Balanço Final - Liga NOS 18/ 19

A análise detalhada ao campeonato em que houve um antes e um depois de Bruno Lage. Em 2018/ 2019 houve Reconquista.

Prémios BPF Liga NOS 2018/ 19

Portugal viu um médio carregar sozinho o Sporting, assistiu ao nascer de um prodígio, ao renascer de um suiço, sagrando-se campeão quem teve um maestro e um velocista.

Balanço Final - Premier League 18/ 19

Na melhor Liga do mundo, foram 98 contra 97 pontos. Entre citizens e reds, entre Bernardo Silva e van Dijk, ninguém merecia perder.

Os Filmes mais Aguardados de 2019

Em 2019, Scorsese reúne a velha guarda toda, Brad Pitt será duplo de Leonardo DiCaprio, Greta Gerwig comanda um elenco feminino de luxo, Waititi será Hitler, e Joaquin Phoenix enlouquecerá debaixo da maquilhagem já usada por Nicholson ou Ledger.

21 Novas Séries a Não Perder em 2019

Renasce The Twilight Zone, Ryan Murphy muda-se para a Netflix, o Disney+ arranca com uma série Star Wars e há ainda projectos de topo na HBO e no FX.

17 de maio de 2018

Barba no Mundial: Os Nossos 23 (Portugal)

O seleccionador nacional Fernando Santos anuncia a sua lista de convocados para o Mundial-2018 daqui a umas horas, mas nós decidimos antecipar-nos, aproveitando o momento para reintroduzirmos a rubrica "Os Nossos 23" (algo que já fizemos na cobertura ao Euro-2016 e ao Mundial-2014). Durante as próximas semanas, e até ao iniciar da competição, poderão consultar aqui quais seriam as nossas escolhas para as selecções mais mediáticas e que oferecem mais dores de cabeça aos seleccionadores na hora de eleger apenas 23 jogadores. Para além de Portugal, mais 6 selecções surgirão neste exercício. A isso juntar-se-ão as nossas análises/ antevisões a cada um dos grupos do Mundial.
    Portugal chegará à Rússia com um estatuto inédito: campeão europeu. A Selecção das Quinas venceu o Europeu de França com muitos empates e muito coração, e qualificou-se directamente com uma fase de grupos sólida - 9 vitórias e uma derrota, 32 golos marcados e 4 sofridos. Homem conservador, crente e habitualmente justo, Fernando Santos procurará manter a espinha dorsal que conquistou o Euro, fazendo afinações nessa estrutura e premiando as boas épocas de alguns jogadores. E um dos problemas de Portugal passa precisamente por aí: vários jogadores quase indiscutíveis na Selecção tiveram pouca competição nas pernas esta época (ex.: João Mário, Adrien, André Silva), e alguns dos principais destaques lusos foram jogadores que até há pouco tempo não figuravam nas escolhas de Fernando Santos (ex.: Rúben Neves, Bruno Fernandes, Rony Lopes).
    Da lista de 35 pré-convocados por Fernando Santos, já sabemos que Rui Patrício, Anthony Lopes e Beto serão os três guarda-redes. Apostamos que o engenheiro leve os laterais Cédric, Cancelo, Raphael Guerreiro e Mário Rui (pode eventualmente ser chamado Ricardo Pereira em vez do jogador do Nápoles), tendo perdido com a lesão do polivalente Danilo Pereira a chance de escolher apenas 3 centrais. Pepe é o único realmente indiscutível, devendo Rúben Dias, Rolando e José Fonte/ Bruno Alves completar o lote.
    Antes de olhar para o meio-campo, onde devem surgir mais dúvidas na cabeça do seleccionador e onde, invariavelmente, serão cometidas algumas injustiças, interessa olhar para o ataque. Lá, tudo parece mais simples. Jogadores fundamentais na conquista do Euro como Éder e Nani devem ficar de fora, sendo o mais provável surgirem na convocatória Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva, Gonçalo Guedes, Gelson Martins, Quaresma e André Silva. Complicado mas não impossível Rony Lopes ser o jóker.
    No meio-campo, são em teoria 8 candidatos para 6 vagas. A não ser que a nossa Selecção viaje até à Rússia apenas com 3 centrais ou 3 laterais; entre William, Moutinho, Adrien, João Mário, André Gomes, Bruno Fernandes, Manuel Fernandes e Rúben Neves, dois devem ser riscados. Cenário mais provável: Manuel Fernandes e André Gomes ou Adrien não terem bilhete.

    Mais logo saberemos as escolhas de Fernando Santos. Estas seriam as nossas:


A Convocatória


  • Guarda-Redes: Rui Patrício (Sporting), Anthony Lopes (Lyon), Cláudio Ramos (Tondela)
  • Defesas: João Cancelo (Inter Milan), Cédric (Southampton), Pepe (Besiktas), Rúben Dias (Benfica), Rolando (Marselha), Raphaël Guerreiro (Borussia Dortmund), Ricardo Pereira (Porto)
  • Médios: William Carvalho (Sporting), Rúben Neves (Wolves), Adrien Silva (Leicester City), Manuel Fernandes (Lokomotiv Moscovo), Bruno Fernandes (Sporting), João Mário (West Ham)
  • Extremos: Bernardo Silva (Manchester City), Gonçalo Guedes (Valência), Ricardo Quaresma (Besiktas), Rony Lopes (Mónaco), Gelson Martins (Sporting)
  • Avançados: Cristiano Ronaldo (Real Madrid), André Silva (AC Milan)
Lista de Contenção: Diogo Costa (Porto), Nélson Semedo (Barcelona), José Fonte (Dalian Yifang), João Moutinho (Mónaco), Bruma (Leipzig), Diogo Jota (Wolves), Paulinho (Braga)

    Para a baliza não há muito a dizer. Rui Patrício foi um dos heróis do Euro-2016 e é o titular absoluto da baliza portuguesa. Anthony Lopes e Beto vão à Rússia, mas pessoalmente preferíamos abdicar do experiente atleta do Goztepe, conscientes que é um jogador que dá "bom balneário", em prol de Cláudio Ramos. O guarda-redes do Tondela esteve fantástico na Liga NOS e, embora não esteja habituado a estas andanças e à pressão de um Mundial, merecia este prémio. Como contenção, o futuro da baliza da nossa Selecção - Diogo Costa.

    Na defesa, tudo começa em Pepe. A condição física do central do Besiktas será determinante no caminho de Portugal na competição. Estando bem, a questão passará sempre por encontrar o jogador para actuar ao lado do "patrão" da defesa. Confiando na disciplina de William (seguindo a "fórmula Danilo") em recuar para central numa situação de emergência, acrescentamos a Pepe apenas dois colegas: Rúben Dias e Rolando. Riscávamos assim os veteranos José Fonte e Bruno Alves, privilegiando o jovem central do Benfica, que nos parece ter tudo para agarrar já a titularidade, e Rolando, após boa Ligue 1 e presença na final da Liga Europa.
    Se nos centrais fomos poupadinhos, nos laterais nem por isso. Embora o Southampton tenha feito uma época fraca, Cédric será porventura o melhor lateral português em termos defensivos e, por isso mesmo, tem que ser opção para nós. Do lado esquerdo, Raphaël Guerreiro é um dos melhores e mais completos jogadores portugueses da actualidade, e um titular indiscutível. Esperemos que o calvário de lesões que pontuou a sua época na Alemanha não afecte o rendimento do craque de 24 anos durante a prova. Embora haja Nélson Semedo ou Mário Rui, privilegiamos depois a polivalência de João Cancelo e Ricardo Pereira. Cancelo (ao contrário de Semedo, por exemplo) apresentou um rendimento elevadíssimo sempre que foi opção na Selecção AA (7 jogos, 3 golos), é um dos jogadores lusos que melhor dribla e que mais arrisca, tendo o bónus de poder funcionar noutras funções: tanto Cancelo como o lateral do Porto são hoje, de raíz, laterais direitos, mas podem jogar do lado esquerdo e como extremos.
   
    No meio-campo, é um verdadeiro 31 e não gostávamos de estar na pele de Fernando Santos. No entanto, importa procurar um equilíbrio entre o rendimento dos jogadores ao longo da época,  as suas características e o histórico em representação do país. Como William Carvalho, sobretudo depois da lesão de Danilo, não há mais nenhum. O que torna o médio defensivo do Sporting um jogador absolutamente imprescindível. E, explicando já os nossos "sacrifícios", são eles André Gomes e Moutinho. Riscar o médio do Barcelona não custa muito: afinal, embora FS goste dele, trata-se de um jogador que esta época não esteve bem, nunca convencendo também ao serviço da Selecção. Já Moutinho (jogador que jamais Fernando Santos irá riscar) custa mais. O médio do Mónaco é um farol para os colegas, sabendo eles que podem passar-lhe a bola em qualquer situação dado o conforto que apresenta em posse, mas pela forma como imaginamos Portugal a jogar, achamos que o médio de 31 anos e 107 jogos por Portugal não seria tão importante como outros.
    A assombrosa época de Rúben Neves no Championship faz dele um dos jogadores que mais queremos ouvir Fernando Santos chamar na hora de divulgar os convocados. O médio do Wolves tem tudo: meia distância, brutal capacidade de passar longo, sabe gerir ritmos e posicionar-se sem bola. Depois, os Fernandes. Bruno Fernandes e Manuel Fernandes foram dois dos portugueses em melhor forma em 2017/ 18. O médio do Sporting fartou-se de marcar, pode dotar o meio-campo de Portugal de uma lacuna evidente até à data - a capacidade de arriscar do meio da rua - e é um jogador talhado para os grandes momentos e grandes palcos. Já Manuel Fernandes pode ter o dom de ser uma espécie de Renato Sanches neste certame: aos 32 anos, o centro-campista do campeão russo (7 golos no campeonato, 6 golos na Liga Europa) é uma versão madura de Renato Sanches, uma força da natureza que preservou a sua classe e irreverência de sempre, acrescentando-lhes experiência. A fechar, por muito que as suas épocas não tenham sido como gostaríamos, João Mário e Adrien Silva têm que estar na Rússia. Um por tudo o que é com bola no pé, e o outro porque em jogos em que seja expectável Portugal ter menos bola, torna-se peça fulcral pelo pressing e intensidade.

