Avaliados os melhores episódios e as melhores novidades, despedimo-nos do melhor da Televisão em 2022 com a categoria suprema: as Melhores Séries do ano.
Há um ano atrás, este Top-20 incluía, para nomear alguns destaques, Succession, Dave, For All Mankind, Ted Lasso e séries estreadas nesse ano como Arcane, Station Eleven ou Squid Game. Uma volta ao Sol depois, são 4 as séries que fizeram por merecer presença repetida: Reservation Dogs, The White Lotus, Hacks e For All Mankind.
Num ano sem a dramédia da família Roy, nada nos marcou mais do que o final de Better Call Saul, dividido em duas partes (ou três, se considerarmos o epílogo a preto e branco uma espécie de pós-BCS), tendo 2022 significado igualmente o fim de Atlanta, com a 3.ª temporada a ser emitida em Março-Abril-Maio e a 4.ª em Setembro-Outubro-Novembro. The Bear foi a surpresa do Verão, Severance (brilhante conceito) um novo puzzle com muitas teorias para alimentar nos próximos anos, e felizmente House of the Dragon trouxe de volta aquele quentinho perdido desde o término de Game of Thrones.
Oito novidades e 12 séries consolidadas compõem a nossa Lista, com dois pormenores raros - fraca presença Netflix (apenas Stranger Things e Love, Death & Robots, caindo para metade a representatividade do gigante do streaming nas nossas escolhas) e uma só mini-série (We Own This City), algo bem diferente da edição de 2021, que só no Top-10 teve 4 mini-séries.
Apresentam-se então as 20 Melhores Séries de 2022:
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1. Better Call Saul (AMC), criado por Vince Gilligan e Peter Gould
(94) - E no fim, agora com o devido distanciamento e com a moldura completa podemos dizer: Better Call Saul foi muito diferente de Breaking Bad, mas também foi (tangencialmente) melhor.
O fim da linha para Jimmy McGill foi o remate perfeito de Gilligan e Gould para um universo de personagens nascido no ecrã em Janeiro de 2008. Saul dividiu-se em duas partes, mantendo a cores a adrenalina do engano e a justiça moral de chico-espertos imorais toldados pela diversão do golpe, e tingiu a preto e branco um epílogo romântico de arrependimento, fato platinado em tribunal e revólveres fictícios prontos a disparar pela última vez.
Rhea Seehorn como Kim Wexler é o melhor desempenho de todos os tempos de uma atriz numa série televisiva.
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(90) - Yes, Chef! Eis a melhor série estreada em 2022 para o Barba Por Fazer. The Bear é uma panela sob pressão, é uma cozinha stressada ao som de jazz, é água bebida de um tupperware e uma constante procura por respostas, apenas disponíveis em polpa de tomate.
The Bear é uma família de colegas de trabalho, é um irmão em luto, é Pearl Jam, Sufjan Stevens e, por fim, Radiohead. Com muita simplicidade na receita, e um incrível Jeremy Allen White como Carmy, a série de Verão de Christopher Storer preencheu-nos como nenhuma outra das novidades do ano.
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(88) - No papel, a ideia de Dan Erickson tinha tudo para resultar em algo genial: Mark (Adam Scott) e os seus colegas de trabalho desempenham funções numa empresa misteriosa, sujeitando-se a um procedimento cirúrgico capaz de separar por completo o seu "eu" privado e profissional. Quando estão no trabalho, não têm memórias da sua vida exterior; quando estão fora do trabalho, desconhecem em absoluto o que fizeram no horário de expediente.
Na prática e no ecrã, a ideia de Dan Erickson saiu ainda melhor do que as mais confiantes previsões. Com Ben Stiller a realizar 6 dos 9 episódios, Severance (demora uns episódios a agarrar, mas compensa com a intriga progressiva, num puzzle inteligente que abre uma porta com um novo ponto de interrogação à medida que fecha outra) tornou-se a nova jóia da coroa da Apple TV+, superando For All Mankind e Ted Lasso, e acreditamos que durante as próximas temporadas, Severance se torne uma das séries mais respeitadas no mundo, quer pela crítica quer pelo grande público.
