15 de janeiro de 2019

As Melhores Séries de 2018

Celebrámos o novo (personagens, séries estreadas e episódios de 2018), mas esta é a categoria das categorias. Chega o momento de elevar a fasquia e colocar todas as séries em pé de igualdade. Abaixo, as melhores séries de 2018 para o Barba Por Fazer.
    Em relação às nossas vinte escolhas do ano passado, são apenas três as séries que repetem a sua presença. Este ano não tivemos Mr. RobotGame of ThronesStranger ThingsRick and MortyMaster of None ou Big Little Lies, o que também contribuiu para que no nosso Top-20 marquem presença 9 séries que tiveram este ano o seu primeiro episódio.
    Numa análise global, destaque para o facto de entregarmos um dos lugares do pódio a uma série que estreou este ano - em jeito de comparação, nas nossas melhores séries de 2017 o mais acima que uma nova série ficou foi o 9º lugar -, com a Netflix (7 das 20 séries) a ser a Casa mais representada, embora sem colocar nenhuma série no pódio. Mesmo sem Game of Thrones, a HBO ficou perto com 5 séries, dividindo-se o restante Top entre Amazon (2 séries) e com uma, FX, AMC, Hulu, Youtube Premium e a nossa RTP2. Sim, Portugal está aqui representado.
    Nunca acompanhámos até hoje The AmericansBig Mouth ou The Good Place, explicando-se através dessas falhas as ausências possivelmente injustas das três. Por fim, referir apenas que com jeitinho e se escolhêssemos mais do que 20 séries, Bodyguard ou The Deuce figurariam na lista abaixo apresentada.

1. Atlanta (FX)criado por Donald Glover

    Absurda e excêntrica, perspicaz e pertinente, descomplexada, subversiva e a transbordar de criatividade, Atlanta é o símbolo máximo das comédias que se atrevem a sentir tudo.
    Durante a sua Robbin' Season, a série de Donald Glover brilhou pela sinceridade e química dos seus intérpretes, pelo respeito pelas noções de comunidade a bairro e pela imaginação e liberdade com que nos oferece autênticos contos do século XXI.
    Atlanta é o Seinfeld dos tempos modernos, uma série simultaneamente sobre tudo e sobre nada. Tem a coragem de sair constantemente fora da caixa (nasceu assim o melhor episódio de 2018, um capítulo de terror numa comédia), ousando experimentar, colocando sempre algo novo e diferente no ecrã, sem limites impostos. É normal que Donald Glover, Bryan Tyree Henry, Lakeith Stanfield, Zazie Beetz e Hiro Murai sejam cada vez mais requisitados...

2. Better Call Saul (AMC)criado por Vince Gilligan e Peter Gould

    Pelo segundo ano consecutivo, Better Call Saul fica em segundo lugar nas melhores séries do ano para o Barba Por Fazer. A quarta temporada da série mais refinada e madura da actualidade apresentou pouca progressão narrativa mas intensa construção de personagem, representando tanto para Jimmy como para Mike um ponto sem retorno.
    Estamos seguros que nenhuma série contemporânea comunicaria tão eficazmente a sua mensagem se retirássemos a todas o som, e assim como a 3ª temporada devia ter sido sinónimo de todos os prémios possíveis para Michael McKean como Chuck, o mesmo se podia dizer desta em relação a Rhea Seehorn como Kim.
    Ao quarto capítulo, Jimmy tornou-se oficialmente Saul Goodman, Lalo Salamanca (um fulcral acrescento de imprevisibilidade) foi introduzido, e os três episódios finais ("Coushatta", "Wiedersehen" e "Winner") foram tudo o que os fãs podiam desejar. Pertenceu a Better Call Saul, com ligeira vantagem sobre Daredevil, a melhor season finale do ano.