    À frente, e com alguma pena nossa de elementos como Bruma, Diogo Jota, Paulinho e do nosso "deus" Éder, Cristiano Ronaldo teria connosco a companhia de Bernardo Silva, Gonçalo Guedes, Ricardo Quaresma, Gelson Martins e André Silva. Bernardo e Guedes têm tudo para fazer um Mundial muito interessante, esperando-se deles criatividade, genialidade, desequilíbrios e velocidade, pedindo-se o mesmo a Gelson, sendo o craque do Sporting um elemento importante para ter no banco podendo mexer com o jogo como ultimamente Quaresma faz sempre. A época de André Silva foi péssima, mas joga a seu favor a qualificação - no apuramento Cristiano Ronaldo marcou 15 golos e o ponta de lança do AC Milan marcou 9. O facto de ter mostrado em campo uma boa dinâmica e empatia com CR7, ganhando o capitão português com a presença deste ao seu lado a nível táctico, colocam-no na Rússia e um passo acima da concorrência.
    Finalmente, embora seja improvável vir a ser convocado por Fernando Santos, o facto de levarmos apenas 3 centrais permite-nos fechar a convocatória com Rony Lopes. Aos 22 anos, o jogador do Mónaco foi claramente um dos melhores jogadores portugueses em 2017/ 18, evoluindo imenso e marcando 13 golos na Ligue 1.


O Onze

    Acreditamos que Fernando Santos irá descobrir o melhor onze de Portugal, ao longo da competição. E, com o elenco à disposição, faz sentido por exemplo encarar a Espanha de uma forma diferente, privilegiando jogadores com certas características, àquilo que depois faremos com Marrocos e Irão.
    Tendo por base os nossos 23 acima apresentados, entre os postes não há discussão. Rui Patrício é senhor da baliza das Quinas e, depois de um final de época stressante (claro eufemismo este), esperamos que o nº 1 dê uma excelente resposta, recuperando a importância que teve no título de 2016.
    Na defesa, dois indiscutíveis: Pepe e Raphaël Guerreiro. Curiosa e infelizmente, dois jogadores que não têm estado a 100% fisicamente nos últimos tempos. Pepe é o melhor central português, um líder nato no sector, e quanto a nós face às opções que existem, o jovem Rúben Dias (21 anos feitos há três dias) seria o parceiro ideal. Se à esquerda Guerreiro é titularíssimo, do lado direito pode fazer sentido apostar em Cédric em jogos em que Portugal precise de adoptar uma postura mais conservadora (ex.: Espanha), tendo na verdade um defesa direito e em teoria pouca bola, entregando a posição a João Cancelo quando houver maior liberdade para subir no corredor.

    Para os 6 lugares restantes, William, Bernardo Silva e Cristiano Ronaldo são as escolhas mais fáceis de fazer. E a necessidade de tirar o melhor do capitão português (81 golos por Portugal), fará Portugal manter o seu 4-4-2. Também por isto, sai beneficiado André Silva. O avançado do AC Milan, apesar de ter desiludido e muito em Itália, realizou uma excelente fase de qualificação ao lado de Ronaldo, construindo ambos um bom entendimento a nível de movimentos e percebendo-se que, um pouco como o factor Benzema em Madrid, o rendimento de CR7 é superior ao orbitar sobre um colega que "agarre" centrais. Ainda assim, pode ser útil em determinados contextos apostar em Ronaldo-Guedes na frente, podendo o jogador do Valência actuar ainda do lado esquerdo.
    Com André Silva e Ronaldo na frente, importa num primeiro esboço de melhor 11 para o Mundial encontrar um quarteto de meio-campo equilibrado e que dê diferentes coisas ao jogo português. Sendo William Carvalho o jogador mais posicional, a nossa aposta em Rúben Neves explica-se por vários factores: o momento de confiança, a capacidade de progredir com bola e distribuir, a soberba qualidade de inventar linhas de passe com bolas longas e a boa meia distância. Com o tecnicista Bernardo Silva do lado direito, a flectir para dentro com a bola colada ao seu pé esquerdo, João Mário podia ser uma opção válida à esquerda. Mas Bruno Fernandes agrada-nos mais. O médio do Sporting é um jogador especial, que quer sempre a bola nos momentos em que esta pesa mais, e para além dos seus tiros a 25 metros, possibilitaria a nuance de, ao explorar terrenos interiores, permitir as subidas de Raphaël ou até alguma tendência de CR7 em procurar o corredor como ponto de partida.
    Fernando Santos tem muita qualidade disponível e, com estes nossos 23, existia por exemplo margem para ter Gonçalo Guedes como 12º jogador, Gelson e Rony Lopes como alternativas a Bernardo, Quaresma a saltar do banco para agitar como só ele sabe, tendo ainda como cartadas Manuel Fernandes (passada longa, exímio a queimar linhas e ampliar a dimensão física e a raça do jogo português) e Adrien Silva (nenhum médio luso "morde" tão bem como ele, chateando os médios adversários).



15 de maio de 2018

Prémios BPF Liga NOS 2017/ 18

    Após termos partilhado os nossos prémios referentes à Premier League, chegou a vez da nossa Liga NOS.
    Na época do tetracampeão que nunca chegou a ser penta, brilhou o Porto, equipa mais consistente, que soube sempre reagir às adversidades e potenciar as suas características: com poucos jogadores tecnicistas, os azuis e brancos souberam levar os jogos para a dimensão física, sua principal força, com Brahimi depois a trocar os olhos aos adversários e Alex Telles a ter um GPS instalado no seu pé esquerdo. O Porto voltou a ser Porto.
    Depois de não resolver diversos problemas, encostando-se ao sucesso recente, o Benfica perdeu a hipótese de fazer História, e só se manteve na luta durante tanto tempo porque teve Jonas (34 anos, 34 golos) num nível assombroso. Num campeonato em que o Sporting desiludiu e muito em termos de futebol praticado - embora os leões tenham perdido o 2º lugar na última jornada, surpreende um pouco como não acabaram a época em 4º -, o Braga deslumbrou, batendo recordes, tendo a companhia de Rio Ave, Chaves e Tondela como equipas-sensação.
    Mas falemos de jogadores porque os nossos prémios são, praticamente, só deles. Abaixo encontrarão o nosso 11 do Ano, Jogador e Jovem do ano, Treinador do Ano e algumas categorias adicionais. 2017/ 18, ano em que os festejos se despediram do Marquês e voltaram aos Aliados, teve num veterano a sua figura máxima, viu despontar desconhecidos como Shoya Nakajima e Lucas Evangelista, e crescer elementos como Esgaio, Herrera e Sérgio Oliveira. Vamos lá a isto. Estes foram, para nós, os grandes destaques:



Guarda-Redes: Se este foi o último ano de Rui Patrício no Sporting e na Liga portuguesa, a despedida foi em grande. O guarda-redes da selecção nacional apresentou a consistência e segurança que o caracterizaram nos últimos anos, fazendo Alvalade gritar "Siiiiim!" em diversas ocasiões. Na época em que se tornou o futebolista com mais jogos de sempre pelo clube verde e branco, o natural de Marrazes com 30 anos e que está no clube desde os seus 12 não tremeu e, com a compostura e liderança que veio a desenvolver, segurou os leões, disfarçando várias tardes e noites menos inspiradas do ataque.
    Com o nível qualitativo médio de guarda-redes abaixo do recomendável, desta vez deve ser impossível para o Tondela segurar Cláudio Ramos. Líder no nº de defesas realizadas e grandes penalidades defendidas, o guardião de 26 anos voltou a ser crucial na campanha do clube-sensação desta edição e já merecia um salto e tanto. Com mais jogos (a baliza do Porto esteve entregue algum tempo a José Sá), o señor Iker Casillas poderia porventura ter desafiado a titularidade de Patrício no nosso 11, Cássio foi excelente no primeiro terço do campeonato, evoluindo no geral pela forma como a ideia de jogo de Miguel Cardoso o obrigou a modificar vários hábitos aos 37 anos. E, por fim, o bracarense Matheus foi competente e aproveitou a lesão de Marafona para assumir a baliza do 4º classificado e 4ª melhor defesa da prova. 


Lateral Direito: Há um ano Nélson Semedo, um ano mais tarde outro lateral português e igualmente uma locomotiva. Resgatado depois de evoluir na Ligue 1, Ricardo Pereira tomou conta do lado direito... do Porto. Sim, faz sentido falar no flanco todo, tal a profundidade que o vaivém português deu vezes sem conta, permitindo soltar Marega para terrenos interiores e revelando pulmão para dar e vender. O camisola 21 dos dragões, jogador completíssimo, nunca baixou o ritmo e merece ouvir o seu nome chamado por Fernando Santos na lista para a Rússia.
    Com a difícil e injusta missão de substituir Semedo, André Almeida surpreendeu (2 golos e 7 assistências) e realizou a sua melhor época até à data. Ainda assim, as águias precisam de um upgrade. Piccini (não deslumbrou mas foi sempre muito certinho), Goiano e Bebeto completam as nossas escolhas.


Defesa Central (Lado Dto.): O ano passado o facto dos dois melhores centrais (Lindelöf e Marcano) terem actuado do lado esquerdo, ajudou Felipe a surgir no nosso onze. Este ano algo semelhante acontece: os dois melhores defesas centrais deste campeonato foram Marcano e Mathieu, sempre pelo lado esquerdo, o que favorece Rúben Dias.
    A introdução do jovem central do Benfica, jogador durinho e que reúne todos os ingredientes para marcar os próximos anos de Benfica (caso o clube o segure alguns anos como devia) e Selecção Nacional, no onze encarnado, substituindo o capitão Luisão, contribuiu e muito para o crescimento dos encarnados. A juventude, irreverência e virilidade do 66 chegaram para fazer dele um central mais marcante do que Felipe (excelente parceria com Marcano), Bruno Viana (agradável surpresa, com tremendo potencial!), Coates (alguns golos importantes, mas inferior ao ano passado a defender) e Raphael Rossi (o Boavista mantém a tradição de ter sempre um "patrão").


