8 de agosto de 2019

Antevisão da Premier League 2019/ 20

  Premier League - Que saudades tuas, melhor Liga do mundo. Embora para os apaixonados por futebol a Premier League já fosse há alguns anos um campeonato sem igual dada a imprevisibilidade, o respeito, a cultura, o equilíbrio, a competitividade e o espectáculo, a edição de 2018/ 19 ajudou a colocar uma pedra sobre o assunto com uma frenética e inesquecível luta pelo título (Manchester City 98 pontos, Liverpool 97 pontos) e com os clubes ingleses a dominarem as competições europeias: a final da Champions opôs Liverpool e Tottenham, enquanto que a da Liga Europa teve Chelsea e Arsenal a medir forças.
    Curioso momento em que o Liverpool é rei da Europa, mas o Manchester City é dono e senhor do futebol inglês. Sob o comando de Pep Guardiola, os citizens conseguiram um bicampeonato que há muito não acontecia em terras de Sua Majestade, numa temporada de sonho em que Bernardo Silva, Sterling e companhia conquistaram todos os troféus possíveis em Inglaterra. Próximo desafio: conseguir algo que, desde que a Premier League foi fundada em 1992, apenas o Manchester United conseguiu - vencer 3 campeonatos consecutivos. Tudo aponta para que o título volte a ser disputado por Guardiola e Klopp (1-0 para o City em 2019/ 20 com a vitória na Community Shield), estando Manchester City e Liverpool acima da concorrência nesta fase, destacando-se depois o reforçado Tottenham, e surgindo maiores interrogações em relação a Arsenal, Chelsea e Manchester United.
    Numa Liga em que Everton, Leicester City, Wolves e West Ham tentarão baralhar as contas e intrometer-se no Top-6, esperamos maior qualidade no futebol praticado por parte das equipas da segunda metade da tabela, e saudamos as chegadas de Aston Villa, Sheffield United e Norwich, equipas com ideias diferentes e melhor orientadas do que os relegados Huddersfield, Cardiff e Fulham.
    O defeso foi algo atípico. O promovido Aston Villa investiu e bem, mas vários emblemas ficaram aquém dos gastos habituais. O City, com o seu plantel quase perfeito, concentrou os gastos em 2 posições chaves, despendendo menores quantias na preparação do futuro; o Liverpool limitou-se a contratar bebés; o Chelsea esteve impedido de contratar; e o Manchester United, embora tenha gasto quase 160 milhões, gastou-os apenas em Maguire, Wan-Bissaka e Daniel James. Neste contexto, emergiram Arsenal e Tottenham (sim, a sério) como principais vencedores do mercado. Além de tudo isto, o facto de haver apenas 3 novos treinadores (Frank Lampard no Chelsea, Graham Potter no Brighton e Steve Bruce no Newcastle) também ajuda a explicar menores revoluções.

    Pépé, Rodri, Lo Celso, Ndombélé, Cancelo, Moise Kean, Ceballos, Haller, Sarr, Trossard, Fornals e Saint-Maximin são algumas das caras novas na Premier, sem esquecer as transferências internas de Maguire, David Luiz, Ayoze, Sessegnon, Iwobi ou Wan-Bissaka e a aposta no talento existente no Championship, traduzida nas aquisições de Che Adams, Maupay, Daniel James, McBurnie, Lloyd Kelly ou Adam Webster.

    Acompanhem-nos então nesta completa Antevisão da Premier League 2019/ 20, numa tentativa de prever a classificação final e destaques individuais:



Resultado de imagem para manchester city community shield MANCHESTER CITY (1)

    Entre os últimos 9 troféus em disputa em Inglaterra, o Manchester City conquistou 7. Os dois últimos campeonatos, as duas últimas taças da liga, as duas últimas Community Shield e a última FA Cup. No total das últimas edições da Premier League estiveram em jogo 228 pontos, o City somou 198 (100+98). Hoje, Manchester é azul celeste e, com aquele que é indubitavelmente o melhor treinador da actualidade, os citizens tornaram-se um colosso a nível interno, merecendo nas duas últimas temporadas o estatuto de equipa que praticou o melhor futebol da Europa. Na Champions, aí sim, falta estofo. Até deixar de faltar.
    Antevemos que esta Premier League volte a ser um ombro-a-ombro entre City e Liverpool, mas atribuímos ligeiro favoritismo aos campeões em título pelo domínio que têm apresentado, pela sistemática capacidade de Pep em fazer crescer os seus jogadores, desafiando-os, por terem características que os tornam mais fortes numa maratona (numa competição a eliminar, virávamos o favoritismo para os reds), pela maior inteligência e qualidade na definição/ decisão dos seus intérpretes e porque, ao contrário da generalidade da época passada, desta vez há Kevin De Bruyne, um "reforço" que é porventura o melhor jogador da Liga.
     Em 2019/ 20 deixa de haver o capitão Kompany no balneário, e desfrutem de cada minuto de David Silva porque está confirmada que esta será a sua última temporada no clube. Com um plantel muito jovem, KDB, Bernardo Silva (para a FIFA não foi Top-10 no "The Best" mas para nós e para quaisquer apaixonados por futebol, que decidem ver efectivamente futebol, seria incontestável Top-5 ou até mesmo Top-3) e Sterling (Guardiola parece estar a trabalhá-lo para alternar entre o flanco e a posição 9, aproveitando a sua evolução como finalizador) deverão ser os 3 principais destaques, tendo agora o treinador de 48 anos em Rodri um substituto e herdeiro perfeito para Fernandinho. Depois de ter um pé em Munique, a grave lesão de Leroy Sané pode ter hipotecado a sua transferência e grande parte desta época para o alemão, continuando o ataque do City dependente dos golos de Agüero (se marcar 24 golos torna-se o 3.º melhor marcador de sempre da Premier, apenas atrás de Rooney e Shearer), estando Gabriel Jesus à espreita, motivado após boa Copa América.
    É na defesa - sector em que consideramos que o pool é superior - que surgem várias questões, tendo esta que ser uma época de consolidação para a dupla Stones-Laporte. Pep contará com muita polivalência: Walker actuará a lateral-direito e eventualmente a central, à esquerda há Zinchenko, Angeliño e o instagrammer Mendy, sendo a aquisição de João Cancelo particularmente útil ao poder funcionar como lateral nos dois lados e extremo, e entusiasmante uma vez que o esquema do City parece ideal para que o ex-Juventus, neste reencontro com Bernardo Silva, se farte de desequilibrar.

Treinador: Pep Guardiola
Onze-Base (4-1-2-3): Ederson; Walker, Stones, Laporte, Cancelo (Zinchenko, Mendy); Rodri (Fernandinho); De Bruyne, David Silva; Bernardo Silva, Sterling, Agüero

Atenção a: Kevin De Bruyne, Bernardo Silva, Raheem Sterling, David Silva, Rodri

Resultado de imagem para manchester city community shield LIVERPOOL (2)

    Se os campeões europeus, que não vencem o ceptro máximo do futebol inglês desde 1990, conquistarem o título no final da temporada não será propriamente uma surpresa. Afinal, se não for o Manchester City, terá que ser o Liverpool de Jürgen Klopp.

