17 de março de 2019

Made in Olival: Os Próximos Talentos do Dragão

Há dois anos atrás, em Março de 2017, lançámos o futuro de Benfica, Porto e Sporting, num conjunto de 3 artigos Made In que procuravam identificar os maiores diamantes na Formação dos três grandes. É hora de fazer um ponto de situação e relançar o futuro portista.
    Depois de algumas gerações fantásticas no futebol português, 1999 foi muito provavelmente o ano mais rico de sempre na História do futebol lusitano. Nesse ano, nasceram João Félix, Florentino, Diogo Dalot, Jota, Rafael Leão, Gedson Fernandes, Diogo Costa, Diogo Leite, Domingos Quina, Diogo Queirós, Rúben Vinagre, Francisco Trincão, Zé Gomes e Nuno Santos. Um verdadeiro luxo, que resultou na conquista de dois europeus - Sub-17 em 2016, Sub-19 em 2018. Mas se o Benfica tem neste momento Félix, Florentino e Gedson entre o lote de 18 habituais escolhas do treinador, começando a integrar Jota nas contas, o FC Porto não concede nesta fase espaço a nenhum dos seus Diogos. Dalot rumou a Old Trafford, Leite começou a época a titular mas deixou de ter hipóteses com a edificação da dupla Felipe-Militão, quebrada somente com a chegada do veterano Pepe, e Diogo Costa vê adiada a sua afirmação ao mais alto nível a cada ano que Iker Casillas prolonga o seu vínculo aos campeões nacionais.
    A não-aposta de Sérgio Conceição na juventude explica-se através de um conjunto de argumentos. Primeiro, a necessidade de vencer no imediato. Campeão em título, o FC Porto procura o bicampeonato para quebrar em definitivo a hegemonia recente do Benfica (que, com cultura de vitória instalada, tem tido melhores condições para promover a estreia dos seus miúdos) e, para vencer já, não há tempo ou paciência, impondo-se estofo e maturidade. Depois, o próprio ADN do Porto versão Sérgio Conceição também não ajuda: o timoneiro valoriza a componente física, e se Diogo Dalot (com pujança para dar e vender) não teria qualquer problema em ser escolha nesta fase, noutros casos não se passa o mesmo.
     No entanto, estamos convictos de que o Porto aprenderá com os seus erros recentes. Rúben Neves, Diogo Dalot ou André Silva representaram significativos encaixes financeiros mas não coleccionaram assim tantos momentos e jogos como os adeptos gostariam de mais tarde poder recordar, surgindo a fornada de 2002 como aposta imperativa no Dragão. Afinal, os dois maiores talentos portugueses nascidos nesse ano actuam na formação do clube azul e branco.

    Sem querer repetir Romário Baró, Afonso Sousa e Rui Pires, abrindo excepções no caso dos 2 Diogos que voltamos a "patrocinar", destacamos abaixo os 6 talentos que nos parece que poderão chegar ao plantel A do Porto nos próximos 4 anos. Incluindo jogadores jovens mas estrangeiros teríamos facilidade em destacar igualmente a potencial integração de Galeno na próxima época, e o crescimento do recente reforço Loum na sombra de Danilo, surgindo Bernardo Folha (filho do técnico do Portimonense e antigo jogador do Porto, António Folha) como outra das prováveis apostas de futuro.

  • Fábio Silva (Ponta de Lança, 2002): André Silva tem construído uma carreira interessante, embora com altos e baixos, Gonçalo Paciência procura reinventar-se na Alemanha, Rui Pedro desiludiu e Zé Gomes está a sentir e muito o salto para o patamar profissional.
        Portugal mantém a sua incessante procura de um ponta de lança que faça justiça à brutal qualidade das gerações recentes, e nesse sentido Fábio Silva emerge como o maior diamante para a posição. Jogador feroz e sinónimo de muitos golos, o craque do FC Porto é mesmo muito acima da média, mostrando qualidade não só nas competições internas como na Youth League.
        Actualmente com 1,85m (tem 16 anos, logo poderá vir a ser ainda mais alto), é um matador mas também um jogador associativo, prometendo não acusar as subidas de patamar dos próximos anos e reunindo condições para ter impacto imediato. À partida, antecipamos que possa funcionar tanto sozinho como numa dupla na frente, sendo quase obrigatório para um jogador tão diferenciado que as realidades de equipa B e Liga NOS lhe sejam dadas nos próximos dois anos. É determinante, para o Porto e para a Selecção Portuguesa, que o clube gira bem a sua carreira, ao contrário do que (não) fez com Paciência e Rui Pedro. Fábio Silva, que o Porto quase perdeu quando chegou a mudar-se para a Luz com o irmão mais velho Jorge, é um talento que Portugal não pode perder.

