27 de maio de 2021

Balanço Final - Liga NOS 20/ 21


  Liga NOS - Dezanove anos depois, o Sporting voltou a sagrar-se campeão. A espera foi longa, mas recompensada, numa Liga em que a candidatura ao título foi adiada "jogo a jogo" até não dar mais. Num campeonato de bancadas despidas, os leões de Rúben Amorim (o novo treinador fenómeno do futebol português) foram quase invencíveis, colocando em campo uma regularidade e competência - sobretudo no processo defensivo - como mais nenhuma equipa foi capaz, pondo fim à crónica alternância instalada entre os rivais FC Porto e Benfica.

    2020/ 2021 foi a temporada em que Amorim passou mais tempo castigado do que provavelmente deveria, e Sérgio Conceição passou menos tempo castigado do que seguramente deveria; foi a edição em que o Benfica prometia arrasar e jogar o triplo, mas saiu arrasado e ficou em terceiro, deixando o acesso à Liga dos Campeões ainda por decidir; foi a época em que o cada-vez-mais-assumido-como-candidato Braga terminou mais perto do 5.º classificado Paços de Ferreira (equipa sensação, e mais um incrível trabalho de Pepa) do que da verdadeira luta pelo troféu de campeão, embora conferindo um tom diferente à temporada com a conquista da Taça Portugal, momento que afundou ainda mais a desgraça benfiquista.

    De Setembro até hoje, os arriscados 10 milhões investidos por Frederico Varandas em Rúben Amorim tornaram-se um dos melhores negócios da História recente do clube, podendo só o tempo responder se o jovem técnico de 36 anos terá capacidade para continuar a manter a fasquia elevada no seu impressionante trajecto, ou se, em diferentes circunstâncias, acusará a pressão como recentemente aconteceu com Bruno Lage do outro lado da Segunda Circular. Numa prova pintada a verde e branco a três jornadas do fim, sobressaíram os golos de Pedro Gonçalves e Seferovic, agradáveis surpresas como Beto e Mario González, cabendo ao capitão Coates tantos momentos e performances decisivas, ladeado por dois laterais fantásticos (tornar-se-á Nuno Mendes a maior transferência da História do Sporting?) e tendo à sua frente um "monstro", no melhor dos sentidos, chamado João Palhinha. Sérgio Oliveira, Al Musrati, Ryan Gauld, Carlos Jr., Taremi, Otávio, Eustáquio, Otamendi ou Weigl foram algumas das figuras em destaque ao longo de 34 capítulos, que apresentaram muita juventude para os lados de Alcochete, embora sem esquecer o axadrezado Angel Gomes, os jovens temperos do Famalicão Ugarte e Vinagre, e um projecto interessante em Barcelos chamado Samuel Lino.

    Impossível não destacar, além do já mencionado Paços, as meritórias épocas de Santa Clara (pela 1.ª vez na Europa), Belenenses SAD e Gil Vicente, entregues a treinadores bastante cumpridores mas pouco mediáticos como são Daniel Ramos, Petit e Ricardo Soares, ficando reservado para a imaginação aquilo que seria uma temporada do Famalicão com Ivo Vieira no comando mais cedo. Se nos lugares cimeiros, o Benfica foi a maior desilusão, na restante tabela Rio Ave e Boavista fizeram francamente menos do que aquilo que tinham obrigação, perdendo-se pouco com a descida do Nacional (a decisão de despedir Luís Freire para ir buscar Manuel Machado é candidata a uma das piores do ano) e custando ver o Farense de Ryan Gauld, equipa bastante prejudicada pela arbitragem, cair também.