    Os reds, nesta fase a equipa mais temível do mundo numa competição a eliminar, embora uma unha abaixo do City numa longa maratona, têm basicamente tudo. Em Anfield, adeptos e jogadores mantêm a maior fome deste mundo por conquistar a Premier League (factor que pode fazer a diferença diante de um City que tem "limpo" tudo internamente), Klopp é capaz de convencer o grupo de qualquer coisa, e após extraordinária campanha de 2018/ 19 o reforço quase nulo da equipa serve de mensagem e voto de confiança para este grupo. O Liverpool passou a ter Adrián em vez de Mignolet como suplente de super-Alisson, adquiriu os bebés Sepp van den Berg (em vez de irem buscar De Ligt, foram buscar o próximo De Ligt) e Harvey Elliott (jogador mais jovem de sempre da Premier) e contará ainda com Oxlade-Chamberlain e Lallana, este último em princípio agora como médio mais nuclear e cerebral, dois jogadores que quase não contribuíram em 18/ 19.
    Em toda a linha, já sabemos o que a casa gasta. Alisson foi o melhor guarda-redes do mundo na última temporada, a defesa é bem capaz de ser a melhor da actualidade dada a monstruosidade de Van Dijk e os sempre impressionantes laterais Robertson e Alexander-Arnold (sim, ainda tem 20 anos), continuando a existir um lugar para ser disputado por Gomez e Matip, o que coloca o Liverpool a jogar com 3 centrais uma vez que Van Dijk vale por dois. Milner (um exemplo), Fabinho, Wijnaldum, Henderson, Keita e os já mencionados Chamberlain e Lallana são opções mais do que suficientes para Klopp rodar o miolo e ter sempre intensidade, músculo, pressão e dinâmica garantidas, e no ataque Firmino trabalha na sombra, enquanto Salah e Mané agradecem ao relvado e aos céus cada dádiva que dão aos adeptos. Do banco, além de Shaqiri e Origi, saltará neste certame o produto da formação Brewster.
    Damos 51-49 a favor do Manchester City na luta pelo título, mas de facto, já está na hora de se ouvir You'll Never Walk Alone como pano de fundo da conquista da Premier League.

Treinador: Jürgen Klopp
Onze-Base (4-3-3): Alisson; Alexander-Arnold, Gomez (Matip), van Dijk, Robertson; Henderson (Fabinho), Wijnaldum, Milner (Keita); Salah, Mané, Firmino

Atenção a: Mohamed Salah, Sadio Mané, Virgil van Dijk, Alexander-Arnold, Andrew Robertson

Resultado de imagem para TOTTENHAM KANE TOTTENHAM (3)

    O Tottenham é acusado de se ter tornado o clube do quase. No entanto, é indiscutível que os spurs vivem um dos períodos mais interessantes da sua História, consolidando-se e crescendo passo a passo e de modo sustentado. Finalista vencido na Champions League, o Tottenham tem neste momento um dos 5 melhores treinadores do mundo e conseguiu terminar sempre no Top-4 nos últimos quatro anos. Para contextualizar o feito, nos 26 anos anteriores isso tinha acontecido somente por 3 vezes.
    Com um projecto com rumo certo, entregue ao homem do leme certo, apontar o clube do Norte de Londres ao 3.º lugar parece sensato. É difícil antecipar quem levará a melhor entre City e Liverpool, e perceber por que ordem ficarão classificados Chelsea, Arsenal e Manchester United, mas no meio de toda a incerteza, os spurs surgem ainda um degrau abaixo dos 2 favoritos, e globalmente acima dos restantes candidatos.
    Sobre o mercado, podemos definitivamente dizer que cada tiro foi na muche. A começar por Tanguy Ndombélé, um médio que colmata uma lacuna deixada há meses pela saída de Moussa Dembélé, e que irá por certo encher o campo equilibrando a capacidade de antecipação e recuperação com o seu fulgor a transportar e quebrar linhas. Falou-se em Bruno Fernandes, mas o escolhido para médio total acabou por ser Lo Celso - o argentino é um mimo, acrescentando visão de jogo, assistências, golos e condução em transição. Finalmente, Ryan Sessegnon, que sempre pareceu destinado aos spurs, e pode agora evoluir durante os próximos anos, seja a lateral ou extremo-esquerdo.
    Na frente, e desde que não contraia lesões, Harry Kane é o principal oponente de Mo Salah na corrida ao título de melhor marcador. No apoio ao ponta de lança inglês de 26 anos, que persegue paulatinamente o recorde de Alan Shearer, continua o cada vez mais respeitado e sempre sorridente Son Heung-Min, os renascidos Lucas Moura e Sissoko, o sobrevivente Christian Eriksen (fica ou sai para o Real Madrid até ao final do mês?) e Dele Alli, que tem muito mais futebol nas botas do que aquilo que demonstrou no último ano. Ficou só a faltar Dybala...

Treinador: Mauricio Pochettino
Onze-Base (4-2-3-1): Lloris; Walker-Peters, Alderweireld (Sánchez), Vertonghen, Sessegnon; Ndombélé, Lo Celso; Son, Alli, Eriksen (Lucas); Kane

Atenção a: Harry Kane, Son Heung-Min, Tanguy Ndombélé, Lo Celso, Ryan Sessegnon

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    Que bom é estar vivo numa época em que o sempre poupado ou inexplicavelmente pobre Arsenal decidiu investir como gente grande. Ah e tal, só temos 40 milhões, ouviu-se a dada altura. Depois de uma 1.ª época satisfatória q.b. com Unai Emery (gritante ausência de destaques individuais, exceptuando Aubameyang, mas a verdade é que os gunners chegaram à final da Liga Europa, a competição-fetiche do treinador basco, e terminaram a Premier no 5.º lugar a apenas 1 ponto do Tottenham (4.º) e a 2 pts do Chelsea (3.º)), este tem que ser o momento de agarrar um lugar no Top-4, algo que o Arsenal não foi capaz de fazer nas últimas 3 edições, e que tinha conseguido sempre nas 20 anteriores, entre 1997 e 2016.
    É lamentável que o clube não tenha sido capaz de segurar Aaron Ramsey, que se tornou assim a milésima contratação de luxo da Juventus a custo zero, mas é com muito entusiasmo que olhamos para um trio de ataque formado por Pépé, Aubameyang e Lacazette. Se serão capazes de funcionar juntos num 4-3-3 / 4-2-3-1 (mais correcta esta segunda hipótese dada a "preguiça" de Özil) ficaremos a saber em breve, mas é garantido que os gunners terão pelo menos Pépé e Aubameyang sempre em campo, e por isso as defesas adversárias vão por certo passar mal em muitas ocasiões. Emery parece decidido em não voltar a apostar em três centrais, fixando em definitivo uma defesa a 4, e não excluimos um desenho de 4-4-2 que concilie Torreira, Xhaka/ Guendouzi, Ceballos e Özil, com Auba-Pépé como dupla com maior mobilidade na frente.
    Olhando para o plantel como um todo, Leno terá como desafio tentar aproximar-se do nível galáctico que na Premier pertence ao trio Alisson, Ederson e De Gea, ganhando a defesa dois importantes reforços: o até aqui rival David Luiz e o escocês Tierney, que pode ser o Robertson dos gunners. Com várias opções para o meio-campo e ataque, Emery passa agora a ter por ex. Xhaka, Torreira, Guendouzi e Ceballos para 2 posições, e por mais especial que seja Mesut Özil (um dos poucos jogadores que nos irrita, por ser um desperdício de talento), com Ceballos e Mhkitaryan como alternativas, o mago alemão terá invariavelmente que fazer pela vida se permanecer no clube até ao final da janela. Isto porque à partida, embora dependendo sempre das dinâmicas criadas, pode ser complicado fazer coexistir Auba, Pépé e Lacazette com um meio-campo onde esteja Özil, dada a falta de intensidade do 10.
    Posto isto, há que ter ainda em consideração a juventude em busca de uma oportunidade. Guendouzi (tanto futebol e só 20 anos) procura continuar no onze e Maitland-Niles sabe que tem que "aproveitar" o período de recuperação de Bellerín.
    Como é natural nesta fase da época, ainda existem muitos pontos de interrogação. No entanto, os adeptos do Arsenal têm motivos para estarem entusiasmados. Há matéria-prima para uma boa época.

