A nossa 6.ª Selecção é o carrasco lusitano da moda (em 2010 e 2012 fomos eliminados por nuestros hermanos) e, mediante o facto de ter conquistado o Mundial 2010 e ter ganho tanto o Euro 2008 como o Euro 2012... a Espanha tem que ser encarada como favorita à conquista do troféu. Não a única, mas certamente uma entre o lote restrito de 2/ 3 candidatos.
Para esta medalhada Espanha pode ser complicado encontrar a mesma motivação para ganhar, mas Del Bosque continua a ter peças para reciclar a ambição e a qualidade dos seus 23, fase final após fase final. Na fase de apuramento a Espanha ficou num grupo onde estava inserida também a França, alcançando o 1.º lugar com 6 vitórias e 2 empates em oito jogos disputados. Desiludiu a nível ofensivo (marcou apenas 14 golos, enquanto com apenas mais 2 jogos Inglaterra, Alemanha, Holanda e Bósnia marcaram 30 ou mais), mas pela positiva sofreu apenas 3 golos. Neste Mundial está no Grupo B, com a companhia da Holanda, Chile e Austrália. Na nossa convocatória vimo-nos privados de 2 jogadores de enorme qualidade, tal como Del Bosque, mas a qualidade nesta Espanha é tanta que qualquer baixa parece ter menos peso. Os nossos 23 vão-se garantidamente afastar em algumas coisas dos do experiente seleccionador, por sermos mais revolucionários e não tão conservadores relativamente ao grupo sagrado que ele criou ao longo destes anos. Ponto prévio: a nossa Espanha não joga à rabia, joga à bola.
A Convocatória
Começando pela baliza, os deuses estiveram com Iker Casillas. O capitão espanhol, fundamental na conquista dos 3 últimos grandes troféus, começou a época a ver Diego López jogar no seu clube e Valdés parecia destinado finalmente a ganhar a baliza hispânica. No entanto, Valdés lesionou-se (uma baixa muito significativa no Barça porque Pinto é todo ele anedótico) e Diego López também, voltando Casillas aos grandes palcos e grandes momentos, com grande qualidade. É um dos melhores do mundo na sua posição. Para o acompanhar optámos por David De Gea, um dos melhores elementos na triste época do Manchester United (foi aliás nomeado internamente no clube, o jogador do ano) e Reina, o "Paulo Lopes" do grupo. Um jogador que, como já se viu, é importante no balneário espanhol. A nível da lista de contenção, Adrián seria o nosso escolhido pela sua época interessante na baliza do West Ham.
Na defesa, inicia-se em certa medida o nosso carácter disruptivo. Enquanto que no Euro 2012 os laterais espanhóis foram Arbeloa e Jordi Alba, esta temporada nem um nem outro estiveram entre os 2 melhores laterais do seu país. Foram eles Azpilicueta e Carvajal. O lateral do Chelsea brilhou e evoluiu imenso sob o comando de Mourinho, adaptado ao lado esquerdo. Enorme segurança, combatividade, profundidade e algum envolvimento nos processos ofensivos. A grande época do merengue Carvajal não surpreendeu quem já o acompanhava no Leverkusen, onde já era um dos melhores laterais da Bundesliga. Incansável, sempre em alta rotação e a saber "meter o pé" é difícil dizer mal de Carvajal. Ainda assim, convocámos para além deles Jordi Alba e Alberto Moreno. Este exercício parte do pressuposto que Azpilicueta é originalmente lateral direito. Alba fez um Euro 2012 incrível e, embora venha de lesão, o lateral do Barcelona tinha que constar entre as nossas opções. Já Alberto Moreno foi um dos heróis da boa temporada do Sevilha e tem uma margem de progressão que o fará dar o salto muito rapidamente, provavelmente até neste Verão.