    Acompanhem-nos então neste balanço final, que analisa em detalhe as 18 equipas da Liga portuguesa, procurando determinar o que correu bem, o que correu mal, quem se destacou e quem desiludiu:



 SPORTING (1)


    Depois dos 18 anos de espera entre 1982 e 2000, os 19 anos de espera desde 2002 até hoje. O Sporting sagrou-se campeão nacional contra a maioria das expectativas, poucos anos depois do ataque a Alcochete que deixou o leão traumatizado e a lamber feridas profundas.
    Frederico Varandas gastou 10 milhões de euros para retirar Rúben Amorim de Braga, e o técnico de 36 anos arrasou a concorrência, bem coadjuvado pelo presidente e por Hugo Viana. Na realidade, pode-se dizer que este título leonino se começou a construir quando em 2019/ 20, pouco tempo depois de assumir o novo projecto, Amorim viu o futebol português confinar, aproveitando a paragem para estudar ao pormenor os jovens ao seu dispor, e iniciando a aposta em Nuno Mendes, Matheus Nunes ou Eduardo Quaresma nas jornadas finais. Estavam dados os primeiros sinais de um novo Sporting, o seu Sporting.
    No ano em que correu tudo bem - até a derrota com o LASK, a esta distância, se pode dizer que foi positiva e fundamental - o Sporting acertou em cheio em praticamente todas as suas aquisições, comprando bem e barato em Portugal (Pedro Gonçalves e Nuno Santos), acrescentando experiência (Adán e Feddal) e respeitando o ADN do clube ao confiar não só em Nuno Mendes mas também no refinado Daniel Bragança  e no massacrado Tiago Tomás.
    85 pontos, apenas 20 golos sofridos, uns quantos castigos só porque sim para o técnico lisboeta e uma quase invencibilidade (uma derrota em 34 jornadas num frenético 4-3 na Luz), além da conquista de uma Taça da Liga pelo meio, traduzem uma época inolvidável em que Pedro Gonçalves passou de marcar 5 golos pelo Famalicão para ser coroado melhor marcador da Liga com 23, em que Coates defendeu como nunca e marcou como poucos centrais, em que João Palhinha (a época teria sido seguramente bem diferente se tivesse sido vendido) recuperou, desarmou e equilibrou, e as locomotivas Pedro Porro e Nuno Mendes impressionaram ao longo dos corredores. No percurso, impossível não assinalar a performance lutadora na tempestade da Madeira diante do Nacional, a vitória frente ao rival Benfica com golo de Matheus Nunes aos 90+2, a reviravolta em Barcelos com bis de Coates nos 10 minutos finais e aquele "jogo de campeão" em Braga, com a equipa reduzida a 10 desde os 18 minutos.
    A curiosidade é muita para assistir ao Ano 2 de Rúben Amorim. Porém, agora, deixe-se o Sporting festejar, que bem merece.

Destaques: Pedro Gonçalves, Sebastián Coates, João Palhinha, Antonio Adán, Pedro Porro

 PORTO (2)

    A época azul e branca ficou manchada pelas agressões a um repórter da TVI, pelas suspeitas de falsificação de testes à Covid-19 e pelo descontrolo emocional de Sérgio Conceição, ora passivo-agressivo após ganhar um jogo, ora irado e mal com tudo e todos quando 16 grandes penalidades não pareciam ser suficiente. Na Europa, o FC Porto brilhou com uns notáveis 13 pontos na fase de grupos, a eliminação da Juventus nos oitavos e a capacidade de bater o pé ao finalista Chelsea nos quartos.
    Eliminado nas meias-finais das duas taças, o Porto foi o melhor ataque do futebol português (74 golos) e até só perdeu por duas vezes (contra Marítimo e Paços de Ferreira, duas derrotas por 3-2 que ocorreram nas primeiras 6 jornadas), mas fartou-se de empatar e o futebol - como tem sido apanágio com Sérgio Conceição - nunca convenceu ou encantou. Custa não ganhar um campeonato quando não se registou qualquer derrota da jornada 7 à 34 (28 jornadas consecutivas) mas o Sporting foi simplesmente melhor. Afinal, nem sempre ganham os mesmos.
    A continuidade de Sérgio Conceição ou início de um novo ciclo é neste momento um ponto de interrogação. Desta vez, há a elogiar a época goleadora de Sérgio Oliveira (20 golos em todas as competições), o impacto de Mehdi Taremi a partir do momento em que lhe foi permitido entrar no onze, sem esquecer a já tradicional boa agressividade que Otávio, Pepe e Uribe conferem aos dragões. Felipe Anderson foi um flop e Corona não fez jus ao estatuto de MVP do último campeonato.

