Balanço Final - Liga NOS 18/ 19

A análise detalhada ao campeonato em que houve um antes e um depois de Bruno Lage. Em 2018/ 2019 houve Reconquista.

Prémios BPF Liga NOS 2018/ 19

Portugal viu um médio carregar sozinho o Sporting, assistiu ao nascer de um prodígio, ao renascer de um suiço, sagrando-se campeão quem teve um maestro e um velocista.

Balanço Final - Premier League 18/ 19

Na melhor Liga do mundo, foram 98 contra 97 pontos. Entre citizens e reds, entre Bernardo Silva e van Dijk, ninguém merecia perder.

Os Filmes mais Aguardados de 2019

Em 2019, Scorsese reúne a velha guarda toda, Brad Pitt será duplo de Leonardo DiCaprio, Greta Gerwig comanda um elenco feminino de luxo, Waititi será Hitler, e Joaquin Phoenix enlouquecerá debaixo da maquilhagem já usada por Nicholson ou Ledger.

21 Novas Séries a Não Perder em 2019

Renasce The Twilight Zone, Ryan Murphy muda-se para a Netflix, o Disney+ arranca com uma série Star Wars e há ainda projectos de topo na HBO e no FX.

30 de maio de 2021

Prémios BPF Premier League 2020/ 21



Trinta e oito jornadas depois, a Premier League chegou ao fim. O campeonato dos dois finalistas da Champions acabou com o Manchester City de Pep Guardiola como campeão (3.ª vez nos últimos quatro anos), não permitindo o clube azul celeste o embalo do Liverpool para um bicampeonato que se tornou sonho bem mais difícil quando Virgil van Dijk se lesionou gravemente ainda em meados de Outubro, hipotecando toda a época. Para ajudar na decisão entre os 2 principais candidatos, outro central (Rúben Dias) chegou a Inglaterra e, qual efeito van Dijk em 2018 e 2019, transmitiu segurança a todos à sua volta, elevando o jogo do City que, estabilizado atrás, cresceu jogo após jogo numa consistência que parecia impossível de atingir em Novembro passado, mas que desaguou em 19 jogos consecutivos sem perder, entre os quais 15 vitórias seguidas entre as jornadas 14 e 29.
    Pep não teve um matador, nem tão pouco teve Sterling ao nível de outrora, mas a equipa dividiu os louros, com significativo crescimento do predestinado Phil Foden, com Mahrez a fazer do corredor direito o palco perfeito para desfilar as suas habilidades, emergindo a espaços Gündogan como goleador improvável. Rúben Dias e John Stones entenderam-se e complementaram-se na perfeição e o belga Kevin De Bruyne, nos períodos em que pôde contribuir, jogou num nível só seu.
    O Leicester City de Brendan Rodgers (equipa que venceu a FA Cup) passou praticamente toda a Premier League no Top-4 para morrer na praia, em moldes semelhantes à edição anterior, repetindo-se assim o quarteto com acesso à Champions: os rivais de Manchester, Liverpool e Chelsea. Falar de 2020/ 21 é, invariavelmente, falar de um West Ham muito acima do esperado, de um Leeds United que, agitado por El Loco Bielsa, escalou até ao 9.º lugar na primeira vez que se viu no 1.º escalão desde 2004, desiludindo Liverpool (terminou com menos 17 pontos do que o City, quando se assumia como mais forte candidato ao título), Tottenham, Arsenal e o "lanterna vermelha" Sheffield United, que passou de equipa-sensação (9.º lugar em 19/20) para indiscutível pior emblema em competição.

    Individualmente, Harry Kane marcou mais que todos e assistiu mais que todos, mantendo consistente um nível como mais nenhum atleta conseguiu em terras de Sua Majestade, chegando a aproximar-se na qualidade que colocou em campo de grandes figuras das Big 5 como Lewandowski e Messi.
    Rúben Dias foi o MVP dos campeões, revelando-se o reforço da temporada, crescendo e respondendo aos novos estímulos como poucos imaginariam; de resto, também Bamford, Emiliano Martínez (farto de ser 2ª opção no Arsenal virou melhor guardião da Liga no Aston Villa), Soucek, Calvert-Lewin e Stones evoluíram a olhos vistos. Desta edição ficam ainda as arrancadas do polivalente João Cancelo, o regresso do melhor Luke Shaw, a mestria de Bruno Fernandes a carregar o Manchester United nos seus ombros, a brutal regularidade de Mason Mount e a verticalidade de Son Heung-Min.

    Como todos os anos, é chegada a altura de indicarmos aqueles que foram para nós os melhores do ano: o nosso 11, o Jogador do Ano e o Jovem Jogador do Ano, o Treinador do Ano, e ainda algumas categorias complementares.



Guarda-Redes: Num ano em que Alisson baixou muito o nível, aparecendo somente na recta final, onde até um golo marcou, Ederson arrecadou as Luvas de Ouro com uns impressionantes 19 jogos sem sofrer qualquer golo. O ex-Benfica, que lá somou mais uma assistência esta época graças ao seu jogo de pés e pontapé sem igual, esteve soberbo, mas não o suficiente para bater Emiliano Martínez. O argentino de 28 anos e 1,95m, contratado ao Arsenal por 17,4 milhões, coleccionou defesas impossíveis, foi o melhor em campo em inúmeros jogos e, em suma, arrecadou a pole position por nenhum GR ter sido tão preponderante no trajecto da sua equipa. Nesta altura, os gunners estarão seguramente arrependidos...
    Além de Martínez e Ederson, destacou-se o menino Illan Meslier (raríssimo encontrar um guarda-redes que aos 21 anos não acuse a pressão, brilhando como última barreira das sempre exigentes ideias de Bielsa), Sam Johnstone adiou ao máximo a despromoção do WBA ao bater toda a concorrência no nº de defesas efectuadas, e há ainda que sublinhar o brutal impacto que o senegalês Édouard Mendy teve no futebol do Chelsea, até aí tão frágil e mal entregue a Kepa.  


Lateral Direito: Demorou mais do que prevíamos, mas João Cancelo conquistou por fim Manchester, sendo não só o melhor lateral direito da Premier League como possivelmente o melhor na sua posição em todo o futebol europeu em 2020/ 21 (Silas Wamangituka, Hakimi e Cuadrado teriam também uma palavra a dizer neste raciocínio). Na maioria das vezes à direita, mas por várias vezes também à esquerda, com muito superior capacidade de jogar por dentro e preencher o miolo como Delph ou Zinchenko já faziam no passado neste City, Cancelo impressionou e mostrou porque é que já fora destaque na Juventus, no Inter e em Valência.
    Reforço dos hammers em Outubro, Coufal revelou-se uma autêntica "pechincha" por 6 milhões, sendo cansativo acompanhar o seu fulgor e pulmão na sua incessante procura de alimentar o ataque e o seu amigo e compatriota Soucek; Stuart Dallas acabou a temporada a médio centro mas foi um faz-tudo, daqueles que ainda por cima faz tudo bem feito; Alexander-Arnold acabou em bom plano mas esteve irreconhecível durante largo período da competição e, por fim, Wan-Bissaka continuou a primar pelo rigor e intensidade de quem tem gosto em defender bem. O pequeno e enérgico Tariq Lamptey, se não se tivesse lesionado, tiraria provavelmente o lugar a alguém deste quinteto. 


Defesa Central: Quem o viu e quem o vê. À quinta época com a camisola do Manchester City, John Stones (27 anos) foi um dos centrais goleadores desta Premier com 4 golos (só Dunk e Zouma marcaram mais), mas a principal nota de destaque foi mesmo a sua competência defensiva, formando uma parceria perfeita ao lado de Rúben Dias. Curiosamente, decorridas 9 jornadas quando o City parecia bem longe da luta pelo 1.º lugar, o central natural de Barnsley só tinha estado em campo 90 minutos. A jornada 10 marcou o começo de uma jornada de renascimento para Stones, que encontrou em Rúben Dias (central mais dominante, líder natural) um parceiro com a sintonia e a comunicação dignas das melhores duplas que há memória nos últimos anos em Inglaterra.
    Do lado direito dos centrais, Jan Bednarek foi um rochedo (enorme 1.ª volta ao serviço do Southampton), James Tarkowski recordou a todos uma vez mais porque é que tinha condições ideais para já ter dado o salto há um ou dois anos, Joachim Andersen foi bombeiro na defesa do Fulham e Ben White não acusou a pressão na transição do Championship para a melhor Liga do mundo, dando sequência no Brighton à qualidade com bola e polivalência (jogou a central, médio defensivo e até a lateral direito) que tinham feito dele em Leeds um dos centrais da moda no país.


Defesa Central: Liderança, compromisso, concentração, ambição, um capitão dos pés à cabeça. Poucos poderiam adivinhar que, no seu ano de estreia na Premier League, Rúben Dias teria um impacto similar ao que Virgil van Dijk tivera recentemente no Liverpool. Habituado a privilegiar centrais evoluídos com bola e muito capazes no auxílio ao processo ofensivo, Guardiola rendeu-se ao encontrar em Rúben um defesa central fortíssimo naquilo que é realmente prioritário: defender. O MVP dos campeões deu o corpo ao manifesto, celebrou cada corte e cada clean sheet, e com a sua garra e fome catapultou toda a equipa para outro patamar, assumindo-se como voz de comando e resolvendo, quase sozinho, as principais lacunas da equipa.
    No entanto, convém destacar o poderoso Harry Maguire, capitão do Manchester United, o estreante Wesley Fofana que aos 20 anos joga como se tivesse 27, um gigante chamado Tyrone Mings e Lewis Dunk, central goleador.  


