11 de janeiro de 2023

As Melhores Séries de 2022

 Avaliados os melhores episódios e as melhores novidades, despedimo-nos do melhor da Televisão em 2022 com a categoria suprema: as Melhores Séries do ano.

    Há um ano atrás, este Top-20 incluía, para nomear alguns destaques, Succession, Dave, For All Mankind, Ted Lasso e séries estreadas nesse ano como Arcane, Station Eleven ou Squid Game. Uma volta ao Sol depois, são 4 as séries que fizeram por merecer presença repetida: Reservation Dogs, The White Lotus, Hacks e For All Mankind.
    Num ano sem a dramédia da família Roy, nada nos marcou mais do que o final de Better Call Saul, dividido em duas partes (ou três, se considerarmos o epílogo a preto e branco uma espécie de pós-BCS), tendo 2022 significado igualmente o fim de Atlanta, com a 3.ª temporada a ser emitida em Março-Abril-Maio e a 4.ª em Setembro-Outubro-Novembro. The Bear foi a surpresa do Verão, Severance (brilhante conceito) um novo puzzle com muitas teorias para alimentar nos próximos anos, e felizmente House of the Dragon trouxe de volta aquele quentinho perdido desde o término de Game of Thrones.
    Oito novidades e 12 séries consolidadas compõem a nossa Lista, com dois pormenores raros - fraca presença Netflix (apenas Stranger Things e Love, Death & Robots, caindo para metade a representatividade do gigante do streaming nas nossas escolhas) e uma só mini-série (We Own This City), algo bem diferente da edição de 2021, que só no Top-10 teve 4 mini-séries.

    Apresentam-se então as 20 Melhores Séries de 2022:


1. Better Call Saul (AMC)criado por Vince Gilligan e Peter Gould

(94) - E no fim, agora com o devido distanciamento e com a moldura completa podemos dizer: Better Call Saul foi muito diferente de Breaking Bad, mas também foi (tangencialmente) melhor.
     O fim da linha para Jimmy McGill foi o remate perfeito de Gilligan e Gould para um universo de personagens nascido no ecrã em Janeiro de 2008. Saul dividiu-se em duas partes, mantendo a cores a adrenalina do engano e a justiça moral de chico-espertos imorais toldados pela diversão do golpe, e tingiu a preto e branco um epílogo romântico de arrependimento, fato platinado em tribunal e revólveres fictícios prontos a disparar pela última vez.
    Rhea Seehorn como Kim Wexler é o melhor desempenho de todos os tempos de uma atriz numa série televisiva. 

2. The Bear (FX on Hulu)criado por Christopher Storer

(90) Yes, Chef! Eis a melhor série estreada em 2022 para o Barba Por Fazer. The Bear é uma panela sob pressão, é uma cozinha stressada ao som de jazz, é água bebida de um tupperware e uma constante procura por respostas, apenas disponíveis em polpa de tomate.
    The Bear é uma família de colegas de trabalho, é um irmão em luto, é Pearl Jam, Sufjan Stevens e, por fim, Radiohead. Com muita simplicidade na receita, e um incrível Jeremy Allen White como Carmy, a série de Verão de Christopher Storer preencheu-nos como nenhuma outra das novidades do ano.

3. Severance (Apple TV+)criado por Dan Erickson

(88) No papel, a ideia de Dan Erickson tinha tudo para resultar em algo genial: Mark (Adam Scott) e os seus colegas de trabalho desempenham funções numa empresa misteriosa, sujeitando-se a um procedimento cirúrgico capaz de separar por completo o seu "eu" privado e profissional. Quando estão no trabalho, não têm memórias da sua vida exterior; quando estão fora do trabalho, desconhecem em absoluto o que fizeram no horário de expediente.
    Na prática e no ecrã, a ideia de Dan Erickson saiu ainda melhor do que as mais confiantes previsões. Com Ben Stiller a realizar 6 dos 9 episódios, Severance (demora uns episódios a agarrar, mas compensa com a intriga progressiva, num puzzle inteligente que abre uma porta com um novo ponto de interrogação à medida que fecha outra) tornou-se a nova jóia da coroa da Apple TV+, superando For All Mankind e Ted Lasso, e acreditamos que durante as próximas temporadas, Severance se torne uma das séries mais respeitadas no mundo, quer pela crítica quer pelo grande público.
    O nono "The We We Are", impróprio para cardíacos, foi o grande episódio de 2022.