Destaques: Sérgio Oliveira, Mehdi Taremi, Otávio, Pepe, Matheus Uribe

 BENFICA (3)

   O Novo Testamento com Jorge Jesus prometia mundos e fundos: um mundo em que o Benfica ia arrasar e "jogar o triplo", investindo para tal mais de 100 milhões para limpar a Liga portuguesa e voltar a ser grande na Europa.
    No entanto, não foi bem isso que aconteceu... As águias hipotecaram o sonho da Champions contra o PAOK, Rúben Dias saiu (de nada, Manchester City), os reforços que JJ pretendia já não puderam vir todos, o preconceito contra a formação (Gonçalo Ramos não tem que nascer 10 vezes mas tem, pelos vistos, "que esperar") voltou, Everton não pôs os adversários a chorar como se esperava, e nem a Taça no fim serviu para afogar mágoas, com o karma a tramar Jesus depois de ter dado à priori o derradeiro troféu como estando no papo ("alguns não vão ganhar nada"). Enfim, foi mau demais.
    Luís Filipe Vieira (já chega) e Jorge Jesus agarrar-se-ão ao facto do Benfica ter sido a equipa que realizou a melhor 2.ª volta e ao estatuto de única equipa capaz de derrotar o campeão Sporting em 34 jornadas, mas esse gáudio é uma mão cheia de nada, meras vitórias morais, preocupando a total ausência de um projecto desportivo para os lados da Luz, com a equipa sem identidade e repleta de indefinições: por exemplo, o sistema com 3 centrais é uma opção para prolongar ou foi, como esperamos, apenas um penso rápido para remediar 2020/ 21?
    Numa época depressiva, que terá afastado como poucas outras num passado recente os adeptos (e que falta fazem eles para fazer da Luz um inferno) da equipa, a Covid-19 serviu de principal desculpa, salvando-se os golos de Haris Seferovic, a elevada subida de rendimento de Julian Weigl, a demonstração de Otamendi como adequado capitão, a segurança de Hélton Leite assim que lhe foi entregue a baliza e a validação de Diogo Gonçalves enquanto séria opção para lateral-direito.
    O universo benfiquista torce para Everton e Darwin renderem muito mais na próxima temporada, faltando até lá mudar muita coisa. Começando, idealmente, pelo presidente.

Destaques: Haris Seferovic, Julian Weigl, Nicolás Otamendi, Hélton Leite, Diogo Gonçalves

 BRAGA (4)

    O Sporting de Braga queria lutar pelo título e queria ser o primeiro Sporting da tabela. No entanto, o clube de António Salvador e Carlos Carvalhal acabou a longínquos 19 pontos do 1.º lugar, e a 11 do quinto classificado, o sensacional Paços de Ferreira.
    Vencedor da Taça de Portugal, finalista vencido na Taça da Liga, e eliminado nos dezasseis-avos-de-final da Liga Europa pela Roma depois de uma fase de grupos de respeito (igualdade pontual com o Leicester City), o Braga desiludiu apenas no campeonato. E muito contribuiu para essa análise um final de época com apenas 3 vitórias nas últimas 11 jornadas.
    Em Braga, Abel Ruiz tentou fazer esquecer Paulinho após a sua saída para o novo campeão nacional, e os principais momentos de genialidade surgiram quase sempre dos pés de Galeno e Ricardo Horta. Carvalhal retirou a habitual assertividade de Esgaio, viu Lucas Piazón atravessar bom período, viu Iuri Medeiros e Francisco Moura lesionarem-se quando começavam a entrar nas contas do 11 inicial, e viu sobretudo um "monstro" chamado Al Musrati, que encheu o campo com a sua omnipresença, levando os adeptos do Benfica a invadirem as suas redes sociais para que ingressasse no clube encarnado.
    Próxima paragem 1º de Maio?

