31 de maio de 2024

Prémios BPF Liga Portugal Betclic 2023/ 24

 O campeonato português é novamente verde e branco. Pelo 3º ano consecutivo temos em Portugal um campeão distinto, e os leões podem agora afirmar o que há muito não podiam - numa visão a 4 temporadas, o Sporting tem tantos campeonatos como os dois rivais juntos.

    A Liga Portugal Betclic 23/ 24 ficou resolvida matematicamente a 5 de Maio (32ª jornada) quando o Benfica vacilou em casa do Famalicão, embora a passadeira verde já estivesse estendida a partir do momento em que Geny Catamo (mais um minuto 92 dos encarnados) bisou em Alvalade num derby eterno para o moçambicano.
    O Sporting venceu todos os jogos em casa, marcou em todos os jogos do campeonato, impressionando pelo volume ofensivo (96 golos apontados), que contribuiu para fechar a temporada com 90 pontos, mais 10 do que o rival Benfica, mais 18 do que o FC Porto.

    Rúben Amorim, treinador notável a simplificar o que outros tornariam complexo, reforçou a sua astúcia a estimular jogadores que passaram a render muito mais (Francisco Trincão, Eduardo Quaresma, Geny Catamo, Franco Israel e Daniel Bragança são disso exemplo), gerindo o seu grupo de trabalho com sensibilidade, equilíbrio e inteligência. Naturalmente, falar de 23/ 24 será sempre falar de Viktor Gyökeres. O ponta de lança sueco de 25 anos chegou do Coventry e, qual força da natureza, fez da Liga Portuguesa o que quis - marcou 29 golos (43 em todas as competições), fez 9 assistências, e levou tudo à frente, impressionando, contagiando e provando-se merecedor de pertencer a uma nata muito reduzida de jogadores que decidiram campeonatos sozinhos como Jardel, Hulk ou Jonas.

    Se no reino do Leão a época foi de sonho, para Benfica e Porto foi um prolongado pesadelo. Os encarnados acabaram esta edição com a relação entre os adeptos e Roger Schmidt (tudo indica, continuará no clube em 24-25) incendiada, surgindo o brilho do menino João Neves como raio de luz numa temporada em que falhou a correta substituição de Grimaldo e Gonçalo Ramos, e em que Schmidt demorou a perceber o seu melhor 11, insistindo em várias "soluções" difíceis de compreender.
    O FC Porto, vencedor da Taça de Portugal, teve como principal momento desta história a mudança de Pinto da Costa para André Villas-Boas, numa fantástica demonstração de coragem e democracia dos seus adeptos. Com Fernando Madureira de altifalante na prisão, os azuis e brancos até terminaram com o registo de melhor defesa, mas marcaram quase menos 30 golos do que o campeão. Seis derrotas na Liga é coisa muito invulgar para o clube, tendo o Estádio do Dragão passado a ser um recinto onde muitos adversários conseguiram pontuar. De bom, fica a boa réplica na eliminatória dos oitavos da Champions frente ao Arsenal.

    Moreirense, Arouca e Vitória estiveram soberbos, o Farense de José Mota ficou bem acima do que esperávamos e o Rio Ave aguentou-se num ano em que esteve condicionado no reforço do seu plantel. Chaves e Vizela descem, e foram indiscutivelmente os dois piores emblemas, numa edição em que do 12º lugar para baixo, salvo o Estoril, o nível médio apresentado foi bastante baixo.

