16 de maio de 2014

Barba no Mundial: Os Nossos 23 (Holanda)

E depois do Brasil e da França, a Laranja Mecânica. A Holanda é uma daquelas Selecções que tem algo que não se explica. Nos últimos anos conseguiu "apenas" presença na final do Mundial 2010 mas o seu passado faz da equipa do país das tulipas e dos moinhos uma Selecção única. Historicamente sempre teve um futebol ofensivo, bonito - embora talvez um pouco inocente demais (como de resto assim também é o futebol praticado na liga holandesa) - e há gerações da Holanda que terão sempre um lugar imortalizado na História do futebol. Houve Cruyff, houve os tempos de Gullit, Rijkaard e Van Basten; quando nós éramos miúdos a Laranja Mecânica que espalhava bom futebol tinha Bergkamp, Seedorf, Davids, os irmãos De Boer, Overmars, Kluivert... um regalo para os olhos.
    Neste Mundial a Holanda está inserida num grupo com a Selecção que a derrotou na final do Mundial 2010 - a Espanha - tendo ainda um perigoso Chile à espreita de uma surpresa. Com Van Gaal no comando a Holanda conseguiu uma qualificação sem derrotas (9 vitórias e 1 empate), tendo marcado 34 golos e sofrido apenas 5. Teve o melhor marcador da qualificação europeia (Robin van Persie, com 11 golos) e terá neste Mundial uma baixa gigantesca, uma das maiores ausências da competição: Kevin Strootman.
    Como anteriormente, lá vamos nós esmiuçar o porquê da escolha destes 23 e, seguidamente, explicitar o nosso onze inicial.

A Convocatória


   Quando havia Van der Sar era mais fácil. Hoje em dia há, ainda assim, bons guarda-redes holandeses. Embora Stekelenburg tenha sido nas últimas competições o titular da Holanda o facto de ter passado a ser suplente de Stockdale no Fulham, é suficiente para que o deixemos apenas na contenção. Van Gaal variou muito de guarda-redes (Vorm, Stekelenburg, Vermeer, Cillessen e Krul jogaram todos), mas para nós o titular desta Holanda só poderia ser um: Tim Krul. O guarda-redes do Newcastle merecia dar o salto para um grande clube europeu neste Verão e para quem já o viu fazer exibições monumentais na Premier League, confiar-lhe a baliza era uma obrigação. Cillessen, do Ajax, esteve melhor a nível interno do que nas competições europeias onde vacilou bastante; Michel Vorm fecha as nossas contas e, embora gostemos bastante dele tal como Krul, preterimos o guardião do Swansea por ter realizado uma época aquém do seu real valor.


    A defesa da Holanda nunca foi propriamente o maior destaque das gerações recentes. Depois de um Euro 2012 para esquecer houve muita coisa que Van Gaal mudou, passou a confiar em vários jogadores do campeonato holandês e nós seguiremos de certa forma essa onda. Uma excepção é, nomeadamente, Van der Wiel. O lateral do PSG foi um dos exemplos da falta de profissionalismo da Holanda em 2012 mas esta temporada ganhou maturidade e fez uma Champions impecável pelo clube de Paris. Merece por isso mesmo o nosso voto de confiança (não figura nos pré-convocados de Van Gaal). Os 2 restantes jogadores "estrangeiros" são Vlaar e Bacuna, ambos do Aston Villa. O capitão do Aston Villa será um dos nossos centrais, embora não seja um talento fora do vulgar, e Bacuna é um jogador polivalente e com muita margem para evoluir.
    Da liga holandesa convocamos então Martins Indi (capaz de jogar a central e do lado esquerdo) e Janmaat (capaz de jogar na direita e no centro) do Feyenoord, Veltman (uma das revelações esta época, um central "à Ajax"), Blind para assumir o nosso flanco esquerdo da defesa e, por fim, Gouwelleuw - jogador muito consistente, seguro e que simplifica, resolvendo praticamente todos os lances. Na contenção, o companheiro deste último elemento no AZ Alkmaar - Viergever (mais goleador, mas menos consistente atrás) e Van Aanholt, lateral emprestado pelo Chelsea ao seu satélite Vitesse. Precisamos que De Vrij (Feyenoord) mostre mais para o considerarmos como opção válida para uma fase final de um Mundial. Ficam mesmo assim várias boas opções de fora como Pieters, Rekik, Denswil e Van Rhijn. Willems talvez estivesse entre as nossas possíveis escolhas, mas está lesionado.