Defesa Central (Lado Esq.): É doloroso ter Jérémy Mathieu fora do onze, mas Iván Marcano foi claramente o melhor central da época em Portugal. Em final de contrato com o clube da Invicta, o central espanhol jogou como se tivesse um contrato vitalício, jamais demonstrando falta de ligação ao emblema ou falta de profissionalismo. Sempre em antecipação, fortíssimo nas alturas, praticamente intransponível e mestre nas dobras, Marcano jogou esta época de acordo com a velha tradição de grandes centrais do Porto. Renovar com ele seria um passo certo rumo ao bicampeonato.
    Mathieu foi um dos reforços do ano da nossa Liga (muito provavelmente o central com melhor saída de bola por cá), tornando-se um dos jogadores mais elegantes que os sportinguistas viram esta época representar o clube. Raúl Silva manteve-se goleador mas melhorou muito no conforto com bola no pé; Jardel foi igual a si mesmo, e o sérvio Nikola Maras revelou-se uma extraordinária descoberta do scouting do Chaves. Temos muita curiosidade para ver onde vai parar o pupilo de Luís Castro.  


Lateral Esquerdo: Que jogador! Um dos dois únicos jogadores que repetem a presença no nosso onze comparativamente com o ano passado, Alex Telles foi o rei das assistências (13) e um dos 4 melhores jogadores desta Liga. O lateral esquerdo criou mais oportunidades de golo do que qualquer outro jogador e mostrou em praticamente todos os cruzamentos que fez que é por larga margem o melhor nesse capítulo em Portugal. Um pé esquerdo que vale ouro, e um jogador que é impossível não admirar.
    Bastantes furos abaixo do lateral do Porto, Grimaldo esteve algo tímido embora tenha criado uma química interessante com Cervi (no melhor momento da época na Luz, impressionavam as triangulações Grimaldo-Krovinovic-Cervi); Fábio Coentrão acumulou atritos com tudo e todos, mas recuperou a confiança e o fulgor físico; Yuri Ribeiro aproveitou o período em Vila do Conde para crescer no panorama profissional; e Jefferson fartou-se de assistir, incorporando uma equipa que deu gosto ver jogar.


Médio Defensivo: Irónico que a primeira vez que Fejsa surge no nosso 11 seja também a primeira vez em que o trinco sérvio não é campeão em muitos, muitos anos... Numa equipa com várias lacunas e que nunca substituiu devidamente alguns elementos, Fejsa foi um monstro. Sério, frio, quase sempre com a posição ganha, recuperando milhentas bolas e lendo o jogo segundos à frente. A seguir a Jonas, o elemento mais influente no futebol das águias, e talvez o jogador mais difícil de substituir.
    Danilo Pereira (incrível baixa para Portugal no Mundial-2018) estava a ser um dos melhores jogadores do campeonato até à sua lesão; Vukcevic subiu para um patamar nunca antes visto sob o comando de Abel; Pelé relançou a carreira, provando ser um dos melhores médios defensivos em terras lusas, e Alfa Semedo foi uma das surpresas da época. Honestamente, não imaginávamos que o gigante guineense fosse capaz de corresponder a este nível na Liga NOS (se Pelé sair do Rio Ave como se diz, seria o substituto ideal).


Médio Centro: Não foi só golo na Luz, foi muito mais do que isso. Numa temporada em que Sérgio Conceição se viu obrigado a inventar soluções e retirar o máximo dos seus jogadores, o mal amado Héctor Herrera foi um dos activos que mais se transcendeu. Dono de uma intensidade brutal, nunca baixando dos 110% em cada jogo, o mexicano justificou o porquê de ser o capitão dos dragões, fazendo-se notar sobretudo a partir da lesão de Danilo. Falar de Herrera em 2017/ 18 é falar de um jogador em constante alta rotação e, claro, de um tiro do meio da rua que silenciou a Luz e colocou o Porto definitivamente na rota do título.
    Fora dos 4 primeiros classificados, Lucas Evangelista foi uma das belas surpresas deste ano. O brasileiro do Estoril, emprestado pela Udinese, esquerdino de fino recorte e classe pura com a bola colada ao pé, mostrou que seria uma reforço muito interessante para qualquer um dos grandes. Tenha sorte e saiba ele fazer as escolhas certas na carreira, e pode-se tornar um caso verdadeiramente especial.
    Zivkovic (os grandes jogadores, com técnica para dar e vender como ele, jogam quase em qualquer posição; mas será melhor interior do que extremo?) foi uma boa descoberta táctica de Rui Vitória, ainda que com a sua qualidade estivesse à vista de todos que já devia ter entrado muito antes no onze. O potencial de Andrija é absurdo, e convém lembrar Krovinovic: até se lesionar em Janeiro, com apenas 850 minutos na Liga, o rendimento do croata deixava antever que este lugar nos prémios BPF ia ser dele.
    A fechar, Pedro Tiba foi o capitão e a alma do Chaves, chegando aos 9 golos (11 em todas as competições), e fazendo-se senhor de todo o meio-campo em vários jogos. E Hurtado, num Vitória muito abaixo do ano passado, conseguiu ser um dos poucos com pedalada para acompanhar Raphinha.


Médio Centro: O reforço do ano da Liga portuguesa, e autor igualmente do melhor golo desta edição. Com a sua meia distância genial e uma ambição que o fez pegar várias vezes no Sporting, abanando a equipa e levando os colegas para a frente, Bruno Fernandes foi um dos melhores jogadores desta Liga. Com muitos jogos de Serie A nas pernas, surpreendeu-nos no começo da época como é que um jogador deste nível veio parar a Portugal (notável negócio do Sporting), mas o que é certo é que esta máquina de golos e assistências não deve ficar por cá muito tempo...
    Sérgio Oliveira foi mais um dos patinhos feios que Sérgio Conceição transformou em cisnes, emprestando toda a sua qualidade de passe e visão de jogo ao miolo portista; Pizzi, anos-luz aquém daquilo que o fez ser o melhor jogador de 16/ 17, manteve a boa telepatia com Jonas mas vacilou em vários jogos como não podia; Francisco Geraldes - que quanto a nós já teria dado jeito esta temporada, tal como Iuri Medeiros, no plantel leonino - não esteve de férias em Vila do Conde, mostrando o tremendo potencial que tem este leitor que pensa e vê o jogo como poucos. E Tozé, atingindo os seus melhores números no primeiro escalão, foi um dos grandes responsáveis pela manutenção do Moreirense.


Extremo Direito: O melhor jogador dos campeões. Depois de uma boa época em Guimarães, Moussa Marega chegou ao Estádio do Dragão olhado pelos fãs com alguma desconfiança. Seria ele capaz de singrar num grande? Sim, e de que maneira. Dono de uma estampa física que faz toda a diferença no nosso futebol, o maliano - um híbrido entre extremo direito e segundo avançado, nuance táctica sempre bem colocada em campo - marcou 22 golos e estabeleceu-se como peça-chave (não é um acaso ou coincidência as duas derrotas do Porto, contra Belenenses e Paços de Ferreira, terem surgido durante a sua lesão).
    Provavelmente o Most Improved Player de 17/ 18, Ricardo Esgaio cortou a ligação umbilical ao Sporting e em Braga afirmou-se como um dos melhores do campeonato. De uma regularidade fantástica, o jogador português começou a época a lateral-direito mas não demorou a encontrar a médio direito a praia perfeita para potenciar as suas características.
    Raphinha (21 anos e 15 golos num Vit. Guimarães pouco vigoroso não é para todos) garantiu o salto para um dos grandes, Gelson Martins não explodiu nem elevou o seu futebol para o patamar que já seria expectável nesta fase mas não deixou de ser uma dor de cabeça para qualquer defesa, marcando como nunca, e Matheus Pereira garantiu também lugar no Sporting da próxima temporada com Luís Castro a trabalhá-lo em Chaves e possibilitando um assinalável salto competitivo do jogador luso-brasileiro.


Extremo Esquerdo: Muito renhido entre Brahimi e Nakajima. O japonês, jogador que desconhecíamos até aterrar em Portimão esta temporada, mostrou ter tudo para se tornar um caso sério: com o seu baixo centro de gravidade, é um driblador nato, sempre com vontade de proporcionar bons momentos, avançando para cima dos defesas e acumulando vários golos e assistências de génio. À imagem de Lucas Evangelista (Estoril), como acima referimos, foi um dos jogadores extra-grandes que perfumou esta Liga. Que alguém o agarre rapidamente. No entanto, e embora com menos golos e assistências do que Shoya, Brahimi foi determinante no título. O argelino, mesmo sem ser uma das figuras do campeonato como esperávamos (foi sim um dos melhores 7/ 8 jogadores), esteve numa galáxia à parte em termos de drible, ziguezagueando entre linhas e colocando a cabeça dos adversários à roda. Com a sua capacidade invulgar de ligar o alarme nos rivais, colocando-os em sentido, ajudou a soltar Marega no flanco oposto, puxando para si atenções e criando espaços. Até quando vamos ter em Portugal este virtuoso com técnica de cabine telefónica?
    A completar este quinteto de luxo, Ricardo Horta jogou como nunca (11 golos e 8 assistências é muita fruta, sendo muito provavelmente o melhor extremo-esquerdo do último terço da época), Franco Cervi subiu um nível o seu futebol e até chegou a carregar o Benfica no começo do ano civil, e João Novais mostrou-se ao país, deixando patente o seu dom para livres directos.


Ponta de Lança: Aos 34 anos, 34 golos. Jonas voltou a superar-se. O melhor jogador desta Liga por alguma margem carregou o Benfica durante toda a época e, com a sua técnica (é muito mais do que um simples marcador, desbloqueando jogos com as suas movimentações e ligando o jogo de todo o ataque, associando-se aos colegas) e veia goleadora, levou mesmo os adeptos a acreditar que o penta era possível. Particularmente frustrante, para o jogador e massa associativa, o tombo da equipa ter surgido durante a sua lesão na recta final da época.
    O "matador" Bas Dost voltou a mostrar a sua frieza, assinando 27 golos; Paulinho cresceu muito ao longo da época, nesta que foi a sua primeira experiência no I escalão, merecendo inclusive começar a ser equacionado por Fernando Santos brevemente; Aboubakar começou num nível incrível mas caiu com o tempo; e Fabrício foi, em conjunto com Shoya Nakajima, a maior fonte de problemas para quem teve o Portimonense pela frente. Destaque ainda para Tomané e para o forte impacto que Joel Tagueu em meia época de Marítimo.