4. My Brilliant Friend (HBO, Rai 1)criado por Saverio Costanzo

(86) - A adaptação dos contos napolitanos de Elena Ferrante continua a cimentar-se como uma das séries mais conhecedoras do ser humano, seja como fotografia da amizade, da inveja, do desejo ou do que é ser mulher.
    A passagem de testemunho, através de um espelho, de Margherita Mazzucco para Alba Rohrwacher foi uma das mais geniais revelações de novo casting de que temos memória.

5. Reservation Dogs (FX on Hulu)criado por Sterling Harjo e Taika Waititi

(85) - Herdeiro espiritual de Atlanta. Os Rez Dogs voltaram com a mesma sensibilidade, fazendo de um abraço entre quatro (e, por instantes, cinco) amigos à beira-mar um dos momentos mais emotivos da Televisão em 2022.

6. Barry (HBO)criado por Alec Berg e Bill Hader

(85) - Barry foi mais do que o exemplarmente bem executado e, convenhamos, inevitável twist do oitavo "starting now". A comédia sobre um assassino contratado torna-se, a cada episodio que passa, um drama mais e mais pesado; mas continuamos a ter perseguições à la GTA, um sábio conselheiro numa loja de beignets ou, como sempre, NoHo Hank.

7. Andor (Disney+)criado por Tony Gilroy

(84) Honestamente, quando Andor foi anunciado pensámos que se trataria de apenas mais uma série Star Wars. Depois do sucesso de The Mandalorian e do relativo insucesso de Obi-Wan Kenobi, Tony Gilroy edificou o novo tesouro do Disney+ e a melhor criação SW desde a trilogia original.
    O começo da jornada de Cassian Andor (Diego Luna) de ladrão e mercenário até revolucionário colocou a cereja no topo do bolo do ano televisivo de 2022, com personagens tridimensionais e bem trabalhadas, uma maturidade temática, visuais estonteantes e novas camadas de política e espionagem a acordar um universo que, sem precisar de Skywalkers, Yodas ou sabres de luz, parece agora mais vivo e relevante do que nunca.

8. House of the Dragon (HBO)criado por Ryan J. Condal e George R. R. Martin

(83) Já sentíamos falta daquela sensação de perigo constante ao fazer scroll na Internet à segunda-feira, podendo a cada esquina espreitar um spoilerGame of Thrones, a série mais mediática dos últimos anos, saiu pela porta pequena, e também por isso não tínhamos grandes expectativas para o herdeiro House of the Dragon.
    A prequela foi uma das belas surpresas de 2022, brilhando no mais importante (o enredo) e dando uma lição na arte de construir e apresentar um novo universo de personagens. Tivemos dificuldade em não revirar os olhos perante alguma incoerência na disparidade de envelhecimento entre as personagens, mas foi com gosto que corremos a estudar a árvore genealógica Targaryen, matando saudades de episódios pouco iluminados mas épicos, de crianças que lutam até uma perder o olho ou dos céus cruzados por um dragãozinho e um dragãozão.

9. Stranger Things (Netflix)criado por The Duffer Brothers

(82) - Confessamos: desde a temporada 1 (2016) até à 3 (2019), Stranger Things foi-se tornando progressivamente menos apelativa e cada vez mais uma obrigação, colocando-se num frágil limbo à beira da jarra das séries de que desistimos a meio da viagem.
    E de repente, o conteúdo porta-estandarte da Netflix deu-nos à 4.ª vez a sua melhor temporada até à data. Com um novo fan favourite (Joseph Quinn como Eddie Munson) e uma total responsabilidade no renascimento da "Running Up That Hill" de Kate Bush no Spotify, Stranger Things fez tudo bem: voltou a revelar eficácia e bom gosto ao separar as personagens em diferentes grupos para os juntar no fim, montou com mestria as revelações sobre Vecna e o paciente 1, e até a opção de estrear 7 episódios em Maio, deixando os capítulos 8 e 9 para Julho foi uma decisão acertada.