    O campeonato de Viktor Gyökeres foi também a primeira época completa na auspiciosa carreira de João Neves, distinguindo-se estes dois de todos os outros atletas através da regularidade das suas brutais performances, um deles naturalmente com mais impacto e responsabilidade no desfecho do campeonato. Não podemos esquecer as prestações de Ricardo Velho na baliza do Farense, a segurança dos centrais do Sporting (sobretudo Coates e Gonçalo Inácio), uma âncora chamada Hjulmand, que melhorou muito em relação à sua versão mais destruidora quando atuava pelo Lecce, e se nos corredores vimos Jota Silva, o híbrido Pedro Gonçalves, Di María, Chico Conceição, Trincão, Galeno ou Guitane brilharem, na cara do golo Banza mostrou-se pronto para dar o salto e a dupla hispânica do Arouca, Cristo e Mújica, provou ser uma sociedade perfeita. Tivemos os golos cruciais de Paulinho, o adeus de Rafa, alguns flops (nada se compara ao downgrade de Grimaldo para Jurásek) e muito talento jovem a mostrar qualidade: além de Neves e Conceição, houve entre outros Diomande, Rodrigo Gomes, Gustavo Sá ou Mateus Fernandes.

    São os jogadores que fazem aquilo que o futebol é, e por isso os prémios abaixo são, praticamente, só deles. Abaixo encontrarão o nosso 11 do Ano, Jogador e Jovem do Ano, Treinador do Ano e algumas categorias adicionais. Comecemos:



Guarda-Redes: Em solo nacional, é inequívoco que Anatoliy Trubin e Diogo Costa são atualmente os dois guardiões com legítimas aspirações aos mais altos voos nas suas carreiras, mas nem o guarda-redes do Benfica nem o guarda-redes do Porto foram o melhor na sua posição na hora de avaliar a consistência ao longo de 34 jornadas.
    O quinteto onde também podia figurar Kewin (13 clean sheets pelo Moreirense) - e merece também destaque o facto do Sporting ter conseguido franca superioridade na prova mesmo ter um porto seguro entre os postes - começa com Jhonatan. O guarda-redes do Rio Ave defendeu 75,4% dos remates que enfrentou e, numa equipa pouco produtiva ofensivamente, foi o seu carácter tantas vezes intransponível que contribuiu para a manutenção e para um recorde de 19 empates na máxima prova portuguesa.
    Diogo Costa foi rei nos jogos sem sofrer golos (14) e afastou males maiores num Porto que acabou como melhor defesa mas colecionou alguns erros graves e mostrou-se permeável de forma incaracterística. O titular da Seleção Nacional brilhou sobretudo em Guimarães e contra o Braga mas, no geral, esteve aquém das suas capacidades.
    No Benfica, o ucraniano que herdou a baliza de Vlachodimos foi um significativo upgrade, tendo mesmo chegado a antecipar-se que poderia estar presente no final da época no leque de nomeados a jogador do ano. Porém, a 2ª volta de Trubin teve vários momentos negativos (contra Sporting e Porto não só não fez a diferença, como ainda cometeu erros) e se vemos em Trubin o potencial para ser um dos melhores do mundo, também se vê, aqui e ali, uma preocupante apatia ou facilitismo. Defendeu 60% das grandes penalidades e 79,6% dos remates que enfrentou.
    Em Famalicão, Luiz Júnior continuou em crescendo, mostrando aos 23 anos que está preparado para dar o salto para o Sporting, Porto ou Braga. Passou as 100 defesas, preservando uma percentagem de defesas na ordem dos 75%, tendo ainda a mais-valia de, ao contrário do nosso Guarda-Redes do Ano, parecer melhor preparado para o desafio numa equipa grande.
    Por fim, e de forma absolutamente indiscutível tal a margem com que se destacou, Ricardo Velho é o sucessor de De Arruabarrena como GR do ano Barba Por Fazer. O guardião português do Farense mostrou que a altura não importa assim tanto (mede 1,88m, estatura considerada baixa por alguns treinadores) e foi dominante da primeira à última jornada em que competiu - acumulou 135 defesas, mantendo mesmo assim uma % de defesas de 77,9 (ou seja, como comparação, defendeu quase a mesma proporção de remates de Trubin, tendo sido testado quase o dobro das vezes) e diz a matemática do xG que evitou objetivamente 13,5 golos, contra 9,5 de Luiz Júnior e 7,9 de Trubin. Senhor de defesas impossíveis, Velho está, aos 25 anos, destinado a uma promissora transferência neste Verão. O homem que defendeu 13 remates na Luz e em casa do Arouca, vale tudo o que o Farense pedir por ele.


