15 de março de 2019

Made in Seixal: Os Próximos Talentos da Luz

Há dois anos atrás, em Março de 2017, lançámos o futuro de Benfica, Porto e Sporting, num conjunto de 3 artigos Made In que procuravam identificar os maiores diamantes na Formação dos três grandes.
    Entre os 9 projectos de jogador do clube da Luz que elegemos à data, organizados pela expectável estreia/ afirmação que teriam na equipa principal, figuravam João Félix, Florentino, Jota e Gedson Fernandes, o impressionante quarteto nascido em 1999 que hoje delicia e faz sonhar os benfiquistas. Dos restantes, João Carvalho e Diogo Gonçalves rumaram a Inglaterra sem nunca pegarem de estaca, Pêpê tem crescido emprestado, Pedro Pereira voltou para Itália após desiludir, e Zé Gomes (ainda no Benfica B) não evoluiu como esperávamos, embora ainda vá a tempo de ser tudo o que um dia prometeu.
    Neste momento, é difícil não considerar o Seixal a melhor academia da actualidade, faltando apenas que Luís Filipe Vieira cumpra o prometido: conservar os prodígios entre 2 e 4 anos de águia ao peito em vez de apenas um, conseguindo assim elevar o nível europeu do Benfica, aumentando a qualidade da Liga NOS, e ganhando todas as partes envolvidas (clubes futuros incluídos).
    Bruno Lage (que acreditamos que não demorará muito a ser desejado por clubes de topo) é o homem do leme perfeito para a política encarnada, revelando em todos os momentos inteligência, conhecimento na preparação do jogo e na leitura do mesmo, coerência, coragem, serenidade e paciência.
    Hoje, coexistem na equipa principal Rúben Dias, Ferro, João Félix, Florentino, Gedson Fernandes, Jota e Yuri Ribeiro, desejando adeptos e estrutura que haja menos Bernardos e Cancelos (jogadores que brilham anos depois na alta roda sem nunca terem construído boas memórias em campo pelo clube que os formou). Sem repetir elementos que destacámos em 2017, identificámos abaixo 8 casos que achamos terem condições para integrar o plantel principal no espaço dos próximos 4 anos; fala-se que LFV e Lage pretendem o central Pedro Álvaro (só nos parece que faça sentido se Rúben Dias sair no Verão), o britânico Willock e mais 2 dos jogadores que abaixo apresentamos no elenco da próxima época.

    De resto, embora não os coloquemos abaixo, não somos cegos perante o crescimento periférico de Heriberto e Filipe Soares no Moreirense e Estoril respectivamente, o talento de Paulo Bernardo e Henrique Pereira, e a linhagem de centrais na incubadora (além de Pedro Álvaro, destaque para os mais novos Tomás Araújo e Rafael Brito). Nunca se deve excluir também algum resgate aos rivais: são conhecidas as histórias recentes de João Félix e André Gomes, Tiago Gouveia foi "roubado" ao Sporting numa fase em que era uma das maiores esperanças leoninas, Nuno Cunha recrutado de Braga depois de brilhar no torneio Lopes da Silva, e Fábio Silva (o ponta de lança mais promissor do futebol português) chegou a representar o Benfica para estar perto do irmão, Jorge Silva, tendo entretanto voltado ao Porto.


