A ideia que deu origem ao texto apresentado
abaixo nasceu do curioso raciocínio/ exercício especulativo que o jornalista do
Maisfutebol, Filipe Caetano, fez nos últimos dias num artigo seu.
Lembro-me de fazer a colecção de cromos da Panini do Euro 2000 e ter
100% preenchidas as folhas destinadas à Jugoslávia. Essa selecção era a que
contava com Kralj (ex-Porto) na baliza, tinha um Sinisa Mihajlovic – hoje seleccionador
sérvio -, Dejan Stankovic ainda nos seus tempos de Lázio, o nosso bem conhecido
Ljubinko Drulovic e muitos nomes para a frente de ataque. Desde Darko
Kovacevic, da Juventus, a um jovem do qual se esperava muito chamado Mateja
Kezman. As duas figuras nesse Europeu ganho pela França, um por ser o jogador com
mais nome e o outro por ter sido o melhor marcador, foram Pedrag Mijatovic e Savo
Milosevic. Vimos esta geração jugoslava perder tanto em 98 como em 2000 aos pés
de uma Laranja Mecânica que ensinou
futebol a muita gente: Seedorf, irmaõs De Boer, Davids, Overmars, Kluivert,
Cocu, Stam, van der Sar e, acima de qualquer outro, Dennis Bergkamp.
Era uma geração razoavelmente boa a jugoslava,
que melhor teria sido se a Croácia não se tivesse tornado independente quando Davor Šuker tinha
apenas 2 internacionalizações (e 1 golo) pela Jugoslávia, acabando depois por
jogar toda a sua carreira internacional pela Croácia.
Politica e
geograficamente falando, a Jugoslávia foi em tempos constituída pelas actuais
Croácia, Sérvia, Montenegro, Bósnia e Herzegovina, Eslovénia, Macedónia e, já
agora, o Kosovo. Em 1991 a Eslovénia e a Croácia declararam independência e
meses depois a Macedónia e a Bósnia fizeram o mesmo. Só em 2006 chegámos à
cisão total com a Sérvia e Montenegro a seguirem caminhos distintos.
Ora, o exercício
que agora vou tentar fazer é imaginar… e se a Jugoslávia ainda existisse.
Vejamos, a Bósnia foi 1.ª classificada e já tem passaporte carimbado para o
Brasil; a Croácia disputará o play-off;
a Eslovénia lutou até à última jornada pela qualificação e a Sérvia tem a
actual geração que transborda talento (o Benfica que o diga).
Se a Jugoslávia
ainda existisse, era por esta altura a par da Espanha, Alemanha e Bélgica a
selecção com um maior leque de opções de qualidade. Ora vejamos:
- Na baliza, Samir Handanovic (Eslovénia/ Inter) disputaria a
titularidade com Asmir Begovic (Bósnia/ Stoke City). O ex-leão Stojković
limitar-se-ia a aquecer o banco jogo após jogo.
- A defesa tornava-se automaticamente uma das mais fortes no
contexto europeu e mesmo mundial. Desde a lateral esquerda disputada entre
Kolarov (Sérvia/ Man City), Strinic (Croácia/ Dnipro) e Lulić (Bósnia/ Lázio) à
lateral direita que ou ficava entregue a Branislav Ivanović (Sérvia/ Chelsea)
ou à locomotiva Darijo Srna (Croácia/ Shakhtar) – este que tanto podia ser lateral
direito como médio direito. Centrais jugoslavos seriam vários e de qualidade
certificada: pelo actual momento de forma provavelmente a titularidade estaria
entregue a Neven Subotić (Sérvia/ Dortmund) e Dejan Lovren (Croácia/
Southampton). Mas isto significava apenas que nomes como o bósnio Spahić, o
jovem sérvio Nastasić – indiscutível na actualidade na Sérvia - ou o
montenegrino Savić ficavam todos a ver o jogo sentados. E isto, claro está, sem
contar com Nemanja Vidić que renunciou à selecção sérvia em 2011.
- A coisa torna-se sobretudo engraçada no meio-campo, fruto do
cruzamento sérvio e croata, mais do que qualquer outra fusão. Então vejamos o
que seria juntar Nemanja Matić (Sérvia/ Benfica) com Luka Modrić (Croácia/ Real
Madrid), Ivan Rakitic (Croácia/ Sevilha), soltando Lazar Markovic (Sérvia/ Benfica)
ou Miralem Pjanić (Bósnia/ Roma). Não seria tacticamente viável, mas serve
apenas para demonstrar agora as opções que ainda restariam ao sortudo
seleccionador jugoslavo: os croatas Perisic e Badelj, os sérvios Tošić,
Djuricic e Fejsa e os eslovenos Birsa e Iličić.
- E para rematar, o ataque jugoslavo em 2013 seria também uma
incrível dor de cabeça para quem o gerisse. Os bósnios Džeko e Ibisevic
juntar-se-iam aos croatas Mandžukić, Jelavic e Olić, ao sérvio Tadić e ao
montenegrino Vucinic. Mas não acaba por aqui porque ainda sobrariam jogadores
que alternam entre a faixa e zonas mais avançadas como o macedónio Goran Pandev
e Jovetić (Montenegro/ Man City) e mesmo a jovem-promessa sérvia Aleksandar
Mitrovic do Anderlecht.
Olhamos para o passado e, caso as fronteiras não tivessem
sido traçadas, o presente jugoslavo seria impressionante e uma selecção a ter
em conta nas grandes competições. E analisando o presente verificamos ainda que
esta Jugoslávia de 2013 podia estar descansada porque o pomar ainda tem muitos
frutos para colher a médio-longo prazo: Jan Oblak (Eslovénia/ Benfica), Sime
Vrsaljko (Croácia/ Génova), Mateo Kovacic (Croácia/ Inter), Alen Halilovic
(Croácia/ Dinamo), Ante Rebic (Croácia/ Fiorentina), Marko Bakic (Montenegro/
Fiorentina) ou Marko Scepovic (Sérvia/ Olympiacos). E isto considerando que
acima já se falou de Markovic, Djuricic, Nastasić, Badelj e Mitrovic.
Cada povo lutou
pela sua independência e ainda bem que o fez porque nem o seleccionador nem as
páginas de caderneta de cromos teriam capacidade para gerir tanto talento
junto.
Aqui deixo uma
sugestão de 23 possíveis convocados para uma fase final desta Jugoslávia’13:
Guarda-redes: Samir Handanovic, Asmir Begovic,
Vladimir Stojković
Defesas: Branislav Ivanović, Darijo Srna, Neven
Subotić, Matija Nastasić, Dejan Lovren, Aleksandar Kolarov, Ivan Strinic
Médios: Nemanja Matić, Luka Modrić, Miralem
Pjanić, Ivan Rakitic, Goran Pandev, Zoran Tošić, Ljubomir Fejsa, Senad Lulić
Avançados: Edin Džeko, Mario Mandžukić, Lazar
Markovic, Stevan Jovetić, Vedad Ibisevic
(9 sérvios, 6 croatas, 5 bósnios, 1 montenegrino, 1 macedónio e 1 esloveno)
Miguel Pontares