O nono "The We We Are", impróprio para cardíacos, foi o grande episódio de 2022.
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(86) - A adaptação dos contos napolitanos de Elena Ferrante continua a cimentar-se como uma das séries mais conhecedoras do ser humano, seja como fotografia da amizade, da inveja, do desejo ou do que é ser mulher.
A passagem de testemunho, através de um espelho, de Margherita Mazzucco para Alba Rohrwacher foi uma das mais geniais revelações de novo casting de que temos memória.
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(85) - Herdeiro espiritual de Atlanta. Os Rez Dogs voltaram com a mesma sensibilidade, fazendo de um abraço entre quatro (e, por instantes, cinco) amigos à beira-mar um dos momentos mais emotivos da Televisão em 2022.
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(85) - Barry foi mais do que o exemplarmente bem executado e, convenhamos, inevitável twist do oitavo "starting now". A comédia sobre um assassino contratado torna-se, a cada episodio que passa, um drama mais e mais pesado; mas continuamos a ter perseguições à la GTA, um sábio conselheiro numa loja de beignets ou, como sempre, NoHo Hank.
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(84) - Honestamente, quando Andor foi anunciado pensámos que se trataria de apenas mais uma série Star Wars. Depois do sucesso de The Mandalorian e do relativo insucesso de Obi-Wan Kenobi, Tony Gilroy edificou o novo tesouro do Disney+ e a melhor criação SW desde a trilogia original.
O começo da jornada de Cassian Andor (Diego Luna) de ladrão e mercenário até revolucionário colocou a cereja no topo do bolo do ano televisivo de 2022, com personagens tridimensionais e bem trabalhadas, uma maturidade temática, visuais estonteantes e novas camadas de política e espionagem a acordar um universo que, sem precisar de Skywalkers, Yodas ou sabres de luz, parece agora mais vivo e relevante do que nunca.
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(83) - Já sentíamos falta daquela sensação de perigo constante ao fazer scroll na Internet à segunda-feira, podendo a cada esquina espreitar um spoiler. Game of Thrones, a série mais mediática dos últimos anos, saiu pela porta pequena, e também por isso não tínhamos grandes expectativas para o herdeiro House of the Dragon.
A prequela foi uma das belas surpresas de 2022, brilhando no mais importante (o enredo) e dando uma lição na arte de construir e apresentar um novo universo de personagens. Tivemos dificuldade em não revirar os olhos perante alguma incoerência na disparidade de envelhecimento entre as personagens, mas foi com gosto que corremos a estudar a árvore genealógica Targaryen, matando saudades de episódios pouco iluminados mas épicos, de crianças que lutam até uma perder o olho ou dos céus cruzados por um dragãozinho e um dragãozão.
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(82) - Confessamos: desde a temporada 1 (2016) até à 3 (2019), Stranger Things foi-se tornando progressivamente menos apelativa e cada vez mais uma obrigação, colocando-se num frágil limbo à beira da jarra das séries de que desistimos a meio da viagem.
E de repente, o conteúdo porta-estandarte da Netflix deu-nos à 4.ª vez a sua melhor temporada até à data. Com um novo fan favourite (Joseph Quinn como Eddie Munson) e uma total responsabilidade no renascimento da "Running Up That Hill" de Kate Bush no Spotify, Stranger Things fez tudo bem: voltou a revelar eficácia e bom gosto ao separar as personagens em diferentes grupos para os juntar no fim, montou com mestria as revelações sobre Vecna e o paciente 1, e até a opção de estrear 7 episódios em Maio, deixando os capítulos 8 e 9 para Julho foi uma decisão acertada.
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(82) - Nathan Fielder é um dos autores mais fora da caixa dos nossos dias. Depois do sucesso de Nathan For You, da Comedy Central, o ator e humorista canadiano convenceu a HBO a apoiar as suas ideias com uma super-produção.
