Bélgica 2 - 1 (a.p.) EUA (De Bruyne 97', Lukaku 105'; Green 107')
Os jogos dos oitavos-de-final terminaram com mais um jogo resolvido no
prolongamento (em 8 jogos, só 3 deles ficaram resolvidos em 90 minutos), com
vários ingredientes frequentes nesta ronda: muita emoção e grandes exibições de
GR. Neste caso, Tim Howard. O guardião do Everton acabou o jogo com 15 defesas
mas a entrada de Romelu Lukaku (colega de Howard este ano) mudou o jogo, com
Kevin De Bruyne em destaque evidente.
A Bélgica era favorita no jogo de hoje e Wilmots apostou
em Mertens e Origi, deixando Mirallas e Lukaku no banco. Opções que se
entendiam considerando as boas exibições do baixinho extremo e do jovem
prodígio do Lille, importantes a resolver alguns jogos. Os "diabos
vermelhos" tinham revelado alguns problemas de finalização e na fase de
grupos tinham demorado sempre muito tempo a marcar, tendo inclusive Vertonghen
como o único marcador que não tinha saído do banco para contribuir. O desafio começou
muito intenso e logo com poucos segundos Origi teve o golo nos pés - valeu a
rapidez do jovem avançado mas valeu também a defesa de Tim Howard, a primeira
de muitas. A Bélgica manteve muita intensidade e muita vontade de marcar,
querendo contrariar o timing de
jogos anteriores, e foram várias as oportunidades desperdiçadas: Vertonghen
esteve muito activo e serviu De Bruyne num lance em que o jogador do Wolfsburgo
demorou muito e finalizou mal, e depois foi o próprio Vertonghen, lançado por
um grande passe de Hazard, a perder um lance ao tentar dar a bola a Fellaini em
vez de rematar à baliza. Destaque nos primeiros 45 para a lesão de Fabian
Johnson, embora DeAndre Yedlin o tenha substituído com qualidade, tanto a dar
profundidade como a defender Hazard. No fim da 1.ª parte havia claramente uma
Bélgica superior, e Tim Howard estava apenas a aquecer na baliza
norte-americana.
No arranque dos segundos 45, a Bélgica regressou pronta a
sufocar os EUA. Mertens testou a atenção de Howard com um cabeceamento de costas
para a baliza, Origi (bastante perdulário hoje) falhou um remate à boca da
baliza e pouco depois o jogador mais adiantado da Bélgica cabeceou à barra. A
partir dos 50/60 minutos foi quando Tim Howard começou a "engatar". A
Bélgica tentava de todas as maneiras e feitios chegar ao golo - nem sempre a
decidir bem no último terço - e Howard foi dizendo presente sem parar. Defendeu
um remate de Vertonghen, depois outro de Origi e brilhou ao esticar o seu pé
evitando um golo que parecia certo de Mirallas, após grande passe de Origi. Nos
10 minutos a toada manteve-se e os belgas começavam a desesperar com a noite
inspirada de Howard. Hazard, Kompany e Origi viram o guardião norte-americano
defender, mantendo-se extremamente frio em todas as suas intervenções. E quando
nada o fazia prever, e já se adivinhava o prolongamento, os EUA tiveram a
oportunidade de resolver o jogo - Wondolowski rematou por cima num desperdício
inacreditável. Klinsmann não queria acreditar.
Se os 90 minutos ficaram marcados pela super-exibição de
Tim Howard, o prolongamento ficou marcado pela entrada de Lukaku. O avançado
que esta temporada representou o Everton entrou para o lugar de Origi e mudou o
jogo com a sua dimensão física impressionante. Aos 93 minutos foi empurrado por
um defesa norte-americano junto à linha, mas foi o defesa que tombou e Lukaku
que arrancou rumo à baliza. No desenvolvimento do lance, Lukaku tentou servir
De Bruyne e depois de um corte o jovem belga rematou rasteiro, fazendo o
esférico ultrapassar finalmente Howard. Lukaku continuou a tentar o golo,
fazendo uso do seu corpo e da frescura física, e aos 105 pensou-se que teria
sentenciado o jogo. De Bruyne fez um bom passe para as costas da defesa e
Lukaku não teve contemplações e encheu o pé esquerdo, dedicando depois o golo
ao seu pai. No intervalo do prolongamento Klinsmann lançou o jovem Julian Green
(promessa do Bayern) e bastaram 2 minutos para que este relançasse o jogo.
Bradley fez um passe dos seus e Green rematou de primeira, com pouca força mas
bastante arte. Courtois tocou na bola mas não fez o suficiente para evitar o
2-1. Os minutos finais foram de grande nervosismo na grande área belga, e os
EUA procuraram o golo, galvanizados pelo tento de Green. Entre vários momentos,
o mais perto que estiveram do empate acabou por ser um livre estudado e bem
executado, com Courtois a negar o golo a Dempsey. A Bélgica suspirou de alívio
no apito final e vai jogar com a Argentina nos quartos-de-final.
Mais um jogo dos quartos, e mais uma extraordinária
exibição de um guarda-redes. Keylor Navas, Ochoa, Ospina, Claudio Bravo e Júlio
César à sua maneira, M'Bolhi e Neuer, Benaglio e esta noite, Tim Howard. O
guardião da selecção norte-americana fez tudo o que pôde e o que não pôde, mas
no prolongamento os EUA caíram perante o talento de De Bruyne a força de
Lukaku. A Bélgica voltou a evidenciar todo o potencial que tem e dá a entender
que quanto maior for o peso do momento e a reputação do adversário, melhor
jogará. Estes jovens terão maiores responsabilidades em 2016 e 2018 mas para já
têm pela sua frente uma Argentina que é favorita, mas contra a qual - mesmo que
seja eliminada - é possível que a Bélgica realize a melhor exibição deste
Mundial. Eden Hazard continua muito longe do nível que apresentou esta
temporada na Premier League, e veremos se Lukaku será aposta inicial nesse
jogo. Para já, o pesadelo Tim Howard, um autêntico cabo das tormentas, está
ultrapassado.
Outros Destaques: Kompany, Vertonghen, De Bruyne, Lukaku; Bradley, Green