Lateral Esquerdo: Quando a maioria dos adeptos pensava que o trono da posição de lateral esquerdo seria disputada na Premier League entre Andrew Robertson (um habitué, e o melhor do mundo nos últimos anos) e Ben Chilwell, reforço dos blues, Luke Shaw não só deixou bem claro que Alex Telles chegara para ser seu suplente, como brilhou ao ponto de ser o 2.º melhor jogador do United somente atrás de Bruno Fernandes, e o melhor lateral esquerdo desta edição. Tão bom ver Luke Shaw, valorizado por Solskjaer, a recuperar um nível que talvez só tivera em 2014 na sua super-época como revelação no Southampton.
    Chilwell correspondeu às expectativas no seu 1.º ano no Chelsea, Aaron Cresswell foi camaleão entre a lateral e o centro da defesa, e um mestre na cobrança de livres indirectos, Digne arrancou muito bem (perdeu muito com o apagão de James Rodríguez) e Robertson, embora menos ligado à corrente do que tem sido apanágio, não deixou de acumular assistências e desequilibrar a partir do seu corredor.


Médio Centro: Nas melhores épocas da sua carreira, Ilkay Gündogan marcara 6 golos. Nesta, foram 17 (13 no campeonato). Uma das principais surpresas da época do City foi mesmo o improvável instinto goleador do médio alemão originário de Gelsenkirchen, fantástico a interpretar o jogo, a entender o espaço e a temporizar as suas aparições. Com De Bruyne (estando todos a 100%, continua a ser aquele que faz a diferença e está num patamar diferente) a falhar parte da época por lesão, Gündogan puxou para si os holofotes e, à falta de outros números de Agüero, Gabriel Jesus ou Sterling, disse ele mesmo presente. Impossível não relembrar o seu bis em Anfield e o jogão que realizou diante do Tottenham em jornadas consecutivas.
    Para encaixar os melhores no 11, Gündo surge acompanhado pelos melhores médios defensivos desta edição, papel que o alemão desempenhou apenas ocasionalmente. Declan Rice deixou os "grandes" loucos por ele, não deixando dúvidas que é o melhor trinco britânico da actualidade, Kalvin Phillips foi sistematicamente um regalo para os nossos olhos, brilhando na posição mais importante do modelo de Bielsa; Bissouma evoluiu sem pedir licença a ninguém, parecendo irrealista que o Brighton o segure; e Ndidi manteve a toada das últimas temporadas, equilibrando os foxes com as suas recuperações, e protegendo a progressão de Tielemans e Maddison com os seus tentáculos. N'Golo Kanté fez um brilharte nos jogos finais da Champions (2 vezes contra Real Madrid e na final com o City) mas a nível interno realizou uma época bastante abaixo do habitual, principalmente enquanto orientado por Lampard.


Médio Centro: Na época seguinte a ter sido o Jogador do Ano da Premier League, destacando-se como máximo intérprete individual numa temporada em que o Liverpool dividiu o brilho entre vários elementos, Kevin De Bruyne voltou a carregar o City, tendo falhado no entanto desta vez vários jogos por lesão. O belga terminou com 6 golos e 12 assistências mas nem chegou a totalizar 2.000 minutos. Nos 25 jogos do campeonato em que participou, fez mais do que suficiente para constar no 11 do Ano, destacando-se sempre com a sua visão de jogo, qualidade de passe sem concorrência e pujança a transportar a equipa para o ataque. Na sua zona, esteve igualmente impressionante Mason Mount (o médio inglês integra mesmo o nosso 11 do ano, apresentado no final do artigo, onde abdicamos do extremo direito eleito), o jogador mais consistente na época do Chelsea, passando de craque de Lampard para jogar enormidades com Tuchel.
    KDB e Mount têm ainda a companhia do checo Soucek, um gigante que dominou nos ares a Premier League, o completíssimo e muitas vezes subvalorizado Tielemans, e Hojbjerg, um jogador "à Mourinho" que acabou por ser um dos poucos destaques dos spurs este ano.


Médio Centro: Entre os médios mais ofensivos, o nosso Bruno Fernandes foi um dos reis deste campeonato. Já um líder natural nos red devils, o craque português deu sequência ao que já apresentara na 2.ª volta de 19/ 20 e fechou a época com números estratosféricos (18 golos, 9 dos quais grandes penalidades, e 12 assistências, embora no conjunto de todas as competições tenha chegado mesmo aos 28 golos). O actual Manchester United está construído em torno do camisola 18 e, embora continue a "desaparecer" em alguns jogos cabeça-de-cartaz, foi uma das figuras deste campeonato e um mimo para quem joga Fantasy.
    Lembrando o impacto de Bruno Fernandes na época anterior, Jesse Lingard jogou barbaridades ao assinar pelo West Ham no mercado de Inverno, renascendo e espalhando técnica jogo atrás de jogo. James Ward-Prowse deu autênticas lições de como cobrar bolas paradas; James Maddison deu um toque de (boa) arrogância ao futebol do Leicester; e Bernardo Silva não voltou ao seu nível de 18/ 19 mas trabalhou imenso e ajudou o City a embalar para o título, sacrificando-se e vestindo o papel de operário ao acrescentar muita dinâmica e muita capacidade de pressão.


Extremo Direito: Numa das posições menos fortes desta Premier League, e também por isso abdicamos dela no nosso 11 do Ano apresentado no final do artigo para colocar mais um médio, Mo Salah voltou a destacar-se, desta vez com 22 golos (menos 1 que o melhor marcador Harry Kane), embora longe de conseguir por si só salvar um Liverpool cheio de problemas.
    Foi difícil a escolha entre Salah e Mahrez (9 golos, 6 assistências e o terror espalhado nas suas venenosas diagonais a partir da direita), com o argelino a ser uma das principais fontes de criatividade dos azuis de Manchester, numa posição onde fazemos questão de destacar o crescimento do jovem Bukayo Saka (faz bem todas as posições que lhe pedem), a facilidade com que Raphinha entrou no ritmo da Premier League e na filosofia de Bielsa e a ousadia de Matheus Pereira, o jogador que deu algum encanto ao relegado West Brom. Sair de Stamford Bridge com 2 golos e duas assistências não é para qualquer um...


Extremo Esquerdo: Numa posição recheada de craques, Jack Grealish parecia estar lançado para figurar de caras no 11 do Ano mas uma lesão deixou-o fora de combate a partir da jornada 24, acabando por regressar apenas nas quatro jornadas finais, com pouco ritmo. Enquanto esteve bem, Grealish chegou aos 6 golos e 10 assistências, liderando um Aston Villa que chegou a marcar 7 golos ao Liverpool e deixando em campo uma pergunta aos grandes ingleses: qual deles vai conseguir assinar com este craque de meias para baixo?
    Diogo Jota entrou no Liverpool como se sempre tivesse jogado na turma de Klopp, "obrigando" o técnico alemão a ter que encostar por vezes um dos supostamente intocáveis Firmino, Mané e Salah; Marcus Rashford baixou a sua produção na cara do golo mas foi fundamental para o 2.º lugar do United, faltando-lhe apenas maior consistência e uma 2.ª volta ao nível da primeira.
    Escolher entre Phil Foden e Son Heung-Min foi difícil visto que a magia do predestinado inglês de 20 anos não aparece na ficha de jogo e nas folhas de Excel, mas o que é certo é que o jovem fenómeno jogou apenas cerca de 1.600 nesta edição, e não há como fugir ao avassalador e determinado registo do sul-coreano Son Heung-Min (17 golos e 10 assistências) que, a jogar de olhos fechados com Harry Kane, foi de forma recorrente um dos melhores desta Premier League.


Ponta de Lança: Que jogador que é actualmente Harry Kane! Naquela que pode muito bem ter sido a sua última época nos spurs, Kane foi "só" o melhor marcador (23 golos) e melhor assistente (14 assistências), assumindo-se como indiscutível figura ofensiva deste campeonato, mantendo regular um nível que o aproximou por exemplo das performances de Lewandowski e Messi noutros campeonatos. Está no ponto para abraçar um projecto que o faça finalmente arrecadar títulos, mas que lhe permita continuar de mira apontada ao mítico recorde de Alan Shearer, e ao longo do último ano ficámos deslumbrados com a forma como foi capaz de conjugar a sua facilidade em marcar golos com a sua absurda qualidade de passe para um ponta de lança, fazendo estragos ao baixar no terreno para lançar sobretudo Son Heung-Min.
    Lá bem na frente, Patrick Bamford emergiu como Most Improved Player do ano, passando de avançado que só rendia no Championship para autor de 17 golos na Premier League; Jamie Vardy continuou a ser o homem-golo do sempre interessante Leicester City; Calvert-Lewin deu o salto e passou muito tempo a saltar mais do que todos os adversários, e a fechar Ollie Watkins confirmou-se como óptima contratação do Aston Villa, chegando aos 14 golos na sua estreia no 1.º escalão.