The Rehearsal teve a sua origem num conceito simples: uma comédia/ documentário em que os participantes podem ensaiar ou preparar-se para determinados momentos da sua vida, não deixando nada ao acaso num mundo imprevisível. Quando parecia que este ensaio seria uma espécie de série de procedimento repetitiva, Fielder tirou-nos o tapete com uma matriosca existencialista, uma profunda reflexão sobre parentalidade.
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11. Atlanta (FX), criado por Donald Glover
(81) - É um exercício complexo falar sobre o que foi Atlanta em 2022. Eleita Série do Ano pelo Barba Por Fazer no cada vez mais longínquo ano de 2018, a criação de Donald Glover voltou 4 (!) anos depois, e despediu-se em definitivo ao colocar na ar num só ano as temporadas 3 e 4.
A comédia absurda, profundamente autoconsciente, original e satírica, apostou num compêndio de contos urbanos, marcantes embora algo desligados entre si.
Despediu-se na interpretação do olhar de Darius (LaKeith Stanfield) tendo antes brilhado, bem ao seu estilo, numa paródia documental sobre "Pateta: O Filme".
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12. The White Lotus (HBO), criado por Mike White
(80) - Em 2021, o Hawai; em 2022, a Sicília. A antologia de Mike White fez as malas para uma nova estância turística com histórias paralelas e novo casting privilegiado (F. Murray Abraham, Michael Imperioli, Aubrey Plaza, Haley Lu Richardson e Theo James) e a personagem Tanya (Jennifer Coolidge) como ponte entre as duas temporadas.
Com White, o tradicional whodunit começa a ser substituído por um simples whodied, e mal podemos esperar pelo terceiro capítulo, à partida na Ásia, sucedâneo das semanas de férias sobre desigualdade de classes e infidelidade.
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13. Hacks (HBO Max), criado por Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky
(80) - Com a HBO Max a apostar numa disponibilização de 2 episódios por semana (boa opção face às características, duração e tom da série), Hacks manteve toda a sua habilidade no desenvolvimento da relação pessoal e profissional de Ava (Hannah Einbinder) e Deborah Vance (Jean Smart).
Deu gosto ver a série na estrada, e aquele derradeiro "The One, The Only" - bem emotivo, no seu clímax - serviria igualmente bem como season finale ou series finale. Mas ainda bem que vamos ter 3.ª temporada.
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14. Winning Time: The Rise of the Lakers Dinasty (HBO), criado por Max Borenstein e Jim Hecht
(79) - Entre as novas séries inspiradas por eventos reais, Winning Time merece a medalha de ouro. Adam McKay (realizador do episódio-piloto) introduziu uma distinta impressão digital em termos de estilo, com a alternância no "grão" da imagem, e o arranque da dinastia dos anos 80 dos LA Lakers contou com uma hábil forma de filmar desporto e uma astuta capacidade de colocar no ecrã o entusiasmo gerado pela revolução táctica.
É magnífico ver Adrien Brody a emergir em segundo plano como Pat Riley, ajudou certamente a HBO encontrar um Kareem Abdul-Jabbar 99% igual ao verdadeiro e o primeiro sinal de que a série tinha tudo para correr bem deu-se logo no primeiro sorriso e na primeira transpiração de carisma de Quincy Isaiah como Magic Johnson.
Uma palavra final para John C. Reilly, que já merecia encabeçar um projecto desta dimensão.
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15. We Own This City (HBO), criado por George Pelecanos e David Simon
(79) - As séries de David Simon são, de certa forma, séries de nicho. Numa sociedade sedenta por estímulos e cliffhangers que nos façam dormir menos e devorar mais, o génio responsável por The Wire trabalha ao seu ritmo, com um realismo que nos leva para as ruas das suas histórias, mas que se recusa a recorrer a bandas sonoras influenciadoras.