Destaques: Al Musrati, Ricardo Horta, Galeno, Ricardo Esgaio, Abel Ruiz

 PAÇOS FERREIRA (5)

    Era já evidente há algum tempo, mas agora com "obra feita" noutro patamar é oficial: Pepa é um dos treinadores do momento no futebol português. Segue-se um sempre arriscado desafio em Guimarães.
    A equipa da Mata Real, que estará entregue ao regressado Jorge Simão na próxima época, acabou como ilha, longe do Braga e longe do Santa Clara. No entanto, só foi assim mediante uma segunda volta muito inferior à primeira - nas primeiras 17 jornadas, o Paços totalizou 34 pontos (tantos como o Benfica, menos 2 que o Braga e menos 5 que o Porto); nessa mesma 1.ª volta os castores chegaram a alcançar 6 vitórias consecutivas. Depois, na segunda volta, foram 19 pts (quase metade), realizando nessa fase uma prova semelhante a Rio Ave, Tondela ou Portimonense.
    Este impressionante quinto lugar, que em teoria parecia entregue a Vit. Guimarães, Famalicão ou Rio Ave, teve muito dedo de Pepa, que conseguiu "espremer" os seus jogadores e catapultá-los para um patamar em muitos casos nunca antes visto. Stephen Eustáquio, Luiz Carlos e Bruno Costa formaram um meio-campo sublime, Douglas Tanque foi sinónimo de força e golos, e Luther Singh iluminou a equipa nas suas tardes e noites de maior inspiração.
    Recordamos que depois de ficar em 3.º em 2013 com Paulo Fonseca, o Paços foi 16.º no ano seguinte; e depois de ficar em 7.º com Jorge Simão em 2016, a equipa deixou-se cair para 13.º logo depois. Por isso, fica a questão: conseguirá o Paços não acusar o sucesso deste ano em 2022?

Destaques: Stephen Eustáquio, Luiz Carlos, Bruno Costa, Maracás, Jordi

 SANTA CLARA (6)

    Desde que subiu à Liga NOS em 2018, o Santa Clara não tem parado de subir. 10.º e 9.º classificado em 2019 e 2020 com João Henriques, e agora sexto classificado com Daniel Ramos. Motivo para o treinador e o presidente se mascararem de vacas na conferência de imprensa do último jogo da época? Diríamos que sim.
    Nos Açores, esta foi uma época histórica com a estreia absoluta nas competições europeias a estar agendada para 21/ 22 (2.ª Pré-eliminatória da nova Conference League) e começa a ser difícil descrever o fantástico de trabalho do director desportivo Diogo Boa Alma (de saída) num clube que tem acumulado boas escolhas.
    O Santa Clara foi a única equipa que conseguiu fechar a época com uma diferença de golos positiva além de Sporting, Porto, Benfica e Braga, e atinge esta inédita qualificação europeia com um elenco muito homogéneo e compacto, com muito rigor atrás (Villanueva e Fábio Cardoso são disso garantia) e muito talento na frente com Carlos Jr. (impossível segurá-lo, supomos), Lincoln e Allano à cabeça. Queremos ver o que Morita e Rui Costa fazem em 2021/ 22.

Destaques: Carlos Jr., Lincoln, Mikel Villanueva, Anderson Carvalho, Hidemasa Morita

 VIT. GUIMARÃES (7)

    O adeus à Conference League na jornada final foi o último prego no caixão de uma temporada para esquecer em que o Vitória bateu o recorde de treinadores (4) - Tiago, João Henriques, Bino e Moreno. Este sétimo lugar do Vitória, num ano em que o objectivo passava pela aproximação ao Top4 (que ficou a 21 pontos), quase parece pior, por uma questão de gestão de expectativas, que a classificação das 5 equipas abaixo.
    Tiago Mendes (queríamos muito que desse certo, mas problemas de bastidores precipitaram a sua inesperada saída) cumpriu 3 jogos, João Henriques 22, Bino 7 e Moreno os dois últimos. Em campo, nenhum vimaranense jogou mais do Rochinha, com Quaresma a ser Quaresma em momentos pontuais.
    Marcus Edwards (frustrado por não ter saído?) ficou a anos-luz do seu rendimento da temporada anterior, André Almeida e André Amaro apresentaram-se e podem explodir a curto-prazo, ficando um sabor de esperança no fim de uma época amarga com o anúncio de que Pepa deixará a Mata Real para assumir o Vitória até 2024. E, na prática, para Pepa até poderá ser bom não ter Europa. 