Treinador: Unai Emery
Onze-Base (4-3-3): Leno; Maitland-Niles, Sokratis, David Luiz, Tierney (Kolasinac); Xhaka (Torreira), Guendouzi, Ceballos (Özil); Pépé, Aubameyang, Lacazette

Atenção a: Nicolas Pépé, Pierre-Emerick Aubameyang, Dani Ceballos, Kieran Tierney, Mattéo Guendouzi

Resultado de imagem para CHELSEA CHELSEA (5)

    Se a lógica imperasse, o Chelsea terminaria esta temporada abaixo dos 5 maiores rivais. Argumentação: os blues foram do Top-6 a equipa mais dependente de um só jogador (Hazard) na última época, perdendo esse mesmo craque, e enquanto Man City e Liverpool se mantiveram quase perfeitos, Arsenal, Manchester United e Tottenham acrescentaram todos eles qualidade às suas fileiras. Neste Chelsea pós-Hazard - 7 épocas esteve o belga em Stamford Bridge, carregando a equipa em variadíssimas épocas e momentos - são muitos os pontos de interrogação. Mas nos momentos de adversidade (o Chelsea esteve impedido de contratar, vendo apenas chegar o promissor Pulisic, contratado em Janeiro passado; e Sarri rumou à Juventus) nascem sempre oportunidades.
    Frank Lampard foi o escolhido para sucessor de Sarri. O médio com mais golos na História da Premier League realizou um bom trabalho no Derby County e, embora seja o treinador mais jovem e mais inexperiente dos 20, parece-nos ser a pessoa certa no lugar certo, dado o momento. Obrigado a olhar para dentro, o Chelsea pode de certa forma encarar esta época com menos pressão, e muita será a motivação de vários jogadores que têm aqui uma chance única - era impossível melhor timing para Tammy Abraham poder singrar como blue, e uma boa época do Chelsea terá invariavelmente que significar que daqui a uns meses olharemos para Ross Barkley (veremos se como 3.º médio ou mesmo a partir da esquerda, como Hazard) ou Loftus-Cheek de outra maneira, acreditando nós bastante num tremendo salto qualitativo de ambos.
    A chegada de Lampard deve representar novas funções para Kanté e Jorginho (duplo pivô?), desfeita a saída de bola preconizada por Sarri, e a defesa (Azpilicueta-Rüdiger-Christensen-Alonso) continua a ser das mais assertivas da Liga. Willian herdou o 10 de Hazard, e a capacidade de assumir e aparecer na Hora H que o belga tinha sempre terá que ser repartida entre o brasileiro, Pulisic, Pedro e, quando regressar de lesão, Hudson-Odoi.

Treinador: Frank Lampard
Onze-Base (4-3-3): Kepa; Azpilicueta, Rüdiger, Christensen (Zouma), M. Alonso; Kanté, Jorginho, Barkley (Loftus-Cheek); Willian (Pedro), Pulisic (Hudson-Odoi), Abraham (Giroud)

Atenção a: Ross Barkley, Tammy Abraham, Loftus-Cheek, Christian Pulisic, Hudson-Odoi

Resultado de imagem para MANCHESTER UNITED MANCHESTER UNITED (6)

    É difícil para os adeptos dos red devils, que se habituaram e aceitaram como natural a sua condição de força dominante, entenderem a brutal distância a que ficaram num espaço de poucos anos do rival histórico Liverpool e do rival citadino City. Incapaz de se reerguer após a saída de Sir Alex Ferguson, o homem que era tudo em Old Trafford, o clube perdeu identidade, perdeu sagacidade a contratar, perdeu alma. Perdeu-se.
    Entre 1992 e 2013, o Manchester United venceu 13 campeonatos em 21 possíveis. Desde que o mítico escocês trocou o banco pela bancada, a média tem sido o 6.º lugar e em campo os jogadores não têm sabido agradecer a oportunidade que têm em cada jogo, respeitando a camisola e suando pelos colegas. Outrora um dos balneários mais fortes do futebol europeu, hoje um misto de imaturidade, falta de profissionalismo e desejo de crescer rápido demais. Saiu Mourinho (nunca foi o treinador certo, e tal como alguns jogadores é alguém que se julga melhor do que hoje é, mas também esteve bem longe de ser o único problema) e é com Ole Gunnar Solskjaer que o clube procura regressar a outros tempos, recuperando tradições e o espírito certo.
    De Gea, melhor guarda-redes da Premier League em quase todas as recentes edições excepto na última em que esteve francamente mal, terá agora à sua frente um quarteto que inspira confiança: Wan-Bissaka, Lindelof, Maguire e Shaw. O sueco ex-Benfica e o lateral esquerdo foram dos poucos destaques na época anterior, e Wan-Bissaka (fantástica evolução!) e Maguire (Guardiola queria contratá-lo, o que quer dizer "alguma" coisa) são efectivamente reforços.
    Paul Pogba é o jóker da equipa, podendo ser o seu maior problema (vedeta) ou o craque superlativo. Acreditamos que totalize números (golos e assistências) convincentes, mas tememos que possa vir a ser intermitente, ficando desligado em alguns jogos. Paul Pogba: o estranho caso de um médio cujas características físicas e técnicas o tornam o 2.º médio e elemento de ligação e transporte perfeito, mas com uma cabeça que o faz querer somente ser o 3.º médio, com menos responsabilidades defensivas divertindo-se mais. Achamos que o United será tanto mais forte quanto menos depender de Pogba, e confiamos que McTominay possa ser uma agradável surpresa, esperando-se que esta seja a época em que Marcus Rashford dispara em direcção ao futuro a que parece estar destinado. Oxalá possa acontecer o mesmo com Martial. Finalmente, com muitos jovens da formação a deixarem boas indicações na pré-época, Solskjaer pode sentir-se tentado a dar uma boa dose de minutos a Angel Gomes, Andreas Pereira ou Chong, mas principalmente a Mason Greenwood (17 anos). Tudo isto sem esquecer Daniel James, o reforço galês que pode deixar Old Trafford de olhos arregalados com a sua velocidade estonteante. Romelu Lukaku saiu, e achámos a sua venda um erro.

Treinador: Ole Gunnar Solskjær
Onze-Base (4-3-3): De Gea; Wan-Bissaka, Lindelof, Maguire, Shaw; McTominay, Pogba, Mata (Lingard); James (Greenwood), Rashford, Martial

Atenção a: Marcus Rashford, Aaron Wan-Bissaka, Harry Maguire, Mason Greenwood, Scott McTominay

 EVERTON (7)

   Na sua primeira temporada como treinador do Everton, o português Marco Silva teve melhores recursos que nunca antes, mas não cumpriu o objectivo - repetiu o 8.º lugar do ano anterior quando a ambição passava por ficar, no mínimo, um lugar acima, começando a ombrear com o Top-6. O final de 2018 e início de 2019 foi um período conturbado para MS, que chegou a ter o seu lugar em cheque, mas um 0-0 caseiro diante do rival Liverpool (os adeptos dos toffees dizem certamente a si mesmos que foi ali que o Liverpool perdeu o título) serviu de mote para uma recta final positiva - vitórias por 2-0, 1-0 e 4-0 respectivamente sobre Chelsea, Arsenal e Manchester United. E Marco Silva sobreviveu.
    Em 2019/ 20, a ambição repete-se. É muita a determinação em encurtar o gigante fosso para o rival e campeão europeu Liverpool, e para isso o clube da cidade dos Beatles voltou a gastar bom dinheiro para apresentar um plantel capaz de aproveitar um eventual deslize de Manchester United, Arsenal ou Chelsea, tendo ainda presente que na mesma situação estão - salvo alguma surpresa - emblemas como o Leicester, o Wolves e o West Ham.
    Gbamin foi uma boa contratação, mas não é Gueye (jogador que só agora no PSG deverá começar a ter o crédito que há muito merecia) e a dinâmica da equipa pode acusar essa mudança nos primeiros tempos. Com um 11 bastante forte e uma gama de 13-14 opções que serão a base de confiança do homem que hoje já não tem que se preocupar com fatos, o Everton tem em Pickford um dos melhores guarda-redes da Liga, Coleman e Digne são uma das melhores duplas de laterais da Premier (e Sidibé é alternativa a ambos), e no centro da defesa Keane e Mina devem formar a dupla, percebendo-se que falhou a aquisição em definitivo de Zouma. André Gomes reencontrou a felicidade em Goodison Park, os adeptos adoram-no e o clube tem agora 100% do seu passe, Sigurdsson prosseguirá como maestro e um dos goleadores da equipa, exigindo-se ainda mais de Richarlison.
    Wilfried Zaha tinha sido a cereja no topo do bolo, mas Iwobi foi o reforço possível, tendo o nigeriano neste Everton espaço para brilhar e sentir-se importante. Moise Kean (que crime a Juventus deixá-lo sair) vem para deslumbrar tudo e todos, sendo o goleador numa frente em que entre Kean, Richarlison, Bernard e Iwobi só deverá haver espaço para três.