Lateral Direito: No corredor direito da linha recuada, três jogadores seriam justas escolhas como principal destaque do ano - CostinhaRodrigo Gomes e Geny Catamo.
    O ala direito moçambicano foi peça fulcral na conquista do campeonato, ficando eternizado com um bis (e o segundo foi um golaço) no dérbi lisboeta. Um ambidestro cuja tomada de decisão é difícil de antecipar, Geny foi um dos melhores "trabalhos" de Rúben Amorim esta época, mas sai prejudicado pela utilização irregular que teve - somou menos de 1700 minutos.
    Emprestado pelo Braga e alegadamente já comprometido com o Wolves (será um bom substituto de Pedro Neto), Rodrigo Gomes encontrou no Estoril o seu espaço de plena afirmação. Álvaro Pacheco viu no jovem de 20 anos uma ótima opção para atuar a ala no 3-4-3 canarinho, e não a extremo como até então na sua curta carreira sénior, e Vasco Seabra manteve a aposta, alternando Rodrigo entre o corredor direito e o esquerdo. Com 7 golos e 7 assistências, sempre em alta rotação, mostrou versatilidade e criatividade. E ainda tem muito para evoluir.
    Tendo os 3 jogadores de Sporting, Estoril e Rio Ave atuado como alas em sistemas protegidos com 3 centrais, Costinha foi o menos vibrante e entusiasmante mas o mais impressionante e sério no momento defensivo. O lateral de 24 anos, que será reforço do Olympiacos (merecia mais), apresentou-se quase sempre intransponível (ninguém acumulou mais desarmes do que ele), registando 252 duelos ganhos e 193 recuperações ao longo do ano. Os 3 golos e as 5 assistências foram apenas um bom suplemento.
    Sem representantes de Benfica e Porto, optámos por premiar o renascimento de Bruno Gaspar e a afirmação de Tiago Esgaio em Arouca como o melhor mano Esgaio do campeonato.


Defesa Central: Falar de centrais esta época em Portugal é invariavelmente falar do Sporting. Inácio fica para a próxima categoria, Eduardo Quaresma cresceu a olhos vistos pedindo a dada altura a titularidade, e o super promissor Ousmane Diomande confirmou o bom scouting leonino, que se rendeu às exibições do ex-Midtjylland em Mafra, pagando por ele 7 milhões e meio. É natural que o costa-marfinense rume à Premier League no próximo defeso, e o menor fulgor pós-CAN e o facto de ter sido apenas o 3º melhor central do Sporting não apaga que tenha sido um dos melhores do campeonato, sobretudo na primeira volta. Porém, mais do que ninguém, Sebastián Coates merece ser elogiado. O capitão uruguaio cimentou o seu estatuto histórico no clube, voltando a ser preponderante defensiva e ofensivamente tal como no título de 20/ 21.
    Entre quem atuou preferencialmente do lado direito, o cónego Marcelo (34 anos) contribuiu para a sólida defesa do Moreirense, tal como fizera no passado no Rio Ave ou no Paços de Ferreira, e António Silva caiu bastante em relação à sua temporada de revelação, mas com uma reta final a melhorar acabou como melhor central do Benfica. Por fim, o angolano Kialonda Gaspar mostrou ser um patrão a sério na defesa do Estrela, acumulando duelos ganhos no solo e nas alturas. Aos 26 anos, este é o momento de abraçar um desafio num clube com outros objetivos.