Destaques: Rochinha, André Almeida, Falaye Sacko, Ricardo Quaresma

 MOREIRENSE (8)

    Tal como várias outras equipas, o Moreirense coleccionou treinadores ao longo deste ano. Porém, e ao contrário de Nacional, Farense ou Rio Ave, o desfecho foi positivo. Ricardo Soares e César Peixoto foram os antecessores de Vasco Seabra, que encontrou em Moreira de Cónegos quem acreditasse nele depois de ser demitido do Boavista.
    A brincar, a brincar, esta é a 3.ª temporada consecutiva que os cónegos ficam no Top-8, sinal de estabilidade e construção de identidade. Será mais adequado avaliar Vasco Seabra, num clube que parece de facto bem ao seu jeito, caso o projecto tenha sequência em 2021/ 22, mas a nível individual nesta edição impressionou-nos a brutal regularidade de Fábio Pacheco (uma pena que já tenha 32 anos visto que é claramente um dos melhores médios defensivos a actuar em Portugal), uma vez mais a quantidade de intervenções milagrosas de Mateus Pasinato, a evolução de Filipe Soares, o faro goleador já conhecido do reforço-em-boa-hora Rafael Martins e, claro, na defesa o venezuelano Nahuel Ferraresi, emprestado pelo Manchester City.
    2021/ 22 promete alguns desafios: um teste à capacidade de Vasco Sebra, a procura de um salto na tabela rumo a lugares europeus imitando o crescimento sustentado do Santa Clara, faltando também perceber que avançado conseguirá o clube adquirir, caso Rafael Martins não continue, e ver se Pires se consegue assumir como o grande craque deste conjunto.

Destaques: Mateus Pasinato, Filipe Soares, Fábio Pacheco, Nahuel Ferraresi, Rafael Martins

 FAMALICÃO (9)

    Como teria sido a temporada de 2020/ 21 do Famalicão se Ivo Vieira tivesse assumido a equipa mais cedo... nunca vamos saber. Depois de deslumbrar tudo e todos ao subir ao 1.º escalão, o Famalicão sofreu uma autêntica revolução, deixando de contar com Pedro Gonçalves, Diogo Gonçalves, Fábio Martins, Uros Racic, Nehuén Pérez e Toni Martínez. O extraordinário rendimento da equipa-sensação de 20/ 21 teve um preço, e o Famalicão pagou-o ao falhar algumas das apostas identificadas na sua prospecção, e atravessando um deserto que durou até Ivo Vieira chegar (3.º treinador do clube, depois de João Pedro Sousa e Silas).
    Esperávamos bem mais de Lukovic, Dani Morer ou Pereyra, mas a juventude deste Famalicão foi sobretudo portuguesa e começou a dar sinais de vida na 2.ª volta. Rúben Vinagre mostrou que pode ser reforço para qualquer um dos rivais de Lisboa, Gil Dias fartou-se de desequilibrar, Ivo Rodrigues assumiu em alguns momentos o papel que outrora pertencia a Fábio Martins, Pêpê estabilizou o meio-campo e Heriberto agitou as redes contrárias com alguns golaços. Iván Jaime deixou-nos de queixo caído quando conseguiu aparecer nos jogos, Luiz Júnior mostrou-se muitíssimo superior a Zlobin, e Gustavo Assunção acabou por sair desvalorizado, mas não deixou de ser um atleta diferenciado e pronto para outros voos. Preparado para dar o salto parece-nos estar também Manuel Ugarte, um médio fenomenal que não demorará a estar constantemente na selecção do Uruguai.