10. The Rehearsal (HBO)criado por Nathan Fielder

(82) Nathan Fielder é um dos autores mais fora da caixa dos nossos dias. Depois do sucesso de Nathan For You, da Comedy Central, o ator e humorista canadiano convenceu a HBO a apoiar as suas ideias com uma super-produção.
    The Rehearsal teve a sua origem num conceito simples: uma comédia/ documentário em que os participantes podem ensaiar ou preparar-se para determinados momentos da sua vida, não deixando nada ao acaso num mundo imprevisível. Quando parecia que este ensaio seria uma espécie de série de procedimento repetitiva, Fielder tirou-nos o tapete com uma matriosca existencialista, uma profunda reflexão sobre parentalidade.

11. Atlanta (FX)criado por Donald Glover

(81) - É um exercício complexo falar sobre o que foi Atlanta em 2022. Eleita Série do Ano pelo Barba Por Fazer no cada vez mais longínquo ano de 2018, a criação de Donald Glover voltou 4 (!) anos depois, e despediu-se em definitivo ao colocar na ar num só ano as temporadas 3 e 4.
    A comédia absurda, profundamente autoconsciente, original e satírica, apostou num compêndio de contos urbanos, marcantes embora algo desligados entre si.
    Despediu-se na interpretação do olhar de Darius (LaKeith Stanfield) tendo antes brilhado, bem ao seu estilo, numa paródia documental sobre "Pateta: O Filme".

12. The White Lotus (HBO)criado por Mike White

(80) - Em 2021, o Hawai; em 2022, a Sicília. A antologia de Mike White fez as malas para uma nova estância turística com histórias paralelas e novo casting privilegiado (F. Murray Abraham, Michael Imperioli, Aubrey Plaza, Haley Lu Richardson e Theo James) e a personagem Tanya (Jennifer Coolidge) como ponte entre as duas temporadas.
    Com White, o tradicional whodunit começa a ser substituído por um simples whodied, e mal podemos esperar pelo terceiro capítulo, à partida na Ásia, sucedâneo das semanas de férias sobre desigualdade de classes e infidelidade.

13. Hacks (HBO Max)criado por Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky

(80) - Com a HBO Max a apostar numa disponibilização de 2 episódios por semana (boa opção face às características, duração e tom da série), Hacks manteve toda a sua habilidade no desenvolvimento da relação pessoal e profissional de Ava (Hannah Einbinder) e Deborah Vance (Jean Smart).
    Deu gosto ver a série na estrada, e aquele derradeiro "The One, The Only" - bem emotivo, no seu clímax - serviria igualmente bem como season finale ou series finale. Mas ainda bem que vamos ter 3.ª temporada.

14. Winning Time: The Rise of the Lakers Dinasty (HBO), criado por Max Borenstein e Jim Hecht

(79) Entre as novas séries inspiradas por eventos reais, Winning Time merece a medalha de ouro. Adam McKay (realizador do episódio-piloto) introduziu uma distinta impressão digital em termos de estilo, com a alternância no "grão" da imagem, e o arranque da dinastia dos anos 80 dos LA Lakers contou com uma hábil forma de filmar desporto e uma astuta capacidade de colocar no ecrã o entusiasmo gerado pela revolução táctica.
    É magnífico ver Adrien Brody a emergir em segundo plano como Pat Riley, ajudou certamente a HBO encontrar um Kareem Abdul-Jabbar 99% igual ao verdadeiro e o primeiro sinal de que a série tinha tudo para correr bem deu-se logo no primeiro sorriso e na primeira transpiração de carisma de Quincy Isaiah como Magic Johnson. 
    Uma palavra final para John C. Reilly, que já merecia encabeçar um projecto desta dimensão.