Treinador: Marco Silva
Onze-Base (4-2-3-1): Pickford; Coleman, Keane, Mina, Digne; Gbamin, André Gomes; Richarlison, Sigurdsson, Iwobi (Bernard); Kean

Atenção a: Richarlison, Moise Kean, Gylfi Sigurdsson, Alex Iwobi, Lucas Digne

 LEICESTER CITY (8)

    Após o conto de fadas de 2016, uma das páginas mais bonitas e improváveis do futebol recente, o Leicester somou um 12.º lugar e nas últimas duas épocas o 9.º lugar foi o destino. Mas se há clube que tem feito tudo bem nos últimos meses, esse clube é o Leicester.
    Os foxes começaram a preparar esta época no final da anterior quando anunciaram o regresso à Premier League de Brendan Rodgers a 10 jornadas do final da prova. O técnico norte-irlandês parece-nos o homem certo no lugar certo, algo que Puel ou Shakespeare nunca pareceram no pós-Ranieri. Quando se analisa o provável onze-base do Leicester aquilo que salta à vista é o equilíbrio, não sendo fácil identificar lacunas e antecipando-se com expectativa a evolução de vários elementos, ainda jovens.
    Kasper Schmeichel é o porto de abrigo da equipa, e um guarda-redes que vale pontos, e o nosso Ricardo Pereira (Jogador do Ano do clube em 2018/ 19) poderá continuar a adornar o futebol de Rodgers com a sua versatilidade e dimensão física impressionante. Ainda assim, embora acreditemos que o lateral-direito português vá manter o seu nível alto, é do lado oposto que suspeitamos que vá acontecer a maior metamorfose, com Ben Chilwell a elevar o seu futebol para outro patamar. No coração do quarteto, ficou a faltar um substituto à altura para Maguire (falou-se em Tarkowski, Aké e Dunk, mas nenhum se concretizou) que poderá ser o turco Söyüncü.
   Um meio-campo com Ndidi, Tielemans e James Maddison tem... tudo. Os três com 22 anos, Ndidi é o polvo que recupera e desarma, Maddison o criativo (livres directos, meia distância, último passe, drible, arrogância, o rapaz tem tudo) e a aquisição em definitivo de Tielemans é crucial uma vez que o belga é o médio que liga toda a equipa.
    Não é certo que figurino Brendan Rodgers adoptará como base - um 4-2-3-1, um 4-3-3 ou um 4-4-2 losango parecem as hipóteses mais prováveis - surgindo à partida um lugar no onze que será disputado por Praet, Albrighton, Harvey Barnes, Gray, Iheanacho ou Choudhury. Parte na frente o reforço belga proveniente da Sampdoria. 
    Indiscutível é a titularidade de Jamie Vardy, o homem-golo e fonte de electricidade dos foxes, esta época complementado com Ayoze Pérez (se replicar a forma que apresentou no final da época passada vai ser um caso muito, muito sério) na sua órbita.

Treinador: Brendan Rodgers
Onze-Base (4-4-2): Schmeichel; R. Pereira, Evans, Söyüncü, Chilwell; Ndidi, Tielemans, Praet (Albrighton, Barnes), Maddison; Ayoze, Vardy

Atenção a: James Maddison, Ayoze, Jamie Vardy, Youri Tielemans, Ricardo Pereira

 WOLVES (9)

    O clube mais português da Premier League (um terço do plantel poderia cantar "A Portuguesa") é também, com a ajuda do amigo Jorge Mendes, um dos projectos que mais nos entusiasma acompanhar nos próximos anos. Campeões do Championship em 2017/ 18 com 99 pontos, os wolves não se fizeram rogados e no ano de regresso ao nível máximo do futebol inglês ficaram logo num impressionante 7.º lugar. Nuno Espírito Santo (técnico com a melhor Barba Por Fazer da competição) só não foi o Treinador do Ano porque houve 98-97 entre Guardiola e Klopp, mas o Wolverhampton não se livrou do rótulo de equipa-sensação e do respeito de toda a comunidade futebolística.
    Desta vez, o desafio é diferente. Os wolves já não têm o factor novidade e o plantel será sujeito a outro desgaste ao conciliar competições internas com a presença na Liga Europa. Mas se o Wolves quer efectivamente ser um dos grandes, tem que se habituar a este tipo de "problemas". Basicamente, fazer melhor que 7.º não se antevê fácil - e significaria que um dos crónicos candidatos ao Top-6 falhara redondamente - mas se há algo que 2018/ 19 nos mostrou é que estes lobos têm um gosto particular em jogar olhos nos olhos com o Top-6, e um talento especial para roubar pontos aos favoritos.
    Esperávamos que o defeso tivesse sido diferente, uma vez que o plantel nos parece curto, destacando-se as aquisições de Cutrone e Vallejo, mas não tanto do pacote de siameses Pedro Neto & Bruno Jordão (todos sabemos que é assim que funciona o carrossel do super-empresário, e Neto é um talento interessante, mas teríamos privilegiado jogadores com outro perfil). Dito isto, o mais seguro é prever que a equipa se disponha em 3-5-2 quando tiver Dendoncker em campo e 3-4-3 com Cutrone.
    Rui Patrício e João Moutinho continuarão ambos a ser determinantes em campo, Doherty procurará repetir a época de sonho, qual vaivém no corredor direito, e seria importante que Gibbs-White desse o salto. Estamos confiantes que Rúben Neves vai subir muito o seu rendimento, enchendo o relvado a cada jogo como fez no Championship no ano do título, e na frente a dupla composta por Diogo Jota (preparem-se para o que aí vem!) e Raúl Jiménez promete a mesma energia mas números superiores - em 18/ 19 o jovem português marcou 9 e o mexicano 13.

Treinador: Nuno Espírito Santo
Onze-Base (3-5-2): Rui Patrício; Coady, Bennett (Vallejo), Boly; Doherty, Dendoncker, João Moutinho, Rúben Neves, Jonny (Vinagre); Diogo Jota, Raúl Jiménez

Atenção a:  Diogo Jota, Raúl Jiménez, Rúben Neves, Matt Doherty, João Moutinho

 WEST HAM (10)

    Entre o leque de equipas que, com sorte, competência e os astros alinhados, se podem intrometer e baralhar o Top-6 está também o West Ham. Os hammers têm obrigação de acabar na metade superior da tabela, mas Pellegrini quer certamente mais - interessante que Everton, Leicester, Wolves e West Ham tenham por certo o 7.º lugar como objectivo realista, pretendendo todos sonhar alto com uma intromissão na elite.
    Em relação à última edição, o West Ham teve em Arnautovic (rumou ao Shanghai SIPG de Vítor Pereira) a principal saída de peso, sem esquecer a rescisão do gigante Andy Carroll, um "plano B" que deixou de fazer sentido uma vez que o novo plano A do clube londrino é Haller, jogador superior mas com algumas parecenças.
    Embora a dupla de centrais Balbuena-Diop tenha bastante margem para continuar a crescer, devendo o central francês atrair mais e mais pretendentes, a defesa parece um ou dois patamares abaixo da qualidade disponível uns metros à frente. E é essencialmente isso, embora Fabianski (guarda-redes subvalorizado e habitualmente bastante testado) possa atenuar esse défice, que nos faz colocar o West Ham abaixo de Wolves, Leicester e Everton.
    De resto, acumulam-se os motivos para os adeptos confiarem numa época sólida e com espectáculo. Felipe Anderson deve continuar a ser o principal craque de serviço, mas Lanzini e Yarmolenko acabam por ser "reforços" depois de quase não terem podido contribuir em 2018/ 19. A experiência de Noble continuará a importar, próximo do diamante Declan Rice, sendo o ex-Villarreal Pablo Fornals (excelente contratação por 28 milhões) um híbrido que dará outro tipo de soluções ao meio-campo de Pellegrini. Snodgrass, Antonio ou Wilshere (é desta?) são garantia de um bom banco, e todos terão o seu papel a cumprir na longa maratona, mas é no francês Sébastien Haller que recaem as maiores expectativas - um jogador-alvo que, embora com o seu 1,90m, ficou na sombra de Jovic no Eintracht Frankfurt, mas além de desgastar centrais e possibilitar boa associação com Felipe Anderson, Lanzini, Yarmolenko ou Fornals, vem de uma época em que marcou 15 golos e assistiu 9 na Bundesliga. Mas atenção, o suiço Ajeti pode facilmente tornar-se um dos melhores suplentes da Liga e "obrigar" a dada altura Pellegrini a integrá-lo no onze.

