Época de sonho. Terminou hoje uma época encarnada para não mais esquecer. O Benfica venceu a Taça de Portugal (pelo caminho até à final eliminou Cinfães, Sporting, Gil Vicente, Penafiel e Porto) e pode agora festejar um "triplete" na melhor época da sua História recente. A Liga ZON Sagres há muito estava garantida, a Taça da Liga foi também conquistada e, depois do infeliz desaire europeu frente ao Sevilha, o Benfica reergueu-se e juntou mais um título. Extraordinária a reacção que os encarnados tiveram depois do final de época passado e, à imagem do gesto de Jorge Jesus no terreno do Tottenham, neste momento qualquer adepto benfiquista pode mostrar os 3 dedos aos seus pares.
Na final de hoje, Jesus conseguiu homenagear o seu avô e o Benfica escreveu um bonito final de história para esta época. Depois dos 120 minutos em Turim, JJ colocou o seu melhor onze: face à lesão de Siqueira, André Almeida jogou do lado esquerdo; Amorim e Enzo partilharam o meio-campo; Salvio foi o escolhido para o lado direito, ficando Markovic no banco. No Rio Ave a única surpresa foi o facto de Hassan ter ficado no banco, surgindo Braga como jogador mais adiantado.
O jogo teve duas partes bem distintas. A 1.ª parte foi do Benfica, a 2.ª teve boa resposta do Rio Ave. O Benfica entrou bem no jogo - demonstração de personalidade depois do jogo europeu - e assumiu a iniciativa, com atitude e pressão alta. O jogo estava a favor do Benfica, Tarantini teve um lance perigoso quando surgiu nas costas da defesa, mas aos 20' surgiu um daqueles momentos à Nico. O mágico argentino combinou com Enzo Pérez à entrada da área e, obrigado a utilizar o seu pé direito, rematou forte e em arco ao ângulo da baliza de Ederson. Golaço de Gaitán, mais um para o palmarés do argentino. O campeão português manteve-se forte e por cima e alguns minutos depois o 2-0 esteve muito perto - Gaitán cobrou um livre indirecto de modo irrepreensível e Garay cabeceou de forma fulminante para uma defesa por instinto de Ederson. Genericamente, foi uma 1.ª parte na qual o Benfica jogou praticamente sozinho, com o espírito certo e muita intensidade. O argumento viria a mudar no 2.º tempo.
Logo de início na segunda parte ficou evidente a diferença no jogo vila-condense. O Rio Ave de Nuno Espírito Santo entrou forte, com os laterais muito mais soltos, a equipa muito mais enérgica e a decidir bem, e com os flancos (sobretudo Pedro Santos a castigar André Almeida, apoiado por Lionn) activos. Houve claramente um jogador em evidência na segunda parte: Jan Oblak. O jovem guarda-redes do Benfica, um predestinado cuja qualidade e futuro brilhante está à vista de todos, revelou a segurança habitual e nunca vacilou quando chamado a intervir. O 1.º momento de grande perigo foi aos 62' quando Pedro Santos surgiu isolado nas costas de André Almeida e aí valeu o poste (quando uma bola vai ao poste não é sorte ou azar, é um lance falhado). O Rio Ave continuava a manter a boa imagem e seis minutos depois Oblak mostrou os seus reflexos ao defender para canto um bom remate de Braga. Precisamente no canto seguinte, o "barbudo" Marcelo desviou a bola mas esta passou ligeiramente ao lado da baliza encarnada. No Benfica as dificuldades físicas (tremenda exigência física na temporada!) começaram a surgir e aí, embora Enzo Pérez tenha estado longe do seu nível, foi incrível a forma como - visivelmente diminuído fisicamente - lutou como o guerreiro que foi toda a época. Como já o elegemos, Enzo foi para nós o melhor jogador do nosso campeonato em 13/ 14. A personalidade do Rio Ave abrandou quando o Benfica conseguiu finalmente visitar o meio-campo adversário e aí Markovic teve perto de marcar, depois de um bom lance de Lima e uma simulação inteligente de Gaitán.
Até ao apito final de Carlos Xistra, ficou visível a personalidade e resiliência do Rio Ave (uma boa imagem deixada, a traduzir a melhor época da História do clube), mas os encarnados, com Oblak (até auto-golos evita) e os centrais, sobretudo Garay, em destaque conseguiram segurar o 1-0. Uma vitória pela margem mínima alcançada num golo de Gaitán que vai directamente para o museu.
Qualquer benfiquista tem que estar hoje orgulhoso da sua equipa. Os encarnados perderam tudo na fantasmagórica recta final da época passada e a resposta, um ano depois, está à vista. Em 4 troféus, as águias vencem assim 3 troféus e ficam a dever a si mesmas (e a Felix Brych, Beto e Rakitic também) a final da Liga Europa.
Haveria muita coisa a dizer mas, encerrada a época no futebol português, é tempo do Benfica desfrutar das suas conquistas e será com certeza difícil segurar muitos elementos deste plantel histórico. Era importante o Benfica segurar Oblak, Markovic, Gaitán e Enzo Pérez (embora os últimos 2 devam ter muitos pretendentes), sendo provável que Rodrigo, André Gomes e Garay rumem a outras paragens. Este é o momento certo para o Benfica "nacionalizar" o seu plantel aos poucos, uma vez que é mais fácil mudar gradualmente e introduzir juventude num núcleo vencedor e motivado, e hoje todos os adeptos quererão a permanência de Jesus. O técnico encarnado, e Nuno Espírito Santo, terão certamente clubes interessados - embora com dimensões bem diferentes. Cremos (e queremos) que Jorge Jesus fique, Nuno sairá do Rio Ave de certeza (e veremos se não leva elementos como Filipe Augusto para onde for).
Barba Por Fazer do Jogo: Nico Gaitán (Benfica)
Outros Destaques: Oblak, Maxi Pereira, Garay, Enzo Pérez; Lionn, Edimar, Filipe Augusto, Pedro Santos