Alvíssaras (julgo que isto exprime uma boa nova ou boa notícia), musicólogos. Ao quarto conjunto de audições do Factor X português começamos a ficar - felizmente - com a ideia de que pode haver qualidade para ser trabalhada e dar um programa. Neste último programa surgiram vários artistas merecedores de destaque, o júri (sobretudo "os Paulos" e sobretudo Ventura) continuaram a dar bandeira e continua a ser menor a qualidade e o leque de opções a nível de grupos, o que poderá resultar, reforçamos, numa conjugação dentro de 1 ou 2 fases de alguns artistas a solo num grupo. A viagem de hoje começa com Berg, vamos passar por um locutor de rádio da Mega Hits, pelo Jason Segel português e ainda um rapaz que foi cantar uma música de um artista completamente desconhecido para o júri... um tal de Ed Sheeran.
Teófilo Sonnemberg é, ao fim de 4 programas de audições, o candidato mais forte e completo do Factor X. Berg, neste momento com 41 anos, decidiu finalmente apostar em si a solo depois de tantos anos na sombra (vimo-lo por exemplo nos Bandídolos, a banda que acompanhava os concorrentes do Ídolos). Tem um timbre do qual é impossível não se gostar, tem experiência, sabe cantar como ninguém, sente e vai proporcionar garantidamente grandes momentos nos próximos meses. Na audição, como o meu cunhado disse: ele não foi ali para concorrer, foi para dar espectáculo. Ele deu um concerto. Primeiro cantou "At Last" de Etta James (coitadinha da actuação da Sílvia Barros que esteve bem com o mesmo tema, mas tão longe) numa audição semelhante à de Josh Krajcik no X-Factor norte-americano. O público pediu outra e Berg brindou toda a gente com o melhor momento musical deste Factor X até agora - "Chuva" de Jorge Fernando, numa versão à Berg.
Depois temos o Fernando Daniel. Este rapaz de 17 anos é fisicamente o resultado de um filho do Ruben Amorim com o André Almeida, jogadores do Benfica, e musicalmente interpretou "Cold Coffee" de Ed Sheeran tendo uma voz semelhante ao original. Mas quem é esse Ed Sheeran? Aqui no Barba Por Fazer nos últimos 2 anos temos partilhado nos nossos 'Garganta Afinada' temas do britânico como "Give Me Love", "The A Team", "Firefly", "Lego House", entre tantos outros. No entanto, o director da Sony Music Portugal (Paulo Junqueiro) e o senhor que está envolvido no Sudoeste e produz e dirige o palco Heineken no Optimus Alive (Paulo Ventura) nunca ouviram falar dele. E julgo que isto chega para se perceber muita coisa sobre as decisões deste júri. Voltando ao Fernando Daniel, esteve a um grande nível e gera bastante curiosidade para o acompanharmos nas próximas fases.
A Nádia Gonçalves terá provavelmente trazido à memória de alguns saudosistas a concorrente do Ídolos Diana Piedade. Tem o Factor X, uma voz especial (actuação 95% perfeita, precisando só de uns ajustes nos fade outs no refrão, quando levava a voz lá acima) e das mais interessantes em competição. Com um potencial enorme, deleitou quem a ouviu a cantar... "Wrecking Ball" de Miley Cyrus. Sim, nem só o James Arthur faz coisas interessantes com Cyrus.
Passamos de um diamante por lapidar com 21 anos para um dos locutores principais da Mega Hits. É verdade, o Daniel Fontoura decidiu aos 31 anos que estava na hora de apostar definitivamente na sua carreira musical e não fazer apenas uns medleys engraçados na rádio (tem jeito para cantar Muse o rapaz). Tem voz para complicar as contas nos "+25" (categoria muito forte com Berg, José Freitas, Jair Neves, Nina Pereira e Dário Ferreira) e é dos elementos mais fortes a nível de presença de palco. Já agora, cuidado Daniel, nunca é bom ouvir o Paulo Ventura dizer "se lhe puser as mãozinhas em cima"... E a música que cantou foi "I Heard it Through the Grapevine" de Marvin Gaye.
Já falámos da fusão do Amorim com o André Almeida, mas no Gonçalo Santos temos o Jason Segel (actor de How I Met Your Mother) em versão tuga. Ventura entendeu que ele estava "à rasca" quando chegou ao palco mas felizmente isso não transpareceu na actuação. A cantar "I Won't Let You Go" de James Morrison provou o seu talento, fez a sua performance em parte de olhos fechados (nem reparou quando o mandaram parar) e junta-se a Fernando Daniel, Mariana Rocha e David Dias nos jovens que demonstraram qualidade com guitarra acústica. E Paulo Junqueiro, hás-de me explicar como é que é isso de fechares os olhos para perceberes que era mesmo ele que estava a cantar. Não deveria ser... o inverso?!
E do Gonçalo passamos para os meninos da mamã. Na realidade são os Heartbreakers - dois irmãos que dedicaram "When You Say Nothing At All" à mãe. São genericamente afinados, vocalmente apenas batidos pelos The Bliss a nível de grupos, mas considerando que as vozes deles são tão parecidas podiam não ter cantado tudo em uníssono e deixado cada um brilhar individualmente. Não é um dos grupos que nos entusiasma mais, mas sim em todo o caso foi justo passarem à fase seguinte.
Sara Ribeiro, a boa notícia é que merecias completamente passar à próxima fase - principalmente pela "Alone" das Heart e não pela inicial Brandi Carlile. A má notícia é que numa categoria com Berg, José Freitas, Jair Neves, Nina Pereira, Dário Ferreira e Daniel Fontoura, a vida vai ser muito muito complicada para ela. Terá que subir o nível e manter a qualidade vocal na música das Heart, e veremos se chega.
Quanto ao Diogo Valente proporcionou mais um dos momentos polémicos que a produção/SIC tanto gostam para fazer televisão, fazer audiência em vez de fazer música. Foi cantar Prodígio, revelou boa energia em palco e uma voz passível de resultar tanto ao vivo como em estúdio. Até por potenciar um campo musical pouco espelhado nos concorrentes que já passaram podia e devia ter passado imediatamente, mas acabou por só passar já longe do palco, com Paulo Junqueiro a dizer que o amou e a mudar o seu Não para um Sim. Vai ter que trabalhar o Diogo.
Neste programa tivemos ainda o professor de música Luís Taklin (grande guitarrista, para já a mostrar-se decente cantor) e algumas audições bastante curiosas. A Gabriela Marques tinha figura mas claramente não tem voz, a Cláudia Teixeira tem uma projecção vocal interessante mas tem uma forma de cantar esquisita. É muito afinada, não comete erros, mas tem uma necessidade de projectar a sua voz de forma exagerada por vezes. Depois houve o Tomás Baptista - foi cantar uma das músicas preferidas de um dos elementos da nossa equipa do BPF - "Nothingman" dos Pearl Jam e deixou apenas patente, como por acaso o júri bem lhe disse, que ele tem uma voz bastante interessante mas ainda não sabe o que fazer com ela, ainda não sabe cantar. É claramente músico para voltar numa próxima edição. Por fim a Paige Ferreira que proporcionou um momento bilingue no programa. Com os seus olhos azuis foi talvez melhor a cantar Guns N' Roses mas vai precisar de trabalhar, surpreender e apresentar-se acima do nível da audição para se manter em competição no futuro.