  • Tiago Dantas (Médio Ofensivo, 2000): Tido como um dos jogadores que será promovido ao plantel principal em 2019/ 2020, a estreia de Tiago Dantas de águia ao peito quase se tornou uma miragem quando no final de 2018 esteve com um pé no Manchester City.
        Aos 18 anos, o jogador que nasceu na véspera de Natal de 2000 tem tudo para ser um dos principais presentes dos benfiquistas nas próximas épocas. Actualmente a dividir o seu tempo entre a equipa B e os juniores, é o exemplo clássico - à imagem do que também ocorreu com Bernardo Silva na formação - de um atleta que evoluiu e adaptou determinados predicados do seu jogo ao não ter o mesmo desenvolvimento físico que aqueles em seu redor. Nasceu assim um médio ofensivo de fino recorte e técnica apurada, com critério na circulação e inteligência a saber quando soltar e para onde soltar. Um pequeno grande jogador que gosta de pegar atrás para ver todo o jogo à sua frente e que terá em Bruno Lage (que já trabalhou com ele) o tutor certo nos seus primeiros passos como sénior. Prevemos que os adeptos mais limitados irão olhá-lo de lado pelo aspecto mais franzino, mas os génios não se medem aos palmos.
  • Úmaro Embaló (Extremo, 2001): O "Di María" lusitano de origem guineense só tem mesmo um problema quando, neste exercício de futurologia, antecipamos a sua carreira - o empresário Catió Baldé. Já fortemente cobiçado pelo Leipzig, Embaló já actuou esta época em 3 diferentes escalões (juniores, Sub-23 e Benfica B), e é um exemplo perfeito da sensibilidade que o Benfica tem tido ao apresentar a cada jogador, num plano individual, o patamar e contexto certos, o que tem significado para Úmaro ter estado quase sempre a treinar e jogar com os mais velhos.
        Numa altura em que outro extremo driblador (Jota) começa a acumular os primeiros minutos na asa esquerda do Benfica, é impossível não pensar nos estragos que Embaló poderá fazer a médio-prazo no flanco direito, com a bola no seu pé esquerdo (e o direito fica pouco atrás), velocidade vertiginosa e objectividade de quem sabe que o foco é o golo. Craque em potência apreciado por Chalana, "só" precisa de estabilidade e de conseguir ter a cabeça no lugar, não se deixando condicionar por jogadas de empresários e pelo natural interesse precoce de clubes com outro poder económico. 
  • Tomás Tavares (Lateral-Direito, 2001): André Almeida (indiscutível mais-valia no plantel, mas questionável titular absoluto) continua sem convencer os adeptos da Luz, especialmente depois do público ter sentido em 2016/ 17 o que era ter Nélson Semedo. Achávamos que nesta fase Alex Pinto já teria alguns minutos na I equipa, mas na verdade é sobre Tomás Tavares (2 anos mais novo que o ex-Vit. Guimarães) que recaem as maiores esperanças para a posição no universo encarnado.
        Jogador de elevada estatura e farto cabelo, faz todo o corredor em excesso de velocidade e tem crescido a olhos vistos nas últimas temporadas.
  • Nuno Tavares (Lateral-Esquerdo, 2000): Mas Tomás não é o único Tavares lateral que deslumbra para os lados do Seixal nesta altura. Perante a incrível época de Grimaldo, um dos jogadores mais regulares nesta edição da Liga NOS 18/ 19, é natural que no Verão chegue à mesa de negociações de LFV uma proposta dentro das suas expectativas para o espanhol.
        Assim, e embora nesta fase seja Yuri Ribeiro a alternativa ao lateral formado em La Masia, prevemos que Nuno Tavares (significativo maior potencial que Yuri) também venha a ter uma oportunidade. Se a irá agarrar só depende dele (outro lateral-esquerdo, Montóia, embora 3 anos mais novo e com uma estreia teoricamente mais longínqua parece aposta mais segura pela sua mentalidade), mas deveremos vê-lo quiçá na próxima época a aventurar-se com a sua passada larga.
  • Nuno Santos (Extremo, 1999): Fábrica de talentos, o Benfica tem neste momento nas suas fileiras um Bernardo Silva e um Nuno Santos, nomes "repetidos" de jogadores que não chegaram a brilhar pelo clube como a dado momento parecia certo. Quatro anos mais novo do que o homónimo que se perdeu com uma lesão grave e em passagens sem deixar marcas por Setúbal e Vila do Conde, Nuno Santos é o exemplo perfeito de índice de trabalho, um jogador que, sem ter desde cedo similar rótulo de craque como outros à sua volta, tem aproveitado cada época para se tornar mais jogador, reclamando inclusive um estatuto maior nos quadros da formação encarnada ao desenvolver-se quando esteve emprestado ao Belenenses.
        Já convocado por Bruno Lage, que mostrou assim que conta com ele para o futuro, o seu carácter faz-nos lembrar Heriberto Tavares (por empréstimo no Moreirense). Dois jogadores que têm evoluído e trabalhado, tornando-se melhores ano após ano, humildes e focados.
  • Guilherme Montóia (Lateral-Esquerdo, 2003): Ainda com 15 aninhos, o futuro é em certa medida uma incógnita para Montóia (normalmente torna-se mais fidedigno ou seguro começar a ler o potencial de um jogador aos 16/ 17 anos, surgindo depois a transição para sénior como a derradeira prova dos nove), mas o facto de ser um exemplo e um líder no seu escalão, a assertividade com que interpreta o jogo e a sua compleição deixam adivinhar um caso sério. É lógico que Nuno Tavares seja experimentado como sucessor de Grimaldo mais cedo, mas é em Montóia que depositamos as maiores esperanças para a posição.
  • Henrique Araújo (Ponta de Lança, 2002): Em boa verdade, ser uma máquina de marcar golos na formação de um clube grande em Portugal aos 17 anos não é prova definitiva da qualidade ou potencial de um jovem ponta de lança. Com o seu percurso iniciado no Andorinha de Cristiano Ronaldo e largos anos passados nas camadas do Marítimo, Henrique Araújo fez as malas para a Luz e em 2018/ 19 (1ª época no clube) soma 27 golos em 23 jogos. É de 2002, ano de nascimento do ponta de lança mais cotado na formação nacional (Fábio Silva), o que pode servir de auto-desafio, mas como Zé Gomes nos mostrou, marcar sem parar na formação não equivale obrigatoriamente a sucesso ao passar para a piscina dos grandes.
        Porém, é indiscutível que Henrique Araújo não é um avançado comum. Alia ao faro de golo a polivalência de conseguir introduzir a bola na baliza de todas as maneiras e feitios, e não se deve ignorar a mentalidade forte que tem demonstrado ao brilhar no Continente depois de abandonar as suas origens. Um nome para ficarmos atentos, até porque Portugal bem precisa de avançados.
  • Hugo Félix (Médio Ofensivo, 2004): Na análise que estamos a fazer ao futuro dos 3 grandes, dois anos depois de destacarmos entre outros o potencial de Félix, Florentino, Dalot ou Gedson, todos os jogadores referidos nasceram entre 1998 e 2003. Excepto um.
        Apostar num jogador que no início de Março tinha apenas 14 anos faz pouco ou nenhum sentido, mas como o irmão mais velho (sim, João Félix) revelou recentemente numa entrevista ao The Player's Tribune, há quem diga que Hugo é superior ao que João era com a sua idade. De facto, a superlativa qualidade técnica salta à vista comparativamente com todos os outros que pisam o mesmo campo do pequeno talento que assume sempre o jogo, revelando personalidade. O tempo dirá se o ADN da família Félix é caso de estudo, mas poderá estar aqui mais um prodígio, que terá o peso ou motivação extra de lidar com o progressivo sucesso do mano mais velho nos próximos anos.

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