Defesa Central: Diz o CIES que Gonçalo Inácio foi em 23/ 24 o único central Sub-23 do mundo com mais de 80% de passes progressivos certos. O central esquerdino do Sporting, que acumulou 2412 passes (o segundo jogador na lista foi João Neves, com 1995), foi peça-chave na forma de atacar do novo campeão nacional, amadurecendo e apresentando uma regularidade notável. Diomande foi o melhor central do campeonato na 1ª volta e Coates o melhor na 2ª, mas Inácio terá sido porventura o mais consistente no conjunto da competição.
    Com Otamendi abaixo das expectativas, os centrais do Braga erráticos e os centrais do Vitória a formarem um bom todo embora sem particular brilho individual (Manu Silva terá sido o melhor), decidimos destacar Maracás (central sempre certinho), Otávio, que representou ao longo da prova Famalicão e FC Porto, o altivo Aderllan Santos e ainda Gabriel Pereira, central elegante que dificilmente continuará em Barcelos com o nível que apresentou.


Lateral Esquerdo: Naquela que terá sido porventura a posição menos pujante das 11 categorias, Nuno Santos sai vencedor, superiorizando-se marginalmente a Fredrik Aursnes e Francisco Moura.
    Um especialista em descobrir Paulinho (das suas 10 assistências, metade foram para o avançado português, e apenas 3 para Gyökeres), o rapaz do mau feitio e do cabelo oxigenado contribuiu sempre para o rolo compressor leonino. Nem sempre foi titular (começou de início em 25 partidas) mas sempre que Amorim lhe confiou a asa esquerda, o Sporting criou principal perigo a partir desse flanco, conjugando a sua largura junto à faixa com a excelente capacidade de sair a jogar de Gonçalo Inácio.
    Aursnes foi o nosso Jogador do Ano na temporada passada, mas a exploração excessiva do seu elevado QI futebolístico e do seu caráter multifunções prejudicou-o. O norueguês acabou por ser um constante tapa-buracos para Roger Schmidt, cumprindo e acrescentando, mas sem ter a possibilidade de criar rotinas numa só posição. Jogou 18 jogos como lateral direito e 17 como lateral esquerdo, e até foi bem mais valioso no flanco oposto (5 das 6 assistências foram junto a Di María). Fazemos votos que em 24/ 25 seja utilizado mais adiantado no terreno, ou no máximo a lateral direito, mas não como lateral esquerdo.
    Francisco Moura foi o melhor lateral esquerdo da primeira volta, perdendo algum gás em 2024 mas demonstrando-se equilibrado nos diferentes momentos do jogo. Wendell foi um dos elementos mais assertivos numa defesa do Porto que se fartou de comprometer, e Godfried Frimpong também merece uma palavra de apreço, incorporado numa defesa rigorosa e disciplinada do Moreirense. Está muito longe do nível do seu homónimo e compatriota do Leverkusen, mas é um jogador bastante decente.


Médio Defensivo: Em 4 anos, esta é a 3ª ocasião em que o Médio Defensivo do Ano é do Sporting, clube que se começa a especializar nesta posição. Depois de João Palhinha e Manuel Ugarte, Morten Hjulmand foi dono e senhor do meio-campo verde e branco, conjugando o dinamarquês a capacidade de recuperação e destruição que já apresentava no Lecce com uma maior influência ofensiva, magnífica leitura no posicionamento e pressionando alto. Foi a âncora, um jogador impossível de retirar da titularidade na ficha de jogo mas difícil de identificar nos clássicos resumos de consumo express para quem só quer consumir futebol em versão light.
    Na cobertura aos colegas, Gonçalo Franco pareceu omnipresente (foi recordista de interceções na Liga) em vários jogos do Moreirense, impressionando à data do Moreirense-Benfica pela forma como se superiorizou a João Neves, Alan Varela cresceu e cresceu e parece estar no ponto para ser uma das figuras da Liga em 24/ 25, e Florentino nem sempre mereceu a confiança de Roger Schmidt mas não deixou margem para dúvidas em relação à sua inclusão neste Top-5 com o patamar qualitativo que exibiu no último terço do campeonato.
    Jogador quase imune à pressão adversária e forte recuperador, o polvo Zaydou Youssouf fecha o nosso leque de escolhas, esperando-se que seja mais uma das boas vendas da fábrica de talentos famalicense.


