Holanda 2 - 1 México (Sneijder 88', Huntelaar (pen.) 90'+4; Gio dos Santos 48')
Com um final dramático e inesperado, a Holanda assegurou lugar nos quartos-de-final do Mundial 2014 depois de um jogo bastante rico, com muita influência a partir do banco, num embate entre 2 equipas que não mereciam, nenhuma delas, ficar já pelo caminho. O México foi mais coeso na generalidade do jogo, mas Van Gaal soube corrigir o que não criou direito para este jogo. Acabou no final por sobreviver a equipa europeia, numa partida que infelizmente acabou decidida numa grande penalidade.
Miguel Herrera colocou hoje os seus 11 guerreiros de
sempre. Este México sempre foi neste Mundial uma equipa com uma identidade
vincada e, provavelmente, para além da Costa Rica e do Chile, integra o lote de
3 selecções contra as quais era mais difícil preparar um jogo. Van Gaal
surpreendeu na abordagem. Das 2 uma: ou se esperava a manutenção do 3-4-1-2
(que tornaria o jogo bastante fechado), com Veltman - por ser o melhor central
a sair com bola - a ser a melhor opção para deixar Martins Indi no recobro e
voltando a apostar na projecção ofensiva de Janmaat e Blind, explorando
sobretudo por Janmaat o espaço que Layún deixava nas costas; ou então podia-se
esperar um 4-3-3, que seria mais arriscado frente a esta equipa mexicana, com
Depay incluído nas contas. No entanto, Van Gaal manteve estruturalmente o seu
esquema táctico de eleição, embora com Kuyt e Verhaegh nas alas e Blind a
funcionar como 3.º central.
Foi no calor de Fortaleza que o jogo arrancou, com o português Pedro Proença a arbitrar, e as equipas muito semelhantes em campo. O México sabia que a Holanda criaria mais perigo tendo espaço para Robben correr e por isso nunca adiantou muito os seus 3 centrais, enquanto que a Holanda inicialmente assumiu a bola, enfrentando um México mais incisivo com Herrera novamente em bom plano. Nigel De Jong saiu cedo com problemas físicos (Van Gaal optou por colocar Martins Indi e adiantar Blind para o meio-campo, posição que desempenha ocasionalmente no Ajax), e sem ter muita bola continuou melhor o México. O 1.º sinal de perigo foi deixado por Herrera, num lance em que o médio do Porto fez a bola passar muito perto do poste, e Cillessen estaria batido. A organização mexicana permitia alguma supremacia e Gio dos Santos proporcionou uma boa intervenção a Cillessen, após uma jogada bem trabalhada por Peralta e Guardado. A 1.ª parte acabava com ascendente mexicano, tendo a Holanda criado apenas algum perigo num remate disparatado de Van Persie depois de uma excelente recepção. Proença acabou por estar também em evidência com 2 possíveis grandes penalidades: Herrera foi tocado na cabeça pelo pé de Vlaar num lance em que o central tirou a bola (passível de ser marcado ou não) e a terminar os primeiros 45 houve um penalty bem mais claro sobre Robben (sofreu 2 faltas em 1 segundo), num lance do qual acabou por ser o central Moreno a sair lesionado.
Podia-se esperar que a 2.ª parte se mantivesse com o 0-0 durante algum tempo, mas Gio dos Santos tratou de negar essa acepção logo aos 48'. O irrequieto e talentoso jogador mexicano, aguentou a pressão de Blind, e encheu o pé esquerdo para um bom golo, deixando em êxtase os adeptos mexicanos! Foi um remate espontâneo, mas ficou a ideia que Cillessen poderia ter feito mais (não nos parece que Krul tivesse sofrido aquele golo...). Depois do golo, o cronómetro começou a passar e a jogar a favor do México, e depois de Cillessen negar o golo a Oribe Peralta, Van Gaal começou a mudar o jogo. O futuro treinador do Manchester United arriscou bem ao trocar Verhaegh por Depay, obrigando a equipa a adaptar-se (Kuyt fez 3 posições neste jogo) mas quase com benefícios imediatos - Robben marcou um canto e De Vrij proporcionou mais uma daquelas defesas a que Ochoa nos tem habituado. Por instinto, valendo o bom posicionamento. O México começou a recuar no terreno - M. Herrera trocou Gio dos Santos por Aquino, e mais tarde Peralta por Chicharito deixando-o bastante isolado na frente - e a Holanda foi aproveitando, com Robben a assumir a equipa, e Ochoa a brilhar uma vez mais ao impedir o golo do homem de cristal com uma gigante "mancha". O jogo atingiu então uma fase em que ficou a ideia de que só com o Wesley Sneijder de 2010 é que a Holanda venceria, mas o nº 10 holandês desmistificou esse pensamento, já depois de Van Gaal ter lançado a sua "cartada" final trocando Van Persie por Huntelaar.
O matador do Schalke avisou logo Ochoa, com o guardião mexicano a brilhar mais uma vez mesmo com a equipa de arbitragem de Proença a assinalar (bem) o fora-de-jogo, mas o empate chegaria logo depois. Robben cobrou o canto, Huntelaar deu para trás de cabeça e apareceu Sneijder a rematar um míssil indefensável direitinho para o fundo das redes. Nesta, Ochoa nada podia fazer e uma selecção neste nível não pode permitir o espaço que Sneijder teve, sem oposição. A Holanda festejou efusivamente e acreditou. E tanto acreditou que conseguiu. No tempo de compensação Rafa Márquez falhou o tempo de entrada e fez penalty sobre Robben. O extremo do Bayern arriscou-se a que não lhe fosse marcada a grande penalidade com a forma como caiu, a típica queda de quem está a simular. Huntelaar, que já tinha assistido Sneijder no empate, assumiu a grande penalidade e num momento parecido com o que Samaras teve nos pés há dias, colocou a Holanda na fase seguinte.
Aos 85' nada fazia prever que a Holanda conseguiria a reviravolta, embora o México tenha tido menos coragem que os holandeses na recta final. A equipa de Miguel Herrera teve razões de queixa da arbitragem neste Mundial, no jogo com os Camarões, mas hoje não se pode queixar. Mesmo que se aceitasse o penalty sobre Herrera, haveria 2 sobre Robben (1 assinalado, outro não). Van Gaal acabou por se superiorizar na leitura que fez do jogo, arriscando e colhendo frutos, embora a sua abordagem inicial tenha surpreendido pela negativa. Ochoa e Herrera não mereciam sair deste Mundial, Rafa Márquez não merecia estar directamente relacionado com o "adeus" mexicano e a ausência de Vázquez notou-se como já era expectável. Na Holanda, Sneijder apareceu na Hora H e Huntelaar acabou por ser o homem do jogo, numa total metáfora para a importância que Louis Van Gaal teve neste jogo.
A Holanda segue para os quartos e ficará agora à espera do vencedor do Costa Rica-Grécia.
Barba Por Fazer do Jogo: Klaas-Jan Huntelaar (Holanda)