    Nas vagas que atribuímos do nosso típico Top-6 a Herrera e Bas Dost, víamos com bons olhos igualmente a presença de elementos como Brahimi, Esgaio, Shoya Nakajima e Marcano. No entanto, jogou a favor dos nossos escolhidos a máquina de golos que o holandês voltou a revelar-se, e a brutal intensidade do mexicano, peça fundamental no título e futebol portista.
    Acima deles, quatro jogadores que foram definitivamente as figuras deste ano. Jogador com mais assistências e mais oportunidades de golo criadas na Liga, Alex Telles exibiu-se ao ponto de merecer já ser considerado um dos melhores na sua posição no futebol europeu. Com um pé esquerdo capaz de cruzamentos teleguiados e passes milimétricos, o lateral do Porto deu aos campeões uma das suas grandes armas (as bolas paradas), apresentado sempre um nível altíssimo.
    Depois, Bruno Fernandes (reforço do ano 17/ 18) carregou a equipa em diversos momentos, terminando a Liga com 11 golos e 8 assistências. Com pedigree de Serie A, o jovem português coleccionou golos do outro mundo, mostrou ser dono da melhor meia distância em Portugal e assumiu sempre a equipa, nunca se escondendo. Menos influente do que os dois superiores destaques deste campeonato, foi no entanto um dos 2 melhores jogadores no 1º terço da época.
    Finalmente, o melhor jogador dos campeões vs o melhor jogador da Liga. Moussa Marega dissipou dúvidas e mostrou que tem claramente qualidade para actuar num grande. Com o seu poderio físico, humilhou adversários, castigou os rivais, marcou 22 golos e tornou-se imprescindível no esquema de Sérgio Conceição (a quebra do Porto, que fez o Benfica acreditar no título, deu-se durante a sua breve ausência). Mas Jonas foi... inexplicável. Aos 34 anos, o veterano avançado do Benfica, camisola 10, somou 34 golos em 29 (1) jogos. A sua importância absolutamente crucial para o tetracampeão que nunca chegou a ser penta viu-se quando, durante a sua lesão, o clube perdeu 2 jogos (e os que ganhou, foram vitórias arrancadas a ferros). Com uma classe e categoria que já lhe garantiram um lugar especial na História do clube, embora a época tenha sido pintada em tons de azul, o melhor jogador foi o aquele que fez bater o coração encarnado, desafiando impossibilidades.



    No começo da temporada, Bruno Xadas parecia destinado a estar aqui. Até Krovinovic se lesionar, a pole position para este nosso troféu pertencia ao médio croata. No entanto, são outros seis os craques que elegemos (máx. 22 anos no começo do campeonato) como os miúdos desta edição.
    De livro na mão e magia nas botas, Francisco Geraldes ajudou a edificar o ADN deste Rio Ave de Miguel Cardoso, equipa que marcou a Liga com o seu futebol envolvente. A Gelson Martins (8 golos e 8 assistências) exigia-se um pouco mais, mantendo-se um jogador que entusiasma mas que parece poder dar muito mais; e Zivkovic teve por fim oportunidade de exibir todo o seu talento, numa posição na qual há uns meses poucos imaginávamos vê-lo.
    No último classificado, Lucas Evangelista (um daqueles jogadores que dá mesmo prazer ver jogar) fez o suficiente para ter muito por onde escolher a nível de ofertas neste Verão; e Raphinha (futuro jogador do Sporting) fartou-se de marcar, carregando autenticamente um Vit. Guimarães que viveu quase só dos seus momentos de inspiração.
    Mas é difícil não escolher Rúben Dias. O jovem central de 21 anos oriundo da Amadora, autêntica força da natureza (importa, claro, que aprenda a dosear os níveis de agressividade), correspondeu na hora de substituir Luisão, mostrando inclusive perfil para ser no futuro capitão do clube da Luz. Permaneça ele mais tempo do que Renato, Guedes, Lindelof e companhia. Numa altura em que quase todos os grandes centrais portugueses estão prestes a meter os papéis para a reforma, o surgir de Rúben Dias é uma nova esperança.



Treinador do Ano: Daniel Ramos (novamente um bom trabalho na Madeira e depois de partir quase do zero face às saídas de jogadores), Vítor Oliveira (a manutenção em Portimão esteve sempre segura), Silas e Jorge Simão (merecem continuar os seus projectos no Restelo e no Bessa) e José Couceiro (Setúbal vai sentir muito a sua falta) mereciam algumas palavras.
    Mas foram cinco os grandes destaques a partir do banco desta Liga NOS 17/ 18. Luís Castro voltou a provar que é um dos melhores técnicos do nosso futebol: depois do bom trabalho no Rio Ave, o treinador de 56 anos demorou um pouco a fazer os jogadores assimilarem processos, mas a 2.ª volta mostrou um Chaves que por pouco não chegou à Europa, saindo todos os jogadores valorizados.
    Na sua primeira experiência como treinador principal, o ex-adjunto de Paulo Fonseca, Miguel Cardoso, fez do Rio Ave uma das equipas que neste ano jogou "à grande". Com uma média de 57,6% de posse de bola (só o Benfica, com 58,7, ficou acima), os vilacondenses encantaram, caindo um pouco na segunda volta, mas provando que é possível - e compensa - sonhar acordado.
      Homem do milagre, Pepa comandou a equipa-sensação desta edição - o Tondela parecia condenado à descida mas terminou tranquilo no 12º lugar. Como ponto alto, a vitória na Luz na antepenúltima jornada.
    Tudo isto nos leva aos dois grandes treinadores deste campeonato: Sérgio Conceição e Abel Ferreira. Enérgico, corajoso e senhor do seu balneário, Conceição foi um dos grandes responsáveis pelo título azul e branco. De longe o melhor treinador esta época entre os dos 3 grandes, SC conseguiu encontrar sistematicamente soluções para combater as várias lesões e fez crescer jogadores (Herrera, Marega, Sérgio Oliveira ou Alex Telles nunca tinham jogado tão bem). Aceitamos quem o considere o treinador do ano. Porém, não conseguimos não entregar as máximas honras a Abel Ferreira. Olhado de lado por muitos, o treinador do Braga espremeu o plantel e geriu as opções ao seu dispor com sapiência. Resultado final: 75 pontos, a três do pódio, com a equipa a chegar à penúltima jornada com hipóteses de chegar à Champions. Falar de arbitragens normalmente não é connosco, mas o facto do Braga ter sido inequivocamente a equipa mais prejudicada dos 4 primeiros classificados, dá que pensar em que lugar poderia ter terminado uma das equipas mais consistentes e que melhor futebol apresentou na prova... Mérito de Abel.


Melhor Marcador: 1. Jonas (Benfica) - 34
2. Bas Dost (Sporting) - 27
3. Moussa Marega (Porto) - 22

Melhor Assistente: 1. Alex Telles (Porto) - 13
2. Shoya Nakajima (Portimonense) - 10
3. Ricardo Esgaio (Braga) - 10

Clube-Sensação: Tondela
Desilusão: Sporting
Most Improved Player: 1. Ricardo Esgaio, 2. Héctor Herrera, 3. Sérgio Oliveira
Reforço do Ano: Bruno Fernandes (Sporting)
Flop do Ano: Gabigol (Benfica)
Melhor Golo: Bruno Fernandes (Vit. Guimarães 0 - 5 Sporting) (Link)



14 de maio de 2018

Prémios BPF Premier League 2017/ 18

Nunca houve um campeão assim. Com os seis crónicos candidatos ao título nas primeiras seis posições - seguidos por um Burnley que chegou à Europa (7º lugar) com um plantel que teoricamente devia lutar para não descer - a Premier League voltou a ficar pintada de azul. Mas, desta vez, não foi aquele azul profundo versão Chelsea ou Leicester. Foi o azul celeste do Manchester City de Guardiola, equipa que coleccionou recordes e encheu as medidas de qualquer adepto de bom futebol. O City passeou. No campeonato onde quase ninguém consegue sequer respirar; no campeonato onde qualquer equipa pode vencer qualquer outra.
    A liga mais competitiva e entusiasmante do futebol europeu diz adeus ao lendário Arsène Wenger (no Arsenal desde 1996!) e vê também os limitados Stoke e West Brom, e o Swansea do comediante Carvalhal, despedirem-se rumo ao segundo escalão. O italiano Antonio Conte, com uma série de erros de palmatória, complicou aquilo que deveria ser uma época simples, de maturação e crescimento na Europa, e passou de campeão para nem ir à Champions.
    Mas, numa época que tem muito do génio Guardiola, interessa sobretudo destacar os artistas das quatro linhas. De Gea desafiou os impossíveis, Sterling cresceu a olhos vistos, Sané passou pela concorrência a toda a velocidade, os maestros Silva e Eriksen deram música, Fernandinho virou Kanté, e Kane manteve a perseguição a Shearer. Em 2017/ 18 fica para a História a máquina dos citizens, com os jogadores a disfrutarem e a brindarem os fãs com espectáculos capazes de contagiar e converter neutros.

    É então chegada a altura de indicarmos as nossas escolhas do ano: o nosso 11, o Jogador do Ano e o Jovem Jogador do Ano, o Treinador do Ano, e ainda algumas categorias complementares. E, não nos enganemos, desta vez todos os caminhos vão dar a dois craques: Mohamed Salah e Kevin De Bruyne.



Guarda-Redes: Começam a faltar palavras. É sintomático o facto de entre 2013 e 2018, De Gea só não ter sido por uma vez escolhido como o guarda-redes do ano pela associação de jogadores ingleses. Melhor que nunca, o guardião espanhol voltou a revelar-se absolutamente decisivo, coleccionando defesas espectaculares e confirmando-se como o guarda-redes mais preponderante do planeta entre aqueles que jogam em equipas de topo. Se é o melhor? Há Oblak (seria bom vê-lo em Liverpool como os rumores apontam, para que as comparações fossem mais justas) e Neuer tem estado lesionado, mas De Gea é bem capaz de ser o nº 1 do mundo nesta fase. Na memória de uma temporada em que sem ele o United dificilmente ficaria no Top-4, aquela exibição histórica em casa do Arsenal com 14 defesas, várias delas do outro mundo. As luvas de ouro são dele.
    Mas se De Gea foi o melhor e mais decisivo ou influente, Ederson encaixou que nem uma luva no campeão City, possibilitando a saída de bola com que Guardiola sonhara. Na sua época de estreia em Inglaterra, o brasileiro foi um dos reforços do ano, transmitiu tranquilidade e segurança aos colegas, e soube ser o líbero que o sistema pedia, oferecendo sempre soluções a uma equipa sempre orientada para o ataque.
    Nick Pope foi um dos rostos da época sensacional do Burnley, fazendo esquecer o lesionado e capitão Tom Heaton; Fabianski e Butland desceram ao Championship mas, se não fossem eles, Swansea e Stoke teriam visto a sua descida confirmada bem mais cedo. Pelo menos em relação ao inglês, estamos certos que continuará no primeiro escalão. Pickford, Ryan ou Lössl também estiveram bem.