Médio Centro: Entre os médios completos, uns mais criativos outros mais solidários, não foi certamente por Carlinhos (10 golos e 6 assistências) que o Portimonense foi condenado ao Play-off de despromoção. Rodrigo Zalazar (excelente negócio por 5 milhões) apresentou alguma inconsistência mas quando esteve bem arrasou com a sua meia distância e qualidade no último passe, e Hidemasa Morita perdeu a dado momento o estatuto de indiscutível perante a forma de Daniel Bragança, mas não podemos esquecer tudo o que aconteceu antes. Curiosamente, um futuro concorrente de setor de Morita foi igualmente destaque - Mateus Fernandes aproveitou da melhor maneira o empréstimo ao Estoril, foi uma das revelações, combina técnica, perfil físico e tático, e terá certamente uma oportunidade de Rúben Amorim em 24/ 25. 
    Mas falemos de João Neves. É difícil descrever o menino de ouro da Luz, jogador de rendimento apenas inferior a Gyökeres nesta Liga Portugal Betclic 2023/ 24. Quando os encarnados contrataram Kökçü no Verão, poucos antecipariam que o verdadeiro sucessor de Enzo era um rapaz à época com 18 anos que já fazia parte do plantel, e que na verdade acabara em grande 22/ 23. João Neves é especial, é uma força da natureza (de língua a pressionar a bochecha e 1,74m de talento, é quase impossível vê-lo perder uma dividida), um líder que contagia todos à volta com a sua personalidade. Um exemplo. 


Extremo Direito: Numa posição particularmente recheada de qualidade, aceitamos perfeitamente quem prefira eleger um dos outros 4 craques que deixámos em segundo plano (a qualidade foi tão maior à direita do que à esquerda que até nos vimos obrigados a atirar Belloumi para o flanco contrário). Rafik Guitane marcou o Golo do Ano (que chapelada!), foi mais vezes bem sucedido no drible do que qualquer outro e deixou água na boca. Jogadores como o argelino, com tanta técnica pura e fantasia, são aqueles que apaixonam os adeptos.
    Francisco Conceição demorou a conquistar a titularidade, mas na 2ª volta do campeonato não houve jogador dos azuis e brancos tão influente quanto o esquerdino. Vertical, atrevido, fortíssimo no 1 contra 1, deu por fim o salto para ser um jogador de Seleção e um titular indiscutível num grande. Tivesse ele outro carácter e o respeito e admiração seriam generalizados...
    Na sua segunda vida em Portugal, Ángel Di María criou oportunidades como ninguém, caiu no relvado como poucos, escapou a uns dois cartões vermelhos, mas também carregou o Benfica em muitos momentos. 9 golos e 10 assistências foram os números do campeão do mundo de 36 anos, que deveria ter sido gerido doutra forma por Roger Schmidt, quer nos minutos de utilização quer na pluralidade de posições que poderia ter interpretado em campo, em vez de se resumir ao seu T0 no corredor direito.
    Francisco Trincão foi fundamental no título, apresentando a consistência que era há muito o seu calcanhar de Aquiles. Num ziguezague constante entre defesas, brilhou na reta final, disparou de rendimento em 2024 mas na hora de eleger o melhor destes 5 convém não ignorar a sua menor preponderância até Janeiro. Assim, Jota Silva (discutível considerá-lo um extremo direito uma vez que o Vitória oscilou entre um 3-4-3 e um 3-5-2) ganha vantagem pela superlativa valorização que teve ao longo desta edição. O Grealish de Gondomar, que já tem alegadamente pretendentes na Premier League, passou de 2 golos e 2 assistências na última Liga para 11 + 5. A convocatória de Roberto Martínez foi um prémio justo para um jogador que merece figurar no 11 do Ano, convencendo com bola e na incansável capacidade de pressionar os defesas adversários e dar soluções aos colegas.