    É compreensível que o prémio da PFA seja entregue a Rúben Dias, como foi o dos jornalistas britânicos, e torcemos para que assim seja como confessos fãs do central português, um centralão e figurão nesta Premier e o clarríssimo MVP dos novos campeões. Rúben Dias mudou o City e, sem ele, a equipa de Pep Guardiola jamais teria chegado ao 1.º lugar. No entanto, seria desonesto não eleger como Jogador do Ano aquele que acumulou um maior número de exibições num nível à parte, que marcou e assistiu num patamar de classe mundial, recusando-se a exibir um nível abaixo de excelente e insistindo em ser, perante a intermitência física de Kevin De Bruyne, o representante da Premier League na hora de ombrear com Robert Lewandowski e Lionel Messi. Harry Kane jogou muito, e a máxima distinção individual ficaria bem entregue tanto a ele como a Rúben Dias.
    Numa lista de seis onde também podiam estar Son Heung-Min, Phil Foden, João Cancelo ou Emiliano Martínez, optámos pelo maestro dos red devils Bruno Fernandes, pelo box-to-box Kevin De Bruyne, que mesmo sem jogar um terço do campeonato merece estar aqui, por Ilkay Gündogan, médio resguardado que virou goleador e peça-chave durante o melhor período do City e, finalmente, o brutalmente consistente Mason Mount.




    Talvez seja um pouco injusto não premiar Phil Foden, o talento mais evidente da nova fornada do futebol inglês e um regalo para os olhos de qualquer adepto, mas terá pesado na nossa decisão 1) esta ser a última oportunidade de Mason Mount vencer esta categoria (para a qual definimos como idade máxima 22 anos), enquanto Foden ainda tem mais dois anos para ser distinguido, e 2) a maior consistência e influência no jogo do Chelsea que Mount apresentou ao longo de toda a prova. Aposta pessoal de Frank Lampard, polido e refinado por Thomas Tuchel, Mason Mount passou de "médio que dá gosto ver jogar" para o patamar de médio que não vacila em qualquer momento do jogo, decidindo sempre bem, definindo correctamente na frente, sem descurar as suas responsabilidades atrás. A geração é de Phil Foden, mas o ano é de Mason Mount, que sucede assim a nomes como Alexander-Arnold, Sané, Dele Alli ou Harry Kane.
    Mount e Foden são diamantes de outra vitrine, mas há ainda a reforçar a época brutal de Declan Rice, melhor médio defensivo neste ano convidando os principais emblemas do futebol inglês a entrar em loucuras por ele, a polivalência e irreverência do imprevisível Bukayo Saka, a maturidade que o guardião Illan Meslier já apresenta com apenas 21 anos, e o nosso Pedro Neto, que até à sua grave lesão (estaria no Euro-2020 seguramente) foi quem levou os wolves para a frente.



Treinador do Ano: Convém salvaguardar que a nossa distinção, tanto nesta categoria como em todas as outras, contempla apenas a Premier League. Caso contrário, Thomas Tuchel levaria esta para casa, da mesma maneira que levou a medalha na final da Liga dos Campeões após masterclass a partir do banco.
    Feita a adenda, falar desta Premier League 2020/ 21 é falar da recuperação de Pep Guardiola. O técnico espanhol parecia ter perdido a chama, mas reinventou-se e cozinhou novas soluções, dotando a equipa de predicados diferentes: com Rúben Dias passou a ter um verdadeiro sucessor de Kompany, ficando a defesa entregue a um patrão que tem gosto em defender e não a centrais ou médios adaptados com elevada qualidade na saída a jogar mas elevado número de turnovers; sem poder espremer os golos que se deviam exigir a Gabriel Jesus, Sterling ou Agüero, encontrou forma de Gündogan virar matador, perdendo a equipa uma referência mas passando os adversários a ter dores de cabeça e total impotência para travar os golos do City, que poderiam vir de uma diagonal de Mahrez, de uma leitura hábil do momento de aparecer de Gündo, de um tiro do meio da rua de KDB ou de um ziguezague elegante de Foden. Guardiola entende os jogadores, inventa, é certo, sobretudo em jogos a eliminar, mas ninguém desenvolve jogadores como ele. São 3 campeonatos em 4 anos para o City, para quem continua a faltar a Liga dos Campeões.
    Para nós, David Moyes foi uma gigante surpresa, recuperando todo o crédito que perdera desde que abandonou Goodison Park para falhar na sucessão a Sir Alex Ferguson. O técnico escocês fez do West Ham a equipa-sensação da prova, estatuto que também podia ser reclamado pelo Leeds United de Marcelo Bielsa, com El Loco a comandar uma equipa que correu e suou como nenhuma outra. Brendan Rodgers voltou a demonstrar que é um dos melhores em Inglaterra, dando sequência ao projecto sustentado do Leicester e deixando o Top-4 escapar mesmo no fim, e Thomas Tuchel chegou à Premier League para garantir a presença entre o sempre tão disputado quarteto de luxo, objectivo que, mesmo vacilando a nível interno, teria sempre alcançado mediante a conquista de uma competição chamada.. Champions League.



Melhor Marcador: 1. Harry Kane (Tottenham) - 23
2. Mohamed Salah (Liverpool) - 22
3. Bruno Fernandes (Manchester United) - 18

Melhor Assistente: 1. Harry Kane (Tottenham) - 14
2. Kevin De Bruyne (Manchester City) - 12
3. Bruno Fernandes (Manchester United) - 12

Clube-Sensação: West Ham
Desilusão: Liverpool
Most Improved Player: 1. Patrick Bamford, 2. Emiliano Martínez, 3. Tomas Soucek
Reforço do Ano: Rúben Dias (Manchester City)
Flop do Ano: Timo Werner (Chelsea)
Melhor Golo: Erik Lamela (Arsenal 2 - 1 Tottenham) (Link)







27 de maio de 2021

Balanço Final - Liga NOS 20/ 21


  Liga NOS - Dezanove anos depois, o Sporting voltou a sagrar-se campeão. A espera foi longa, mas recompensada, numa Liga em que a candidatura ao título foi adiada "jogo a jogo" até não dar mais. Num campeonato de bancadas despidas, os leões de Rúben Amorim (o novo treinador fenómeno do futebol português) foram quase invencíveis, colocando em campo uma regularidade e competência - sobretudo no processo defensivo - como mais nenhuma equipa foi capaz, pondo fim à crónica alternância instalada entre os rivais FC Porto e Benfica.

    2020/ 2021 foi a temporada em que Amorim passou mais tempo castigado do que provavelmente deveria, e Sérgio Conceição passou menos tempo castigado do que seguramente deveria; foi a edição em que o Benfica prometia arrasar e jogar o triplo, mas saiu arrasado e ficou em terceiro, deixando o acesso à Liga dos Campeões ainda por decidir; foi a época em que o cada-vez-mais-assumido-como-candidato Braga terminou mais perto do 5.º classificado Paços de Ferreira (equipa sensação, e mais um incrível trabalho de Pepa) do que da verdadeira luta pelo troféu de campeão, embora conferindo um tom diferente à temporada com a conquista da Taça Portugal, momento que afundou ainda mais a desgraça benfiquista.

    De Setembro até hoje, os arriscados 10 milhões investidos por Frederico Varandas em Rúben Amorim tornaram-se um dos melhores negócios da História recente do clube, podendo só o tempo responder se o jovem técnico de 36 anos terá capacidade para continuar a manter a fasquia elevada no seu impressionante trajecto, ou se, em diferentes circunstâncias, acusará a pressão como recentemente aconteceu com Bruno Lage do outro lado da Segunda Circular. Numa prova pintada a verde e branco a três jornadas do fim, sobressaíram os golos de Pedro Gonçalves e Seferovic, agradáveis surpresas como Beto e Mario González, cabendo ao capitão Coates tantos momentos e performances decisivas, ladeado por dois laterais fantásticos (tornar-se-á Nuno Mendes a maior transferência da História do Sporting?) e tendo à sua frente um "monstro", no melhor dos sentidos, chamado João Palhinha. Sérgio Oliveira, Al Musrati, Ryan Gauld, Carlos Jr., Taremi, Otávio, Eustáquio, Otamendi ou Weigl foram algumas das figuras em destaque ao longo de 34 capítulos, que apresentaram muita juventude para os lados de Alcochete, embora sem esquecer o axadrezado Angel Gomes, os jovens temperos do Famalicão Ugarte e Vinagre, e um projecto interessante em Barcelos chamado Samuel Lino.

    Impossível não destacar, além do já mencionado Paços, as meritórias épocas de Santa Clara (pela 1.ª vez na Europa), Belenenses SAD e Gil Vicente, entregues a treinadores bastante cumpridores mas pouco mediáticos como são Daniel Ramos, Petit e Ricardo Soares, ficando reservado para a imaginação aquilo que seria uma temporada do Famalicão com Ivo Vieira no comando mais cedo. Se nos lugares cimeiros, o Benfica foi a maior desilusão, na restante tabela Rio Ave e Boavista fizeram francamente menos do que aquilo que tinham obrigação, perdendo-se pouco com a descida do Nacional (a decisão de despedir Luís Freire para ir buscar Manuel Machado é candidata a uma das piores do ano) e custando ver o Farense de Ryan Gauld, equipa bastante prejudicada pela arbitragem, cair também.