  • Francisco Conceição (Extremo, 2002): Lionel Messi estreou-se aos 16 anos num amigável que serviu para inaugurar o Estádio do Dragão. Desde então, muitas promessas argentinas e talentos de La Masia como Bojan e Deulofeu foram apontados como "o novo Messi". Como o astro do Barça, para alguns o melhor jogador de sempre da modalidade, não haverá outro, mas é impossível não ver Messi quando olhamos para o pequeno Francisco Conceição de bola colada ao pé esquerdo, contra tudo e contra todos.
        O filho mais novo de Sérgio Conceição (os irmãos Sérgio, Rodrigo e Moisés também jogam) é o talento mais puro da família e aquele que, bem orientado, pode chegar mais longe. Estamos perante um predestinado e possivelmente, entre os jogadores de Benfica, Porto e Sporting que destacamos neste conjunto de 3 artigos, o talento mais especial.
  • Diogo Costa (Guarda-Redes, 1999): Procurámos não repetir Afonso Sousa e Romário Baró nesta lista, mas não conseguimos não voltar a destacar dois Diogos. A urgência em chegar à primeira equipa é diferente no caso dos guarda-redes, pela maior longevidade, mas confessamos que tal como há 2 anos atrás continuamos convictos de que Diogo Costa será o dono da baliza portista no pós-Casillas e um dos candidatos à sucessão de Rui Patrício na nossa Selecção.
        Agenciado pelo irmão de Guardiola, Pere, não é um gigante (mede 1,86m, mas por exemplo Casillas fez carreira com 1,82m) mas impressiona pela elasticidade e pela serenidade, parecendo ter sempre tudo sob controlo. Pensávamos que seria emprestado esta temporada, tal como Svilar no Benfica, pelo que 2019/ 2020 representa um momento determinante na sua carreira - Casillas termina contrato em Junho, e Diogo pode ser o seu sucessor; caso o espanhol renove novamente, terá que crescer fora do ninho como Oblak e Ederson. Não pode estagnar.
  • Diogo Queirós (Defesa Central, 1999): Não deixa de ser curioso que o Benfica apresente nesta altura no eixo da sua defesa Rúben Dias e Ferro (centrais de 1997), quando nos últimos anos se depositaram grandes esperanças - talvez maiores até - na dupla do Porto, Diogo Queirós e Diogo Leite. O último já se estreou de dragão ao peito, tendo inclusive arrancado a época a titular ao lado de Felipe, e é engraçado verificar as semelhanças entre Rúben/Ferro e Queirós/Leite: um líder, capitão nas várias categorias, e o outro mais alto e com melhor saída de bola. Nos dois casos, jogadores que se complementam e que se conhecem profundamente.
        O contexto que o Benfica teve (ocaso de Luisão, transferência de Lindelof, lesões de Jardel), o Porto não tem tido. Felipe e Éder Militão formaram uma dupla de betão, e a chegada do veterano Pepe só ajudou a dificultar a vida à eventual afirmação dos Diogos. No entanto, continuamos a acreditar que ambos terão o seu momento. Mas tal como com Diogo Costa, o Porto precisa de compreender em 19/ 20 que, no Dragão ou noutro clube por empréstimo, têm que experimentar a titularidade jornada após jornada na I Liga.
  • Pedro Vieira (Ponta de Lança, 2002): Sobre Pedro Vieira não há muito a dizer. Atleta de 16 anos, da geração de Francisco Conceição e Bernardo Folha, não tem o virtuosismo de Fábio Silva mas tem muito golo.
        O seu 1,90m leva a crer que será valorizado num clube como o FC Porto, que reconhece a importância da combatividade e de desgastar centrais adversários. Não nos atrevemos a apostar tão vincadamente no seu futuro como no de Fábio Silva e Francisco Conceição, mas estaremos atentos aos próximos passos.
  • David Vinhas (Defesa Central, 2003): Nascer no tempo certo é uma questão de sorte. Ronaldo e Messi têm dois anos de diferença e têm marcado juntos uma Era, puxando um pelo outro mas dividindo entre si prémios individuais. Neymar e Hazard nasceram, se calhar e numa pespectiva de prémios de carreira, cedo demais, mas Mbappé parece ter nascido no momento certo para, até ver, marcar uma nova Era na qual aguarda por concorrência ao seu nível.
        Falamos do timing do nascimento para explicar que David Vinhas, um dos centrais mais promissores do futebol português, pode beneficiar de ter nascido em 2003 e não em 1999 como Queirós e Leite. A existência de Felipe, Militão (de saída para o Real Madrid no Verão) e Pepe dificulta a afirmação dos jogadores de 20 anos, mas a chegada natural de Vinhas ao patamar profissional poderá coincidir com um período de maior necessidade do Porto de jogadores para a posição. O futebol é talento e oportunidade, mas por vezes também é sorte.

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