28 de abril de 2017

Crítica: Get Out

Realizador: Jordan Peele
Argumento: Jordan Peele
Elenco: Daniel Kaluuya, Allison Williams, Catherine Keener, Bradley Whitford, Lakeith Stanfield, Caleb Landry Jones, LiRel Howery 
Classificação IMDb: 8.1 | Metascore: 84 | RottenTomatoes: 99%
Classificação Barba Por Fazer: 80


    Muito bem Jordan Peele, que bela estreia a realizar.
    É natural, por se afastar da colagem que fazemos imediatamente de Peele à comédia, a surpresa de ver uma das metades de Key and Peele (para além da série da Comedy Central, entraram também na primeira temporada de Fargo juntos e talvez se lembrem de algumas Epic Rap Battles of History entre eles) lançar-se a solo atrás da câmara... num filme de terror. Depois de tanto sucesso ao lado do grande amigo Keegan-Michael Key, Peele fez tudo aquilo que se deve fazer num filme de terror psicológico. Bem, não fez tudo, porque não seguiu uma receita convencional; ousou ter a sua Voz bem presente num filme de terror. Coisa rara. Mais, Jordan Peele conseguiu com Get Out, com humor e sátira à mistura, produzir uma obra sem tabus e que, pela forma como está escrita, com uma brutal atenção ao detalhe e uma relevância gritante nos EUA (em especial) e no mundo, passa a sua mensagem numa hipérbole bizarra que nos mantém agarrados à cadeira.
    No centro de tudo, Chris (Daniel Kaluuya), um afro-americano que vai finalmente conhecer os pais da namorada, Rose (Allison Williams). A mansão dos Armitage torna-se rapidamente tão desconfortável e desconcertante para Chris como para nós, espectadores, tudo graças ao tom ambíguo dos pais - reforçado, mais tarde, pela chegada do irmão de Rose - que vão petrificando Chris, cada vez mais incomodado e desconfiado de tudo e todos à sua volta.
    A parada sobe quando a preocupação postiça, a curiosidade e o racismo em versão inveja pejam uma festa liberal e desumana, carregada de pessoas "que teriam votado em Obama pela terceira vez".
    Com Daniel Kaluuya (quem não o viu a brilhar num episódio de Black Mirror tem que ir já a correr fazê-lo) a ter o destaque como protagonista de uma longa-metragem que já merecia, Get Out conta ainda com outros membros do elenco a incorporarem na perfeição a vibe que Peele quis dar: Catherine Keener transforma-se neste papel, Bradley Whitford é o rosto da sua classe, Caleb Landry Jones revela potencial para outras coisas e em relação a Lakeith Stanfield esta é apenas a confirmação que ele sabe orbitar os projectos certos. Desde Short Term 12 a isto, passando claro está por Atlanta.

    Com estreia em Portugal marcada para a próxima quinta-feira, 4 de Maio, Get Out é uma hipnose a uma sociedade que já deveria ter acordado há muito tempo. Faz rir. Intriga. E faz pensar. Num tema em que seria bom já não termos de pensar. Pelo meio, e sem estragar o filme, há revelações inesperadas (talvez tenhamos criado expectativas demasiado altas, e por isso esperávamos mais contra-curvas), um plano com origem numa derrota aos pés de Jesse Owens, e talvez fosse melhor Peele ter terminado o filme com o final que estava inicialmente escrito. Pelo menos, era o fim que pensámos a dado momento que Get Out iria ter, e talvez tornasse o filme mais difícil de digerir. E, nesse sentido, mais marcante.

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