15. We Own This City (HBO), criado por George Pelecanos e David Simon

(79) As séries de David Simon são, de certa forma, séries de nicho. Numa sociedade sedenta por estímulos e cliffhangers que nos façam dormir menos e devorar mais, o génio responsável por The Wire trabalha ao seu ritmo, com um realismo que nos leva para as ruas das suas histórias, mas que se recusa a recorrer a bandas sonoras influenciadoras.
    Simon e Pelecanos respeitam a audiência, são mestres do Show, don't tell e em We Own This City - 5 horas e 57 minutos dividos em seis partes - voltaram a trabalhar na mesma fasquia alta de sempre.
    A corrupção da polícia de Baltimore vacilou apenas na forma algo confusa como por vezes viajou no tempo (talvez numa segunda visualização o encadeamento seja mais intuitivo) e vincou Jon Bernthal como um dos principais nomes do meio televisivo na atualidade.

16. Pachinko (Apple TV+), criado por Soo Hugh

(78) Com potencial para se tornar uma das grandes séries dos próximos anos, Pachinko afirmou-se como o drama familiar do ano. Bebendo da magistral realização de Kogonada (ColumbusAfter Yang) a jornada de uma família coreana imigrante encantou-nos à primeira vista, e rebentou a escala ao sétimo capítulo, com o Japão e 1923 como pano de fundo.

17. Euphoria (HBO), criado por Sam Levinson

(77) - A obra-prima de Sam Levinson não nos oferecia uma temporada completa desde 2019 (em Dezembro de 2020 e Janeiro de 2021 houve apenas dois especiais focados em Rue e Jules) e o muito aguardado regresso ficou marcado pela forma desequilibrada/ com falta de linha condutora com que os acontecimentos se sucederam. A ação avançou pouco e algumas personagens caíram para segundo plano (Jules) enquanto outras dispararam de relevância (Sydney Sweeney, como Cassie, aproveitou para mostrar a boa atriz que é).
    Em todo o caso, bastava aquela descida aos infernos em "Stand Still Like a Hummingbird" para Euphoria figurar aqui. Quando pensávamos que Zendaya não poderia superar-se, ela conseguiu-o.

18. Industry (HBO, BBC Two), criado por Mickey Down e Konrad Kay

(77) - Uma das boas surpresas de 2020, que até só descobrimos em 2021, regressou à grelha da HBO tomando a opção de assumir a realidade e os efeitos da pandemia na própria narrativa do programa. Foi bom rever Harper (Myha'la Herrold é uma estrela em ascensão), Yasmin, Robert e Gus e, após vícios, solidão, acções a cair a pique, traições pelas costas e negociatas noite dentro, aquele twist com Eric Tao no final "Jerusalem" foi um dos melhores murros no estômago de 2022.

19. For All Mankind (Apple TV+), criado por Ronald D. Moore, Ben Nedivi e Matt Wolpert

(75) - Muitos críticos consideram a 2.ª temporada a mais difícil para muitas séries. É nesse Ano 2 que a série fideliza o seu público ou o perde para novos conteúdos virais. Talvez por isso, muitas séries que passam com distinção a avaliação da segunda temporada, atingem depois o seu pico de rendimento no 3.º ensaio. Este não foi o caso de For All Mankind, a ambiciosa produção espacial da Apple TV+.
    Sexto lugar nas nossas Melhores Séries de 2021, a série que continua a ser um projecto desconhecido para muita gente desiludiu-nos na ida a Marte, culpa talvez do patamar de excelência imposto pelo inesquecível "The Grey (episódio final da segunda temporada), do excesso de Danny Stevens e porventura dos prazos cumpridos na produção. Não é comum uma série com estes valores de produção ser emitida em anos consecutivos e, por vezes, a pressa é inimiga da perfeição. 

20. Love, Death & Robots (Netflix), criado por Tim Miller

(75) - Uma das duas representantes do catálogo Netflix no nosso Top-20 voltou ao seu melhor nível, apresentado na estreia em 2019, conseguindo uma certa redenção depois de virar fiasco irreconhecível em 2021. Com o regresso dos três robôs como anfitriões da temporada e David Fincher como realizador do fantástico "Bad Travelling", Love, Death & Robots voltou a experimentar diferentes estilos de animação, capazes de servir contos, ora mais leves ora mais profundos e ambiciosos. "Jibaro" é incrível.


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