Destaques: Manuel Ugarte, Rúben Vinagre, Ivo Rodrigues, Gil Dias, Luiz Júnior

 BELENENSES SAD (10)

    Petit merece mais crédito? Claro que sim. Depois de salvar umas equipas atrás das outras, o antigo trinco conseguiu colocar este pouco exuberante Belenenses SAD a apenas 6 pontos da Europa, em igualdade pontual com o Famalicão (equipa sensação da época passada) e a apenas 3 pts do Vit. Guimarães, clube com obrigação de render muito mais.
    A arte de bem defender - 5.ª melhor defesa da Liga, com apenas mais 2 golos sofridos do que o Braga - foi priorizada por uma equipa que conseguiu alcançar um 10.º lugar marcando apenas 25 golos em 34 jogos. Na hora do golo, Mateo Cassierra aproveitou para se mostrar, mas foi na retaguarda que mais elementos se destacaram: Kritciuk é muito provavelmente o melhor guarda-redes da Liga extra-grandes, e tê-lo entre os postes faz muita diferença, devendo-se destacar Tiago Esgaio (já anunciado como reforço do Braga, onde deverá substituir o seu irmão mais velho) e Tomás Ribeiro.

Destaques: Mateo Cassierra, Stanislav Kritciuk, Tiago Esgaio, Tomás Ribeiro, Miguel Cardoso

 GIL VICENTE (11)

    De luto por Vítor Oliveira, como todo o futebol português, o Gil Vicente arrancou a época com uma aposta arriscada e falhada em Rui Almeida, mas encontrou-se ao nomear Ricardo Soares. A equipa de Barcelos, que ganhou na Luz e obrigou Coates a fazer-se herói no percurso para o título do Sporting, acrescentou inequívoca qualidade à nossa Liga, valorizando jogadores e demonstrando astúcia no mercado de Janeiro/ Fevereiro ao reforçar as fileiras com Pedrinho e Pedro Marques.
    O projecto tem tudo para conhecer interessante continuidade em 2021/ 22, sendo certo que Lucas Mineiro, um dos melhores médios centro desta edição, fará até lá as malas para Braga. Para a evolução do sportinguista Pedro Marques parece-nos que seria muito importante poder prosseguir na cidade do Galo, e temos muita curiosidade para acompanhar a evolução de dois talentos invulgares: Samuel Lino e Kanya Fujimoto. Ah, e sim, Dênis fartou-se de defender.

Destaques: Samuel Lino, Lucas Mineiro, Dênis, Talocha, Kanya Fujimoto

 TONDELA (12)

    Pela sexta temporada consecutiva, o Tondela aguentou-se na I Liga. Pela sexta temporada consecutiva, com um plantel humilde mas muito profissional e combativo. Pako Ayestarán provou ser boa escolha e trouxe do território de nuestros hermanos um dos "achados" da época, Mario González. O craque de 25 anos, que se vinha arrastando nas equipas secundárias do Villarreal, foi o farol ofensivo deste Tondela, e com 15 golos apontados ficou apenas atrás de Pedro Gonçalves, Seferovic e Taremi. Rúben Amorim, é este um jogador ao teu jeito?
    Embora ainda com alguns problemas por resolver - nomeadamente a baliza e o meio-campo, onde depois da saída de Pepelu não voltou a existir um médio forte e capaz de acompanhar João Pedro -, os beirões fizeram (uma vez mais) muito com pouco, sendo justo destacar ainda o recrutamento do uruguaio Enzo Martínez, um central de 23 anos que joga como se tivesse 28.