Lateral Direito: Certamente a posição com menos qualidade esta temporada na Premier League. Numa discussão equilibrada entre Kyle Walker e Antonio Valencia, laterais dos rivais de Manchester, acaba por levar a melhor o britânico, tornando-se um dos 3 únicos jogadores que transitam da nossa equipa do ano passado para esta. O jogador-locomotiva ex-Tottenham moldou um pouco a sua forma de jogar, perdendo em arrancadas aquilo que ganhou em capacidade de decisão, critério, posicionamento e inteligência a ler os vários momentos do jogo. O efeito Guardiola, pois bem.
    O equatoriano Valencia foi um dos 3/ 4 melhores jogadores esta época ao serviço de José Mourinho, mas depois de uma primeira volta em que foi o melhor nesta posição, perdeu algum fulgor, facilitando-nos a escolha no mais regular Walker.
    Matthew Lowton fez, aos 28 anos, a melhor época da carreira, sendo mais um representante do extraordinário sector defensivo do Burnley, e Trippier (curiosamente, um ex-Burnley) foi competente na missão de suceder a Walker nos spurs. Por fim, embora pudessem estar Moses ou Bellerín a fechar este quinteto, optámos por Trent Alexander-Arnold. O lateral dividiu a posição com Joe Gomez, mas aos 19 anos deixou bem patente o seu incrível potencial! 


Defesa Central (Lado Dto.): Não foi garantidamente por ele que o Chelsea, campeão em 2016-17, caiu tanto. Um dos defesas mais fiáveis da actualidade, uma espécie de Cannavaro dos tempos modernos, Azpilicueta foi o único jogador dos blues que manteve o seu excelente rendimento da temporada passada para esta. No entanto, juntou ainda ao seu estilo de jogo silencioso e pouco exuberante (é muito difícil ver Azpilicueta a cometer um erro ou a ser ultrapassado) melhores números: marcou mais, assistiu mais.
    Houve, no cômputo geral, melhores centrais a actuar pelo lado esquerdo, mas James Tarkowski merece todos os elogios. O central de 25 anos foi uma verdadeira revelação, mostrou qualidade para representar a selecção inglesa, e permitiu que os fãs não notassem a saída de Michael Keane para o Everton.
    De resto, e uma vez que Otamendi teve ao seu lado vários companheiros, sempre com bom rendimento, mas nenhum com muitos minutos (Kompany, Stones, Laporte), destacamos Davinson Sánchez (a lesão de Alderweireld, que deve estar de saída, abriu-lhe as portas do onze e fê-lo crescer), o patrão do Newcastle, Lascelles, e Mustafi que, num Arsenal fraquinho, conseguiu segurar o barco em algumas ocasiões.


Defesa Central (Lado Esq.): Bastante difícil escolher entre Otamendi e Vertonghen. O esquerdino e central belga realizou a sua melhor temporada de sempre em Inglaterra, foi mais regular e deu lições de como defender jogo após jogo. No entanto, nos períodos em que Otamendi esteve no seu melhor, foi um dos melhores centrais do mundo este ano. Melhor ainda do que nos seus tempos de Valência, o argentino juntou ao impacto ofensivo (4 golos) uma confiança nunca antes vista a construir: tantos passes verticais de qualidade a queimar linhas...
    Depois destes dois portentos, Ben Mee voltou a ser um dos emblemas da solidez defensiva já característica de Sean Dyche, construindo uma empatia com Tarkowski similar à que desenvolvera com Keane. O "louco" Harry Maguire provou que o Leicester tem central para os próximos anos, e van Dijk chegou em boa hora para ser aquilo que o Liverpool há muito precisava de ter: um central de topo.


Lateral Esquerdo: É certo que Marcos Alonso (nossa escolha para a posição em 16-17) até melhorou o seu registo de golos, somando 7 golos esta época. Mas o galês Ben Davies (2 golos e 7 assistências) esteve toda a época num nível mais alto. Quiçá contagiado pelo momento de Vertonghen, Davies praticamente não "deixou" Danny Rose ter minutos. Aos 25 anos, até ver, a melhor época da carreira.
    Marcos Alonso fez muitos estragos junto às balizas adversárias, mas esteve bastante aquém do que se esperava dele, sofrendo como toda a equipa sofreu com os disparates e tiros nos pés de Conte.
     O escocês Andrew Robertson, ex-pupilo de Marco Silva, agarrou o lugar e será certamente um dos mais fortes candidatos a surgir no 11 do ano de 18-19; com Stephen Ward completamos o pleno de escolher os quatro elementos do quarteto defensivo do Burnley, e Monreal revelou uma veia goleadora surpreendente (5 golos), ora como central ora como lateral.


Médio Defensivo: Há um ano atrás, escolhemos N'Golo Kanté como jogador do ano. O francês era a personificação dos campeões de 16-17: equilíbrio e energia, dando por si só a sensação que com ele o Chelsea jogava com 12 elementos. Um ano mais tarde, Fernandinho é o grande destaque entre os médios defensivos. O médio brasileiro cimentou o seu lugar entre os melhores do mundo na posição (Busquets, Matic, Casemiro, Jorginho e Kanté) e segurou toda a equipa, libertando os génios e colocando gelo quando necessário. Inteligente, maduro, clínico e com uma total compreensão do jogo a 360º.
    Depois, um colosso de jogador chamado Nemanja Matic. O sérvio reencontrou-se com Mourinho e, numa equipa com poucos destaques (De Gea, ele, Valencia e Lingard), coube ao ex-Benfica e Chelsea atirar os red devils para outro patamar em termos de competitividade. Talvez um dia consigamos perceber porque é que Antonio Conte aceitou vendê-lo a um rival, e desmanchar o duo Matic-Kanté. Esqueçam, nunca vamos perceber.
    Doucouré e Milivojevic foram agradáveis surpresas e, embora Kanté e Ndidi tenham estado bem, preferimos acrescentar às nossas menções Eric Dier.


Médio Centro: Em perfeita sintonia, até capilar, com Pep Guardiola, o mago David Silva fez-se mais jogador que nunca, liderando de braçadeira junto ao símbolo uma equipa que jogou ao seu ritmo e de Kevin De Bruyne. Não marcou tanto nem assistiu tanto como noutras épocas, também por pegar no jogo mais atrás. Na Premier League, poucos são aqueles com o seu QI futebolístico e com a sua classe. O espanhol encontra sempre soluções, esconde a bola com a mesma magia com que descobre os colegas, e só um super-Silva seria capaz de nos obrigar a deixar, com alguma mágoa, Eriksen de fora do onze do ano.
    Christian Eriksen, cada vez mais preparado para actuar numa equipa que lute pela conquista da Champions, perdeu em assistências, mas ganhou em golos. O dinamarquês é craque da cabeça aos pés, e é sempre uma delícia vê-lo jogar, de remate espontâneo, cabeça levantada e radar pronto para detectar e alimentar Kane, Alli e Son.
    A segunda metade da temporada confirmou Oxlade-Chamberlain como um excelente interior (tremenda injustiça falhar o Mundial 2018); Paul Pogba, embora longe do que seria sua obrigação, deu ares da sua graça; e para a última vaga, entre Lemina e Cork, optámos pelo médio do Burnley pela sua evolução e por ter jogado todos os minutos da época.


Médio Centro: O melhor médio do mundo em 2017-18. Ver Kevin De Bruyne jogar é ver o futebol total de Guardiola, uma identidade de jogo e filosofia representadas num jogador: a reacção à perda da bola, a dinâmica, a gestão de ritmos, o saber estar e ser cada posição a qualquer momento. Mais regular num nível de topo do que qualquer outro esta temporada, o belga, vencedor do troféu Playmaker na 1ª edição deste (16 assistências), transcendeu-se nos jogos grandes, ajudou a agigantar o rendimento de todos à sua volta e mostrou que em Inglaterra ainda há médios capazes de marcar campeonatos como no tempo de Lampard, Gerrard e Scholes.
    A concorrência de KdB para a posição passou por Dele Alli (menos exuberante e goleador do que na última época, mas o que é certo é que aos 22 anos é um médio com quase 40 golos no campeonato), Jesse Lingard (jogador com pico tardio surpreendente, um dos que mais evoluiu este ano), Pascal Groß (um dos reforços do ano) e, a fechar, um galês que com o treinador e contexto certos poderá render muito, muito mais.


Extremo Direito: Curvemo-nos perante Mo Salah. No regresso a um campeonato onde já passara despercebido (pouco utilizado), o egípcio revelou-se, por larga margem, o reforço do ano da Premier League. Com números (32 golos) acima de Suárez 13-14 e Cristiano Ronaldo 07-08, o extremo-direito do Liverpool marcou como nunca antes - o seu máximo no campeonato tinham sido 15 golos pela Roma no ano passado - e deixou tudo e todos de queixo caído, depois de ter custado 42 milhões de euros à equipa de Klopp. Para efeitos de comparação, Neymar custou 222, Coutinho 120, Dembélé 115 e mesmo Sigurdsson ou Bernardo Silva foram mais caros que o faraó. Recordar a época de Salah é relembrar defesas caídos aos seus pés, numa época em que muitas vezes conseguiu estar ao nível de Messi. O que é dizer muito.
    Num ano normal, a incrível temporada de Raheem Sterling (não esperávamos que o desconcertante e ágil extremo inglês conseguisse apresentar tamanha regularidade e ter tanto golo) chegaria para que ele figurasse no onze do ano. Mahrez voltou a destruir defesas, ficando perto q.b. do seu nível de 15-16, Arnautovic (o austríaco jogou maioritariamente a falso 9 ou vagabundo na frente, mas esta é a única slot em que o pudemos encaixar) foi a excepção numa época muito fraca do West Ham, e Willian foi Willian.


