21 de março de 2017

Made in Seixal: Os Próximos Talentos da Luz

João António Antunes Carvalho. O médio emprestado pelo Benfica ao Vit. Setúbal marcou no empate (1-1) no Dragão, e num instante tornou-se herói de muitos benfiquistas. Mesmo sem nunca ter (ainda) representado a equipa principal dos encarnados.
    Desconhecido para alguns, marcou presença na nossa rubrica '100 Jogadores que podem marcar 2017' (Link), uma teimosia que mantivemos depois de já o ter destacado na edição de 2016, e integrou também o nosso esboço da versão 16/ 17 do plantel das águias (Link), quando lançámos a nova época dos 3 grandes.
    Numa altura em que a formação do Seixal já é internacionalmente reconhecida, estando o Benfica presente nas meias-finais da Youth League (competição na qual atingiu a final há poucos anos, perdendo para o Barcelona), faz sentido analisar o viveiro de talentos e perceber quem são os jogadores que a curto, médio-prazo podem aparecer no plantel principal, tornando-se sucessores de Renato Sanches e Gonçalo Guedes, e evitando-se novos casos como Bernardo Silva.

    Procurámos identificar os 9 maiores talentos que tenham condições para integrar o plantel principal do tricampeão nacional no espaço dos próximos 3 anos. O contexto e as necessidades pontuais do clube poderão levar a que certos elementos saltem etapas e uns sejam chamados mais cedo ou mais tarde do que o esperado - consoante as saídas e lesões das várias posições na equipa A.
    Estes são aqueles que, para nós, não enganam. Não colocámos Kalaica por não ser "da casa", jogadores como Filipe Soares, Rúben Dias, Buta, Heriberto, Gonçalo Rodrigues, Pedro Álvaro e Miguel Nóbrega por não serem certezas tão absolutas (ou jogam em posições "bloqueadas" por outros, ou tratam-se de casos em que um empréstimo e a resposta/ aproveitamento do mesmo será chave no crescimento), e pequenos projectos como Úmaro Embaló, Nuno Cunha e Tiago Dantas por ainda serem muito novinhos.