Destaques: Mario González, Enzo Martínez, Jhon Murillo, João Pedro

 BOAVISTA (13)

    O projecto Boavista 20/ 21 prometia muito, mesmo tratando-se de uma revolução significativa. Com reforços sonantes como Javi García e o ex-namorado de Pamela Anderson e campeão do mundo, Adil Rami, ou o prodigioso Angel Gomes, e um treinador (Vasco Seabra) bem avaliado após o seu bom trabalho em Mafra. No entanto, a paciência da Direcção esgotou-se rápido e, mesmo tendo humilhado o Benfica com um arrasador 3-0 na 6ª jornada, Seabra seguiu o seu caminho. O Bessa acolheu o experiente Jesualdo Ferreira e o técnico de 74 anos demorou um pouco a fazer o seu Raio-X ao campeonato, mas acabou por se conseguir "actualizar", colocando a equipa na direcção correcta.
    Os axadrezados tiveram sempre um dos melhores guarda-redes da Liga (Léo Jardim), encontraram em Reggie Cannon e Ricardo Mangas uma jovem e promissora dupla de laterais, e escusado será dizer que o melhor Boavista surgiu sempre que Angel Gomes conseguiu soltar em pequenas pinceladas o seu génio. Na frente, Alberth Elis despediu-se em grande, não surpreendendo que esteja a ser associado ao FC Porto.

Destaques: Alberth Elis, Angel Gomes, Ricardo Mangas, Reggie Cannon, Léo Jardim

 PORTIMONENSE (14)

    É difícil não eleger como momento da época do Portimonense o episódio em que Paulo Sérgio fez de Sérgio Conceição o homem mais pequenino do mundo num bate-boca desprestigiante para o nosso futebol. No entanto, Beto, o novo avançado da moda no futebol português, terá sido o principal responsável pelos momentos que realmente interessam, materializados dentro das quatro linhas.
    A equipa de Portimão não acabou bem mas um belo mês de Abril chegou para deixar os algarvios a respirarem mais à vontade. Ao longo de toda a época, o capitão Dener foi super-consistente, Willyan demonstrou a sua polivalência ora a central ora uns metros mais à frente, valorizando-se Boa Morte, Samuel Portugal, Moufi e ficando na retina a qualidade de Luquinha, um talento cuja evolução estaremos atentos em 2021/ 22.
    No entanto, falar do Portimonense esta época é invariavelmente falar de Beto. O antigo goleador do Olímpico do Montijo, com técnica supreendente para o seu 1,94m, 11 golos e muita margem de crescimento, promete dar muito que falar ao longo do próximo defeso. Está destinado a um dos 3 grandes, à Bundesliga ou à Premier League?

Destaques: Beto, Dener, Willyan, Aylton Boa Morte, Luquinha

 MARÍTIMO (15)

    É caso para dizer: Obrigado Joel Tagueu. O Marítimo começou a época com Lito Vidigal, depois passou para Milton Mendes, e finalizou com o espanhol Julio Velázquez no comando. O único clube que conseguiu impor uma derrota ao Sporting este ano além do LASK Linz e do Benfica, eliminando o clube de Alvalade da Taça de Portugal, realizou uma época para esquecer. No entanto, as 5 vitórias nos 12 jogos de Velázquez (já cá passara ao orientar Belenenses e Vit. Setúbal), com Joel Tagueu altamente influente, chegaram para que o clube escapasse tangencialmente.
    Com plantel para mais, pelo menos para não sofrer tanto, o Marítimo teve em Léo Andrade-Zainadine uma dupla competente q.b., e viveu basicamente dos períodos de inspiração dos seus avançados: Rodrigo Pinho brilhou em 2020, fazendo o suficiente para que o Benfica o adquirisse, e como dissemos Joel "O Cruel" disse presente na recta final.

Destaques: Joel Tagueu, Rodrigo Pinho, Léo Andrade, Zainadine Júnior

 RIO AVE (16)