Extremo Esquerdo: É assustador, no bom sentido, imaginar o nível que Leroy Sané pode atingir nos próximos 5-6 anos. O extremo alemão (22 anos), apenas atrás de Hazard e Zaha em dribles bem sucedidos, fartou-se de desequilibrar nesta edição, passando em velocidade-cruzeiro pelos adversários. Dobrando golos e assistências em relação à sua época de estreia, Sané deixou qualquer adepto de futebol babado com a sua mescla entre dimensão física e qualidade técnica. Um diamante em bruto.
    De sorriso sempre presente, Son Heung-Min voltou a mostrar o porquê de hoje em dia ser um titular para Pochettino; Hazard esteve bem mas pede-se muito mais a um dos jogadores com teórica capacidade para lutar pela Bola de Ouro nos próximos anos; Wilfried Zaha garantiu a manutenção do Crystal Palace praticamente sozinho, evidenciando que merece outros palcos; e, por fim, Sadio Mané, que esteve melhor na Champions do que no campeonato. 


Ponta de Lança: Em 2014-15, depois de marcar 21 golos, muitos disseram que Harry Kane era um one-season-wonder. Muito bem: Kane será então, pelo quarto ano consecutivo, um one-season-wonder... Em 15-16 foram 25 golos, em 16-17 foram 29 e esta temporada ficou-se pelos 30 (se calhar foram 29, mas isso é outra história). Inquestionável a sua regularidade, o facto de ser o melhor ponta de lança da Premier League, e cada vez mais um dos melhores do mundo.
    Lukaku desiludiu-nos (16 golos é bastante pouco considerando que a equipa foi desenhada para o servir), Jamie Vardy continuou a encantar, marcando aos grandes como mais ninguém, e Agüero, com os seus típicos problemas físicos pelo meio, voltou a passar dos 20 golos.
    Mas, depois de Kane, os maiores elogios têm que ir sobretudo para Roberto Firmino. Num trio de ataque avassalador com Salah e Mané, o craque brasileiro, trabalhador incansável, solidário e altruísta, cimentou-se como peça-chave no rock'n'roll de Anfield.



    Sabemos que é mais fácil votar Salah, e que a opinião da maioria será a favor do egípcio. E, para nós, escolher De Bruyne na Premier League não invalida que o 11 do Liverpool seja, somando o rendimento nas várias competições, o único jogador que nesta fase (pré-Mundial) compete com Messi e Ronaldo pela próxima Bola de Ouro.
     Ao contrário das últimas épocas, em que Kanté, Mahrez, Hazard, Suárez e Bale foram vencedores indiscutíveis, em 2017/ 18 tínhamos vontade de dividir o prémio ao meio. Mo Salah fartou-se de marcar e bateu recordes (nunca ninguém tinha marcado em tantos jogos, e os seus números colocam-no acima de Suárez 13-14 e Cristiano Ronaldo 07-08, embora a época do uruguaio tenha sido superior a esta do egípcio). Ao longo do último ano desportivo, foi o jogador que mais nos fez lembrar Messi, juntando aos golos um entusiasmo contagiante - a facilidade com que faz tudo, deixando os adversários caídos e ficando quase com vontade de pedir desculpa no fim. Mo, o construtor de hospitais, está no pódio da Bola de Ouro, mas na PL perde 51-49 para um jogador... bastante diferente.
    De Bruyne votou Salah. O belga, que diz sentir mais prazer a fazer uma assistência do que a marcar um golo, assumiu funções bem diferentes (é sempre difícil comparar um extremo vertical, liberto e fresco para massacrar defesas, de um médio interior que algumas vezes chegou a pegar no jogo a médio defensivo) mas foi, e temos que ser justos, o jogador mais impressionante em Inglaterra. De Bruyne fez tudo bem, em todo o lado, decidindo bem em todos os momentos e nos tempos certos. Incansável e dominante com e sem bola, recuperou mais bolas que Fernandinho, foi o rei das assistências e o jogador com mais "passes para assistência". O cérebro do City deixou-nos babados com a sua visão de jogo e com passes como só os dele e de Rúben Neves nos deleitaram este ano. Tem a vantagem de ter sido durante mais tempo o melhor jogador da prova, conseguiu a proeza de por exemplo na 1ª volta ter sido eleito melhor em campo contra Chelsea, Manchester United, Liverpool, Arsenal e Tottenham; e não podemos esquecer o seu impacto no todo. Porque sem querer minorar a monumental época de Salah (compreendemos quem vote nele), enquanto que o impacto deste se fez sentir nos jogos no último terço, a partir do momento em que a bola lhe chegou ao pé e rumo à baliza, De Bruyne conseguiu jogar e fazer jogar (teve muita influência no rendimento de todos à sua volta), sendo o jogador que esta época em Inglaterra dominou ou controlou mais jogos... quase sozinho.
    Bastante abaixo desta dupla extraordinária, Harry Kane manteve o seu prolífico registo goleador, vincando o seu estatuto como um dos melhores avançados do mundo; David Silva espalhou classe pelos relvados britânicos, inspirando os colegas com os seus pés aveludados; David De Gea segurou com as suas luvas o Manchester United no Top-4, e embora a última vaga pudesse ser entregue a Sané ou Sterling, o alemão - mesmo com números inferiores - foi mais importante na manobra ofensiva dos campeões, ao desbloquear jogos em excesso de velocidade.


    O nosso critério, que nos faz considerar jogadores até 22 anos de idade nesta categoria, deixa de fora elementos como Kane, Sterling ou Ederson que surgiram entre os finalistas da PFA. O sucessor de Dele Alli só poderia ser um, o alemão Leroy Sané.
    Aos 22 anos, o diamante germânico, filho de pai senegalês e mãe alemã, impressionou jogo após jogo, destruindo defesas com uma facilidade assustadora, e partindo para cima dos adversários uma, outra e outra vez. Acompanhar a evolução de Sané é assistir ao crescimento de um dos jogadores que tem todas as condições para deixar uma marca bem vincada nesta década.
    A acompanhar o vencedor, Dele Alli volta a merecer estar entre os eleitos; Gabriel Jesus, mesmo tendo estado bastante tempo lesionado, fez o suficiente para aqui estar. Marcus Rashford merecia mais minutos, Davinson Sánchez talvez não pensasse no começo da época vir a ter tantos, e Alexander-Arnold passou de perfeito desconhecido a possível convocado para o Mundial 2018. 



Treinador do Ano: É indiscutível que Sean Dyche operou o milagre do ano na Premier League. O seu Burnley, competente, organizado, resultadista e irrepreensível do ponto de vista defensivo, garantiu a Liga Europa, terminou perto do intocável Top-6, fechando o campeonato pelo menos uns 10 lugares acima do que seria expectável dada a qualidade e (falta de) soluções ao dispor do técnico. Por tudo isto, percebemos quem considere Dyche o treinador do ano. Afinal, o Burnley foi por larga margem a equipa-sensação da prova.
    Mas há Guardiola. Depois de um ano a ambientar-se a terras de Sua Majestade, Pep identificou os reforços certos e, com uma equipa jovem e esfomeada, orquestrou verdadeiros recitais de bom futebol. Num desafio bem superior aos que tivera em Espanha e na Alemanha, Guardiola impôs a sua filosofia: futebol matemático na ocupação de espaços e oferta de soluções, dinâmica reacção à perda da bola e boa leitura e antecipação (impossível implementar o seu futebol sem jogadores inteligentes), posse e circulação com significado, soltando o talento, a irreverência e a criatividade no último terço. Testemunhar o crescimento de Sterling, Otamendi ou Fernandinho é ver o dedo de Guardiola. E depois, para uma equipa candidata a ser considerada a que melhor futebol praticou na História da Premier League, há os recordes: maior número de vitórias (32), mais pontos de sempre (100), melhor ataque de sempre (106 golos), melhor diferença de golos (+79), maior diferença pontual para o 2º classificado (19), mais vitórias consecutivas (18) e mais vitórias fora (16).
      Klopp (analisando apenas a época na Premier, sem nos deixarmos influenciar nesta equação pela incrível campanha europeia) atirou Chelsea e Arsenal para fora do Top-4, com o segundo melhor ataque da competição e dando passos no caminho certo para o seu projecto em Anfield. Embora pudessem aqui surgir Chris Hughton (Brighton), Rafa Benítez (Newcastle) ou Eddie Howe (Bournemouth), a velha raposa Roy Hodgson (julgámos que não teria sucesso no lugar) merece crédito por ter salvo um Crystal Palace que já parecia ligado às máquinas. Por fim, Mourinho. O treinador português precisa de se reinventar e recuperar a coragem, paixão e fome de outros tempos, mas é indiscutível que - embora com um super-De Gea a mascarar fragilidades que não deviam existir dado o orçamento do clube e os craques contratados - os red devils foram a segunda melhor equipa da prova, assumindo-se inclusive na segunda volta como uma verdadeira força nos jogos grandes.


Melhor Marcador: 1. Mohamed Salah (Liverpool) - 32
2. Harry Kane (Tottenham) - 30
3. Kun Agüero (Manchester City) - 21

Melhor Assistente: 1. Kevin De Bruyne (Manchester City) - 16
2. Leroy Sané (Manchester City) - 15
3. David Silva (Manchester City) - 11

Clube-Sensação: Burnley
Desilusão: Chelsea
Most Improved Player: 1. Raheem Sterling, 2. Jesse Lingard, 3. Alex Oxlade-Chamberlain
Reforço do Ano: Mohamed Salah (Liverpool)
Flop do Ano: Renato Sanches (Swansea)
Melhor Golo: Christian Eriksen (Chelsea 1 - 3 Tottenham) (Link)



4 de março de 2018

Óscares Barba Por Fazer 2018

Os créditos passam e Elio refugia-se na lareira, e comove-nos, perdido, até olhar directamente para nós. Um soldado enfrenta um dilema: morrer afogado, ou nadar até à superfície onde irá arder. Chris, o fotógrafo leiloado, está petrificado num sofá e as lágrimas correm. Correm como dois irmãos que assaltam um banco, e como uma criança de sete anos que não quer ficar sem a melhor amiga.
    Lady Bird procura a aprovação da mãe, e o agente Dixon ouve música, aluado, sem se aperceber das chamas que o rodeiam. Ao pegar numa pasta, inicia uma jornada de redenção. Numa cena a três, e sem qualquer humano presente, K é seduzido pela fusão de Joi e Mariette. X-23 crava o X que marca a despedida de Wolverine, e del Toro abre as portas do seu maravilhoso imaginário para apresentar um amor à prova de água. Baby tem as mãos no volante e os auscultadores nos ouvidos, põe a chave na ignição, e vamos lá a isto.