    Dá sempre gosto escolher jogadores do meio-campo holandês. Não estamos perante uma fornada excepcional, mas a Holanda tem material para, com trabalho, produzir uma boa equipa a médio prazo. Desde logo importa falar em Strootman. Kevin Strootman, médio da Roma, tinha tudo para ser o melhor jogador da Holanda neste Mundial (mesmo existindo Robben, Van Persie e Sneijder). Senão o melhor, pelo menos o mais influente. Será uma das maiores baixas da competição. Jogando nós num 4-3-3, interessou-nos conseguir vários elementos capazes de dar diferentes soluções ao nosso miolo. Nigel De Jong é, sem rodeios, o nosso cão de caça. O nosso jogador para morder calcanhares, recuperar bolas, destruir jogo. Jordy Clasie (que potencial!) tinha que constar da lista e ganhou automaticamente com a lesão de Strootman. Depois, a experiência de Sneijder, Van der Vaart e Robben era fundamental.
    E assim e perante a falta de jogadores-chave como noutras gerações, pudemos optar por alguns jogadores cujo futuro será certamente risonho. Siem De Jong é para nós um jogador injustiçado (impressionante estar Fer nos 30 pré-convocados e não Siem) - tem uma técnica brilhante, pensa o jogo, corre pela equipa, finaliza bem. É um jogador completo, e que merecia que alguém olhasse para ele como nós. Depois, 3 miúdos: Depay, Klaassen e Boëtius. Depay é o mais reputado neste momento, tendo feito uma excelente época no PSV; Klaassen (não irá, na realidade, ao Mundial) mostrou-se na Champions, é um dos jogadores com maior margem de progressão na Eredivisie; Boëtius é o típico extremo holandês - poderá não dar nada, mas também poderá dar muito. Na nossa contenção, ficaram assim Maher (tem muito talento, mas podia ter dado mais, para além de ter ficado na sombra de Depay) e De Gúzman, do Swansea. Leroy Fer desapontou-nos esta temporada, enquanto que Wijnaldum e Vilhena ainda não estão no ponto.



    Robin Van Persie tem, francamente, um grande problema. Nunca aparece nas grandes competições. Brilhou no Arsenal e Manchester United na Premier League, sobretudo em 2011/ 12 e 2012/ 13, mas tanto na Champions (com excepção da 2.ª mão com o Galatasaray) como nas fases finais de mundiais e europeus, fica apagado. No entanto, considerando o facto de ter sido o melhor marcador da qualificação - embora a Holanda cilindre sempre tudo e todos nos apuramentos - e à falta de grande concorrência, tinha que ser invariavelmente a nossa principal referência ofensiva. Klaas-Jan Huntelaar é a alternativa imediata que escolhemos (um jogador que poderia ter tido uma carreira doutro nível com outra sorte e outras escolhas) e Lens, capaz de jogar no flanco e na frente, fecha o lote de 23. Deixámos de fora Kuyt e quisemos premiar a evolução de Castaignos no Twente, talvez uma possível opção para o Euro 2016. Um jogador que nos desiludiu foi Luuk De Jong (não conseguiu ter impacto quer no Gladbach quer no Newcastle) e pode-se dizer que Narsingh ficou perto de estar na contenção.

O Onze

Temos plena consciência que esta Selecção precisa de amadurecer mas, sendo a Espanha a favorita do grupo, esta seria uma boa oportunidade para introduzir alguns craques do futuro do futebol holandês, arriscando, e disputando o acesso à fase a eliminar sobretudo no Holanda-Chile da última jornada.
    O nosso guarda-redes titular é Tim Krul. Quando engata, é tramado marcar-lhe e engata muitas vezes. O quarteto defensivo é, felizmente para ele, superior ao do Newcastle actualmente. Na defesa confiámos o coração a Vlaar e Martins Indi, colocando nas laterais Van der Wiel e Blind. Blind deverá ser uma opção de Van Gaal na realidade, Van der Wiel de certeza que não.
    No meio-campo, alguns jogos poderiam pedir a acutilância defensiva de Nigel De Jong. Ainda assim, o nosso meio-campo (haveria o perigo de ser "macio" demais) é composto por Clasie, Siem De Jong e Sneijder. Com bola e em transição seria uma equipa forte, com um miolo a decidir rápido e bem. O problema poderia ser a defender, mas Siem De Jong já demonstrou ser capaz de recuar quando é preciso. A ala direita só poderia ter um dono - Arjen Robben - o jogador em que os holandeses poderão confiar mais para desequilibrar os jogos; enquanto que do lado esquerdo haveria 2 opções - Depay ou Lens. Lens tem mais experiência e fez uma boa qualificação, mas alguns jogos - Chile e Austrália, talvez - seriam casos para lançar Depay. No ataque, a fé estaria depositada em Van Persie - finalizador nato, capaz de fazer golos de todas as maneiras e feitios e um avançado verdadeiramente holandês (na senda de Bergkamp, Van Nistelrooy, Van Basten..). Ouve este elogio Van Persie, e marca golos.

    Dia 18 poderão ver a nossa 4.ª Selecção. Querem pistas? Tem muitos craques, muita juventude, centrais para dar e vender e um guarda-redes que, embora novo, já é dos melhores do planeta.

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