Simon e Pelecanos respeitam a audiência, são mestres do Show, don't tell e em We Own This City - 5 horas e 57 minutos dividos em seis partes - voltaram a trabalhar na mesma fasquia alta de sempre.
A corrupção da polícia de Baltimore vacilou apenas na forma algo confusa como por vezes viajou no tempo (talvez numa segunda visualização o encadeamento seja mais intuitivo) e vincou Jon Bernthal como um dos principais nomes do meio televisivo na atualidade.
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16. Pachinko (Apple TV+), criado por Soo Hugh
(78) - Com potencial para se tornar uma das grandes séries dos próximos anos, Pachinko afirmou-se como o drama familiar do ano. Bebendo da magistral realização de Kogonada (Columbus, After Yang) a jornada de uma família coreana imigrante encantou-nos à primeira vista, e rebentou a escala ao sétimo capítulo, com o Japão e 1923 como pano de fundo.
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17. Euphoria (HBO), criado por Sam Levinson
(77) - A obra-prima de Sam Levinson não nos oferecia uma temporada completa desde 2019 (em Dezembro de 2020 e Janeiro de 2021 houve apenas dois especiais focados em Rue e Jules) e o muito aguardado regresso ficou marcado pela forma desequilibrada/ com falta de linha condutora com que os acontecimentos se sucederam. A ação avançou pouco e algumas personagens caíram para segundo plano (Jules) enquanto outras dispararam de relevância (Sydney Sweeney, como Cassie, aproveitou para mostrar a boa atriz que é).
Em todo o caso, bastava aquela descida aos infernos em "Stand Still Like a Hummingbird" para Euphoria figurar aqui. Quando pensávamos que Zendaya não poderia superar-se, ela conseguiu-o.
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18. Industry (HBO, BBC Two), criado por Mickey Down e Konrad Kay
(77) - Uma das boas surpresas de 2020, que até só descobrimos em 2021, regressou à grelha da HBO tomando a opção de assumir a realidade e os efeitos da pandemia na própria narrativa do programa. Foi bom rever Harper (Myha'la Herrold é uma estrela em ascensão), Yasmin, Robert e Gus e, após vícios, solidão, acções a cair a pique, traições pelas costas e negociatas noite dentro, aquele twist com Eric Tao no final "Jerusalem" foi um dos melhores murros no estômago de 2022.
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19. For All Mankind (Apple TV+), criado por Ronald D. Moore, Ben Nedivi e Matt Wolpert
(75) - Muitos críticos consideram a 2.ª temporada a mais difícil para muitas séries. É nesse Ano 2 que a série fideliza o seu público ou o perde para novos conteúdos virais. Talvez por isso, muitas séries que passam com distinção a avaliação da segunda temporada, atingem depois o seu pico de rendimento no 3.º ensaio. Este não foi o caso de For All Mankind, a ambiciosa produção espacial da Apple TV+.
Sexto lugar nas nossas Melhores Séries de 2021, a série que continua a ser um projecto desconhecido para muita gente desiludiu-nos na ida a Marte, culpa talvez do patamar de excelência imposto pelo inesquecível "The Grey (episódio final da segunda temporada), do excesso de Danny Stevens e porventura dos prazos cumpridos na produção. Não é comum uma série com estes valores de produção ser emitida em anos consecutivos e, por vezes, a pressa é inimiga da perfeição.
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20. Love, Death & Robots (Netflix), criado por Tim Miller
(75) - Uma das duas representantes do catálogo Netflix no nosso Top-20 voltou ao seu melhor nível, apresentado na estreia em 2019, conseguindo uma certa redenção depois de virar fiasco irreconhecível em 2021. Com o regresso dos três robôs como anfitriões da temporada e David Fincher como realizador do fantástico "Bad Travelling", Love, Death & Robots voltou a experimentar diferentes estilos de animação, capazes de servir contos, ora mais leves ora mais profundos e ambiciosos. "Jibaro" é incrível.