    Acompanhem-nos então neste balanço final, que analisa em detalhe as 18 equipas da Liga portuguesa, procurando determinar o que correu bem, o que correu mal, quem se destacou e quem desiludiu:



 SPORTING (1)


    Depois dos 18 anos de espera entre 1982 e 2000, os 19 anos de espera desde 2002 até hoje. O Sporting sagrou-se campeão nacional contra a maioria das expectativas, poucos anos depois do ataque a Alcochete que deixou o leão traumatizado e a lamber feridas profundas.
    Frederico Varandas gastou 10 milhões de euros para retirar Rúben Amorim de Braga, e o técnico de 36 anos arrasou a concorrência, bem coadjuvado pelo presidente e por Hugo Viana. Na realidade, pode-se dizer que este título leonino se começou a construir quando em 2019/ 20, pouco tempo depois de assumir o novo projecto, Amorim viu o futebol português confinar, aproveitando a paragem para estudar ao pormenor os jovens ao seu dispor, e iniciando a aposta em Nuno Mendes, Matheus Nunes ou Eduardo Quaresma nas jornadas finais. Estavam dados os primeiros sinais de um novo Sporting, o seu Sporting.
    No ano em que correu tudo bem - até a derrota com o LASK, a esta distância, se pode dizer que foi positiva e fundamental - o Sporting acertou em cheio em praticamente todas as suas aquisições, comprando bem e barato em Portugal (Pedro Gonçalves e Nuno Santos), acrescentando experiência (Adán e Feddal) e respeitando o ADN do clube ao confiar não só em Nuno Mendes mas também no refinado Daniel Bragança  e no massacrado Tiago Tomás.
    85 pontos, apenas 20 golos sofridos, uns quantos castigos só porque sim para o técnico lisboeta e uma quase invencibilidade (uma derrota em 34 jornadas num frenético 4-3 na Luz), além da conquista de uma Taça da Liga pelo meio, traduzem uma época inolvidável em que Pedro Gonçalves passou de marcar 5 golos pelo Famalicão para ser coroado melhor marcador da Liga com 23, em que Coates defendeu como nunca e marcou como poucos centrais, em que João Palhinha (a época teria sido seguramente bem diferente se tivesse sido vendido) recuperou, desarmou e equilibrou, e as locomotivas Pedro Porro e Nuno Mendes impressionaram ao longo dos corredores. No percurso, impossível não assinalar a performance lutadora na tempestade da Madeira diante do Nacional, a vitória frente ao rival Benfica com golo de Matheus Nunes aos 90+2, a reviravolta em Barcelos com bis de Coates nos 10 minutos finais e aquele "jogo de campeão" em Braga, com a equipa reduzida a 10 desde os 18 minutos.
    A curiosidade é muita para assistir ao Ano 2 de Rúben Amorim. Porém, agora, deixe-se o Sporting festejar, que bem merece.

Destaques: Pedro Gonçalves, Sebastián Coates, João Palhinha, Antonio Adán, Pedro Porro

 PORTO (2)

    A época azul e branca ficou manchada pelas agressões a um repórter da TVI, pelas suspeitas de falsificação de testes à Covid-19 e pelo descontrolo emocional de Sérgio Conceição, ora passivo-agressivo após ganhar um jogo, ora irado e mal com tudo e todos quando 16 grandes penalidades não pareciam ser suficiente. Na Europa, o FC Porto brilhou com uns notáveis 13 pontos na fase de grupos, a eliminação da Juventus nos oitavos e a capacidade de bater o pé ao finalista Chelsea nos quartos.
    Eliminado nas meias-finais das duas taças, o Porto foi o melhor ataque do futebol português (74 golos) e até só perdeu por duas vezes (contra Marítimo e Paços de Ferreira, duas derrotas por 3-2 que ocorreram nas primeiras 6 jornadas), mas fartou-se de empatar e o futebol - como tem sido apanágio com Sérgio Conceição - nunca convenceu ou encantou. Custa não ganhar um campeonato quando não se registou qualquer derrota da jornada 7 à 34 (28 jornadas consecutivas) mas o Sporting foi simplesmente melhor. Afinal, nem sempre ganham os mesmos.
    A continuidade de Sérgio Conceição ou início de um novo ciclo é neste momento um ponto de interrogação. Desta vez, há a elogiar a época goleadora de Sérgio Oliveira (20 golos em todas as competições), o impacto de Mehdi Taremi a partir do momento em que lhe foi permitido entrar no onze, sem esquecer a já tradicional boa agressividade que Otávio, Pepe e Uribe conferem aos dragões. Felipe Anderson foi um flop e Corona não fez jus ao estatuto de MVP do último campeonato.

Destaques: Sérgio Oliveira, Mehdi Taremi, Otávio, Pepe, Matheus Uribe

 BENFICA (3)

   O Novo Testamento com Jorge Jesus prometia mundos e fundos: um mundo em que o Benfica ia arrasar e "jogar o triplo", investindo para tal mais de 100 milhões para limpar a Liga portuguesa e voltar a ser grande na Europa.
    No entanto, não foi bem isso que aconteceu... As águias hipotecaram o sonho da Champions contra o PAOK, Rúben Dias saiu (de nada, Manchester City), os reforços que JJ pretendia já não puderam vir todos, o preconceito contra a formação (Gonçalo Ramos não tem que nascer 10 vezes mas tem, pelos vistos, "que esperar") voltou, Everton não pôs os adversários a chorar como se esperava, e nem a Taça no fim serviu para afogar mágoas, com o karma a tramar Jesus depois de ter dado à priori o derradeiro troféu como estando no papo ("alguns não vão ganhar nada"). Enfim, foi mau demais.
    Luís Filipe Vieira (já chega) e Jorge Jesus agarrar-se-ão ao facto do Benfica ter sido a equipa que realizou a melhor 2.ª volta e ao estatuto de única equipa capaz de derrotar o campeão Sporting em 34 jornadas, mas esse gáudio é uma mão cheia de nada, meras vitórias morais, preocupando a total ausência de um projecto desportivo para os lados da Luz, com a equipa sem identidade e repleta de indefinições: por exemplo, o sistema com 3 centrais é uma opção para prolongar ou foi, como esperamos, apenas um penso rápido para remediar 2020/ 21?
    Numa época depressiva, que terá afastado como poucas outras num passado recente os adeptos (e que falta fazem eles para fazer da Luz um inferno) da equipa, a Covid-19 serviu de principal desculpa, salvando-se os golos de Haris Seferovic, a elevada subida de rendimento de Julian Weigl, a demonstração de Otamendi como adequado capitão, a segurança de Hélton Leite assim que lhe foi entregue a baliza e a validação de Diogo Gonçalves enquanto séria opção para lateral-direito.
    O universo benfiquista torce para Everton e Darwin renderem muito mais na próxima temporada, faltando até lá mudar muita coisa. Começando, idealmente, pelo presidente.

Destaques: Haris Seferovic, Julian Weigl, Nicolás Otamendi, Hélton Leite, Diogo Gonçalves

 BRAGA (4)

    O Sporting de Braga queria lutar pelo título e queria ser o primeiro Sporting da tabela. No entanto, o clube de António Salvador e Carlos Carvalhal acabou a longínquos 19 pontos do 1.º lugar, e a 11 do quinto classificado, o sensacional Paços de Ferreira.
    Vencedor da Taça de Portugal, finalista vencido na Taça da Liga, e eliminado nos dezasseis-avos-de-final da Liga Europa pela Roma depois de uma fase de grupos de respeito (igualdade pontual com o Leicester City), o Braga desiludiu apenas no campeonato. E muito contribuiu para essa análise um final de época com apenas 3 vitórias nas últimas 11 jornadas.
    Em Braga, Abel Ruiz tentou fazer esquecer Paulinho após a sua saída para o novo campeão nacional, e os principais momentos de genialidade surgiram quase sempre dos pés de Galeno e Ricardo Horta. Carvalhal retirou a habitual assertividade de Esgaio, viu Lucas Piazón atravessar bom período, viu Iuri Medeiros e Francisco Moura lesionarem-se quando começavam a entrar nas contas do 11 inicial, e viu sobretudo um "monstro" chamado Al Musrati, que encheu o campo com a sua omnipresença, levando os adeptos do Benfica a invadirem as suas redes sociais para que ingressasse no clube encarnado.
    Próxima paragem 1º de Maio?

Destaques: Al Musrati, Ricardo Horta, Galeno, Ricardo Esgaio, Abel Ruiz

 PAÇOS FERREIRA (5)

    Era já evidente há algum tempo, mas agora com "obra feita" noutro patamar é oficial: Pepa é um dos treinadores do momento no futebol português. Segue-se um sempre arriscado desafio em Guimarães.
    A equipa da Mata Real, que estará entregue ao regressado Jorge Simão na próxima época, acabou como ilha, longe do Braga e longe do Santa Clara. No entanto, só foi assim mediante uma segunda volta muito inferior à primeira - nas primeiras 17 jornadas, o Paços totalizou 34 pontos (tantos como o Benfica, menos 2 que o Braga e menos 5 que o Porto); nessa mesma 1.ª volta os castores chegaram a alcançar 6 vitórias consecutivas. Depois, na segunda volta, foram 19 pts (quase metade), realizando nessa fase uma prova semelhante a Rio Ave, Tondela ou Portimonense.
    Este impressionante quinto lugar, que em teoria parecia entregue a Vit. Guimarães, Famalicão ou Rio Ave, teve muito dedo de Pepa, que conseguiu "espremer" os seus jogadores e catapultá-los para um patamar em muitos casos nunca antes visto. Stephen Eustáquio, Luiz Carlos e Bruno Costa formaram um meio-campo sublime, Douglas Tanque foi sinónimo de força e golos, e Luther Singh iluminou a equipa nas suas tardes e noites de maior inspiração.
    Recordamos que depois de ficar em 3.º em 2013 com Paulo Fonseca, o Paços foi 16.º no ano seguinte; e depois de ficar em 7.º com Jorge Simão em 2016, a equipa deixou-se cair para 13.º logo depois. Por isso, fica a questão: conseguirá o Paços não acusar o sucesso deste ano em 2022?