Treinador: Manuel Pellegrini
Onze-Base (4-3-3): Fabianski; Fredericks, Balbuena, Diop, Masuaku (Cresswell); Rice, Noble, Fornals; Lanzini (Yarmolenko, Ajeti), Felipe Anderson, Haller

Atenção a: Felipe Anderson, Manuel Lanzini, Sébastien Haller, Declan Rice, Pablo Fornals

 BOURNEMOUTH (11)

    Estatística interessante do dia: com 41 anos, Eddie Howe é o 2.º treinador mais jovem desta competição (vitória para Frank Lampard) e é simultaneamente o técnico há mais tempo no clube entre os 20 timoneiros.
         Embora continue a parecer difícil o Bournemouth intrometer-se no leque pós-candidatos que parece reservado a Everton, Leicester, Wolves e West Ham, os cherries avançam para o Ano 5 na Premier League e sabem o que têm a fazer - com 42, 46, 44 e 45 pontos nas últimas épocas, os comandados de Howe terminaram em 16.º, 9.º, 12.º e 14.º de 2016 para cá. Com o núcleo preservado e alguns reforços interessantes, acreditamos que a tendência seja o Bournemouth manter-se longe da luta pela manutenção, fechando 2019/ 20 a rondar o meio da tabela.
    Que Eddie Howe é especial já não restam grandes dúvidas, e especial será certamente também para os adeptos locais (e aquele Dean Court que acolhe pouco mais de 11.000?) continuarem a regozijar-se com as triangulações de Ryan Fraser, David Brooks e Callum Wilson, os 3 principais craques da época passada, que continuam todos por estas bandas.
    O projecto existe, está saudável, o clube tem crescido e assim deve continuar pelo menos enquanto Howe não der o salto para o Top-6, e a prospecção e voto de confiança em jogadores das divisões secundárias continua a ser o modus operandi - há um ano atrás David Brooks foi comprado ao Sheffield United e valeu cada cêntimo gasto, e em moldes idênticos chegou este Verão o promissor lateral-esquerdo Lloyd Kelly (Bristol City), sem esquecer o dinamarquês Philip Billing, que descera com o Huddersfield. O mercado trouxe ainda o extremo holandês Danjuma, um back-up para Fraser cujas características assentam na perfeição naquilo que Howe quer dos seus jogadores dos corredores - habitualmente um a rasgar jogo, com vertigem atacando a profundidade, forçando situações de 1 para 1, e o do lado oposto construindo por dentro. É nesse lado que, após lesão de David Brooks (3 meses inapto) o emprestado Harry Wilson terá que arrancar a todo o gás para aproveitar esta chance.
    A época tem tudo para ser positiva, o ataque deve dar gosto com Wilson e Fraser super-confiantes, Kelly pode ser uma revelação, Travers é aposta na baliza, Lewis Cook soará a "reforço" e David Brooks e Harry Wilson podem explodir por completo.

Treinador: Eddie Howe
Onze-Base (4-4-2): Travers; Smith, S. Cook, Aké, Kelly; Brooks (Harry Wilson), Lerma, Lewis Cook, Fraser; King, Callum Wilson

Atenção a: Ryan Fraser, Callum Wilson, David Brooks, Harry Wilson, Lloyd Kelly

 BRIGHTON (12)

    Entre as 20 equipas desta Premier League, o Brighton poderá ser a principal transformação ou extreme makeover da temporada. O facto desta PL arrancar apenas com 3 treinadores novos no seu posto (Lampard, Potter e Bruce) também é uma ajuda, mas de equipa amarrada e limitada com Chris Hughton, o Albion pode virar uma das turmas mais cativantes. Por um lado, custou ver Hughton a ser despedido após assegurar a manutenção e chegar às meias-finais da FA Cup, porém o clube tomou uma decisão difícil mas à partida acertada.
    Graham Potter é um desconhecido para o grande público, mas o jovem técnico de 44 anos tem no seu CV argumentos que colocam qualquer adepto do seu lado, tendo subido a pulso desde 2010. Até chegar à Premier League, Potter começou - qual jogador louco de Football Manager - a carreira no modesto Östersund. Ao serviço do clube sueco, Potter orquestrou 3 subidas de divisão do 4.º escalão até à Allsvenskan (Primeira Liga), vencendo ainda a Taça e chegando mesmo a brilhar na Liga Europa, vencendo inclusive o Arsenal na 1.ª mão de uma eliminatória. Apaixonado pela filosofia de jogo de Guardiola e um estudante dos métodos de Roberto Martínez, Potter deixaria a Suécia ao fim de 8 anos, começando o seu trajecto britânico com o Swansea. E bastou uma época no Championship para que o futebol flexível, multi-sistema e moderno de Potter convencesse um clube da Premier League a recrutá-lo.
    Nos seagulls, Graham Potter tem jogadores para jogar em 4-4-2, 4-2-3-1 ou 4-3-3 e o mais provável é assistirmos a vários sistemas no mesmo jogo. A defesa é sólida (o trio Matt Ryan, Duffy e Dunk tem bastante qualidade, e o novo central Webster permite uma melhor saída de bola) mas é sobretudo do meio-campo para a frente que se espera muito maior rendimento por parte de jogadores "adormecidos". O bom futebol que esperamos ver tornar-se prato do dia no Falmer Stadium pode fazer Solly March subir uns quantos degraus, transformando Jahanbakhsh e Locadia de flops para peças relevantes e decisivas num último terço onde continuará a estar, embora com menos minutos, o veterano Glenn Murray. Numa equipa que deve apresentar uma elevada % média de posse de bola (no Championship, o Swansea de Potter teve 56%, ficando apenas abaixo do Leeds de Bielsa), Groß, Pröpper ou Mooy terão o jogo sempre a passar pelos seus pés. Mas aqui entre nós, os principais reforços e candidatos a fan favourites ou MVP's deste plantel são mesmo o belga Leandro Trossard (Genk) e o francês Neal Maupay (Brentford).


Treinador: Graham Potter
Onze-Base (4-4-2): Ryan; Montoya (Webster), Duffy, Dunk, Bernardo; March (Jahanbakhsh), Groß, Pröpper (Stephens), Trossard; Locadia, Maupay 

Atenção a: Neal Maupay, Leandro Trossard, Pascal Groß, Solly March, Jürgen Locadia

 WATFORD (13)

   Se não fosse o Wolverhampton de Nuno Espírito Santo, o Watford teria sido a equipa-sensação da temporada passada. Além de finalistas vencidos na FA Cup, os hornets fecharam a época num surpreendente 11.º lugar, classificação que fugiu bastante mais às nossas previsões em comparação com a excelente campanha do Wolves, já expectável.
    As épocas incríveis de Man City e Liverpool, o facto do Tottenham ter chegado à final da Champions e a já elogiada prestação do Wolves no regresso ao primeiro escalão fizeram com que o meritório trabalho de Javi Gracia passasse algo despercebido, ou pelo menos não tão destacado quanto era justo. Para esta temporada, o Watford tentará repetir a dose; sendo o mais seguro apontar a equipa capitaneada por Troy Deeney a um lugar entre o 11.º e o 15.º.
    Parece-nos que o nível e a qualidade do futebol praticado irá aumentar esta época na segunda metade da tabela, esperando-se crescimento em campo de Bournemouth, Brighton e Southampton, vindo qualquer uma das 3 equipas promovidas acrescentar, ficando a ganhar o campeonato com três projectos mais consistentes do que aqueles que tinham Fulham, Cardiff e Huddersfield.
    No Watford, Ben Foster deve mostrar aos 36 anos que está aí para as curvas, tendo sido contratado Craig Dawson (capaz de actuar como central e lateral direito, e bastante forte nas bolas paradas ofensivas) para o sector defensivo. A continuidade de Capoue, Hughes e principalmente Doucouré equivale a dizer que o Watford manter-se-á dominante, combativo e enérgico no miolo, sendo Deeney, Andre Gray e Welbeck os pistoleiros de serviço na frente. A Roberto Pereyra, um dos jogadores diferenciados a nível técnico nesta equipa, pede-se apenas maior consistência, e na recta final de 2018/ 19 foram lançados os dados para que Deulofeu expluda por completo e jogue como nunca. Aos 25 anos, o talento forjado em La Masia parece ter-se encontrado, percebendo Javi Gracia (o seu 4-4-2 aproxima-se muito do 4-2-2-2 que Hasenhüttl implementou no Southampton) que a melhor forma de utilizar o espanhol é solto na frente junto ao ponta de lança. Sem esquecer o prodígio brasileiro João Pedro - que só chega em 2020 - importa destacar finalmente Ismaïla Sarr, contratação mais cara da História do clube e a personificação da humilhação que está a chegar para muitos laterais.