    Uma das superlativas desilusões da época. Ainda se lembram que foi este mesmo Rio Ave que quase eliminou o AC Milan da Liga Europa no princípio da época?
    Depois do 5.º lugar em 2019/ 20, com o trabalho de Carlos Carvalhal a ser exaltado pela sua progressão vertical com bola ao nível dos melhores da Europa, os vilacondenses caíram 11 (!) lugares na classificação, e depois de disputada a 1.ª mão do play-off contra o Arouca (o 3.º classificado da II Liga ganhou por 3-0) o mais certo é o consumar da despromoção.
    Nem Mário Silva nem o regressado e cada vez menos cotado Miguel Cardoso - com o interino Pedro Cunha pelo meio a comandar a equipa em alguns jogos - tiveram capacidade para endireitar uma equipa que nunca defendeu propriamente mal (7.ª melhor defesa), teve sempre bastante bola (5.ª equipa com maior percentagem média de posse de bola) mas foi em ex aequo com o Belenenses SAD o pior ataque da Liga - 25 golos.
     É bastante provável que com um avançado capaz de valer 10-12 golos a conversa teria sido outra, mas a pouca ambição com que o clube atacou esta época não augurava nada de bom, ficando a ideia que o recrutamento ficou inacabado, visto que o Rio Ave ficou muitíssimo longe de alguma vez conseguir substituir Mehdi Taremi, Nuno Santos e Al Musrati, todos eles destaques nos seus novos emblemas.
    Com poucas razões para sorrir, deve-se reconhecer que não foi por falta de esforço do polaco Kieszek que a equipa desapontou tudo e todos, e Carlos Mané realizou a sua melhor época dos últimos anos, faltando-lhe apenas outros números para "certificar" a sua consistência exibicional.

Destaques: Pawel Kieszek, Carlos Mané, Aderllan Santos

 FARENSE (17)

    Indiscutivelmente, de longe a equipa mais prejudicada pela arbitragem nesta edição. No Algarve, o Farense acabou por carimbar a descida apenas no último dia, seguindo para a Segunda Liga de mãos dadas com o Nacional depois de juntos terem subido há 1 ano atrás, mas pelo caminho ficou bastante polémica (escusado será dizer que qualquer um dos clubes pequenos não consegue fazer o "barulho" dos grandes quando o tema é arbitragem, nem tem comparável acompanhamento nos media) e um vasto leque de grandes performances do escocês Ryan Gauld. O antigo jogador do Sporting fartou-se de jogar à bola, carregando a equipa jogo após jogo, e merece claramente dar o salto. Mercado não lhe faltará.
    Jorge Costa não desempenhou um mau trabalho, agarrando bem na equipa e deixando-a viva até ao 34º capítulo da história, mas fica a sensação que despedir Sérgio Vieira de forma tão precoce e "fácil" poderá ter custado a sobrevivência. Afinal, foi com Vieira que a equipa praticou o seu futebol mais fluido, que porventura poderia ter sido suficiente para levar a bom porto alguns jogos da segunda volta.  

Destaques: Ryan Gauld, Eduardo Mancha, Pedro Henrique


 NACIONAL DA MADEIRA (18)

    Com um plantel que sempre pareceu mais de acordo com o nível da Liga Portugal SABSEG do que preparado para a Liga NOS, o Nacional falhou a manutenção imediatamente depois de subir e voltou a deixar o Marítimo como único representante da Madeira no nosso campeonato.
    A pior defesa da prova (59 golos sofridos) teve no despedimento do jovem técnico de 35 anos Luís Freire, um treinador promissor que merece nova e rápida oportunidade no 1.º escalão, o momento-chave da época. Freire abandonou a equipa à jornada 24, deixando os insulares no penúltimo lugar mas a 1 ponto da manutenção e a 6 do nono classificado. Parece-nos esclarecedor evidenciar a má escolha que foi Manuel Machado ao constatar que, desde que assumiu a equipa, o Nacional conseguiu somar mais 4 pontinhos ao longo das 10 últimas jornadas da prova. Bastante fraquinho.
    No geral, a despromoção foi má mas a doença oncológica do guardião Daniel Guimarães (votos de muita força para aquele que estava a ser um dos melhores guarda-redes desta edição até então) foi seguramente a pior notícia da época; pela positiva, o Nacional viveu da explosão do colombiano Brayan Riascos (fantástico arranque de época!), valorizando-se também o hondurenho Bryan Róchez. Uma dupla que já representara, de resto, esmagadora fatia do arsenal madeirense em 2019/ 20. 

Destaques: Brayan Riascos, Bryan Róchez, Daniel Guimarães



por Miguel Pontares e Tiago Moreira

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