18 de outubro de 2013

Crónica: E se a Jugoslávia ainda existisse?


A ideia que deu origem ao texto apresentado abaixo nasceu do curioso raciocínio/ exercício especulativo que o jornalista do Maisfutebol, Filipe Caetano, fez nos últimos dias num artigo seu.

    Lembro-me de fazer a colecção de cromos da Panini do Euro 2000 e ter 100% preenchidas as folhas destinadas à Jugoslávia. Essa selecção era a que contava com Kralj (ex-Porto) na baliza, tinha um Sinisa Mihajlovic – hoje seleccionador sérvio -, Dejan Stankovic ainda nos seus tempos de Lázio, o nosso bem conhecido Ljubinko Drulovic e muitos nomes para a frente de ataque. Desde Darko Kovacevic, da Juventus, a um jovem do qual se esperava muito chamado Mateja Kezman. As duas figuras nesse Europeu ganho pela França, um por ser o jogador com mais nome e o outro por ter sido o melhor marcador, foram Pedrag Mijatovic e Savo Milosevic. Vimos esta geração jugoslava perder tanto em 98 como em 2000 aos pés de uma Laranja Mecânica que ensinou futebol a muita gente: Seedorf, irmaõs De Boer, Davids, Overmars, Kluivert, Cocu, Stam, van der Sar e, acima de qualquer outro, Dennis Bergkamp.
    Era uma geração razoavelmente boa a jugoslava, que melhor teria sido se a Croácia não se tivesse tornado independente quando Davor Šuker tinha apenas 2 internacionalizações (e 1 golo) pela Jugoslávia, acabando depois por jogar toda a sua carreira internacional pela Croácia.

    Politica e geograficamente falando, a Jugoslávia foi em tempos constituída pelas actuais Croácia, Sérvia, Montenegro, Bósnia e Herzegovina, Eslovénia, Macedónia e, já agora, o Kosovo. Em 1991 a Eslovénia e a Croácia declararam independência e meses depois a Macedónia e a Bósnia fizeram o mesmo. Só em 2006 chegámos à cisão total com a Sérvia e Montenegro a seguirem caminhos distintos.
    Ora, o exercício que agora vou tentar fazer é imaginar… e se a Jugoslávia ainda existisse. Vejamos, a Bósnia foi 1.ª classificada e já tem passaporte carimbado para o Brasil; a Croácia disputará o play-off; a Eslovénia lutou até à última jornada pela qualificação e a Sérvia tem a actual geração que transborda talento (o Benfica que o diga).
    Se a Jugoslávia ainda existisse, era por esta altura a par da Espanha, Alemanha e Bélgica a selecção com um maior leque de opções de qualidade. Ora vejamos:

- Na baliza, Samir Handanovic (Eslovénia/ Inter) disputaria a titularidade com Asmir Begovic (Bósnia/ Stoke City). O ex-leão Stojković limitar-se-ia a aquecer o banco jogo após jogo.
- A defesa tornava-se automaticamente uma das mais fortes no contexto europeu e mesmo mundial. Desde a lateral esquerda disputada entre Kolarov (Sérvia/ Man City), Strinic (Croácia/ Dnipro) e Lulić (Bósnia/ Lázio) à lateral direita que ou ficava entregue a Branislav Ivanović (Sérvia/ Chelsea) ou à locomotiva Darijo Srna (Croácia/ Shakhtar) – este que tanto podia ser lateral direito como médio direito. Centrais jugoslavos seriam vários e de qualidade certificada: pelo actual momento de forma provavelmente a titularidade estaria entregue a Neven Subotić (Sérvia/ Dortmund) e Dejan Lovren (Croácia/ Southampton). Mas isto significava apenas que nomes como o bósnio Spahić, o jovem sérvio Nastasić – indiscutível na actualidade na Sérvia - ou o montenegrino Savić ficavam todos a ver o jogo sentados. E isto, claro está, sem contar com Nemanja Vidić que renunciou à selecção sérvia em 2011.

- A coisa torna-se sobretudo engraçada no meio-campo, fruto do cruzamento sérvio e croata, mais do que qualquer outra fusão. Então vejamos o que seria juntar Nemanja Matić (Sérvia/ Benfica) com Luka Modrić (Croácia/ Real Madrid), Ivan Rakitic (Croácia/ Sevilha), soltando Lazar Markovic (Sérvia/ Benfica) ou Miralem Pjanić (Bósnia/ Roma). Não seria tacticamente viável, mas serve apenas para demonstrar agora as opções que ainda restariam ao sortudo seleccionador jugoslavo: os croatas Perisic e Badelj, os sérvios Tošić, Djuricic e Fejsa e os eslovenos Birsa e Iličić.
- E para rematar, o ataque jugoslavo em 2013 seria também uma incrível dor de cabeça para quem o gerisse. Os bósnios Džeko e Ibisevic juntar-se-iam aos croatas Mandžukić, Jelavic e Olić, ao sérvio Tadić e ao montenegrino Vucinic. Mas não acaba por aqui porque ainda sobrariam jogadores que alternam entre a faixa e zonas mais avançadas como o macedónio Goran Pandev e Jovetić (Montenegro/ Man City) e mesmo a jovem-promessa sérvia Aleksandar Mitrovic do Anderlecht.

Olhamos para o passado e, caso as fronteiras não tivessem sido traçadas, o presente jugoslavo seria impressionante e uma selecção a ter em conta nas grandes competições. E analisando o presente verificamos ainda que esta Jugoslávia de 2013 podia estar descansada porque o pomar ainda tem muitos frutos para colher a médio-longo prazo: Jan Oblak (Eslovénia/ Benfica), Sime Vrsaljko (Croácia/ Génova), Mateo Kovacic (Croácia/ Inter), Alen Halilovic (Croácia/ Dinamo), Ante Rebic (Croácia/ Fiorentina), Marko Bakic (Montenegro/ Fiorentina) ou Marko Scepovic (Sérvia/ Olympiacos). E isto considerando que acima já se falou de Markovic, Djuricic, Nastasić, Badelj e Mitrovic.

    Cada povo lutou pela sua independência e ainda bem que o fez porque nem o seleccionador nem as páginas de caderneta de cromos teriam capacidade para gerir tanto talento junto.
    Aqui deixo uma sugestão de 23 possíveis convocados para uma fase final desta Jugoslávia’13:

Guarda-redes: Samir Handanovic, Asmir Begovic, Vladimir Stojković
Defesas: Branislav Ivanović, Darijo Srna, Neven Subotić, Matija Nastasić, Dejan Lovren, Aleksandar Kolarov, Ivan Strinic
Médios: Nemanja Matić, Luka Modrić, Miralem Pjanić, Ivan Rakitic, Goran Pandev, Zoran Tošić, Ljubomir Fejsa, Senad Lulić
Avançados: Edin Džeko, Mario Mandžukić, Lazar Markovic, Stevan Jovetić, Vedad Ibisevic
(9 sérvios, 6 croatas, 5 bósnios, 1 montenegrino, 1 macedónio e 1 esloveno)

                    Miguel Pontares

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