Treinador: Javi Gracia
Onze-Base (4-4-2): Foster; Kiko, Dawson, Cathcart, Holebas; Capoue, Doucouré, Sarr, Pereyra; Deulofeu, Deeney (Welbeck)

Atenção a: Gerard Deulofeu, Ismaïla Sarr, Abdoulaye Doucouré, Roberto Pereyra, Ben Foster

 ASTON VILLA (14)

    A Premier League foi fundada em 1992. Nestes 27 anos, apenas seis clubes estiveram sempre presentes - Arsenal, Manchester United, Liverpool, Everton, Chelsea e Tottenham. A cidade de Birmingham teve durante 24 anos consecutivos o orgulho de pertencer a esse grupo restrito, mas a horrorosa campanha do Aston Villa em 2015/ 16 (apenas 17 pontos, fruto de 3 vitórias, 8 empates e 27 derrotas) condenou o histórico inglês a uma realidade que há muito desconhecia: o Championship. Até agora.
    Os villans, membros fundadores da Football League em 1888, estão de volta à Premier League depois de terem garantido a última vaga num Play-Off diante do Derby County (não nos basta o Aston Villa, também ansiamos pelos regressos de Leeds United, Derby e Nottingham Forest) e há motivos para entusiasmo. Não deixa de ser curioso que, embora o Norwich tenha sido campeão e o Sheffield United tenha ficado em 2.º, é o Aston Villa (5.º classificado no Championship na época regular) a equipa recém-promovida que colocamos mais acima na nossa antevisão. Os mais pessimistas poderão identificar semelhanças entre este defeso gastador dos villans e o pecado cometido há um ano atrás pelo Fulham, com consequências negativas como sabemos.
    Num Verão de contenção para muitos emblemas ingleses, o investimento do Aston Villa aproximou-se dos 150 milhões. A diferença entre a política do clube a do Fulham (que até se ficou pelos 116 milhões) há 1 ano atrás está no perfil dos jogadores e na inteligência com que a direcção e Dean Smith (antes deste bom trabalho já se tinha destacado no Brentford) estão a construir um plantel equilibrado, com diferentes soluções e banco. Além disso, há que diferenciar aquilo que foi uma revolução forçada no Fulham e aquilo que era uma revolução expectável no Villa Park - 10 jogadores terminaram contrato e o plantel contava ainda com 5 emprestados.
    Wesley, Mings, Douglas Luiz, Targett, Konsa, Nakamba, Trezeguet, El Ghazi, Heaton, Engels, Hause e Jota, este último contratado ao grande rival Birmingham City, demonstram que os olheiros do clube estiveram particularmente atentos ao futebol belga, que houve a procura de assinar em definitivo com Mings, El Ghazi e Hause (e estamos convictos que, não fosse o embargo de transferências do Chelsea, Tammy Abraham seria reforço em vez de Wesley), promovendo 2 reencontros de jogadores com Smith e estando a maioria dos reforços (8 em 12) já identificados com a vida em Inglaterra.
    De uma forma geral, Dean Smith terá que escolher entre Heaton e Steer para guardião, podendo assistir a elevada disputa no lado direito da defesa entre Elmohamady e Guilbert, tendo Douglas Luiz e Nakamba como opções para a posição 6, podendo alternar El Ghazi e Trezeguet ou mesmo recorrer ao gigante Kodjia como alternativa a Wesley, um ponta de lança cujo casting parece acertado, e que pode, quando não marcar, beneficiar através dos apoios as performance dos extremos e dos médios interiores, todos eles - Grealish, McGinn e Hourihane - com boa chegada a área.
    Quando há muitas novidades é mais difícil criar harmonia, mas o ambiente no Villa Park, a competência de Dean Smith e a qualidade dos médios Jack Grealish (braçadeira de capitão e meias para baixo, um craque hoje muito mais maduro do que na última vez que esteve na Premier, pronto para carregar a equipa e para levar um murro de um adepto rival se for preciso) e John McGinn (o irlandês é a casa das máquinas deste Villa, poderá ser uma revelação para muita gente e não nos surpreenderá se até atingir na Premier melhores números do que aqueles que somou no Championship) deixam no ar uma temporada que promete. 

Treinador: Dean Smith
Onze-Base (4-3-3): Heaton (Steer); Elmohamady, Engels, Mings, Targett; Douglas Luiz, McGinn, Grealish; Jota, Trezeguet (El Ghazi), Wesley

Atenção a: Jack Grealish, John McGinn, Wesley, Douglas Luiz, Trezeguet

 SOUTHAMPTON (15)

    Nesta fase, os adeptos do Southampton podem optar por ver o copo meio vazio ou meio cheio. Por um lado, as duas últimas épocas (16.º e 17.º) mostram que os saints têm vivido com a corda no pescoço, adiando o seu afogamento no Championship sempre no limite; mas se é indiscutível que este Southampton não tem os mesmos argumentos daquele que entre 2014 e 2017 terminou sempre entre sexto e oitavo, importa destacar que o clube vai para para a 8.ª temporada consecutiva na Premier League - para efeitos de comparação, recordamos que entre 2005 e 2012 o St. Mary's apenas assistiu a futebol das divisões secundárias.
    Ok, já não há Van Dijk, Mané, Lallana, Shaw, Alderweireld, Wanyama, Lovren, Lambert ou Schneiderlin, mas o clube confia em Ralph Hasenhüttl (o homem que colocou o Leipzig no 2.º lugar em ano de estreia na Bundesliga) que, sem ombrear ainda com técnicos de sucesso no passado recente do clube como Pochettino ou Koeman, é superior a Pellegrino e Mark Hughes, e parece fazer um match bastante maior com o ADN dos saints do que Puel. E depois de algumas contratações falhadas (ainda há esperança para o flop Elyounoussi?) o recrutamento - uma das forças incontestáveis do clube numa fase em que se viu obrigado a substituir consecutivamente os craques que rumaram ao Liverpool - parece estar a entrar novamente nos eixos.
    Num 4-4-2 que na realidade até é mais um 4-2-2-2, o Southampton deve serenar em definitivo a discussão entre Angus Gunn, McCarthy e Forster pela baliza entregando-a ao primeiro, sendo determinante dar estabilidade e tempo à melhor dupla de centrais saída do quinteto Bednarek, Yoshida, Hoedt, Stephens e Vestergaard. Isto se os saints não jogarem com 3 centrais. À esquerda, Bertrand é sinónimo de consistência, podendo o lateral-direito francês de 20 anos, Yan Valery, viver uma época de plena afirmação.
    Determinantes serão as bolas paradas de Ward-Prowse, a dimensão física e táctica de Höjbjerg, Lemina ou Romeu e a velocidade nos corredores de Redmond (continuará 2019/ 20 como fechou a última campanha?) e do reforço atrevido e desconcertante Djenepo. Na frente, há Danny Ings, Shane Long e Che Adams para dois lugares, sem esquecer o miúdo Obafemi. O desafio do austríaco Hasenhüttl passa aliás por encontrar rapidamente o melhor 11 e as duplas (centrais, centro-campistas e avançados) com melhor química e casamento de características, contextualizadas na proposta de jogo colectiva, de pressão alta e postura proactiva, ficando para já a ideia que Che Adams (23 anos, marcou 22 golos pelo Birmingham e é daqueles avançados que, por marcar de todas as formas e feitios, pode revelar facilidade e impacto no salto para a Premier) e Ings podem fazer bastantes estragos juntos.