Extremo Esquerdo: Eternamente desvalorizado pelos adeptos rivais, cronicamente ignorado pelos selecionadores nacionais, Pedro Gonçalves voltou a deixar bem marcada a sua impressão digital num campeonato vencido pelo Sporting. Craque forte em quase tudo sem ser um especialista em quase nada, Pote chegou aos dois dígitos em golos e assistências (11 golos e 12 assistências), alternando entre o trio ofensivo e o duo de meio-campo. Entendeu-se às mil maravilhas com Gyökeres - não houve parceria com melhor sintonia, com o criativo português a oferecer 6 golos ao matador sueco.
    A partir do corredor, houve muito rasgo do agora internacional brasileiro Galeno, jogador que no entanto guardou para a Champions as suas melhores prestações, e Ricardo Horta esteve em bom plano, embora bastante abaixo de época anteriores. O argelino Mohamed Belloumi atuou sempre no corredor contrário, levando ao êxtase os adeptos do Farense com as suas diagonais, mas o excesso de opções à direita e a falta de destaques pela esquerda convidaram à sua adaptação forçada. Finalmente, João Mendes foi homem de grandes golos (aquele golaço a decidir o dérbi em Braga no período de compensação foi um dos momentos do ano) mostrando que pode ter um impacto bem superior no último terço comparativamente ao que vinha a demonstrar no Chaves.


Segundo Avançado: Numa mistura de médios ofensivos, segundos avançados e pontas de lança com papel decisivo na luta pelo 1º lugar, Rafa merece o maior elogio na sua despedida do futebol português. O velocista dos encarnados repetiu a irregularidade de outros tempos, virou fantasma e apagou-se em momentos-chave mas, não obstante, acumulou estatísticas às quais não podemos ser indiferentes: 14 golos e 12 assistências. Sim, podia ter dado muito mais, e sim, é discutível se se justifica mais a sua presença no onze ou uma dupla de verdadeiros pontas de lança, conjugando Gyökeres e Banza/ Mújica.
    De resto, Cristo González mostrou toda a escola (Real Madrid) e, focado e disciplinado, espalhou qualidade técnica nas costas do seu compatriota em Arouca; Paulinho marcou 15 golos, mesmo tendo sido titular apenas 11 vezes, e disse sempre presente em momentos de aperto, brilhando sobretudo no primeiro e no último mês da Liga.
    Uns metros atrás, a melhor versão de Pepê coincidiu com a versão mais criativa e dinâmica do FC Porto, e Gustavo Sá mostrou aos 19 anos todo o seu potencial. O miúdo do Famalicão é um dos projetos de jogador português mais interessantes atualmente, é praticamente certo que se transferirá nos próximos meses, embora ainda nos falte perceber se será mais médio (ofensivo) ou mais (segundo) avançado.


Avançado: O Jogador do Ano da Liga Portugal Betclic 2023/ 24. Poço de força e energia inesgotáveis, locomotiva verde e branca, Viktor Einar Gyökeres, o sueco de ascendência húngara, decidiu (quase) sozinho o campeonato. Desafio de impossível resolução para a esmagadora maioria dos defesas, ganhando-lhes metros na exploração da profundidade ou no ombro a ombro, no 1 para 1, o homem da máscara teve um impacto individual como há muito não se via em Portugal, comparável a jogadores como Mário Jardel, Hulk ou Jonas. O reforço do ano fartou-se de marcar (29 golos em 33 jogos no campeonato, 43 golos em 50 jogos no conjunto de todas as competições), revelou-se autossuficiente, foi um amor à primeira vista para os adeptos, fonte de inveja e admiração por parte dos rivais, contagiando os colegas com o seu crer, e fazendo todos à sua volta melhores jogadores.
    Rafa Mújica Simon Banza não marcaram os 29 de Gyökeres, mas marcaram muitos. O espanhol do Arouca (já transferido por 10 milhões para o Qatar) apontou 20 golos sem precisar de converter qualquer grande penalidade, e mostrou ser o melhor dos dianteiros espanhóis (Fran Navarro ou Mario González não eram tão completos), recrutados recentemente nos escalões inferiores do país vizinho. Já o congolês Banza ficou-se pelos 21 golos, mesmo com uma pausa para fazer uma perninha na CAN pelo meio, e seguramente terá mercado num campeonato como a Bundesliga.
    Samuel Essende (15 golos) valeu sozinho 42% dos golos do modesto Vizela, e seria um válido substituto de Banza no Braga, e Jhonder Cádiz representou similar preponderância no ataque do Famalicão. Evanilson poderia estar aqui, mas foi menos regular e os seus melhores jogos até foram na Liga dos Campeões e na Taça.