  • João Carvalho: o rapaz que quer ser como Aimar. Se há variável que no futebol, como na vida, tem um peso inequívoco, é o tempo. O maestro que o Benfica emprestou ao Vit. Setúbal, depois de muitos minutos nas pernas pelo Benfica B, não evoluiu como seria expectável na transição júnior para sénior (dar o desafio/ patamar certo no momento certo é decisivo na Formação; veja-se Renato Sanches) mas com 20 anos ainda vai a tempo de tudo.
        Elegante, inteligente e virtuoso do ponto de vista técnico, João Carvalho é daqueles jogadores que sabe ler o jogo e fazer jogar os colegas. Sempre se distinguiu pela visão de jogo e pela criatividade, inventando decisões melhores do que aquela que parece ser a melhor opção para quem assiste na bancada; o que lhe falta em físico e na capacidade de choque, compensa em inteligência e antecipação. Sem nunca se esconder do jogo, será fundamental que cresça nos próximos anos alheio ao síndrome Özil - urge que consiga ser um jogador regular, com intensidade e total compromisso com a equipa.
        Terá garantidamente lugar na pré-época de 2017-18 e no actual 4-4-2 do Benfica parece pedir um reajuste, dele à equipa, e da equipa a ele. Um "10" de nascença, teria mais facilidade em actuar como 3.º médio se os encarnados só actuassem com um avançado; jogar descaído para um corredor pode ser uma alternativa interessante, parecendo nesta fase difícil vê-lo na posição de Pizzi, porque nem mesmo Pizzi tem o perfil mais indicado para a mesma.
  • José Gomes: o melhor marcador e melhor jogador do último Europeu Sub-17 já se estreou pela equipa principal, acumulando 21 minutos na Liga NOS, 8 na Champions e 90 na Taça de Portugal por força de várias lesões. Com apenas 17 anos, o avançado-prodígio que nas últimas temporadas ultrapassou sempre os 20 golos marcados por época de águia ao peito está a atravessar um período de adaptação ao mundo profissional e a doer do futebol, somando até ver apenas 5 golos pela equipa B.
        Jonas tem 32 anos, Mitroglou 29 e Raúl (25) parece-nos um jogador que no espaço dos próximos 2 anos deve ser vendido. Por isso, as oportunidades vão surgir para "Zé Gomes", que talvez já faça parte do trio de avançados do plantel A na próxima época. Não conseguiu ter o impacto precoce de foras-de-série como Mbappé, Ousmane Dembélé ou Rashford, mas com um faro de golo raro no futebol português, o craque nascido em Bissau é menino para marcar a próxima década.
  • Diogo Gonçalves: sem ter a fama interna com que cresceram Bernardo Silva, Renato Sanches, Gonçalo Guedes, João Carvalho, Zé Gomes ou JP, Diogo Gonçalves é o exemplo perfeito de que o trabalho dá resultados. Sem ter os predicados de outros colegas, tem uma boa relação com o golo (calmo na hora de rematar, inventa pouco), é vertical e objectivo e por isso não é difícil prever que seja aposta de Rui Vitória na pré-época, lutando por uma vaga no lote de extremos. Com Cristiano Ronaldo como referência e ídolo, a regularidade que apresenta ao serviço do Benfica B leva a crer que poderá ter impacto imediato na Liga NOS. Resta saber se será pelo Benfica ou noutro clube, emprestado.
  • Pedro Rodrigues: dito da maneira mais simplista, há duas formas de interpretar uma posição 6. O trinco e o médio defensivo. No actual desenho táctico do Benfica, possível na Liga NOS mas de difícil replicação na Europa, Fejsa é um trinco, um tractor que varre tudo e asfixia os adversários, destacando-se sem bola. O actual esquema dos encarnados é, de resto, viável graças ao facto de existir um jogador como Fejsa. Agora pensem: enquanto que Fejsa está em campo para deixar a equipa jogar, Pedro Rodrigues é um médio defensivo (Weigl ou Busquets servem como referências do como estar e o que fazer em campo) que se torna o primeiro jogador a fazer a equipa jogar.
        Com poucas alternativas nas posições 6 e 8, e tendo um potencial muitíssimo superior ao valor actual de um jogador como Samaris, é difícil projectar um cenário em que Pêpê não seja figura do plantel 2017-18. No entanto, com enorme qualidade a ditar o batimento cardíaco da equipa e a cabeça levantada mais vezes a olhar para a frente do que para trás, ser-lhe-á muito mais fácil entrar na equipa se esta tiver uma estrutura de 3 médios, sendo um 6 mas não tendo perfil para fazer de Fejsa na ausência do sérvio.
  • Pedro Pereira: alguém tem dúvidas que Nélson Semedo abandonará a Luz no próximo mercado de transferências? Nós temos poucas. A iminente saída do camisola 50 já foi acautelada pelos dirigentes, com o regresso de Pedro Pereira, lateral-direito que saíra para a Sampdoria.
        Pedro Pereira não é Nélson Semedo, nem poderia ser. Enquanto que Buta é o elemento da formação mais parecido com o já internacional A português, Pedro Pereira é menos explosivo e tecnicista no último terço, mas mais competente do ponto de vista defensivo (fez-lhe bem passar pela Serie A). Com qualidade a cruzar, muita concentração e intensidade nos duelos físicos, é talvez o ponto de equilíbrio entre Semedo e André Almeida.
  • Florentino Luís: se Pedro Rodrigues "obriga" Rui Vitória a mudar algumas coisas, Florentino (17 anos) é um 6 capaz de evoluir sob a tutela do mentor Fejsa. Nascido em Angola, foi um dos melhores jogadores de Portugal no Euro Sub-17 e, dadas as suas características, tem tudo para ser cobiçado por clubes da Premier League rapidamente.
        A gestão dos médios defensivos e médios-centro será chave nos próximos anos da Luz. Samaris já não parece ter lugar neste Benfica considerando as "promoções" que bloqueia, e Pizzi, o melhor jogador do Benfica 2016-17, deveria regressar ao corredor direito, isto se não for transferido. Há ainda André Horta, e muitos jogadores que não tendo as características Fejsa e Enzo, chamemos-lhes assim, obrigarão o clube a alguma inovação táctica. Florentino depende de tudo isto, porque tem por exemplo Pedro Rodrigues à sua frente. Ao contrário de Pêpê, que decide como todo o jogo respira, Florentino é dos que nasceu para fazer os colegas respirar.
  • Gedson Fernandes: o verdadeiro e único 8 puro que o Benfica tem capaz de surgir a curto-prazo no plantel. O canivete suiço dos encarnados - joga em todas as posições do meio-campo, e chegou a actuar a lateral-direito há alguns meses - é talvez destes jogadores todos aquele que teria mais a ganhar e cuja carreira poderia desviar-se mais do expectável se for aposta cedo e não só aos 19, 20 anos.
        Como escrevemos acima, depende de toda uma conjuntura na gestão do miolo do terreno. Ficou célebre pelo golo do meio-campo marcado ao Besiktas na Youth League, mas o seu futuro deverá ficar marcado pela qualidade a transportar jogo, revelando boa capacidade de decisão e temporização.
  • João Félix: ah, há mais um João Carvalho. Formado no FC Porto e com passagem pelo Padroense, habitual satélite dos dragões, viajou para a Luz na época passada e tem tido uma ascensão meteórica, exibindo-se já ao serviço da equipa B embora tenha 17 anos feitos em Novembro passado.
        Com um perfil idêntico ao de João Carvalho - é também forte tecnicamente, inteligente a ocupar os espaços embora seja porventura melhor finalizador do que o médio 3 anos mais velho - a lógica diz que chegará ao plantel principal quando João Carvalho for vendido. Demasiada futurologia, até porque são compatíveis. Veremos como será. 
  • João 'JP' Filipe: altamente cotado ao longo da formação, João Filipe é o wildcard deste conjunto de 9 promessas. O miúdo que se entende às mil maravilhas com Zé Gomes abrandou um pouco a sua evolução, mas se corresponder às expectativas iniciais poderá ser um dos grandes extremos do futebol português. Tem tudo o que Portugal gosta de ver no flanco: é rápido, desconcertante e com uma qualidade no drible que, em dia sim, chega para castigar adversário atrás de adversário.
        Dêem-lhe tempo e saibam dar-lhe os desafios e os conselhos certos. Depois, como relativamente a todos os outros, só depende dele.


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