3. My Brilliant Friend (HBO, RAI)criado por Saverio Costanzo

    Uma das últimas novidades do ano (estreou em meados de Novembro), a coprodução da HBO e da italiana RAI revelou-se um verdadeiro diamante e uma das séries com maior potencial para conquistar e apaixonar o grande público ao longo dos próximos anos e capítulos.
    Saverio Costanzo coordenou a adaptação do 1º dos quatro volumes dos contos napolitanos de Elena Ferrante, descobrindo as desconhecidas Gaia Girace e Margherita Mazzucco (sem esquecer as igualmente talentosas e genuínas actrizes que as interpretam em tenra idade) e assim criou uma bela e simples fotografia do que é ser criança, crescer e ser mulher.
    O drama, universal, bate em diversos pontos - a noção de bairro e vizinhança, as brincadeiras de crianças para as quais só existe o hoje e o agora, os problemas da adolescência, as invejas, os horizontes afunilados ou futuros destinados por via da condição social -, tudo com a amizade e metamorfose de Lenù e Lila a ditar o batimento cardíaco.
    Impossível não elogiar a banda sonora do inigualável Max Richter, tendo My Brilliant Friend ou L'amica Geniale incluído fogos-de-artifício e sapatos que significam muito mais do que são, atingido a perfeição narrativa numa ilha e afirmando-se como o derradeiro poema televisivo de 2018.

4. BoJack Horseman (Netflix), criado por Raphael Bob-Waksberg


    Uma comédia de animação sobre um cavalo antropomórfico é a série emocionalmente mais devastadora da actualidade. Quem diria?! A série que já vai mais avançada (5ª temporada) entre todas as presentes neste Top de 2018 junta-se a Mr. RobotBetter Call SaulGame of ThronesAtlanta e Black Mirror como o lote restrito de séries que temos mesmo que ver mal têm cada episódio ou temporada disponível.
    Com um anti-herói reincidente na sua autodestruição e em magoar todos à sua volta, BoJack corria o risco de se tornar cansativo ou cair numa certa reciclagem. No entanto, aquela que talvez seja a melhor série original Netflix (opinião controversa, temos noção) insiste em superar as expectativas, tendo-nos presenteado este ano por exemplo com "Free Churro" e "The Showstopper", dois dos mais fortes episódios do ano. Não sabemos bem para onde vai BoJack, mas sabemos que vamos com ele.


5. Sara (RTP2), criado por Bruno Nogueira, Marco Martins e Ricardo Adolfo

    Desde que a RTP iniciou a aposta em séries nacionais, tem havido algum material digno de destaque. Os BoysFilha da Lei (que apresentou Alba Baptista como uma das mais promissoras actrizes da nova geração) ou a websérie Subsolo representaram passos no caminho certo. E agora podemos dizer: esse caminho vai dar a Sara, o novo patamar de referência para os autores nacionais.
    A ideia de Bruno Nogueira (O Último a SairOdisseiaFugiram de Casa de Seus Pais e agora Sara confirmam-no como um mestre da meta-comunicação), desenvolvida em conjunto com Ricardo Adolfo e Marco Martins, este último a realizar os 8 episódios, é uma mais do que pertinente sátira e reflexão sobre o meio audiovisual português, brilhando através dos contrastes e dos apontamentos de quem sabe que cada plano comunica. De quem privilegia qualidade a quantidade e se atreve a pensar e a criar com bom gosto.
    No centro de tudo e melhor do que nunca, Beatriz Batarda, a navegar de acordo com tudo o que a série - sempre consciente para onde vai e onde quer tocar - lhe pede. Sara é uma série encerrada num último plano perfeito, são personagens que são realmente personagens, é um bebé que teima em escapar dos braços ao som do silêncio, é um episódio de novela dentro de um episódio de uma série, é B Fachada através de Tónan Quito. Não é serviço público, é património cultural.