    Desde que avaliamos a Liga portuguesa aqui no Barba Por Fazer, nunca houve um jogador assim. Viktor Gyökeres arrasou a concorrência, desgastou todos os adversários, contagiou os seus colegas, apaixonou os adeptos. O sueco ex-Coventry rejeitou a segunda metade da tabela da Premier League para se vir sagrar campeão em Portugal e, com um impacto individual que o coloca num Olimpo de jogadores como Mário Jardel, Hulk e Jonas (embora destes apenas o extremo do FC Porto conseguisse desequilibrar e ser autossuficiente como o sueco, sem apresentar porém o volume de golos do avançado leonino), deu o campeonato à turma de Alvalade.
    Gyökeres marcou que se fartou, deu a marcar, deixou os rivais rendidos e curvados perante a sua energia e a sua inesgotável combatividade, aliando ainda um comportamento de atleta exemplar e parecendo quase injusto como pode alguém ser tão forte e tão rápido, o tempo todo. Oxalá o homem da máscara de dedos entrelaçados continue por cá a valorizar e fazer elevar a fasquia do futebol português.
    Coates, Mújica, Ricardo Velho, Banza e Di María foram os jogadores que deixámos à porta deste sexteto, que achamos que acaba por fotografar bem o que foi esta edição.
    Desde relativamente cedo percebemos que a escolha de MVP estaria entre Gyökeres e João Neves. O precoce médio do Benfica, outra força da natureza como o goleador sueco, carregou a sua equipa e fez acreditar um conjunto que tantas vezes foi um puzzle mal montado. Não nos recordamos de um médio de 18-19 anos apresentar a maturidade, o QI e o potencial que João Neves apresenta.
    Morten Hjulmand foi a âncora do sistema tático do Sporting, revelando-se um mais do que digno sucessor de Ugarte e João Palhinha; Pedro Gonçalves voltou a ser o toque de criatividade dos campeões, quase sempre subvalorizado ou esquecido por todos na hora de eleger os melhores; Rafa despediu-se do futebol nacional com números impressionantes pontuados com alguma irregularidade; e Jota Silva cresceu como mais ninguém. 



    No passado, o BPF distinguiu Rúben Dias, João Félix, Vitinha, Pedro Gonçalves, Gonçalo Ramos, William Carvalho ou Renato Sanches. O presente e futuro é João Neves.
    O nosso Jovem Jogador do Ano foi por larga margem o melhor jogador das águias e o 2º melhor jogador do campeonato. O número 87 dos encarnados começou a temporada com 18 aninhos mas exibiu-se sempre com a maturidade de um jogador de 26 ou 27 anos. De pulmão infinito, personalidade sem igual e calções por dentro à antiga, João Neves foi o líder em campo do Benfica, revelando-se o verdadeiro e inesperado herdeiro de Enzo Fernández e mostrando que a bola é sua (incontáveis foram as divididas que ganhou, mesmo contra jogadores de aparente superior estampa física). Percebemos que parta para um Manchester City desta vida, mas foi uma honra e continuaria a ser um orgulho vê-lo crescer por Lisboa.
    Infelizmente não houve espaço no nosso habitual Top-6 para Mateus Fernandes, Otávio, Roger, João Marques e Belloumi, mas não podíamos deixar de fora o extraordinário defesa que é Ousmane Diomande, o atrevimento e as diagonais venenosas do esquerdino Francisco Conceição, as pilhas Duracell e impacto ofensivo de Rodrigo Gomes, a (por vezes excessiva) serenidade e elasticidade de Anatoliy Trubin e a elegância de Gustavo Sá, um meio termo entre médio e avançado.



