Brasil 1 - 1 (3-2 g.p) Chile (David Luiz 18'; Alexis 32')
Começaram os oitavos-de-final! A fase do "mata-mata" começou da melhor maneira possível com um jogo emocionante, decidido apenas nas grandes penalidades. O Chile foi incrível mas o Brasil, um dos favoritos à conquista do título, levou os seus adeptos ao limite dos nervos e provocou lágrimas de felicidade no final.
Felipão
privilegiou a sua estrutura táctica de sempre e decidiu bem ao apostar em
Fernandinho para o lugar de Paulinho. O médio do Manchester City tinha-se
apresentado muitos furos acima do habitual titular, no jogo contra os Camarões,
e justificava a titularidade em prol da melhoria do colectivo. Já Sampaoli
manteve-se fiel ao 3-5-2 (que só não foi aposta frente à Austrália) com o
melhor onze em campo, regressando Arturo Vidal para médio menos posicional.
O
jogo começou durinho com Neymar frequentemente visado pelos
combativos jogadores chilenos e, numa fase em que a leitura que se podia fazer
era de que o Brasil estava tacticamente superior, chegou mesmo o golo da
selecção da casa. Hulk obrigou Bravo a dar um canto depois de um livre cobrado
em força e foi precisamente no canto que surgiu o golo. Neymar cobrou bem o
canto, Thiago Silva fez uma brilhante e intencional assistência de cabeça e
próximo da baliza surgiu um desvio a meias entre Jara e David Luiz. Pareceu-nos auto-golo mas acompanhamos a decisão da FIFA em dar o golo ao antigo central do Benfica. Ao longo da
1.ª parte, embora bastante castigado fisicamente (o futebol é um desporto para
homens de barba rija, e um craque como Neymar sabe que o seu brilhantismo faz
dele um alvo), Neymar criou sozinho várias oportunidades de golo mas ou se
perdeu no excesso de dribles ou faltou em algumas ocasiões pé esquerdo. Quando
nada o fazia prever, e com o jogo a favor do Brasil em todos os aspectos, o
golo do Chile caiu do céu. Hulk e Marcelo erraram em zona proibida, Vargas
ficou com a bola e assistiu Alexis Sánchez que, em excelente posição, rematou
rasteiro para o empate. Depois de chegar ao empate, o Chile passou inesperadamente a acumular
mais erros do que antes e o Brasil teve várias oportunidades para marcar:
Neymar quase marcou de cabeça; após um passe extraordinário de Oscar, o
camisola 10 voltou a não conseguir marcar depois de uma recepção de craque;
houve ainda tempo para Claudio Bravo brilhar com uma estirada para a fotografia
após bom remate de longe de Dani Alves. Pelo meio, Aránguiz e Vidal tiveram também as suas chances, e o policiamento a Alexis por parte da defesa e meio-campo do Brasil foi-se tornando mais difícil ou executado de forma pior ao longo dos primeiros 45 minutos, com Alexis a recuar muitas vezes - tal como nos jogos anteriores - e a provocar dores de cabeça à linha defensiva brasileira.
Os segundos 45 foram bem diferentes. O Brasil começou com fome de golo e Howard Webb teve uma palavra a dizer no jogo. Hulk marcou o 2-1 aos 55' mas o árbitro inglês entendeu que o extremo dominou a bola com a mão, embora tenha dado a ideia que tenha sido mais peito que outra coisa. No minuto seguinte, Sampaoli mudou o jogo, trocando Vargas por Gutiérrez. A substituição do técnico chileno fez com que o Chile passasse a dominar o meio-campo, impedindo o colectivo do Brasil de construir confortável, e anulando Oscar e Neymar praticamente na totalidade. O jogo tornou-se então um duelo táctico, sem ninguém querer errar, mas houve ainda registo de 3 lances perigosos antes do final. Aránguiz obrigou Júlio César a uma grande defesa depois de uma bonita jogada do ataque chileno, contribuindo o envolvimento ofensivo do lateral Isla, mas o Brasil respondeu num forcing final. Neymar deu sinal de vida, mas Bravo negou-lhe o golo, e Claudio Bravo voltaria a fazer jus ao apelido com uma excelente defesa após um lance em que Hulk mostrou a sua técnica, abrindo caminho até à baliza.
E assim, chegou o prolongamento. Uma meia hora na qual o Brasil começou melhor e acabou por cima do Chile, com as linhas mais recuadas (Medel rebentou fisicamente, depois de um jogo heróico), conseguindo circular a bola. No entanto, o melhor lance do prolongamento acabou por pertencer ao Chile: aos 120' Mauricio Pinilla soltou-se da marcação e rematou fortíssimo à trave da baliza de Júlio César. O Brasil não conseguiu nunca chegar ao golo, mesmo embora tivesse vantagem em termos de altura nos vários duelos físicos e o jogo chegou às grandes penalidades. Nos penalties David Luiz, Marcelo e Neymar marcaram do lado brasileiro (com Willian a atirar ao lado e Hulk a ver Bravo negar-lhe o golo com os pés); o Chile começou mal com Pinilla e Alexis a verem Júlio César a defender, Aránguiz (excelente conversão) e Díaz marcaram, mas no momento decisivo, depois de Neymar não vacilar, Jara atirou ao poste as aspirações e o esforço inexcedível do Chile ao longo deste Mundial.
Foi um dos grandes jogos deste Mundial. O Chile lutou muito, foi tacticamente superior - sobretudo na 2.ª parte do tempo regulamentar - e soube anular o jogo do Brasil, embora a equipa brasileira tenha criado mais oportunidades e o golo de Hulk (que pareceu limpo) poderia ter tido outra importância. Nos penalties, o Brasil aguentou a pressão e sobreviveu para contar a história, podendo sonhar mais uma eliminatória.
As lágrimas de Júlio César e Neymar no final traduzem na perfeição o que hoje o povo brasileiro viveu. O Chile confirmou-se como um adversário terrível para o Brasil como Scolari esperava há algum tempo e o Brasil teve muitas dificuldades mas com muitos corações a bater forte, aguentou e seguiu em frente. A nível individual é difícil escolher um melhor em campo - o técnico Sampaoli brilhou na sua estratégia, mas elegemos sempre um jogador e como tal elementos como Bravo, Medel, Alexis, Luiz Gustavo, Hulk, David Luiz e Thiago Silva estiveram bem. O capitão do Brasil fez o seu melhor jogo até agora, Luiz Gustavo aguentou-se perante um incrível meio-campo chileno, Hulk apareceu finalmente embora uma distracção sua tenha originado o golo do Chile, e Claudio Bravo voltou a destacar-se entre os postes. Mesmo Neymar conseguiu ter a sua importância ao criar muitos problemas, embora a falhar na finalização, não vacilando na 5.ª grande penalidade brasileira. Ainda assim, pela importância que teve nos penalties, Júlio César foi o herói, embora jogadores como Bravo, Medel, Alexis e Luiz Gustavo merecessem também a distinção.
Outros Destaques: David Luiz, Thiago Silva, Luiz Gustavo, Hulk; Bravo, Medel, Aránguiz, Alexis