6. Daredevil (Netflix)criado por Drew Goddard

    Deixa saudades. 2018 representou o fim de Daredevil, sendo Matt Murdock filho, vítima e dano colateral do divórcio entre Marvel e Netflix, em breve concorrentes.
    Num adeus dito por quem não sabia que tinha que nos acenar, a 3ª temporada foi um inteligente regresso às raízes da temporada de estreia, com todos os pontos fortes levados ao limite. Carregado pelos portentosos desempenhos de Charlie Cox e Vincent D’Onofrio (uma autêntica lição de como construir um poderoso e eficaz antagonista), Daredevil acompanhou Matt Murdock a reencontrar a sua fé e o seu foco, numa jornada à distância enquanto Wilson Fisk trocou o uniforme laranja da prisão pelo seu intocável e distinto fato branco, subjugando tudo e todos a impotentes peões do seu xadrez corrupto.
    Guardamos o épico plano-sequência de 11 minutos de “Blindsided” e um I Beat you que ecoará imortal junto a uma tela imaculada salpicada em sangue, tornando-se uma das linhas de diálogo mais marcantes do ano. Agora, está nas mãos da Disney abrir os olhos e não ficar cega perante tamanha qualidade e potencial para mais. Que seja um ponto e vírgula, e não um ponto final.

7. Maniac (Netflix), criado por Patrick Sommerville

    Vários anos depois de partilharem o ecrã em Superbad (2007), Emma Stone e Jonah Hill reencontraram-se. Com dez episódios realizados por Cary Joji Fukunaga, Maniac foi palco e parque de diversões para os dois protagonistas vincarem a sua amplitude, apresentando-se como um puzzle rico, surreal e melancólico e uma trip flutuante capaz de abordar temas pesados de forma leve.
    Aquela que foi para nós a melhor novidade do ano na Netflix, adaptação de uma ideia originalmente norueguesa que deu ares de Eternal Sunshine of the Spotless MindInception e Legion, colocou dois estranhos como voluntários numa experiência farmacológica que se propunha a eliminar qualquer trauma, dor ou sofrimento, curando a mente.
    Com tanto de profundo como de bizarro, Maniac afirmou-se como uma aventura corajosa a nível de tom e estrutura, e atingiu os seus picos de catarse emocional com a câmara apaixonada pelos grandes e hipnotizantes olhos de Emma Stone como Annie Landsberg.
    Como Dom Quixote, atribuiu às suas personagens a incapacidade de distinguir a realidade e a ficção. Mas como o autor Lloyd Alexander uma vez disse: a fantasia não é um escape da realidade, mas sim um meio de a compreender. Assim foi Maniac.

8. Homecoming (Amazon), criado por Micah Bloomberg e Eli Horowitz

    Se por acaso alguém desconfiava do futuro de Sam Esmail pós-Mr. RobotHomecoming foi a prova dos nove da genialidade do realizador-autor-produtor. A melhor série dramática da Amazon até à data nasceu a partir de um podcast de Micah Bloomberg e Eli Horowitz, tendo a dupla escrito todos os episódios também para o formato televisivo, confiando na visão de Sam Esmail.
    Imbatível a nível de Fotografia, este drama e thriller psicológico passado em dois períodos com resoluções diferentes (1:1 e 16:9) significou em muita coisa um regresso à cinematografia de outras épocas (anos 70 essencialmente, recuando ainda mais ao evidenciar traços e influências de Hitchcock e De Palma). Intrigante, inovadora e alicerçada na sintonia entre Julia Roberts (brilhante casting) e Stephan James, foi a série de longos planos que nos fez duvidar do ananás que temos à mesa, teorizar sobre o posicionamento de um garfo ou deslumbrar perante a desorganização da meticulosa Heidi, abraçada e apoiada sobre os seus pertences no escritório.