Treinador: Ralph Hasenhüttl
Onze-Base (4-4-2): Gunn; Valery, Bednarek, Vestergaard, Bertrand; Höjbjerg, Lemina (Ward-Prowse), Djenepo, Redmond; Adams, Ings

Atenção a: Che Adams, Nathan Redmond, Moussa Djenepo, Danny Ings, Yan Valery

 BURNLEY (16)

    A equipa mais inglesa da Premier League. Num campeonato heterogéneo e multicultural, com diferentes estratégias e identidades em busca do sucesso, o Burnley de Sean Dyche é o conjunto mais tradicional - fiel ao seu 4-4-2, não tem vergonha do seu jogo directo com que tenta alimentar Wood e Barnes, levando vários jogos para o embate físico e confiando na habitual assertividade defensiva, dada não só mas também através da excelente dupla James Tarkowski-Ben Mee.
    Não nos esquecemos que há duas épocas o Burnley terminou o campeonato num chocante 7.º lugar, mas a época passada (15.º como classificação final) representou o regresso à Terra, e tudo indica que os clarets continuarão envolvidos na luta pela manutenção, prevendo-se que possam escapar novamente à descida de forma tangencial. Afinal, estamos a falar de uma equipa que é autêntica anomalia ou erro no sistema da Premier League e que, depois de algumas pequenas experiências na última época, deve abraçar em definitivo a sua natureza de Stoke City 2.0.
    Dyche treina o clube desde 2012 (destes 20 técnicos, só Eddie Howe está no clube há mais tempo e apenas por uma questão de dias) e a estabilidade tem sido palavra de ordem no Turf Moor. É certo que o capitão Tom Heaton foi vendido ao Aston Villa e o balneário pode sentir a sua falta, mas a aposta em definitivo em Nick Pope já vinha sendo preparada, e Tarkowski (tinha lugar numa equipa do Top-10), Mee, Westwood (eleito Jogador do Ano do clube na época anterior), Lowton ou Cork costumam dar conta do recado, podendo Drinkwater ser um reforço de peso. Espera-se que Wood e Barnes voltem a passar a barreira dos 10 golos, sendo o regresso de Jay Rodriguez uma das boas notícias para os adeptos do Burnley. O ex-WBA é um jogador da casa, que volta assim a representar o clube que o lançou em 2007 e onde jogou até 2012. Do novo camisola 19 está ainda bem viva na nossa memória aquela incrível temporada de 13/ 14 ao serviço do Southampton, no final da qual uma grave lesão lhe roubou a hipótese de ir ao Mundial; e os 22 golos apontados no último Championship deixam no ar um cenário de renascimento.
    Parece razoavelmente seguro apostar que o comportamento organizado e a força do colectivo podem garantir ao clube da cidade de Sir Ian McKellen a continuidade no primeiro escalão, tal como é expectável que o Turf Moor seja palco de frustrações e perda de pontos para alguns dos candidatos ao Top-4. Para esta edição aguardamos com curiosidade o papel de Jay Rodriguez neste regresso a casa dos pais, desejamos que Robbie Brady (apenas cerca de 700 minutos em 18/ 19) possa acrescentar em campo toda a sua qualidade, e apostamos forte na explosão do esquerdino Dwight McNeil, um talento de 19 anos que revolucionou o processo ofensivo da equipa na segunda metade da época transacta.

Treinador: Sean Dyche
Onze-Base (4-4-2): Pope; Lowton, Tarkowski, Mee, Pieters; Gudmundsson (Brady), Westwood, Drinkwater (Cork), McNeil; Rodriguez (Barnes), Wood 

Atenção a: Dwight McNeil, Jay Rodriguez, Danny Drinkwater, James Tarkowski, Ashley Westwood

 CRYSTAL PALACE (17)

    A caminho da 7.ª época consecutiva na Premier League, o londrino Crystal Palace enfrenta nesta edição, que devia ser de consolidação após crescimento com Roy Hodgson traduzido em classificações positivas (12.º e 11.º) em 18/ 19 e 17/ 18, um momento de transição.
    Já aqui o dissemos no passado - julgávamos o ex-seleccionador inglês ultrapassado para o cargo, mas a velha raposa de 71 anos provou que estávamos enganados. Embora sempre com uma diferença de golos negativa em qualquer um dos seis anos anteriores, os eagles tornaram-se uma equipa respeitável, que ganhou tradição de realizar segundas voltas bem superiores ao arranque, e capaz de bater o pé aos grandes. A temporada passada foi disso mesmo exemplo: para terem uma ideia na 1.ª volta o Palace venceu apenas 5 jogos, e cinco foram também as vitórias no espaço das últimas 8 jornadas; depois, talvez estejam lembrados da chocante vitória por 3-2 em casa do Manchester City (aquele golaço de Townsend!), mas os comandados de Hodgson fizeram também suar o Liverpool em Anfield (4-3), fazendo 4 pontos nos jogos com o Arsenal e empatando 0-0 em Old Trafford.
    No entanto, embora estejamos perante uma equipa coesa, convém não ignorar que em 2018/ 19 os destaques individuais foram Wan-Bissaka, uma das revelações da prova, e Zaha, um dos principais craques ainda fora do Top-6. Ora, como sabemos Wan-Bissaka saiu para o Manchester United, e Zaha viu-lhe negada uma transferência para o Everton em cima do fecho do mercado.
    Suspeitamos que Milivojevic continuará a ser o "capitão consistência" e exímio cobrador de grandes penalidades com os seus nervos de aço, e os adeptos confiarão por certo em jogadores competentes como Van Aanholt ou Townsend, pedindo que Max Meyer dê sequência à boa pré-época e se afirme no futebol inglês. Mas inevitavelmente, todos os caminhos vão dar ao costa-marfinense Zaha - se amuar pode quase custar a época ou acabar vendido em Janeiro; se for profissional é menino para salvar quase per si o Crystal Palace.
    Seja como for, dada a concorrência, a falta de garantias de golos e a instabilidade dos desbloqueadores, apontamos o Crystal Palace à luta pela manutenção. Caso se salve, deve ser à rasquinha. 

Treinador: Roy Hodgson
Onze-Base (4-4-2): Guaita; Ward, Cahill (Tomkins), Sakho, Van Aanholt; Townsend, Milivojevic, McArthur, Meyer (Schlupp); Zaha, Benteke (Ayew)

Atenção a: Wilfried Zaha, Luka Milivojevic, Max Meyer, Gary Cahill, Vicente Guaita

 NEWCASTLE (18)

    Algumas casas de apostas colocam Solksjaer ou Roy Hodgson à sua frente, mas para nós Steve Bruce - o homem que em 1999 lançou três livros sobre o fictício Steve Barnes, um treinador que resolvia crimes e combatia o terrorismo - é o principal favorito a ser o primeiro treinador despedido nesta edição. Ou, pelo menos e para o bem dos magpies, oxalá que essa inevitável (?) decisão não chegue tarde demais. Depois de 3 épocas sob o comando de Rafa Benítez, que operou autênticos milagres praticamente sem reforços, o Newcastle segue na pole position com maior número de erros cometidos no defeso. A direcção não estimou minimamente Rafa, vendo-o rumar ao Dalian Yifang levando consigo Salomon Rondón, e como se não bastasse vendeu ainda Ayoze Pérez (a estrela cintilante da equipa no último terço da época passada) ao Leicester.
    Numa altura em que a Premier League é presente e futuro, sendo por isso recrutados técnicos com muito para dar como Graham Potter ou o regressado Brendan Rodgers, o Newcastle escolheu ficar no passado com Steve Bruce. Os adeptos querem adiar ao máximo uma eventual queda em ruína como a que o rival Sunderland viveu, mas achamos que o mais provável será o Newcastle ter mais do que 1 treinador esta época, tornando-se o desfecho da época mais imprevisível dependendo da valia do eventual futuro homem do leme e de algumas afinações que possam ser feitas em consequência.
    No entanto, há sempre a hipótese de tudo correr bem. Os magpies - as transferências levam a crer que Bruce irá desfazer o conservador 5-3-2 de Rafa Benítez - poderão continuar tímidos na hora de marcar golos mas quem tem Schär, Lascelles ou Lejeune tem a garantia de bons desempenhos defensivos. Hayden e Shelvey são jogadores "duros" que dificultam a vida a qualquer adversário, interessando principalmente assistir à evolução de Longstaff (21 anos), ele que em 18/ 19 só precisou de 8 jogos para se tornar um dos médios da moda em Inglaterra até contrair uma lesão grave. Na frente, os papéis outrora de Ayoze e Rondón terão que ser interpretados agora por Almirón e Joelinton (as suas características deixam antever impacto nesta Liga, e só tem 22 anos, mas pagar 44 milhões pareceu-nos um exagero), antecipando-se que o reforço Saint-Maximin (um dos jogadores mais fortes da actualidade no capítulo do drible) possa ser o "abre-latas" de serviço e Andy Carroll um suplente útil ou herói improvável, se ressuscitar no clube onde viveu a máxima felicidade e mostrou o melhor futebol da sua carreira.