Destaques: Stephen Eustáquio, Luiz Carlos, Bruno Costa, Maracás, Jordi

 SANTA CLARA (6)

    Desde que subiu à Liga NOS em 2018, o Santa Clara não tem parado de subir. 10.º e 9.º classificado em 2019 e 2020 com João Henriques, e agora sexto classificado com Daniel Ramos. Motivo para o treinador e o presidente se mascararem de vacas na conferência de imprensa do último jogo da época? Diríamos que sim.
    Nos Açores, esta foi uma época histórica com a estreia absoluta nas competições europeias a estar agendada para 21/ 22 (2.ª Pré-eliminatória da nova Conference League) e começa a ser difícil descrever o fantástico de trabalho do director desportivo Diogo Boa Alma (de saída) num clube que tem acumulado boas escolhas.
    O Santa Clara foi a única equipa que conseguiu fechar a época com uma diferença de golos positiva além de Sporting, Porto, Benfica e Braga, e atinge esta inédita qualificação europeia com um elenco muito homogéneo e compacto, com muito rigor atrás (Villanueva e Fábio Cardoso são disso garantia) e muito talento na frente com Carlos Jr. (impossível segurá-lo, supomos), Lincoln e Allano à cabeça. Queremos ver o que Morita e Rui Costa fazem em 2021/ 22.

Destaques: Carlos Jr., Lincoln, Mikel Villanueva, Anderson Carvalho, Hidemasa Morita

 VIT. GUIMARÃES (7)

    O adeus à Conference League na jornada final foi o último prego no caixão de uma temporada para esquecer em que o Vitória bateu o recorde de treinadores (4) - Tiago, João Henriques, Bino e Moreno. Este sétimo lugar do Vitória, num ano em que o objectivo passava pela aproximação ao Top4 (que ficou a 21 pontos), quase parece pior, por uma questão de gestão de expectativas, que a classificação das 5 equipas abaixo.
    Tiago Mendes (queríamos muito que desse certo, mas problemas de bastidores precipitaram a sua inesperada saída) cumpriu 3 jogos, João Henriques 22, Bino 7 e Moreno os dois últimos. Em campo, nenhum vimaranense jogou mais do Rochinha, com Quaresma a ser Quaresma em momentos pontuais.
    Marcus Edwards (frustrado por não ter saído?) ficou a anos-luz do seu rendimento da temporada anterior, André Almeida e André Amaro apresentaram-se e podem explodir a curto-prazo, ficando um sabor de esperança no fim de uma época amarga com o anúncio de que Pepa deixará a Mata Real para assumir o Vitória até 2024. E, na prática, para Pepa até poderá ser bom não ter Europa. 

Destaques: Rochinha, André Almeida, Falaye Sacko, Ricardo Quaresma

 MOREIRENSE (8)

    Tal como várias outras equipas, o Moreirense coleccionou treinadores ao longo deste ano. Porém, e ao contrário de Nacional, Farense ou Rio Ave, o desfecho foi positivo. Ricardo Soares e César Peixoto foram os antecessores de Vasco Seabra, que encontrou em Moreira de Cónegos quem acreditasse nele depois de ser demitido do Boavista.
    A brincar, a brincar, esta é a 3.ª temporada consecutiva que os cónegos ficam no Top-8, sinal de estabilidade e construção de identidade. Será mais adequado avaliar Vasco Seabra, num clube que parece de facto bem ao seu jeito, caso o projecto tenha sequência em 2021/ 22, mas a nível individual nesta edição impressionou-nos a brutal regularidade de Fábio Pacheco (uma pena que já tenha 32 anos visto que é claramente um dos melhores médios defensivos a actuar em Portugal), uma vez mais a quantidade de intervenções milagrosas de Mateus Pasinato, a evolução de Filipe Soares, o faro goleador já conhecido do reforço-em-boa-hora Rafael Martins e, claro, na defesa o venezuelano Nahuel Ferraresi, emprestado pelo Manchester City.
    2021/ 22 promete alguns desafios: um teste à capacidade de Vasco Sebra, a procura de um salto na tabela rumo a lugares europeus imitando o crescimento sustentado do Santa Clara, faltando também perceber que avançado conseguirá o clube adquirir, caso Rafael Martins não continue, e ver se Pires se consegue assumir como o grande craque deste conjunto.

Destaques: Mateus Pasinato, Filipe Soares, Fábio Pacheco, Nahuel Ferraresi, Rafael Martins

 FAMALICÃO (9)

    Como teria sido a temporada de 2020/ 21 do Famalicão se Ivo Vieira tivesse assumido a equipa mais cedo... nunca vamos saber. Depois de deslumbrar tudo e todos ao subir ao 1.º escalão, o Famalicão sofreu uma autêntica revolução, deixando de contar com Pedro Gonçalves, Diogo Gonçalves, Fábio Martins, Uros Racic, Nehuén Pérez e Toni Martínez. O extraordinário rendimento da equipa-sensação de 20/ 21 teve um preço, e o Famalicão pagou-o ao falhar algumas das apostas identificadas na sua prospecção, e atravessando um deserto que durou até Ivo Vieira chegar (3.º treinador do clube, depois de João Pedro Sousa e Silas).
    Esperávamos bem mais de Lukovic, Dani Morer ou Pereyra, mas a juventude deste Famalicão foi sobretudo portuguesa e começou a dar sinais de vida na 2.ª volta. Rúben Vinagre mostrou que pode ser reforço para qualquer um dos rivais de Lisboa, Gil Dias fartou-se de desequilibrar, Ivo Rodrigues assumiu em alguns momentos o papel que outrora pertencia a Fábio Martins, Pêpê estabilizou o meio-campo e Heriberto agitou as redes contrárias com alguns golaços. Iván Jaime deixou-nos de queixo caído quando conseguiu aparecer nos jogos, Luiz Júnior mostrou-se muitíssimo superior a Zlobin, e Gustavo Assunção acabou por sair desvalorizado, mas não deixou de ser um atleta diferenciado e pronto para outros voos. Preparado para dar o salto parece-nos estar também Manuel Ugarte, um médio fenomenal que não demorará a estar constantemente na selecção do Uruguai.

Destaques: Manuel Ugarte, Rúben Vinagre, Ivo Rodrigues, Gil Dias, Luiz Júnior

 BELENENSES SAD (10)

    Petit merece mais crédito? Claro que sim. Depois de salvar umas equipas atrás das outras, o antigo trinco conseguiu colocar este pouco exuberante Belenenses SAD a apenas 6 pontos da Europa, em igualdade pontual com o Famalicão (equipa sensação da época passada) e a apenas 3 pts do Vit. Guimarães, clube com obrigação de render muito mais.
    A arte de bem defender - 5.ª melhor defesa da Liga, com apenas mais 2 golos sofridos do que o Braga - foi priorizada por uma equipa que conseguiu alcançar um 10.º lugar marcando apenas 25 golos em 34 jogos. Na hora do golo, Mateo Cassierra aproveitou para se mostrar, mas foi na retaguarda que mais elementos se destacaram: Kritciuk é muito provavelmente o melhor guarda-redes da Liga extra-grandes, e tê-lo entre os postes faz muita diferença, devendo-se destacar Tiago Esgaio (já anunciado como reforço do Braga, onde deverá substituir o seu irmão mais velho) e Tomás Ribeiro.

Destaques: Mateo Cassierra, Stanislav Kritciuk, Tiago Esgaio, Tomás Ribeiro, Miguel Cardoso

 GIL VICENTE (11)

    De luto por Vítor Oliveira, como todo o futebol português, o Gil Vicente arrancou a época com uma aposta arriscada e falhada em Rui Almeida, mas encontrou-se ao nomear Ricardo Soares. A equipa de Barcelos, que ganhou na Luz e obrigou Coates a fazer-se herói no percurso para o título do Sporting, acrescentou inequívoca qualidade à nossa Liga, valorizando jogadores e demonstrando astúcia no mercado de Janeiro/ Fevereiro ao reforçar as fileiras com Pedrinho e Pedro Marques.
    O projecto tem tudo para conhecer interessante continuidade em 2021/ 22, sendo certo que Lucas Mineiro, um dos melhores médios centro desta edição, fará até lá as malas para Braga. Para a evolução do sportinguista Pedro Marques parece-nos que seria muito importante poder prosseguir na cidade do Galo, e temos muita curiosidade para acompanhar a evolução de dois talentos invulgares: Samuel Lino e Kanya Fujimoto. Ah, e sim, Dênis fartou-se de defender.