9. Barry (HBO), criado por Bill Hader e Alec Berg

    O binómio Bill Hader/ HBO fez-nos estar atentos à existência de Barry, mas não esperávamos tanto do filhote da parceria entre o lendário membro do SNL e Alec Berg. À conversa com o colega de profissão Jason Bateman, Hader revelou numa entrevista informal que até de Alec Berg encontrou relutância quando lhe vendeu a ideia ou premissa de Barry. Mas tudo mudou quando lhe explicou que pretendia ser ele próprio a interpretar o protagonista, um assassino profissional solitário e deprimido. Berg, o co-autor, pagava para ver o sempre cómico Hader num papel no mínimo improvável.
    Como resultado, Barry acertou na muche em tudo aquilo que se propôs. Magnífica realização entregue aos dois criadores e a Hiro Murai; comédia pura por parte de Henry Winkler, Anthony Carrigan, Glenn Fleshler e Stephen Root; Sarah Goldberg a "agarrar" a sua 1.ª grande oportunidade como actriz; e finalmente, Bill Hader, fechado e intenso, na melhor interpretação da sua carreira.

10. The Handmaid's Tale (Hulu), criado por Bruce Miller

    Ao longo da primeira metade de The Handmaid's Tale chegámos a suspeitar que a série que colocou o Hulu no mapa poderia estar a manifestar as dores de crescimento que Westworld e sobretudo Legion revelaram no sempre desafiante sophomore year.
    Mas no geral, esteve longe de ser o caso, com a temporada a explodir a meio nas mãos da segunda Ofglen. Ainda com arestas para limar, e sempre exigente para o público do ponto de vista emocional, tal o peso dramático colocado em vários momentos (não é bom guardar The Handmaid's Tale para bingewatch, recomendando-se alguma respiração entre episódios), a série continuou a brilhar através dos brutais desempenhos de Elisabeth Moss e Yvonne Strahovski. É um emblema do feminismo, mas esse carácter não a torna imúne a reparos nem nos retira as dúvidas sobre a capacidade de se superar ou igualar no futuro.

11. Narcos: Mexico (Netflix)criado por Carlo Bernard, Doug Miro e Chris Brancato

    Diferente país, o mesmo perfume. Mostrada a ascensão e queda de Pablo Escobar e o consequente desmantelamento do cartel de Cali, tudo em solo colombiano, Narcos mudou-se para o México e replicou a fórmula com sucesso.
    Desta vez, pudemos acompanhar em simultâneo os caminhos do narcotraficante Miguel Ángel Félix Gallardo (Diego Luna) e do agente Kiki Camarena (Michael Peña), duas performances estupendas que garantiram que a audiência estivesse interessada nos dois lados da lei. Narrada por Scoot McNairy (um dos protagonistas da próxima temporada), guardou o melhor para, sendo porém impossível esquecer aquele desvio a meio caminho, onde Félix Gallardo privou com algumas das personagens de temporadas anteriores. E que saudades tínhamos de Wagner Moura, mesmo tendo passado 50% do tempo a falar de hipopótamos...
    Quando Narcos atinge os seus melhores momentos, faz lembrar The Godfather, Puzo e Coppola. Difícil fazer elogio maior.


12. Killing Eve (BBC America)criado por Phoebe Waller-Bridge

    Uma tempestade perfeita. Depois de oferecer ao mundo uma das comédias mais subvalorizadas da última década (Fleabag), Phoebe Waller-Bridge decidiu lançar-se à série de livros de Luke Jennings, adaptando "Codename Villanelle". Em boa hora o fez.
    Aquela que rapidamente se tornou uma das séries obrigatórias de 2018, viveu da obsessão da funcionária do MI5 Eve (Sandra Oh) e da psicopata Villanelle (Jodie Comer, a construir uma das personagens do ano) uma pela outra, num jogo do gato e do rato constante que conheceu momentos brutais numa claustrofóbica discoteca e numa cama lado a lado, tudo isto sem esquecer aquele que foi provavelmente o melhor episódio-piloto do ano.