Treinador: Steve Bruce
Onze-Base (4-3-3): Dubravka; Manquillo (Yedlin), Schär, Lascelles, Ritchie; Hayden, Shelvey, Longstaff; Almirón, Saint-Maximin, Joelinton (Carroll)

Atenção a: Allan Sant-Maximin, Miguel Almirón, Sean Longstaff, Joelinton, Fabian Schär

 SHEFFIELD UNITED (19)

    Entre as três equipas recém-promovidas, o Sheffield United é o emblema com menor presença e História na Premier League. No entanto, História é o que não falta ao United, ou não fosse o Bramall Lane o estádio mais antigo do mundo ainda activo. É preciso recuar 12 anos e à edição de 2006/ 07 para encontrar os blades na maior competição do futebol britânico, sendo particularmente entusiasmante o trajecto recente do clube, com elevadas doses de coragem e loucura por parte do técnico Chris Wilder.
    Em Maio de 2017 o Sheffield comemorava o título de campeão da League One, ascendendo ao Championship. Foram precisas apenas duas épocas para Wilder cimentar (10.º lugar) os seus jogadores numa disputadíssima Liga, conseguindo a promoção rumo à Premier logo na segunda época de Championship. Chris Wilder: 3 anos, duas promoções. Não é para todos. Temos muita curiosidade de testemunhar a adaptação desta defesa (melhor registo na temporada passada com 41 golos sofridos em 46 jogos, enquanto Norwich e Aston Villa por exemplo rondaram os 60) à Premier League dada a nuance, diferente e insana mas trabalhada e afinada com audácia, do Sheffield United apostar frequentemente na subida dos seus centrais do lado esquerdo (O'Connell) e direito (Basham) para zonas de cruzamento, conseguindo através destes overlapping centre-backs situações de superioridade numérica e o desnorte do adversário. Se esta característica se irá manter na Premier League, só ao fim de alguns jogos saberemos; mas é natural que Wilder se mantenha fiel ao seu 3-4-1-2, podendo após uma fase inicial adaptar o figurino - mais 3-5-2 - caso a sua ousada ideia não provoque os estragos expectáveis, acabando sim por expor os blades.
    Há traços neste Sheffield que nos fazem lembrar a ascensão do Bournemouth de Eddie Howe, nomeadamente a opção de privilegiar a preservação da estrutura base responsável por colocar o clube na Premier. É disso exemplo a renovação do empréstimo do promissor Dean Henderson (Manchester United), que pode tornar-se um dos destaques nas balizas desta edição. No final da época acreditamos que muitos serão os interessados em Jack O'Connell, sendo os nomes mais conhecidos deste elenco John Fleck (escocês que em tempos era uma máquina no Football Manager), Billy Sharp (espécie de Lenda das divisões inferiores em Inglaterra, onde ninguém marcou mais do que ele desde 2000, chega finalmente ao escalão máximo aos 33 anos ao serviço do clube pelo qual torcia em miúdo, tendo apontado nesta que é a sua 3.ª passagem pelos blades um total de 89 golos nas últimas 4 épocas) e Oliver Norwood, um daqueles médios que parece estar em todo o lado, jogador-chave neste conjunto, tendo a particularidade de finalmente estabilizar e fazer a transição para a PL depois de ter contribuído para 3 promoções consecutivas (2017 com o Brighton, 2018 pelo Fulham e 2019 neste emblema).
    Embora o plantel grite Championship por todos os poros, pode estar aqui uma surpresa. Entre os reforços, o bad boy Ravel Morrison, Lys Mousset e Callum Robinson são jókers, podendo acrescentar acutilância, sendo mais seguro confiar no rendimento do escocês de 1,88m Oli McBurnie - transferência mais cara da História do clube, que tem tudo para marcar alguns golos com o seu jeito pouco ortodoxo, depois de apontar 22 ao serviço do Swansea. Cabe a Wilder encontrar entre o homem-conto-de-fadas Sharp, McBurnie, McGoldrick, Mousset e Robinson a melhor dupla de avançados... tendo presente que em 2018/ 19 Sharp + McBurnie valeram 45 golos no Championship.

Treinador: Chris Wilder
Onze-Base (3-5-2): Henderson; Basham, Egan, O'Connell; Baldock, Norwood, Lundstram (Duffy, Freeman), Fleck, Stevens; Sharp (Mousset, Robinson), McBurnie (McGoldrick)

Atenção a: Oliver Norwood, Oli McBurnie, Jack O'Connell, Billy Sharp, Dean Henderson

 NORWICH CITY (20)

    Os campeões do último Championship. Em 2017/ 18 o Wolves sagrou-se campeão com 99 pontos e no seu regresso à Premier League terminou em sétimo. Os canaries foram campeões com 94 pts, mas não estamos de todo à espera que sejam capazes de idêntico e invulgar salto. O destino da turma do alemão Daniel Farke parece ser a luta pela manutenção e uma classificação final entre o 14.º e o 20.º lugares.
    Desta vez, com um futebol enérgico e envolvente capaz de encher o olho e vários jovens prontos para mostrar o seu valor, o Norwich procurará manter afastado um desempenho como o de 2015/ 16 (última vez que o clube amarelo e verde esteve na Premier) tentando sim replicar o sucesso de 2012 e 2013, altura em que Pilkington, Holt, Snodgrass e Hoolahan eram as principais figuras num elenco que contava ainda com um jovem desconhecido de 19 anos, emprestado, chamado Harry Kane.
    Aos 42 anos, Daniel Farke é um dos técnicos mais jovens desta edição, apenas superado por Eddie Howe, Frank Lampard e Marco Silva, e o tempo dirá se a juventude dos seus pupilos (o quarteto defensivo pode contar com um central de 21 anos e laterais com 21 e 19 anos) custará pontos pela inexperiência ou fará diferença pela positiva graças à rebeldia, irreverência e fome de deixar uma marca.
    Os canários têm um núcleo a falar germânico no balneário (Fahrmann, Zimmermann, Klose, Trybull, Leitner, Stiepermann e Hernández), mas as maiores expectativas recaem sobre outros activos. Aos 29 anos, e depois de renascer no Brondby, o finlandês Teemu Pukki sagrou-se melhor marcador do Championship (29 golos) tentando agora manter a inspiração e veia goleadora num contexto substancialmente mais exigente. O central Godfrey e os laterais Max Aarons (acreditamos que não demore muito a dar o salto para um grande) e Jamal Lewis têm muito para mostrar, Drmic e Patrick Roberts acrescentam soluções e aumentam a competitividade na luta por um lugar no 11, mas pessoalmente achamos que este Norwich brilhará tanto mais quanto maior for o impacto do talentoso Emiliano Buendía na Premier League. O craque argentino passou pelas escolas do Real Madrid, deu os primeiros passos como sénior no Getafe e com a sua visão de jogo e qualidade técnica acima da média pode vir a deslumbrar muita gente. 

Treinador: Daniel Farke
Onze-Base (4-2-3-1): Fahrmann; Aarons, Godfrey, Zimmermann, Lewis; Trybull, McLean (Vrancic); Stiepermann, Buendía, O. Hernández; Pukki

Atenção a: Emi Buendía, Teemu Pukki, Max Aarons, Ben Godfrey, Jamal Lewis



por Miguel Pontares e Tiago Moreira

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