Treinador do Ano: A Liga Portugal Betclic 2023/ 24 foi a época de afirmação absoluta de Rúben Amorim como treinador. O melhor treinador português da atualidade já valeu cada cêntimo da cláusula de 10 milhões de euros que Frederico Varandas pagou ao Braga, e tem agora 2 campeonatos conquistados no espaço de 4 anos, "rebentando" com a concorrência - os leões fizeram 90 pontos (mais 10 do que o Benfica e mais 18 do que o FC Porto), apontaram 96 golos (mais 19 do que o grande rival), vencendo 29 dos 34 jogos em disputa, acabando 100% vitoriosos em casa e marcando em todos os jogos. Transparente na comunicação, ponderado no discurso e um hábil simplificador de processos, Amorim conseguiu fazer disparar o rendimento de diversos jogadores - Eduardo Quaresma, Francisco Trincão, Geny Catamo, Daniel Bragança e Franco Israel subiram todos vários degraus - acertando em cheio quando ele e Hugo Viana concentraram o budget de transferências nos escandinavos Gyökeres e Hjulmand. Aos 39 anos, o homem que cometeu um erro ao apanhar um avião e que já assumiu que continuará por cá em 24/ 25, é um treinador na linha de Ancelotti: alguém que, sem ser um génio e um visionário, agrega e sabe adaptar-se, tendo melhorado na gestão do plantel e deixando sempre os jogadores confortáveis para que possam expressar em campo a sua melhor versão.
    Numa lista naturalmente sem Roger Schmidt e Sérgio Conceição, Daniel Sousa é um dos técnicos que se impõe elogiar. O futuro treinador do Braga deu sequência em Arouca ao bom trabalho que já tivera em Barcelos, afinando um ataque que deu sempre gosto ver. O Arouca ficou em sétimo mas foi o quinto melhor ataque.
    Álvaro Pacheco começou no Estoril, onde contribuiu para o desenvolvimento de Rodrigo Gomes e João Marques, e prosseguiu em Guimarães, num Vitória onde Jota Silva ou João Mendes renderam como nunca antes. O homem da boina, que entretanto fez as malas para o Vasco da Gama, montou uma equipa compacta e que não ficou assim tão longe de Braga e FC Porto.
    A fechar as contas, Rui Borges (próximo treinador do Vit. Guimarães) colocou o recém-promovido Moreirense num sensacional 5º lugar, com um registo defensivo de fazer inveja e sem acusar a perda de um jogador determinante (André Luís) no plano de jogo da equipa a meio da aventura. Finalmente, José Mota. Preconceituosos, achámos que o lendário ex-treinador do Paços de Ferreira acabaria por ser despedido logo na primeira volta. Mas não. Mota acaba aprovado com distinção, num Farense (10º classificado) que pode agradecer as várias exibições do outro mundo do guardião Ricardo Velho, mas que também soube atacar descomplexado e bem oleado.


Melhor Marcador: 1. Viktor Gyökeres (Sporting) - 29
2. Simon Banza (Braga) - 21
3. Rafa Mújica (Arouca) - 20

Melhor Assistente: 1. Pedro Gonçalves (Sporting) e Rafa (Benfica) - 12
2. Ángel Di María (Benfica), Nuno Santos (Sporting) e Viktor Gyökeres (Sporting) - 10

Clube-Sensação: Arouca
Desilusão: FC Porto
Most Improved Player: 1. Jota Silva, 2. Geny Catamo, 3. Eduardo Quaresma
Reforço do Ano: Viktor Gyökeres (Sporting)
Flop do Ano: David Jurásek (Benfica)
Melhor Golo: Rafik Guitane (Estoril 1 - 2 Arouca) (Link)




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