13. Cobra Kai (Youtube Premium), criador por Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald

    Se recuarmos até 2009 encontramos um episódio de How I Met Your Mother em que Barney Stinson apresentou a sua visão de Karate Kid. A teoria da carismática personagem de Neil Patrick Harris era que Johnny Lawrence (William Zabka) era o verdadeiro herói e protagonista no filme de 1984. Graças a isso, Zabka entrou em vários episódios de HIMYM como convidado, chegando mesmo a contracenar com Ralph Maccio aka Daniel LaRusso na oitava temporada da sitcom.
    34 anos depois de conhecermos o Mr. Miyagi, o Youtube Premium deu-nos um produto pleno de saudosismo. Cobra Kai tornou-se uma espécie de série de culto sem nunca se levar demasiado a sério, com episódios que se vêem a correr e a convidar/ obrigar quase tanto ao binge-watch quanto The Haunting of Hill House.
    Simultaneamente preocupada com o passado e com o futuro, a série primou pela escrita inteligente e equilibrada, e essencialmente por acordar em todos aqueles que tinham visto o filme em crianças, a capacidade de ver Johnny Lawrence como Barney.

14. Sharp Objects (HBO), criado por Marti Noxon

    Sortudos nós, espectadores, que tivemos em 2 anos consecutivos duas séries da HBO integralmente realizadas por Jean-Marc Vallée. Depois de Big Little LiesSharp Objects, com igual requinte televisivo. A adaptação do primeiro livro publicado por Gillian Flynn correspondeu às expectativas, sem ser incrível. Irrepreensível sem ser marcante. Capaz de provocar sensações idênticas à primeira temporada de True DetectiveObjects foi cativante mas sem se tornar viciante, compensando através dos episódios finais ("Falling" e "Milk") quem até aí não desistira.
    De facto, temos dúvidas se teríamos permanecido investidos na série se não fosse o "factor Amy Adams". A actriz, uma das melhores da actualidade, entregou-se de corpo e alma ao projecto, sempre bem apoiada pela veterana Patricia Clarkson e por Eliza Scanlen como Amma, uma das revelações televisivas do ano.
    E convenhamos, poucas séries este ano terão conseguido gerar o mesmo falatório ou impacto pós-episódio depois da cena de confirmação pós-créditos do último episódio. 

15. GLOW (Netflix), criado por Liz Flahive e Carly Mensch

    Às vezes parece difícil explicar porque é que GLOW é tão bom. A série inspirada num programa de wrestling feminino dos anos 80 parece reflectir a diversão que o elenco e toda a equipa devem ter ao fazê-lo. Todos os elementos batem certo: Liz Flahive e Carly Mensch sabem desenvolver as personagens que criaram, assistindo nós permanentemente à construção das personas de cada uma; a escrita e a capacidade de transmitir aquele conjunto de mulheres como uma família fazem com que a série seja porventura aquela que na actualidade mais tempo passamos a olhar para o ecrã com um sorriso estampado no rosto, nunca se esquecendo GLOW de derreter ou apertar a sua audiência (nesta temporada, com a inclusão guardada para o fim com as colegas a surpreender Ruth, e naquele final de "Work the Leg").
    Impossível não deixar uma palavra para um dos melhores episódios do ano: o episódio dentro do episódio, "The Good Twin".


16. The Marvelous Mrs. Maisel (Amazon)criado por Amy Sherman-Palladino

    Com o seu humor requintado, clássico e intemporal, sempre à velocidade de um filme de Woody Allen ou Martin Scorsese, The Marvelous Mrs. Maisel manteve o patamar qualitativo na segunda temporada. Ao seguirmoss os passos seguintes de Maisel no mundo do stand-up, sempre acompanhada por um design de produção e um guarda-roupa distintos e elegantes, a série voltou a deixar-nos a pedir mais. Não em termos de qualidade, mas sim porque os 10 episódios se vêem num ápice e deixam sede. Além de apresentar novos ambientes (aquele retiro veranil), a série de Amy Sherman-Palladino deixou-nos deliciados em "Vote for Kennedy, Vote for Kennedy" e naquele solitário número do último "All Alone", apertando o estômago como nunca quando Midge, em palco de vestido preto, colar de pérolas, tez branca como sempre e microfone na mão, viu o segredo cair ao descobrir o pai, numa descontraída camisa havaiana, entre o público em "Midnight at the Concord".

