6 de julho de 2014

Holanda 0-0 (4-3 g.p.) Costa Rica: Havia motivos para Krul entrar

Holanda  0 - 0 (4-3 g.p.)  Costa Rica

    A Laranja Mecânica garantiu lugar nas meias-finais do Mundial 2014 depois de mais uma demonstração de carácter por parte da Costa Rica e de mais uma extraordinária exibição de Keylor Navas. Na ronda em que James Rodríguez é eliminado detendo nesta altura o estatuto de melhor jogador da competição, o mesmo acontece a Keylor, o melhor guardião na Copa até aqui. A Holanda foi superior durante todo o jogo, mas só conseguiu o apuramento na decisão por grandes penalidades. Aí, Tim Krul - colocado (correctíssima leitura, embora para nós Krul fosse sempre o titular como já defendemos por várias ocasiões) no fim do prolongamento por Van Gaal - fez das suas luvas decisivas. Ninguém pode tirar uma coisa à Costa Rica: os ticos saem deste Mundial sem perder.
    Para hoje Jorge Luís Pinto manteve o seu afinado 5-4-1, enquanto que Van Gaal - sem poder contar com Nigel De Jong - apostou em Blind e Kuyt como alas, uma estrutura de 3 centrais, Wijnaldum e Sneijder no miolo e na frente Robben, Depay e Van Persie. Hoje Van Gaal pôde de facto afirmar estar num 3-4-3. A Holanda começou melhor, mas circulando a bola de forma lenta, e criou o 1.º lance com Memphis Depay a assistir o capitão RVP, com este a ver Navas a negar-lhe o golo. Ainda na recarga do mesmo lance, Sneijder insistiu mas Keylor segurou com serenidade à 2.ª, e estava apenas a aquecer ainda. A tendência manteve-se e poucos minutos foi Depay a tentar a sua sorte mas K. Navas chamou-lhe um figo. O 1.º tempo teve ainda lances de bola parada bem executados: após um livre indirecto de Celso Borges valeu Van Persie a despachar a bola no seu auxílio à defesa, e do outro lado brilhou Keylor Navas novamente com um voo a impedir um livre directo de Sneijder. Remate fantástico, defesa superior.
    No regresso dos balneários, a Holanda não entrou como devia. Esperava-se uma laranja mecânica a acelerar o jogo, mas acabou por continuar a gerir e circular com pouca rapidez, tentando descobrir um buraco na muito bem organizada defesa de Jorge Luís Pinto. Arjen Robben, sempre o jogador mais perigoso e focado da Holanda, começou a espalhar o pânico, arrancando faltas e cartões porque, de facto, quer-se queira quer não, é quase impossível pará-lo quando acelera. Passo a passo a Costa Rica foi procurando criar as suas oportunidades, ora em lances de bola parada ora em saídas com os seus 3/ 4 homens mais adiantados (garantindo, como sempre foi neste Mundial, o equilíbrio imediato), mas o perigo voltou a rondar a baliza do guarda-redes da Costa Rica e do Levante nos dez minutos finais. Wesley Sneijder quis-se vingar da brilhante defesa do guarda-redes que defende bolas de ténis com naturalidade, mas acertou em cheio no poste. Van Persie também quis tentar e, depois de enganar 2 defesas com uma finta na grande área, não conseguiu enganar Navas. A asfixiada Costa Rica foi subsistindo, Junior Díaz foi escapando à expulsão uma e outra vez, e o tempo regulamentar terminaria com um lance atabalhoado após bom cruzamento de Blind, em que no fim valeu Tejeda a impedir o golo de Van Persie. O médio do Saprissa cortou o remate em cima da linha, fazendo ainda a bola embater na trave.
    O prolongamento começou praticamente com Vlaar, de cabeça pois claro, a não conseguir fazer o golo, mais uma vez por obra e graça de santo Keylor. No entanto, a Holanda esteve mal até aos 105 e só aí Van Gaal fez a sua 2.ª alteração, trocando Martins Indi por Huntelaar. Os 15 minutos finais foram bem mais emocionantes que os primeiros e com ocasiões de parte a parte: Ureña e Bolaños colocaram em sobressalto toda a defesa laranja e aos 117' Cillessen fez a sua 1.ª intervenção relevante, a impedir um golo de Ureña que provocaria muitos ataques cardíacos na Costa Rica. De um lado Ureña, e do outro lado Sneijder - o pequeno playmaker quase colocou a cereja no topo do bolo em cima do apito final mas um extraordinário remate seu de longe acabou por ter a trave como destino. Aos 120'+1, Van Gaal trocou Cillessen por Tim Krul para os penalties - na altura a nossa leitura imediata foi que o seleccionador holandês (porventura o treinador que percebe mais de futebol neste Mundial) estava a agir bem. Para nós, Krul seria sempre o titular desta Holanda mas, tendo um especialista, porque não apostar nele? Van Gaal nunca sairia vilão porque Cillessen não é um guarda-redes de valor indiscutível e Krul só poderia sair daqueles penalties ou como herói ou apenas como mais um holandês. O que é certo é que a Holanda, que tinha muito maior pressão sobre os seus ombros, converteu todas as grandes penalidades (Van Persie, Robben, Sneijder, Kuyt) e Krul foi herói ao defender os remates de Bryan Ruiz e Umaña.

    A Holanda mereceu passar, mas nunca ninguém esquecerá esta Costa Rica. Venceu o Uruguai, venceu a Itália, empatou com a Inglaterra, ultrapassou a Grécia no desempate por penalties e hoje caiu pelo mesmo método. Keylor Navas sai do Mundial com a sua cotação elevadíssima, Jorge Luís Pinto teve um mérito incrível na forma como montou a estratégia e como trabalhou a sua equipa, e os ticos dizem adeus depois de fazerem História jogo após jogo. Deu a ideia que a Holanda poderia ter resolvido a questão mais cedo (Navas, os postes e alguma lentidão quando Robben queria qualificar-se mas os seus colegas pareciam confiar que chegavam lá com o tempo) mas conta muito ter Van Gaal no banco. O seleccionador holandês tem sido um dos destaques deste Mundial na forma como sabe desdobrar a sua equipa, ler o jogo como mais nenhum consegue, e hoje arriscou ao colocar Krul e teve sucesso.
    Holanda-Argentina, às 21:00 de 9 de Julho.


Barba Por Fazer do Jogo: 
Keylor Navas (Costa Rica)
Outros Destaques: Krul, De Vrij, Sneijder, Robben; G. González, Bolaños

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