A nível de centrais, aí sim Del Bosque será diferente. Garantidamente. Optámos apenas por 3, sendo que 1 deles divide a sua vida entre o núcleo da defesa e o meio-campo defensivo. Sergio Ramos e Piqué são a dupla intocável do seleccionador e, embora ambos cometam alguns erros nos seus clubes, estamos em crer que pelo menos Ramos fará um bom Mundial. Javi Martínez para nós conta apenas como central e, como verão lá abaixo no 11 inicial, ele não traz boas notícias para Piqué. Na contenção deixámos o jovem central Iñigo Martínez e o lateral do Atlético Juanfran. Aymeric Laporte deverá ser opção em 2016, e não gostamos de Albiol.
Uma das tarefas mais difíceis e ingratas nos convocados das 10 selecções que seleccionámos foi eleger o meio-campo espanhol. Desde logo quisemos deixar uma mensagem forte: aqui não há Xavi. O médio do Barcelona já deixou o seu apogeu, mesmo no Euro 2012 fez apenas um jogo realmente bom (a final, curiosamente) e esta época a sua queda progressiva impactou o rendimento do Barça. Como disse e bem Luís Freitas Lobo recentemente "não se trata de nenhum jogador a tirar o lugar a Xavi, apenas o tempo". Busquets tem lugar cativo no onze. Inicialmente era um jogador que desprezávamos mas, embora a nível de empatia continuemos a não gostar dele, compreendemos a crucial importância (posicionamento, leitura de jogo, execução rápida etc.) que ele tem na Espanha. Para as restantes 4 posições do meio-campo há muito talento. Thiago Alcântara teria lugar garantido, mas é a outra baixa significativa, por lesão. Assim sendo, Koke (um dos médios mais completos do Mundo e um dos melhores este ano), Fábregas (connosco pisa terrenos "arsenalistas"), Iniesta (provavelmente o melhor jogador espanhol) e David Silva eram as escolhas prioritárias. Juntos estes 4 craques representaram esta época 47 assistências a nível interno (Iniesta conseguiu apenas 7 passes para golo, mas na Liga BBVA Fábregas e Koke tiveram ambos 13 assistências apenas batidos pelas incríveis 17 de Di María; na Premier League Silva somou 12 assistências, embora apenas 9 delas tenham sido últimos passes propriamente ditos).
Depois, abdicámos de Xavi como já dissemos, de 2 grandes jogadores de Simeone (Gabi e Raúl García) com um sabor amargo na boca, e não conseguimos deixar de fora Juan Mata e Isco. Mata terminou a época em grande e, tanto ele como Isco, encaixam no perfil que pretendíamos para os lugares no meio-campo ofensivo, quer no centro quer à esquerda. A fechar o meio-campo escolhemos Ander Herrera para o lugar que estava destinado a Thiago. Um jogador com algumas características em comum, relativamente subvalorizado e que está já preparado para outras andanças. Talvez o colega dele no Athletic, Iturraspe, fizesse mais sentido considerando a necessidade de um médio mais recuado, mas fomos all in com Ander. Recordamos que ficam de fora, mesmo assim, nomes como Cazorla, Xabi Alonso (Del Bosque não o deve deixar de fora), Mario Suárez ou Borja Valero.
No ataque surge uma grande questão: será que Diego Costa é capaz de render numa equipa que funcione em posse e ataque organizado e não em transições rápidas (como o Atlético)? Acreditamos que Diego Costa pode conseguir, tendo para isso que mudar algumas coisas no seu jogo, e caso Del Bosque lhe dê a titularidade (pode optar por colocar Fábregas ou Silva a falso 9 nos primeiros jogos) permitirá que ele nos responda. No entanto, embora ele tenha na velocidade um dos seus predicados e se dê muito aos duelos físicos com os centrais (precisa disso, chega a parecer), a sua técnica e a forma como trabalha bem com os médios deixam antever algo bom. Claro está que não há a considerar a dúbia condição física de Diego Costa. Está em risco para a final para a Champions e veremos, caso o Atlético arrisque colocá-lo em campo, se não hipoteca um lugar no Mundial. Oxalá que não porque já vários craques falharão a competição.