    Uma vez mais - já é a sétima edição - eis os Óscares Barba Por Fazer. Aqui não há hipocrisias nem politiquices, não há pianos que convidam a encurtar discursos ou infinitos intervalos publicitários. Face à nossa necessidade de defender os ignorados e lançar para o Cosmos, deixando registado algures as nossas opiniões, abaixo encontrarão a nossa apreciação e a nossa ideia de justiça relativamente ao último ano do Cinema. As categorias abaixo (mantemos apenas doze, com duas "extra") representam os nossos devaneios, diferindo em muitos casos os vencedores e mesmo nomeados da Academia. E sim, viemos vestidos como há um ano atrás, à Breaking Bad. Porque não?

    Bem-vindos aos Óscares Barba Por Fazer 2018.


MELHOR FILME
Vencedor: Call Me By Your Name
Outros Nomeados: Blade Runner 2049, Dunkirk, Get Out, Lady Bird, Good Time, Columbus, Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, The Florida Project, Phantom Thread

    O ano de 2017, avaliado agora em 2018, ficou marcado por muito equilíbrio. O nível dos nossos 10 filmes do ano (passaremos a eleger sempre dez, mesmo que a Academia varie entre 8, 9 e 10) é bastante homogéneo, e deixa à porta obras como The Shape of Water, Wind River, A Ghost Story, The Killing of a Sacred Deer, Baby Driver ou Logan.
    Mais filmes com mulheres como protagonistas foi uma das assinaláveis tendências de 2017 (Three Billboards, Lady Bird, The Shape of WaterThe Florida Project, I, Tonya ou Wonder Woman são exemplos), o que não invalida que para nós o melhor filme do ano envolva dois homens. Call Me By Your Name é uma obra de arte intemporal e a história que mais ficou connosco este ano no pós-filme.
    Blade Runner 2049 elevou Denis Villeneuve a uma espécie de Deus da ficção científica contemporânea, Dunkirk não sendo o melhor filme de Nolan foi aquele que mais conquistou a crítica (tem o mérito de ser possivelmente destes 10 nomeados o filme que perde menos se se retirar todos os diálogos, o que atesta o bom storytelling), e tanto Get Out como Lady Bird, em géneros bem diferentes, representaram o primeiro passo de autores visionários - Peele e Gerwig - cheios de personalidade.
     Three Billboards Outside Ebbing, Missouri e Phantom Thread são o tipo de filmes que faz sentido desconstruir e ter presentes numa cerimónia que celebra o expoente máximo da 7.ª Arte, mas ao invés de coisas como The Shape of Water, The Post ou Darkest Hour, preferimos destacar projectos independentes subvalorizados. A saber: o intenso e psicadélico Good Time, o equilibrado e suave Columbus e The Florida Project, um mundo marginal captado pelo olhar inocente de uma criança. Estaremos atentos aos próximos projectos de Sean Baker.


MELHOR REALIZADOR
Vencedor: Denis Villeneuve (Blade Runner 2049)
Outros Nomeados: Christopher Nolan (Dunkirk), Luca Guadagnino (Call Me By Your Name), Jordan Peele (Get Out), Paul Thomas Anderson (Phantom Thread)

    De 2010 para cá, o canadiano Denis Villeneuve realizou Incendies, Prisoners, Enemy, Sicario, Arrival e Blade Runner 2049. Há um ano atrás nomeámo-lo, e desta vez a nomeação só não chegava. Com o auxílio da cinematografia de Roger Deakins e a potenciar um elenco de luxo, Villeneuve tornou-se uma espécie de Deus para os fãs de ficção científica: respeitou o filme original de Ridley Scott, pontuou o seu 2049 com referências subtis mas acrescentou um cunho pessoal, podendo-se dizer sem rodeios que a sequela é superior ao original. Não foi o nosso filme do ano, mas não houve trabalho de realização que nos impressionasse tanto como o de Villeneuve.
     Christopher Nolan reinventou-se - Dunkirk é a antítese da exposição desmedida - e, sem abdicar da sua obsessão pelo tempo ao apresentar três linhas temporais diferenciadas pelos meios (terra, mar, ar), acrescentou algo ao universo dos filmes de guerra: um filme que acompanha apenas um dos lados, pontuado pela ansiedade de quem só quer sobreviver.
     Infelizmente sem espaço para Sean Baker (The Florida Project) e Greta Gerwig (Lady Bird), era obrigatório incluirmos Luca Guadagnino e Jordan Peele. O trajecto recente do realizador italiano levava a crer que, mais cedo ou mais tarde, surgiria uma obra-prima como Call Me By Your Name; já a estreia do comediante Jordan Peele como cineasta-autor de terror psicológico foi uma das melhores surpresas do ano. Por fim, Paul Thomas Anderson. Porque, embora Phantom Thread não seja um filme para as massas, hoje em dia ver um filme realizado por PTA é uma honra e parece quase batota para com a concorrência.

MELHOR ACTOR
Vencedor: Timothée Chalamet (Call Me By Your Name)
Outros Nomeados: Daniel Day-Lewis (Phantom Thread), Gary Oldman (Darkest Hour), Robert Pattinson (Good Time), Daniel Kaluuya (Get Out)

    É frequente sentir-se que a Academia e outras entidades pesam bastante o factor idade na hora de escolher um vencedor. No subconsciente de quem vota, é possível surgir várias vezes aquele "ele ainda tem muito tempo para ganhar". Para nós, a idade não pesa. Quem merece vencer é quem tiver o melhor desempenho do ano. Ponto final.
    O que Timothée Chalamet fez em Call Me By Your Name muitos actores não conseguem fazer uma vez na carreira. E nem a suposta última vez de Daniel Day-Lewis nem Gary Oldman (os seus olhinhos e a sua voz algures debaixo daquela fantástica caracterização), que tanto gostávamos que tivesse um óscar (e terá, na realidade) chegaram para tirar o jovem actor de 22 anos da nossa pole position. Nenhum papel foi tão emocionante no último ano, mérito de um actor que com juízo e trabalho pode marcar os próximos 50 anos, e que confiou no maestro Guadagnino e no seu coadjuvante Armie Hammer.
    A única diferença que apresentamos face aos nomeados da Academia é a troca de Denzel Washington por Robert Pattinson. Falar do desempenho de Pattinson em Good Time é falar de intensidade, de um actor mergulhado na personagem. Um crime ter sido deixado de fora. Finalmente, se Get Out se tornou o fenómeno que tornou, muito o deve à sinceridade e simplicidade de Daniel Kaluuya, o espelho da audiência ao longo do filme. E como se não chegasse, há aquele rio de lágrimas em forma de colapso petrificado no sofá.

MELHOR ACTRIZ
Vencedora: Frances McDormand (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri)
Outras Nomeadas: Saoirse Ronan (Lady Bird), Margot Robbie (I, Tonya), Haley Lu Richardson (Columbus), Brooklynn Prince (The Florida Project)

    O ano é de Frances McDormand. Aos 60 anos, na pele de uma mãe proactiva, dura e fragilizada em busca de vingança, a actriz que já venceu um óscar por Fargo foi, de macacão e lenço na cabeça, uma simbiose equilibrada entre determinação, humor, luto e empatia. É uma Senhora, e embora nem sempre seja necessário uma actriz ou um actor terem "momentos de óscar" para justificar a estatueta, ela até os tem.
    Sally Hawkins (apenas menção honrosa para nós, por The Shape of Water, juntamente com Aubrey Plaza por Ingrid Goes West) e Meryl Streep não marcam presença no nosso Top-5. Impossível, no entanto, deixar de fora Saoirse Ronan (3 nomeações aos 23 anos, sem dúvida uma das melhores actrizes da sua geração) e Margot Robbie, que mostrou estar à altura do desafio que representava ser Tonya Harding.
    Preferimos depois destacar Haley Lu Richardson, magnética no indie Columbus mas ignorada por todas as entregas de prémios, e a pequena Brooklynn Prince. Não é normal aquilo que fez com apenas 7 anos de idade. Mesmo.

MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
Vencedor: Sam Rockwell (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri)
Outros Nomeados: Willem Dafoe (The Florida Project), Barry Keoghan (The Killing of a Sacred Deer), Benny Safdie (Good Time), Armie Hammer (Call Me By Your Name)

    Nos últimos anos em diversas rubricas, via blogue e Facebook, gritámos o nosso descontentamento para a forma como Hollywood olhava para Sam Rockwell. Encabeçou a nossa lista de actores mais subvalorizados há uns anos, e "pedimo-lo" para o elenco de True Detective ou Fargo noutras ocasiões. Também por isso dá-nos particular gozo ver o reconhecimento (finalmente) que o eléctrico e carismático Rockwell está a ter. Three Billboards Outside Ebbing, Missouri não é um filme perfeito, e o seu agente Dixon está bem longe de ser um ser humano perfeito, mas a sua jornada de redenção na segunda metade da acção é parte do segredo do sucesso do filme.
    Em comparação com a Academia, para além de Rockwell, temos também Willem Dafoe nos nossos cinco. Oxalá possamos vê-lo mais vezes em filmes low profile como The Florida Project.
    Plummer, Jenkins e Harrelson dão aqui lugar a Barry Keoghan, Benny Safdie e Armie Hammer. E custa-nos deixar de fora Michael Stuhlbarg (aquele discurso final...) e Tom Hardy, que praticamente só com o olhar, mostrou em Dunkirk que está numa galáxia à parte. Em relação aos nossos três escolhidos, Barry Keoghan foi uma revelação com uma personagem perturbadora ao serviço do grego Yorgos Lanthimos, Benny Safdie (um dos realizadores de Good Time) merecia mais tempo de ecrã no melhor filme da carreira de Robert Pattinson, e Armie Hammer revelou ser uma escolha de casting notável em Call Me By Your Name. Do alto do seu 1,96m desceu à Terra para mesclar vulnerabilidade com sensualidade.

MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA
Vencedora: Laurie Metcalf (Lady Bird)
Outras Nomeadas: Allison Janney (I, Tonya), Holly Hunter (The Big Sick), Vicky Krieps (Phantom Thread), Tatiana Maslany (Stronger)

    O ano das mães. Nomeadas tanto pela Academia como por nós, Laurie Metcalf, Allison Janney e Holly Hunter foram as três absolutamente decisivas no sucesso de Lady Bird, I, Tonya e The Big Sick. Talvez por isso, convém primeiro falar das restantes duas nomeadas. A Academia escolheu Mary J. Blige e Octavia Spencer, só porque sim, mas tanto a luxemburguesa Vicky Krieps (não é fácil estar ao nível de Day-Lewis, e ela conseguiu-o) como Tatiana Maslany (para quem a acompanhou em Orphan Black não surpreende a pedalada que teve para a intensidade já habitual de Gyllenhaal) mereciam mais. Menções honrosas para Nicole Kidman (The Killing of a Sacred Deer) e Elizabeth Marvel (The Meyerowitz Stories).
    Voltando ao trio de "mães-galinha", Holly Hunter é a alma da história de amor de Kumail Nanjiani e Emily V. Gordon. Numa origin story de um casal, o brilho maior foi dos pais, com Hunter e Ray Romano a atirarem o filme para outro patamar. Allison Janney (a mais provável vencedora do óscar) assumiu a pele de uma mãe fria, capaz de levar a filha ao limite. Excelente desempenho, excelente personagem.
    De forma subtil, Laurie Metcalf ofereceu-nos uma das melhores performances do ano. A mãe de Saoirse Ronan em Lady Bird foi a representação perfeita de preocupação e fraternidade demonstrada em acções e não em palavras. O grande mérito de Greta Gerwig em Lady Bird esteve na forma como a dado momento o POV do filme pertence tanto a Metcalf como a Ronan. Durante aquela 1h30 em momento algum suspendemos a nossa descrença em relação àquela ser uma genuína relação de mãe e filha.


MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
Vencedor: Jordan Peele (Get Out)
Outros Nomeados: Greta Gerwig (Lady Bird), Martin McDonagh (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri), Kogonada (Columbus), Taylor Sheridan (Wind River)

    Jordan Peele tem uma cabecinha especial, e Get Out tem tudo para ser um impressionante ponto de partida para um autor que sabe usar a câmara como sua voz e que, sem exageros, deu ares de Hitchcock no seu primeiro filme. O terror social de Get Out está alicerçado num guião extraordinário, recheado de pormenores deliciosos que se descobrem à 2ª ou 3ª visualizações.
    Depois, Lady Bird é a pureza de Greta Gerwig, o seu amor por Sacramento e um guião mais saboroso para quem já foi parte integrante ou espectador de relações entre mãe e filha, tão difíceis mas tão bem transpostas para o ecrã.
    Three Billboards Outside Ebbing, Missouri é Martin McDonagh a mostrar-nos uma vez mais que dentro dele há algo de Coen e de Tarantino, e as nossas diferenças em relação à Academia são a inclusão de Columbus e Wind River. Taylor Sheridan não pára.


MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO
Vencedor: James Ivory (Call Me By Your Name)
Outros Nomeados: Hampton Fancher e Michael Green (Blade Runner 2049), Scott Neustadter e Michael H. Weber (The Disaster Artist), Scott Frank, James Mangold e Michael Green (Logan), Dee Rees e Virgil Williams (Mudbound)

    Numa categoria mais fraca do que os argumentos originais, Call Me By Your Name é para nós o legítimo sucessor de Arrival. Com 89 anos, James Ivory adaptou com mestria a obra de André Aciman e deixou esculpido um corpo ao qual Luca Guadagnino, Timothée Chalamet, Armie Hammer, Michael Stuhlbarg ou Sufjan Stevens souberam todos dar vida.
    Blade Runner 2049 é tudo aquilo que uma sequela devia ser - inclui a nostalgia da primeira vez, inova com respeito, referencia com saudade e arrisca com coragem. The Disaster Artist, Logan (um dos melhores filmes de super-heróis dos últimos anos) e Mudbound fecham as nossas contas, mas percebe-se a menor qualidade desta categoria quando as três menções honrosas dos originais (Phantom Thread, The Big Sick e A Ghost Story) caberiam todos aqui.


MELHOR EDIÇÃO/ MONTAGEM
Vencedor: Paul Machliss e Jonathan Amos (Baby Driver)
Outros Nomeados: Lee Smith (Dunkirk), Tatiana S. Riegel (I, Tonya), Walter Fasano (Call Me By Your Name), Jon Gregory (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri)

MELHOR FOTOGRAFIA
Vencedor: Roger Deakins (Blade Runner 2049)
Outros Nomeados: Hoyte van Hoytema (Dunkirk), Elisha Christian (Columbus), Sayombhu Mukdeeprom (Call Me By Your Name), Dan Laustsen (The Shape of Water)

MELHOR BANDA SONORA ORIGINAL
Vencedor: Jonny Greenwood (Phantom Thread)
Outros Nomeados: Hans Zimmer (Dunkirk), Oneohtrix Point Never (Good Time), Hammock (Columbus), Daniel Hart (A Ghost Story)

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
Vencedor: "Mistery of Love" (Call Me By Your Name)
Outros Nomeados: "The Pure and the Damned" (Good Time), "Visions of Gideon" (Call Me By Your Name), "I Get Overwhelmed" (A Ghost Story), "Remember Me" (Coco)

   
Há um ano atrás, nas nossas 4 categorias técnicas foi um 4 em 4 para La La Land. Desta vez há quatro vencedores diferentes. Baby Driver, Dunkirk e I, Tonya são os três portentos de Edição do ano. Três filmes com claro "dedo" na montagem, com um ritmo determinante na apreciação global dos filmes. Mas o filme de Edgar Wright está, nesse capítulo, um degrau acima da concorrência. Considerado por alguns um musical de acção ou um videoclipe de quase duas horas, é uma lição de como editar, elevando a fasquia nas perseguições de automóvel e na ousadia de fazer da música do protagonista sempre a nossa música. A primeira sequência do filme é... qualquer coisa.
    Na Fotografia, depois de acrescentar o seu olho inconfundível a filmes como Sicario, Prisoners, Skyfall, The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, No Country for Old Men, The Village, The Big Lebowski ou Fargo, sem nunca ter conquistado um óscar por qualquer um destes trabalhos, Blade Runner 2049 tem que representar justiça para Roger Deakins! Acreditamos que a Academia não o ignore, mas em todo o caso fica aqui esta espécie de consolo nas nossas consciências.
    Entre cinco bandas sonoras muitíssimo diferentes, mas perfeitamente adequadas aos ambientes dos filmes, optámos por destacar o trabalho de Jonny Greenwood, guitarrista dos Radiohead, em Phantom Thread. A nível de canções originais, não hesitámos em nomear duas músicas que Sufjan Stevens compôs de raíz para Call Me By Your Name. Vantagem para "Mistery of Love", que capta melhor a essência do filme, embora "Visions of Gideon" tenha um peso brutal na despedida do filme e de Elio. "The Pure and the Damned", "I Get Overwhelmed" e "Remember Me" combinam todas o facto de serem boas músicas com o impacto narrativo.


Total de Nomeações Barba Por Fazer:

9 - Call Me By Your Name;
5 - Three Billboards Outside Ebbing Missouri, Dunkirk, Good Time, Phantom Thread, Columbus
4 - Blade Runner 2049, Get Out, Lady Bird;
3 - I, Tonya, The Florida Project;
2 - A Ghost Story;
1 - Baby Driver, The Shape of Water, Wind River, Darkest Hour, The Big Sick, Stronger, The Disaster Artist, Logan, Mudbound, The Killing of a Sacred Deer, Coco.


Tal como nos últimos anos, fechamos então a nossa cerimónia digital com mais duas categorias, uma em reconhecimento da consistência ao longo do ano ou de impacto significativo no sector, e a outra de olhos postos no futuro.


Personalidade do Ano: Gal Gadot
Rookie do Ano: Timothée Chalamet. Outros nomeados: Ana de Armas, Brooklynn Prince, Caleb Landry Jones, Barry Keoghan.

    Nos últimos anos temos sempre eleito um conjunto de jovens actores, verdadeiras revelações para a Sétima Arte. Jack O'Connell, Adèle Exarchopoulos, Lakeith Stanfield, Lupita Nyong'o, Bel Powley, Jacob Tremblay, Anya Taylor-Joy ou Lucas Hedges já todos passaram aqui.
    Este ano, o destaque máximo vai, com naturalidade, para Timothée Chalamet. Graças a Lady Bird e sobretudo ao seu tocante desempenho em Call Me By Your Name, o rapaz que Saoirse Ronan diz ser o próximo Daniel Day-Lewis mostrou que, com trabalho e alguma sorte, tem tudo para ser um dos actores mais marcantes dos próximos largos anos.
    Num quinteto em que por pouco não incluímos Harris Dickinson (Beach Rats), Sophia Lillis (IT), Grace Van Patten (The Meyerowitz Stories) e Esther Garrel (Call Me By Your Name) e no qual não colocamos Daniel Kaluuya por já o conhecermos há vários anos, são 4 os nomes que fazem companhia a Chalamet. A angelical e sedutora Ana de Armas, embora já com 29 anos, mostrou em Blade Runner 2049 como Joi que pode ter uma carreira melhor do que outrora prevíamos. Caleb Landry Jones saiu do anonimato aos 28 anos e num só ano entrou em Get Out, Three Billboards e The Florida Project, acrescentando sempre qualidade. O irlandês Barry Keoghan entrou em Dunkirk mas foi em The Killing of a Sacred Deer que nos surpreendeu, e Brooklynn Prince teve aos 7 anos um dos melhores desempenhos de crianças no grande ecrã desta década.

    Relativamente à nossa Personalidade do Ano, o nosso volátil critério permite-nos ser um pouco criativos. Por diferentes motivos, esta categoria já nos serviu para reconhecer os super-anos de Matthew McConaughey, Tom Hardy e Alicia Vikander, ou o facto de Richard Linklater ter entregue 12 anos da sua vida a um filme. Num ano positivamente marcado pelas mulheres, tanto no cinema como na televisão, Gal Gadot emerge como símbolo. A Mulher-Maravilha, com a sua força, elegância e carisma, foi uma lufada de frescura no sector, e um exemplo a seguir pela sua postura no ecrã e na vida real.


Bem, estas são as nossas opiniões. Fiquem à vontade para dar as vossas.
Agora tentem dormir a sesta, para logo aguentarem os Óscares da Academia até ao fim. E com o Warren Beatty e a Faye Dunaway a entregarem uma vez mais o óscar de melhor filme, nunca se sabe o que aqueles diabretes podem tramar desta vez...


Miguel Pontares e Tiago Moreira