Destaques: Samuel Lino, Lucas Mineiro, Dênis, Talocha, Kanya Fujimoto

 TONDELA (12)

    Pela sexta temporada consecutiva, o Tondela aguentou-se na I Liga. Pela sexta temporada consecutiva, com um plantel humilde mas muito profissional e combativo. Pako Ayestarán provou ser boa escolha e trouxe do território de nuestros hermanos um dos "achados" da época, Mario González. O craque de 25 anos, que se vinha arrastando nas equipas secundárias do Villarreal, foi o farol ofensivo deste Tondela, e com 15 golos apontados ficou apenas atrás de Pedro Gonçalves, Seferovic e Taremi. Rúben Amorim, é este um jogador ao teu jeito?
    Embora ainda com alguns problemas por resolver - nomeadamente a baliza e o meio-campo, onde depois da saída de Pepelu não voltou a existir um médio forte e capaz de acompanhar João Pedro -, os beirões fizeram (uma vez mais) muito com pouco, sendo justo destacar ainda o recrutamento do uruguaio Enzo Martínez, um central de 23 anos que joga como se tivesse 28.

Destaques: Mario González, Enzo Martínez, Jhon Murillo, João Pedro

 BOAVISTA (13)

    O projecto Boavista 20/ 21 prometia muito, mesmo tratando-se de uma revolução significativa. Com reforços sonantes como Javi García e o ex-namorado de Pamela Anderson e campeão do mundo, Adil Rami, ou o prodigioso Angel Gomes, e um treinador (Vasco Seabra) bem avaliado após o seu bom trabalho em Mafra. No entanto, a paciência da Direcção esgotou-se rápido e, mesmo tendo humilhado o Benfica com um arrasador 3-0 na 6ª jornada, Seabra seguiu o seu caminho. O Bessa acolheu o experiente Jesualdo Ferreira e o técnico de 74 anos demorou um pouco a fazer o seu Raio-X ao campeonato, mas acabou por se conseguir "actualizar", colocando a equipa na direcção correcta.
    Os axadrezados tiveram sempre um dos melhores guarda-redes da Liga (Léo Jardim), encontraram em Reggie Cannon e Ricardo Mangas uma jovem e promissora dupla de laterais, e escusado será dizer que o melhor Boavista surgiu sempre que Angel Gomes conseguiu soltar em pequenas pinceladas o seu génio. Na frente, Alberth Elis despediu-se em grande, não surpreendendo que esteja a ser associado ao FC Porto.

Destaques: Alberth Elis, Angel Gomes, Ricardo Mangas, Reggie Cannon, Léo Jardim

 PORTIMONENSE (14)

    É difícil não eleger como momento da época do Portimonense o episódio em que Paulo Sérgio fez de Sérgio Conceição o homem mais pequenino do mundo num bate-boca desprestigiante para o nosso futebol. No entanto, Beto, o novo avançado da moda no futebol português, terá sido o principal responsável pelos momentos que realmente interessam, materializados dentro das quatro linhas.
    A equipa de Portimão não acabou bem mas um belo mês de Abril chegou para deixar os algarvios a respirarem mais à vontade. Ao longo de toda a época, o capitão Dener foi super-consistente, Willyan demonstrou a sua polivalência ora a central ora uns metros mais à frente, valorizando-se Boa Morte, Samuel Portugal, Moufi e ficando na retina a qualidade de Luquinha, um talento cuja evolução estaremos atentos em 2021/ 22.
    No entanto, falar do Portimonense esta época é invariavelmente falar de Beto. O antigo goleador do Olímpico do Montijo, com técnica supreendente para o seu 1,94m, 11 golos e muita margem de crescimento, promete dar muito que falar ao longo do próximo defeso. Está destinado a um dos 3 grandes, à Bundesliga ou à Premier League?

Destaques: Beto, Dener, Willyan, Aylton Boa Morte, Luquinha

 MARÍTIMO (15)

    É caso para dizer: Obrigado Joel Tagueu. O Marítimo começou a época com Lito Vidigal, depois passou para Milton Mendes, e finalizou com o espanhol Julio Velázquez no comando. O único clube que conseguiu impor uma derrota ao Sporting este ano além do LASK Linz e do Benfica, eliminando o clube de Alvalade da Taça de Portugal, realizou uma época para esquecer. No entanto, as 5 vitórias nos 12 jogos de Velázquez (já cá passara ao orientar Belenenses e Vit. Setúbal), com Joel Tagueu altamente influente, chegaram para que o clube escapasse tangencialmente.
    Com plantel para mais, pelo menos para não sofrer tanto, o Marítimo teve em Léo Andrade-Zainadine uma dupla competente q.b., e viveu basicamente dos períodos de inspiração dos seus avançados: Rodrigo Pinho brilhou em 2020, fazendo o suficiente para que o Benfica o adquirisse, e como dissemos Joel "O Cruel" disse presente na recta final.

Destaques: Joel Tagueu, Rodrigo Pinho, Léo Andrade, Zainadine Júnior

 RIO AVE (16)

    Uma das superlativas desilusões da época. Ainda se lembram que foi este mesmo Rio Ave que quase eliminou o AC Milan da Liga Europa no princípio da época?
    Depois do 5.º lugar em 2019/ 20, com o trabalho de Carlos Carvalhal a ser exaltado pela sua progressão vertical com bola ao nível dos melhores da Europa, os vilacondenses caíram 11 (!) lugares na classificação, e depois de disputada a 1.ª mão do play-off contra o Arouca (o 3.º classificado da II Liga ganhou por 3-0) o mais certo é o consumar da despromoção.
    Nem Mário Silva nem o regressado e cada vez menos cotado Miguel Cardoso - com o interino Pedro Cunha pelo meio a comandar a equipa em alguns jogos - tiveram capacidade para endireitar uma equipa que nunca defendeu propriamente mal (7.ª melhor defesa), teve sempre bastante bola (5.ª equipa com maior percentagem média de posse de bola) mas foi em ex aequo com o Belenenses SAD o pior ataque da Liga - 25 golos.
     É bastante provável que com um avançado capaz de valer 10-12 golos a conversa teria sido outra, mas a pouca ambição com que o clube atacou esta época não augurava nada de bom, ficando a ideia que o recrutamento ficou inacabado, visto que o Rio Ave ficou muitíssimo longe de alguma vez conseguir substituir Mehdi Taremi, Nuno Santos e Al Musrati, todos eles destaques nos seus novos emblemas.
    Com poucas razões para sorrir, deve-se reconhecer que não foi por falta de esforço do polaco Kieszek que a equipa desapontou tudo e todos, e Carlos Mané realizou a sua melhor época dos últimos anos, faltando-lhe apenas outros números para "certificar" a sua consistência exibicional.

Destaques: Pawel Kieszek, Carlos Mané, Aderllan Santos

 FARENSE (17)

    Indiscutivelmente, de longe a equipa mais prejudicada pela arbitragem nesta edição. No Algarve, o Farense acabou por carimbar a descida apenas no último dia, seguindo para a Segunda Liga de mãos dadas com o Nacional depois de juntos terem subido há 1 ano atrás, mas pelo caminho ficou bastante polémica (escusado será dizer que qualquer um dos clubes pequenos não consegue fazer o "barulho" dos grandes quando o tema é arbitragem, nem tem comparável acompanhamento nos media) e um vasto leque de grandes performances do escocês Ryan Gauld. O antigo jogador do Sporting fartou-se de jogar à bola, carregando a equipa jogo após jogo, e merece claramente dar o salto. Mercado não lhe faltará.
    Jorge Costa não desempenhou um mau trabalho, agarrando bem na equipa e deixando-a viva até ao 34º capítulo da história, mas fica a sensação que despedir Sérgio Vieira de forma tão precoce e "fácil" poderá ter custado a sobrevivência. Afinal, foi com Vieira que a equipa praticou o seu futebol mais fluido, que porventura poderia ter sido suficiente para levar a bom porto alguns jogos da segunda volta.  

Destaques: Ryan Gauld, Eduardo Mancha, Pedro Henrique


 NACIONAL DA MADEIRA (18)

    Com um plantel que sempre pareceu mais de acordo com o nível da Liga Portugal SABSEG do que preparado para a Liga NOS, o Nacional falhou a manutenção imediatamente depois de subir e voltou a deixar o Marítimo como único representante da Madeira no nosso campeonato.
    A pior defesa da prova (59 golos sofridos) teve no despedimento do jovem técnico de 35 anos Luís Freire, um treinador promissor que merece nova e rápida oportunidade no 1.º escalão, o momento-chave da época. Freire abandonou a equipa à jornada 24, deixando os insulares no penúltimo lugar mas a 1 ponto da manutenção e a 6 do nono classificado. Parece-nos esclarecedor evidenciar a má escolha que foi Manuel Machado ao constatar que, desde que assumiu a equipa, o Nacional conseguiu somar mais 4 pontinhos ao longo das 10 últimas jornadas da prova. Bastante fraquinho.
    No geral, a despromoção foi má mas a doença oncológica do guardião Daniel Guimarães (votos de muita força para aquele que estava a ser um dos melhores guarda-redes desta edição até então) foi seguramente a pior notícia da época; pela positiva, o Nacional viveu da explosão do colombiano Brayan Riascos (fantástico arranque de época!), valorizando-se também o hondurenho Bryan Róchez. Uma dupla que já representara, de resto, esmagadora fatia do arsenal madeirense em 2019/ 20. 