17. American Vandal (Netflix), criado por Tony Yacenda e Dan Perrault

    A Netflix cometeu dois crimes em 2018: cancelar Daredevil e cancelar American Vandal. Após uma temporada de estreia em que o mistério central consistia em perceber quem tinha desenhado 27 pénis no parque de estacionamento de uma escola, a paródia documental, tão eficaz a brincar com o formato como em nutrir correctamente o interesse genuíno do espectador na investigação, dedicou-se desta feita a uma escola onde a limonada da cantina fora contaminada com laxantes, provocando um... borranço generalizado, digamos assim.
    Partindo uma vez mais de uma premissa idiota, American Vandal conseguiu uma vez mais passar a sua mensagem sobre o uso geracional das redes sociais e os arquétipos nos tempos de liceu. Tão bom acompanhar o fruit ninja Kevin McClain como mergulhar no lado pessoal do super-atleta DeMarcus Tillman. 

18. The Haunting of Hill House (Netflix), criado por Mike Flanagan


    Simplesmente um dos melhores projectos de terror que se fez em televisão nos últimos anos. Estreada no mês do Halloween, não foi à toa que The Haunting of Hill House se estabeleceu rapidamente como uma das séries mais populares do ano.
    Mike Flanagan (se calhar vamos ter que ver Doctor Sleep) deu uma aula de como se faz bom terror, vasculhando o passado e mostrando o trauma como o maior dos fantasmas. Recorrer frequentemente a poucos cortes nas cenas, plantar assombrações pouco declaradas e trabalhar eficazmente as personagens da família Crain foram alguns dos segredos de uma série que chamou pelo medo, agarrou pelo suspense e atou toda a narrativa por via do drama familiar de uma forma, eventualmente, demasiado positiva.

19. Succession (HBO)criado por Jesse Armstrong

    Parece estranho mas a série da actualidade mais parecida com Succession é... Game of Thrones. A dramédia da HBO revelou-se uma agradável surpresa ao apresentar os jogos de poder corporativo no seio de uma família disfuncional, com os 4 filhos a detectarem uma oportunidade de assalto ao trono perante a frágil saúde do patriarca, o enigmático Logan Roy (Brian Cox).
    Produzida por Adam McKay (The Big ShortVice) e Will Ferrell, e escrita por Jesse Armstrong (responsável por ex. pelo inesquecível guião do episódio de Black Mirror, "The Entire History of You"), teve em Brian Cox e Jeremy Strong interpretações de topo, oscilando entre momentos tensos e o melhor que se fez em 2018 a nível de humor negro. Mérito particular, nesse capítulo, para o primo Greg e a sua estranha sintonia com Tom Wamsgans.


20. Westworld (HBO), criado por Jonathan Nolan e Lisa Joy

    Tendo estreado em 2016, Westworld regressou no último ano depois de em 2017 os anfitriões terem ficado em stand-by. E se na temporada de estreia o labirinto foi o conceito-chave, desta vez a porta passou a ser o farol da encruzilhada.
    Contando uma vez mais com a genial banda sonora de Ramin Djawadi, voltou a usar e abusar de enigmas, motivando semanalmente múltiplas teorias entre episódios. Com analepses e prolepses e um mar de corpos como soberano ponto de interrogação, Jonathan Nolan e Lisa Joy continuaram a não dosear a exposição (sempre melhor a forma do que o conteúdo), surgindo a melhor faceta da série na sua capacidade filosófica de questionar a ideia de consciência e o que significa ser humano.
    Além de alargar o parque de diversões a outros mundos, a segunda temporada vincou a série como uma das megaproduções mais ambiciosas da actualidade, mantendo o ADN estilístico da 1ª temporada sobretudo em episódios como “The Riddle of the Sphinx”, “Vanishing Point” e “The Passenger”. Mas, aqui entre nós, falar do melhor que Westworld nos deu este ano terá que ser falar de “Kiksuya”, o emocionante e deslocado retrato de Akecheta e da nação-fantasma.

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