transferirá nos próximos meses, embora ainda nos falte perceber se será mais médio (ofensivo) ou mais (segundo) avançado.


Avançado: O Jogador do Ano da Liga Portugal Betclic 2023/ 24. Poço de força e energia inesgotáveis, locomotiva verde e branca, Viktor Einar Gyökeres, o sueco de ascendência húngara, decidiu (quase) sozinho o campeonato. Desafio de impossível resolução para a esmagadora maioria dos defesas, ganhando-lhes metros na exploração da profundidade ou no ombro a ombro, no 1 para 1, o homem da máscara teve um impacto individual como há muito não se via em Portugal, comparável a jogadores como Mário Jardel, Hulk ou Jonas. O reforço do ano fartou-se de marcar (29 golos em 33 jogos no campeonato, 43 golos em 50 jogos no conjunto de todas as competições), revelou-se autossuficiente, foi um amor à primeira vista para os adeptos, fonte de inveja e admiração por parte dos rivais, contagiando os colegas com o seu crer, e fazendo todos à sua volta melhores jogadores.
    Rafa Mújica Simon Banza não marcaram os 29 de Gyökeres, mas marcaram muitos. O espanhol do Arouca (já transferido por 10 milhões para o Qatar) apontou 20 golos sem precisar de converter qualquer grande penalidade, e mostrou ser o melhor dos dianteiros espanhóis (Fran Navarro ou Mario González não eram tão completos), recrutados recentemente nos escalões inferiores do país vizinho. Já o congolês Banza ficou-se pelos 21 golos, mesmo com uma pausa para fazer uma perninha na CAN pelo meio, e seguramente terá mercado num campeonato como a Bundesliga.
    Samuel Essende (15 golos) valeu sozinho 42% dos golos do modesto Vizela, e seria um válido substituto de Banza no Braga, e Jhonder Cádiz representou similar preponderância no ataque do Famalicão. Evanilson poderia estar aqui, mas foi menos regular e os seus melhores jogos até foram na Liga dos Campeões e na Taça.




    Desde que avaliamos a Liga portuguesa aqui no Barba Por Fazer, nunca houve um jogador assim. Viktor Gyökeres arrasou a concorrência, desgastou todos os adversários, contagiou os seus colegas, apaixonou os adeptos. O sueco ex-Coventry rejeitou a segunda metade da tabela da Premier League para se vir sagrar campeão em Portugal e, com um impacto individual que o coloca num Olimpo de jogadores como Mário Jardel, Hulk e Jonas (embora destes apenas o extremo do FC Porto conseguisse desequilibrar e ser autossuficiente como o sueco, sem apresentar porém o volume de golos do avançado leonino), deu o campeonato à turma de Alvalade.
    Gyökeres marcou que se fartou, deu a marcar, deixou os rivais rendidos e curvados perante a sua energia e a sua inesgotável combatividade, aliando ainda um comportamento de atleta exemplar e parecendo quase injusto como pode alguém ser tão forte e tão rápido, o tempo todo. Oxalá o homem da máscara de dedos entrelaçados continue por cá a valorizar e fazer elevar a fasquia do futebol português.
    Coates, Mújica, Ricardo Velho, Banza e Di María foram os jogadores que deixámos à porta deste sexteto, que achamos que acaba por fotografar bem o que foi esta edição.
    Desde relativamente cedo percebemos que a escolha de MVP estaria entre Gyökeres e João Neves. O precoce médio do Benfica, outra força da natureza como o goleador sueco, carregou a sua equipa e fez acreditar um conjunto que tantas vezes foi um puzzle mal montado. Não nos recordamos de um médio de 18-19 anos apresentar a maturidade, o QI e o potencial que João Neves apresenta.
    Morten Hjulmand foi a âncora do sistema tático do Sporting, revelando-se um mais do que digno sucessor de Ugarte e João Palhinha; Pedro Gonçalves voltou a ser o toque de criatividade dos campeões, quase sempre subvalorizado ou esquecido por todos na hora de eleger os melhores; Rafa despediu-se do futebol nacional com números impressionantes pontuados com alguma irregularidade; e Jota Silva cresceu como mais ninguém. 