Destaques: Brayan Riascos, Bryan Róchez, Daniel Guimarães



por Miguel Pontares e Tiago Moreira

26 de maio de 2021

Prémios BPF Liga NOS 2020/ 21


Chegou ao fim a edição de 2020/ 21 da Liga NOS. Determinado em relembrar a toda a gente porque é que de facto são 3 os "grandes" do futebol português, o Sporting pôs fim a uma espera de 19 anos e sagrou-se campeão, assumindo o trono após as conquistas do Porto em 2020 e do Benfica em 2019.
    Numa prova em que a invencibilidade dos leões durou 32 jornadas e só claudicou depois dos pupilos de Rúben Amorim terem garantido o título, os lugares de Champions ficaram atribuídos a Sporting e Porto, com o Benfica (após investimento milionário e hipoteca do projecto num Novo Testamento de Jorge Jesus) a falhar quase tudo aquilo a que se propôs, deixando o acesso à Liga dos Campeões em suspenso.
    Desta vez, todos os caminhos têm que ir dar a Rúben Amorim (e, por isso, em certa medida também a Frederico Varandas) que fez o Sporting crescer de forma impensável em apenas 1 ano, queimando distâncias, ultrapassando os rivais, mantendo um discurso inteligente e positivo, apostando na juventude, valorizando activos e construindo um grupo unido, que soube sofrer e soube criar a sua própria sorte, o seu próprio destino. Uma vitória na tempestade na Madeira, o golo de Matheus ao rival Benfica aos 90+2, aquele bis de Coates em Barcelos nos 10 minutos finais, e outro tento de Matheus Nunes em Braga, com a equipa reduzida a 10 desde os 18 minutos, foram apenas alguns dos emocionantes capítulos numa história improvável mas com um final justo.
    Na hora de eleger os melhores há, como seria de esperar, muito Sporting. 2020/ 21 teve não só o Sporting a surpreender mas também o Paços de Ferreira (a meio do campeonato tinha os mesmos pontos que o Benfica) e o Santa Clara (pela primeira vez qualificado para as competições europeias). Pela negativa, um Rio Ave que passou de equipa de Liga Europa para a luta pela manutenção, um Boavista que não correspondeu às expectativas geradas em torno do seu renovado e ambicioso projecto, e o Benfica, que em teoria tinha plantel mais do que suficiente para se sagrar vencedor.

    A nível individual, entre a equipa campeã os principais destaques foram Pedro Gonçalves (melhor marcador da Liga com 23 golos), o capitão e herói Coates, João Palhinha como elemento que ligou toda a equipa, sem esquecer os relevantes contributos de Porro, Adán ou Nuno Mendes. Haris Seferovic quase foi Bota de Prata pela 2.ª vez, numa equipa onde Weigl foi talvez o único atleta que Jesus fez render o triplo, e na Invicta Mehdi Taremi e Sérgio Oliveira assumiram-se como figuras incontornáveis.
    Mas nem só de Sporting, Porto e Benfica se fez este campeonato a nível de craques. Muito longe disso. Al Musrati esteve em todo o lado, Carlos Jr. fartou-se de espalhar técnica, Beto tornou-se o ponta de lança que todos querem, Mario González revelou um raro instinto matador, e tudo isto sem esquecer Ryan Gauld, Stephen Eustáquio, Kriticiuk ou Elis.

    O futebol é feito de jogadores e por isso os prémios abaixo são, praticamente, só deles. Abaixo encontrarão o nosso 11 do Ano, Jogador e Jovem do Ano, Treinador do Ano e algumas categorias adicionais. Vamos lá a isto:



Guarda-Redes: Se o Sporting foi a melhor defesa do campeonato com apenas 20 golos sofridos em 34 jornadas, muito o deve a este homem. Veterano de 34 anos, com passagens como actor secundário nos rivais de Madrid e várias épocas como titular na La Liga ao serviço de Bétis, Antonio Adán chegou a Alvalade a custo zero e tranquilizou os colegas. Fonte inesgotável de segurança, papel que assumiu principalmente em conjunto com Coates e Palhinha, Adán mostrou como deve ser um guarda-redes de equipa grande. Depois da saída de Rui Patrício, a baliza leonina está, alguns anos depois, novamente bem entregue.
    Além do portero campeão, é impossível não mencionar o impacto que Hélton Leite teve no futebol dos encarnados. Curiosamente sempre nos pareceu que seria um guardião mais ao jeito de JJ do que Odysseas. Kritciuk e Léo Jardim (ambos muito acima da média na nossa Liga) foram verdadeiras dádivas para Petit e Jesualdo Ferreira, e Dênis coleccionou intervenções milagrosas.


Lateral Direito: Quanta garra, quanta correria, quanto pulmão. Que tiro do meio da rua contra o Boavista e que livre fulminante em Famalicão. O Sporting pediu Pedro Porro emprestado ao Manchester City e o autor do único golo da final da Taça da Liga revelou-se um reforço de sonho. Perfeito como ala no 3-4-3 de Rúben Amorim, brilhou ao ponto de ser chamado pela 1.ª vez à selecção espanhola, e seria óptimo para todas as partes que os 8,5 milhões da cláusula de rescisão fossem activados.
    Este foi também um ano de afirmação para Diogo Gonçalves, que se fixou em definitivo como lateral e parece ter deixado essa posição resolvida para 21/ 22 (ano em que esperamos que expluda), os manos Esgaio estiveram em grande plano, Ricardo mais incorporação do ataque e Tiago no capítulo defensivo, e Reggie Cannon foi uma aposta certeira do departamento de scouting do Bessa.


Defesa Central (Lado Dto.): Que época monstruosa realizou Sebastián Coates! O capitão do Sporting passou de auto-goleador gozado pelos adversários e de uma época que teve no seu fundo um célebre jogo contra o Rio Ave, em que o uruguaio cometeu 3 grandes penalidades e acabou expulso, para um dos 3 justos candidatos a MVP desta edição. Exemplar no comando da sua defesa, teve aos 30 anos a melhor época da sua carreira juntando às monumentais prestações defensivas (a sua exibição em Braga fica definitivamente na História desta edição) inúmeros golos decisivos, quase sempre em período de descontos.
    Também no centro de outras defesas, Nicolás Otamendi ganhou o respeito dos adeptos encarnados, que já o consideram hoje um dos seus, Mikel Villanueva roubou a Fábio Cardoso o habitual estatuto de grande destaque defensivo do Santa Clara, Mbemba foi o complemento certo para Pepe, e Ferraresi (acabou a época a lateral-direito) mostrou que nem só o Sporting soube ir às compras em Manchester. 


Defesa Central (Lado Esq.): Um dos 2 únicos repetentes no nosso 11 do Ano em comparação com o ano passado. Há um ano atrás escrevíamos "Pepe não foi incrível" e podíamos escrevê-lo outra vez, estaria novamente certo. Pepe não foi o super-defesa que Portugal já viu nos europeus de 2016 e 2012 e espera ver uma última vez agora em 2021, mas foi, com 38 anos, o melhor defesa central a actuar pelo lado esquerdo no nosso futebol.
    Feddal foi um herói quase sempre silencioso na defesa do Sporting, Vertonghen (individualmente, quase não teve falhas) foi vítima do contexto em que se viu inserido, Maracás foi o central mais consistente do Paços e Tomás Ribeiro prosseguiu o seu crescimento. Aos 22 anos, é um dos jovens centrais portugueses mais interessantes e dificilmente continuará no Belenenses SAD.


Lateral Esquerdo: Com 18 aninhos, campeão pelo Sporting, desejado pelos grandes tubarões do futebol europeu, e convocado por Fernando Santos para o Euro. Nuno Mendes é um fenómeno e assusta um pouco pensar que ainda tem imenso para evoluir. Indiscutível para Rúben Amorim, galgou metros e metros ao longo do seu corredor. Um diamante em bruto.
    Entre esquerdinos, Rúben Vinagre chegou a Famalicão apenas em Janeiro mas fez o suficiente para deixar águias e leões a pensarem em contratá-lo, Grimaldo teve melhores números (9 assistências) do que rendimento global, Zaidu não acusou a pressão na passagem dos Açores para o Dragão, e Ricardo Mangas deixou-nos convencidos que o Boavista tem ali um lateral com muito para dar nos próximos anos.


Médio Defensivo: Para além de Pepe, João Palhinha é o único jogador que se mantém no nosso 11 do Ano de 2019/ 20 (à data como jogador do Sporting de Braga) para 2020/ 21. Numa prova em que o seu nome foi tantas vezes dito pelos rivais ("Caso Palhinha"), o trinco leonino assumiu-se como um dos craques deste Sporting - apenas Pedro Gonçalves, Coates e Palhinha poderiam ser eleitos MVP deste campeonato -, demonstrando uma regularidade impressionante, e uma fortíssima capacidade de ler o jogo, antecipar, condicionar e destruir. Foi duro quando teve que ser, e sem ele muitos virtuosos do Sporting não teriam tido tamanha liberdade e descontracção para fazer a diferença na frente. É esse o papel de João Palhinha: deixar os outros respirar, com as costas quentes, e os adversários sem oxigénio.
    O alemão Julian Weigl foi porventura o jogador do Benfica mais consistente (pela positiva) ao longo da época, sendo por várias vezes a salvação num marasmo custoso, Uribe foi igual a si mesmo, Ugarte revelou-se e provou estar pronto para outros voos, e Fábio Pacheco desarmou e interceptou vezes e vezes sem conta.