Para além dele, para homens mais adiantados, convocámos Negredo e Rodrigo. La Fera teve um final de época para esquecer mas entre chamá-lo a ele ou a Llorente, consideramos que Negredo é mais completo e tem melhor rendimento na Selecção até hoje. Já Rodrigo, embora fosse complicado ter minutos nesta Espanha, seria um prémio pelo bom ano no Benfica, resultando melhor o seu impacto no jogo caso fosse utilizado nas costas de Costa/Negredo, a rodar sobre si e desequilibrar. Mas precisamente por isso, com a quantidade de médios que há, teria vida difícil. Colocá-lo numa asa, pedindo-lhe em certa medida o mesmo que pediríamos aos 2 elementos seguintes também não seria de descurar. Por fim, a encerrar o lote de 23, dois jogadores bastante subvalorizados (sobretudo o 2.º) cujo rácio de oportunidades convertidas é muito bom: Pedro Rodríguez e Callejón. Pedro é dos melhores finalizadores do mundo. Não marca grandes golos, mas em 1 para 1 ele põe a bola lá dentro; Callejón marcava praticamente sempre que jogava no Real Madrid e conseguiu uma excelente época no Nápoles jogando com regularidade. Dois jogadores para os flancos, mas para interpretarem o jogo de forma bem diferente da pedida aos nossos 2 titulares (verão abaixo quais são). Jesús Navas ficou à porta da convocatória, e talvez viéssemos a considerar Jesé se não se lesionasse. Entre Soldado, Torres e Villa não calça ninguém connosco - com Del Bosque é possível que Torres vá -, e temos pena que Michu, Deulofeu e Adrián López não tenham tido épocas mais felizes.
O Onze
Em termos do nosso 11 inicial, face ao que acima opinámos compreenderão algumas das nossas opções. Iker Casillas, capitão espanhol, tem a baliza por sua conta. Embora conscientes do valor de Jordi Alba, preferimos confiar as laterais a 2 dos melhores laterais (em cada lado) neste final de temporada, Azpilicueta e Carvajal. Não quer dizer que, com o evoluir da competição Alba não "ganhasse" o lado esquerdo, atirando Azpilicueta para lateral direito (possivelmente a dupla pela qual Del Bosque optará). A má temporada de Piqué - mesmo antes de se lesionar - é por nós castigada dando a titularidade a Sergio Ramos e Javi Martínez. Para nós, aliás, Guardiola deveria utilizar Martínez como central no seu Bayern.
No meio-campo, tudo começa em Busquets, o elemento mais próximo dos centrais. Perto de si, se houvesse Thiago o lugar seria disputado entre ele e Fábregas. Como o médio do Bayern não estará disponível, queremos que Cesc seja o novo Xavi da Espanha. Tem sido um desperdício a carreira de Fábregas desde que está na Catalunha, utilizado tanto em Camp Nou como na Selecção em terrenos muito adiantados, junto ao avançado ou sendo mesmo ele o chamado hoje em dia "falso 9". Para nós, alguém tem que ressuscitar o Fábregas do Arsenal. Aquele jogador pelo qual o jogo passa muito mais, que se vê na necessidade de jogar em alta rotação, constantemente a ter que tomar decisões. Nas 3 posições mais adiantadas do meio-campo, três craques: Koke do lado direito, Iniesta do lado esquerdo e Silva no apoio ao homem mais adiantado. As trocas posicionais - característica rica da Espanha - seriam férteis sobretudo nas movimentações de Silva e Iniesta, considerando ainda que os nossos homens mais abertos (Koke e Iniesta) seriam propriamente mais médios do que extremos. Por fim, seria peça-chave desta Selecção o avançado - Diego Costa - cujas dúvidas já deixámos lá em cima, embora confiemos que será capaz de fazer um update no seu jogo. Do Penafiel e do Braga até La Roja.
A nossa sétima Selecção chega daqui a 2 dias, mantendo o espaçamento habitual entre publicações nestas nossas 10 edições de "Os Nossos 23". Podemos dizer que são historicamente matreiros, por vezes cínicos no seu jogo. Têm tido bons resultados com o seu seleccionador nos últimos 2 anos, esta época tiveram talvez um maior número de avançados inspirados do que qualquer outra selecção e digamos também que um desses avançados tem alcunha de um herói da Nintendo.