Brasil 1 - 7 Alemanha (Oscar 90'; Müller 11', Klose 23', Kroos 25' 26', Khedira 29', Schürrle 69' 79')
Numa
goleada histórica e chocante que a História dos Mundiais nunca irá esquecer,
a Alemanha humilhou o anfitrião Brasil na meia-final por 7-1. A Mannschaft não
deu qualquer hipótese, castigou insistentemente um Brasil que não apresentou
qualquer organização nem capacidade mental. Entre os 11 e os 29 minutos a
Alemanha marcou 5 e o Brasil só no último minuto marcou o tento de honra. Foi
feita História a todos os níveis, destacando-se por exemplo o facto de Miroslav
Klose se ter tornado o melhor marcador de sempre em Mundiais (curiosamente,
contra a pátria de Ronaldo "Fenómeno", a comentar o jogo em directo
para a TV brasileira).
Hoje havia à partida claro favoritismo da Alemanha. Para além de ser colectivamente um conjunto muito mais maduro e com uma ideia de jogo 100% bem definida, as ausências de Neymar Jr. e Thiago Silva esperavam-se muito significativas. Frente a uma Alemanha que se sabia como iria jogar (a dúvida seria só entre Klose e Schürrle), hoje era necessário um treinador no banco do Brasil. E, infelizmente, Scolari é um incrível motivador e por isso um bom seleccionador, mas não um bom treinador. Não havendo Neymar, a imprensa brasileira especulou que Willian e Bernard poderiam ser titulares, mas Scolari manifestou apenas não ter a noção... de tudo. À priori tínhamos pensado que jogar com Fernandinho, Luiz Gustavo e Paulinho poderia ajudar; Oscar teria que estar solto exclusivamente para tarefas ofensivas; Scolari poderia abdicar de Fred porque esta Alemanha agradece se os centrais tiverem uma referência; Ramires poderia ter sido uma opção útil. Mas nada foi assim. A humilhação ou "Desastre do Mineirão" arrancou com uma entrada brasileira com intensidade, com algumas semelhanças ao jogo com a Colômbia. O que é certo é que aos 11' começou a goleada. O 1.º de 7 golos começou nos pés de Toni Kroos, num canto. O médio do Bayern, alegadamente a caminho do Real Madrid, cobrou o canto e Müller apareceu completamente sozinho rematando para o 1-0. A reacção do Brasil não foi boa e a Alemanha voltou a fazer das suas aos 23' num golo histórico - Kroos e Müller trabalharam o lance e deixaram Miroslav Klose na cara de Júlio César. O guardião da "canarinha" defendeu um primeiro remate sem o encaixar, mas nada pôde fazer perante a recarga.
E foi, sobretudo, a partir deste 2-0 que o Brasil ruiu. Podia-se pensar que a Alemanha iria gerir a vantagem mas os germânicos puseram o pé no acelerador e revelaram-se imperdoáveis e extremamente eficazes. Aos 25 e 26' ocorreram 2 minutos inesquecíveis na carreira de Kroos. O médio (indiscutivelmente um dos mais completos do mundo, e ainda com um potencial enorme) iniciou a jogada do terceiro e surgiu na área para finalizar um cruzamento de Lahm. Ainda se festejava o 3-0 e já estava o 4.º logo ao virar da esquina. Kroos, faminto, roubou a bola a Fernandinho, jogou para Khedira e este, com grande altruísmo e tomando a melhor decisão, permitiu a Kroos bisar. A máquina continuou afinada, Hummels decidiu ir dar uma perninha ao ataque transportando a bola e originou mais um golo - Khedira e Özil trocaram a "batata quente" antes do primeiro finalizar. Chegava o intervalo e ninguém conseguia acreditar: Brasil 0-5 Alemanha!
Scolari trocou ao intervalo Hulk e Fred por Ramires e Paulinho, e a entrada foi positiva, testando Manuel Neuer por várias vezes. Löw poderia ter substituído Klose por Schürrle ao intervalo, mas fê-lo aos 58', melhorando a sua equipa e voltando a retirar o oxigénio ao Brasil. Novamente com mais espaço e frente a um Brasil desorganizado e com erros sucessivos, a Alemanha ameaçou voltar a marcar com Júlio César a fazer uma grande defesa a um remate de Müller mas o resultado avolumou-se mesmo. Coube a Schürrle finalizar mais uma iniciativa de Lahm pelo flanco direito, escrevendo o 6-0. Só faltava um para o 7-0 (aquela goleada mágica) e o lance que resultou nesse golo traduziu na perfeição todo o jogo. A partir de um lançamento lateral o Brasil voltou a manifestar enorme displicência, Müller assistiu Schürrle e o extremo do Chelsea disparou forte para um golaço, a raspar no ângulo antes de entrar. Noite alemã perfeita, pesadelo brasileiro difícil de recalcar. Os minutos passaram até ao final, tendo Oscar ainda conseguido o golo que ninguém terá festejado, lançado por Marcelo e depois de ultrapassar bem Boateng.
Incompetência contra competência. A Alemanha manteve-se igual a si mesma, mantendo a sua forma de jogar, e hoje tudo lhe saiu bem. O Brasil preparou mal o jogo, achando que bastaria praticar o seu "futebol", acusou a falta de Neymar (o farol da equipa) e pôs a nu a equipa que não é, hoje sobretudo. O jogo de hoje não apaga a superioridade que o Brasil manifestou contra a Colômbia, nem o bom Mundial de David Luiz até aqui. Este Brasil quis viver à base do toque de Neymar, à base do talento individual, não conseguiu repetir nem a dinâmica nem a coesão defensiva da Taça das Confederações e frente a uma estrutura forte, tombou com estrondo. Scolari e os seus jogadores têm muito para analisar e ainda o jogo do 3.º e 4.º para disputar. Defensivamente este Brasil acaba por desiludir bastante, esteve sempre no limbo do ponto de vista emocional (as emoções vividas com o Chile catalisaram a performance com a Colômbia; mas hoje ao sofrer a equipa desmoronou por completo).
Relativamente à Alemanha, Löw conseguiu finalmente uma final para esta fantástica geração, a atravessar um momento de extrema confiança, organização e que sabe estar em campo. O ADN da Mannschaft é de uma força indiscutível: 2002 finalista, 2006 3.º lugar, 2010 3.º lugar, 2014 para já finalista. É certo que esta Alemanha beneficiou muito a partir do momento em que Lahm regressou a lateral direito e passou a jogar com Khedira, Kroos e Schweinsteiger no meio. Hoje os germânicos merecem todos os elogios porque fizeram um jogo perfeito. Toni Kroos foi a estrela maior (2 golos e 1 assistência), num jogo em que Müller, Lahm e Khedira estiveram excelentes, Neuer fez a sua parte, Klose fez História e Schürrle saltou do banco para bisar.
Amanhã joga-se um bastante mais imprevisível Holanda-Argentina. Têm a palavra Messi e Van Gaal.
Outros Destaques: Neuer, Lahm, Khedira, Müller, Schürrle, Klose