    No passado, o BPF distinguiu Rúben Dias, João Félix, Vitinha, Pedro Gonçalves, Gonçalo Ramos, William Carvalho ou Renato Sanches. O presente e futuro é João Neves.
    O nosso Jovem Jogador do Ano foi por larga margem o melhor jogador das águias e o 2º melhor jogador do campeonato. O número 87 dos encarnados começou a temporada com 18 aninhos mas exibiu-se sempre com a maturidade de um jogador de 26 ou 27 anos. De pulmão infinito, personalidade sem igual e calções por dentro à antiga, João Neves foi o líder em campo do Benfica, revelando-se o verdadeiro e inesperado herdeiro de Enzo Fernández e mostrando que a bola é sua (incontáveis foram as divididas que ganhou, mesmo contra jogadores de aparente superior estampa física). Percebemos que parta para um Manchester City desta vida, mas foi uma honra e continuaria a ser um orgulho vê-lo crescer por Lisboa.
    Infelizmente não houve espaço no nosso habitual Top-6 para Mateus Fernandes, Otávio, Roger, João Marques e Belloumi, mas não podíamos deixar de fora o extraordinário defesa que é Ousmane Diomande, o atrevimento e as diagonais venenosas do esquerdino Francisco Conceição, as pilhas Duracell e impacto ofensivo de Rodrigo Gomes, a (por vezes excessiva) serenidade e elasticidade de Anatoliy Trubin e a elegância de Gustavo Sá, um meio termo entre médio e avançado.



Treinador do Ano: A Liga Portugal Betclic 2023/ 24 foi a época de afirmação absoluta de Rúben Amorim como treinador. O melhor treinador português da atualidade já valeu cada cêntimo da cláusula de 10 milhões de euros que Frederico Varandas pagou ao Braga, e tem agora 2 campeonatos conquistados no espaço de 4 anos, "rebentando" com a concorrência - os leões fizeram 90 pontos (mais 10 do que o Benfica e mais 18 do que o FC Porto), apontaram 96 golos (mais 19 do que o grande rival), vencendo 29 dos 34 jogos em disputa, acabando 100% vitoriosos em casa e marcando em todos os jogos. Transparente na comunicação, ponderado no discurso e um hábil simplificador de processos, Amorim conseguiu fazer disparar o rendimento de diversos jogadores - Eduardo Quaresma, Francisco Trincão, Geny Catamo, Daniel Bragança e Franco Israel subiram todos vários degraus - acertando em cheio quando ele e Hugo Viana concentraram o budget de transferências nos escandinavos Gyökeres e Hjulmand. Aos 39 anos, o homem que cometeu um erro ao apanhar um avião e que já assumiu que continuará por cá em 24/ 25, é um treinador na linha de Ancelotti: alguém que, sem ser um génio e um visionário, agrega e sabe adaptar-se, tendo melhorado na gestão do plantel e deixando sempre os jogadores confortáveis para que possam expressar em campo a sua melhor versão.
    Numa lista naturalmente sem Roger Schmidt e Sérgio Conceição, Daniel Sousa é um dos técnicos que se impõe elogiar. O futuro treinador do Braga deu sequência em Arouca ao bom trabalho que já tivera em Barcelos, afinando um ataque que deu sempre gosto ver. O Arouca ficou em sétimo mas foi o quinto melhor ataque.
    Álvaro Pacheco começou no Estoril, onde contribuiu para o desenvolvimento de Rodrigo Gomes e João Marques, e prosseguiu em Guimarães, num Vitória onde Jota Silva ou João Mendes renderam como nunca antes. O homem da boina, que entretanto fez as malas para o Vasco da Gama, montou uma equipa compacta e que não ficou assim tão longe de Braga e FC Porto.
    A fechar as contas, Rui Borges (próximo treinador do Vit. Guimarães) colocou o recém-promovido Moreirense num sensacional 5º lugar, com um registo defensivo de fazer inveja e sem acusar a perda de um jogador determinante (André Luís) no plano de jogo da equipa a meio da aventura. Finalmente, José Mota. Preconceituosos, achámos que o lendário ex-treinador do Paços de Ferreira acabaria por ser despedido logo na primeira volta. Mas não. Mota acaba aprovado com distinção, num Farense (10º classificado) que pode agradecer as várias exibições do outro mundo do guardião Ricardo Velho, mas que também soube atacar descomplexado e bem oleado.


Melhor Marcador: 1. Viktor Gyökeres (Sporting) - 29
2. Simon Banza (Braga) - 21
3. Rafa Mújica (Arouca) - 20

Melhor Assistente: 1. Pedro Gonçalves (Sporting) e Rafa (Benfica) - 12
2. Ángel Di María (Benfica), Nuno Santos (Sporting) e Viktor Gyökeres (Sporting) - 10

Clube-Sensação: Arouca
Desilusão: FC Porto
Most Improved Player: 1. Jota Silva, 2. Geny Catamo, 3. Eduardo Quaresma
Reforço do Ano: Viktor Gyökeres (Sporting)
Flop do Ano: David Jurásek (Benfica)
Melhor Golo: Rafik Guitane (Estoril 1 - 2 Arouca) (Link)