Médio Centro: O único jogador que integra o nosso 11 que não pertence a Sporting, Porto ou Benfica (há um ano atrás havia João Palhinha, Fábio Martins e Paulinho). Contratado a custo zero ao rival Vitória, acompanhando Carlos Carvalhal que o orientara no Rio Ave, o médio líbio de 25 anos e 1,89m deixou-nos deliciados. Médio inteligente a posicionar-se e de pulmão infinito, seria um reforço muito útil para qualquer um dos 3 grandes.
    Otávio (óptima notícia para o futebol português a sua renovação) foi sempre uma mais-valia e um dos jogadores "especiais" do Porto, Luiz Carlos mostrou aos 35 anos que a idade é mesmo só um número, João Mário não foi tão cativante como noutros tempos, mas não perdeu a classe e o seu QI a temporizar e definir, e Dener foi consistente ao longo de toda a temporada.


Médio Centro: Embora o seu maior brilho tenha sido na Liga dos Campeões (5 golos em 8 jogos da prova milionária), Sérgio Oliveira foi também em Portugal um dos médios em destaque, sendo hoje em dia não só um dos indiscutíveis como um dos mais frequentes heróis dos azuis e brancos. Com 20 golos marcados entre todas as competições, aos 28 anos está no ponto.
    Stephen Eustáquio foi o melhor jogador do sensacional Paços de Ferreira, e pode tornar-se colega de equipa de Sérgio Oliveira dentro de pouco tempo; Lucas Mineiro não precisou de muito tempo para que o Braga percebesse que o Gil Vicente encontrara um jogador diferenciado; Lincoln deslumbrou com a sua criatividade, e o pequeno Luquinha (20 anos e 1,67m) deu os primeiros passos numa carreira que pode vir a ser bem interessante.


Médio Ofensivo: Quem acompanhou o Famalicão em 2019/ 20 sabia que Pedro Gonçalves era um jogador distinto, um médio muito acima da média que, contratado por 6 milhões e meio, só podia vir a revelar-se uma "pechincha". Mas, convenhamos, ninguém conseguiria prever que o mesmo rapaz que marcara 7 golos (5 na Liga) pelo Famalicão viria a tornar-se o melhor marcador desta edição com 23 golos. "Pote" acabou a época em grande (5 golos nas últimas duas jornadas) e brilhou sobretudo no arranque, quando fez o Sporting disparar com os seus 10 golos em seis jogos. Um híbrido, exímio a perceber que espaços ocupar. Bruno Fernandes já tem sucessor.
    Entre criativos, Ryan Gauld (quem o contratar ficará muito bem servido) não merecia que o seu Farense descesse, Angel Gomes espalhou magia, Ricardo Horta baixou o nível em relação à época passada, e Rochinha foi porventura o único motivo para os adeptos vimaranenses sorrirem.


Avançado / Extremo: Melhor marcador do campeonato em 2019, com 23 golos e uma parceria mortífera com João Félix sob o olhar atento de Bruno Lage, o eternamente mal amado Haris Seferovic quase voltou a conquistar a Bota de Prata, que acabou por ficar entregue a Pedro Gonçalves. O suiço de 29 anos ficou-se desta vez pelos 22 golos, sendo no entanto pertinente recordar que atingiu esta marca disputando cerca de 2.200 minutos (só se fixou, em definitivo, como titular à jornada 18).
    Mesclando pontas de lança e extremos, Carlos Jr. (14 golos) marcou de todas as formas, Mario González (não o conhecíamos) foi uma tremenda surpresa e pode tornar-se um caso sério se escolher bem o próximo passo na carreira; Jesús Corona manteve o seu perfume, embora bastante abaixo do nível que fez dele o MVP de 19/ 20, e Alberth Elis fechou esta edição como um dos elementos em melhor forma, não surpreendendo que o Porto alegadamente o queira.


Avançado/ ExtremoEm comum com Seferovic, o iraniano Mehdi Taremi também demorou a ter a sua oportunidade no 11 inicial do Porto. Ao serviço dos dragões, somou no campeonato 16 golos e 11 assistências (ninguém assistiu mais do que ele), ficando a certeza de que é ponta de lança de equipa grande, e que a sua época em Vila do Conde não foi um acaso.
    Dono de uma estampa física impressionante e de elevado potencial, Beto foi para nós o Most Improved Player deste ano, faltando apenas saber qual será a sua próxima equipa; Rafa e Nuno Santos tiveram por várias vezes mais futebol do que os números o que quiseram mostrar; e Samuel Lino é um talento singular, que deve ser nutrido, estimado e estimulado devidamente.



    Depois de nomes como Enzo Pérez, Nico Gaitán, Jonas (por duas vezes), Pizzi, Bruno Fernandes ou Corona, Pedro Gonçalves é a nossa escolha para MVP deste campeonato.
    Sendo certo que entendemos como aceitável a distinção quer de Sebastián Coates (é muito provável que seja o eleito oficial da Liga, pela fortaleza defensiva que o Sporting foi e pela sua capacidade de aparecer em tantos momentos-chave) quer de João Palhinha (peça basilar do esquema de Rúben Amorim, sendo talvez o jogador mais difícil de substituir neste elenco), foi-nos impossível resistir à veia goleadora do médio que se transformou em tudo o que o golo pediu. Um jogador especial com rendimento inesperado num campeonato igualmente especial e supreendente.
    Sendo certo que Sérgio Oliveira, Pedro Porro, Adán, Al Musrati, Weigl, Otávio, Mario González, Beto e Ryan Gauld também merecem uma palavra, o nosso Top-6 deste ano fica completo com Haris Seferovic (extraordinária segunda volta), Mehdi Taremi (16 golos e máximo assistente com 11 assistências) e Carlos Jr., numa última vaga que poderia ficar perfeitamente preenchida por qualquer um dos nomes antes elencados.



    Sem surpresa, e visto que o nosso MVP do ano tem ainda 22 anos (idade limite para a nossa consideração dos candidatos a Jovem jogador do Ano), Pote é também o vencedor da categoria dos jovens talentos. Um duplo prémio que é inédito no Barba Por Fazer desde que introduzimos esta cerimónia digital em 2014. Pedro Gonçalves junta-se assim a uma lista com William Carvalho, Óliver, Renato Sanches, Gelson, Rúben Dias, João Félix e Marcus Edwards.
    A fazer companhia ao melhor marcador da Liga, naturalmente os dois jovens laterais do Sporting, preponderantes na dinâmica do Sporting, ambos irreverentes, bem como o pequeno mago Angel Gomes, uma força da natureza chamada Manuel Ugarte, e Samuel Lino, um prodígio brasileiro que pode transformar-se em ouro em Barcelos na próxima época.



Treinador do Ano: O treinador do momento e os treinadores que têm tido muitos momentos, mas só agora parecem estar finalmente a colher o (muito) merecido crédito.
    Comecemos pelo fim. Ricardo Soares substituiu Rui Almeida no Gil Vicente e conduziu a equipa a uma posição confortável. No entanto, fê-lo com uma ideia carregada de personalidade e convicção, abdicando de posturas ultra-defensivas e revelando astúcia não só a preparar os jogos como a lê-los no seu decorrer. Armando Gonçalves Teixeira, mais conhecido por Petit, quase chegou à Europa com um Belenenses SAD que, olhando para o plantel, podia em teoria ter ficado perto da linha de água. 35 golos sofridos (5.ª melhor defesa da Liga) serviram de atestado do "dedo" de Petit, que merece ser posto à prova numa equipa com outros argumentos.
    Daniel Ramos acabou a temporada mascarado de vaca, no cumprimento de uma aposta, depois de levar o Santa Clara pela primeira vez às competições europeias. Perto do término do campeonato, Daniel Ramos disse que considerava que o Santa Clara tinha sido a equipa mais regular, sem significativas flutuações de rendimento, ao longo da prova. É uma opinião bem aceitável.
    O Paços de Ferreira de Pepa (próximo treinador do Vit. Guimarães) caiu bastante na 2.ª volta, mas os castores não deixaram de ser uma das equipas-sensação da prova, e basta lembrar que, terminada a primeira volta, o Paços tinha os mesmos pontos que o Benfica, para se perceber a dimensão do trabalho de Pepa, que insistiu sempre num futebol ofensivo e retirou o melhor de quase todos os seus jogadores.
    Mas claro, Treinador do Ano só podia ser um: Rúben Amorim. O jovem técnico de 36 anos deu sequência ao seu bom trabalho em Braga e liderou os leões à conquista do campeonato dezanove anos depois. Com alguns castigos e alguma perseguição pelo meio, Amorim revelou inteligência e sensibilidade na gestão do grupo, identificando em conjunto com Hugo Viana um leque de alvos perfeitos escolhidos a dedo, e confiando na juventude, em consonância com o ADN do clube. Temos muita curiosidade para assistir ao seu 2.º ano no Sporting, e sentimos que há uma certa probabilidade de 2021/ 22 ser a última vez que o temos cá por Portugal.



Melhor Marcador: 1. Pedro Gonçalves (Sporting) - 23
2. Haris Seferovic (Benfica) - 22
3. Mehdi Taremi (Porto) - 16

Melhor Assistente: 1. Mehdi Taremi (Porto) - 11
2. Darwin Núñez (Benfica) - 9
3. Álex Grimaldo (Benfica) - 9

Clube-Sensação: Santa Clara
Desilusão: Rio Ave
Most Improved Player: 1. Beto, 2. Al Musrati, 3. Diogo Gonçalves
Reforço do Ano: Pedro Gonçalves (Sporting)
Flop do Ano: Everton (Benfica)
Melhor Golo: Beto (Portimonense 3 - 0 Tondela) (Link)