Filme: Pride & Prejudice
Actriz: Keira Knightleypor Sara Antunes Santos (Escritora Convidada)
Dou-vos o prazer de conhecer Elisabeth
Bennet. Esta personagem é a ideal para falarmos da actriz que a interpreta, uma
das melhores da actual geração, genuinamente bonita e elegante, com uma
personalidade forte e que faz um hino às mulheres na sua verdadeira essência
(defende a beleza das mamas pequenas, proibindo trabalhos de Photoshop, quanto
mais de bisturi na sua imagem). A expressão que Keira transmite a esta
Elisabeth é maravilhosa, pois dá-nos uma riqueza de interpretação muito maior e
quase tão acessível àquela que encontramos nas páginas de Pride and Prejudice,
da instituída Jane Austen. É impossível dissociar o filme do livro, mas este
Orgulho e Preconceito está bastante bem conseguido, com pormenores de
fotografia, som e guarda-roupa bastante pitorescos que nos fazem querer viver
aquela história de amor. Sim. Este filme é uma história de amor muito bem contada,
que nos conduz ao contexto social aristocrático britânico nos finais do séc.
XIX e todos os seus irónicos… e cínicos costumes.
Elisabeth é a segunda das cinco
filhas do casal Bennet, também a segunda mais bonita. Aqui neste ponto,
permitam-me opinar que o vestido castanho, as sobrancelhas grossas e a franja
desajeitada fazem Elisabeth demasiado feia, para aquilo que é descrito no
livro. Mas dizem os produtores que Keira era demasiado bonita para o papel e
foi um verdadeiro desafio “enfeia-la” (too much, I suppose). No entanto, ela é sem
dúvida a filha preferida de Mr. Bennet, por ser a mais inteligente, a mais sarcástica,
a mais certa das suas convicções e aquela que não se contentará apenas com um
homem bonito e cheio de libras. (se bem que, convenhamos, aquele Mr. Darcy é
muito mais misterioso e apetecível com todo o seu ar inalcançável e orgulhoso)
Há uma cena que faz o filme.
Quando já passam 10 minutos da trama, no baile, ao falar com o seu amigo Mr.
Bingley, Mr. Darcy fere o orgulho de Elisabeth dizendo que a beleza desta era “perfeitamente
tolerável”, e não era assim tão bonita que o tentasse. Eis que Keira faz um dos
melhores, mais espantosos e difíceis sorrisos amarelos da história do cinema!
Aqui também se sente a superioridade de Elisabeth, mesmo sendo desprezada pelo sisudo
Mr. Darcy.
Existem várias personagens-satélite, com as quais a personagem de hoje se relaciona que reforçam tudo
aquilo que referi, como é o caso de Jane, Mr. Collins, Charlotte Lucas, Mr.
Wickham, Lady Catherine e claro Mr. Darcy. Todos eles, à sua maneira, vincam a
personalidade de Elisabeth e mostram a sua perspicácia e espírito crítico, que
ao contrário de Jane não vê maldade em nada; a sua integridade, mesmo depois de
ser flertada por Mr. Collins e apesar de tudo ser conveniente para que
Elisabeth aceitasse o cortejo, ela afasta-se deste graxista e lambido clérigo;
Condena Charlotte Lucas, a sua melhor amiga, que se casa por conveniência e por
ter cedido à pressão da sociedade de arranjar marido, só para não parecer mal.
Elisabeth acredita no amor e não descarta a hipótese de ficar sozinha, se não
encontrar um homem que ame. Apesar de perdoar Charlotte e aceitar as suas
justificações, a relação delas nunca mais fica a mesma, pois esta defraudou os princípios
e convicções que ambas partilhavam; No que respeita a Mr. Wickham (a
representação clássica de um vilão) é confrontado por Elisabeth com a maior das
classes, que depois de se inteirar da verdade, esfrega-lhe as suas próprias
mentiras na cara, mas com uma superioridade e requinte que lhe são
característicos; Com Lady Catherine, Elisabeth mostra que a sua condição social
não influencia o seu carácter e por te menos rendimentos e menos acesso à
cultura, não deixa de ser uma mulher respeitada. A figura que esta senhora faz
ao invadir a meio da noite a casa de Elisabeth só para se certificar que esta
não está interessada em Mr. Darcy, faz Elisabeth encher-se de orgulho e
convidá-la a sair, qual rainha de Inglaterra! Elisabeth, apesar de humilde, não
se deixa espezinhar em vários episódios do filme tornando-se alvo de admiração de
Mr. Darcy.
Eis que chegámos a este atípico
galã: seguro nas suas convicções, inseguro nos seus sentimentos. Mr. Darcy é a
prova que o ódio e o amor são sentimentos muito próximos. Elisabeth odiou-o
várias vezes, pela sua soberba, olhar de soslaio e ar imperioso, mas amou-o
ainda mais ao retirar-lhe a capa da aparência e conhecer a sua generosidade,
integridade justeza e sensibilidade.
Este filme é uma história cheia
de males entendidos simplesmente porque as pessoas não são sinceras nos seus
sentimentos e opiniões, dando privilégio ao seu orgulho, status e à aparência.
Apesar de Elisabeth lutar contra isso, cai também no erro de julgar as pessoas
pelo que aparentam, sendo mais tarde “castigada” por isso, ao apaixonar-se
precisamente pelo homem mais “odioso” com o qual ela não “dançaria nem pelo Derbyshire
inteiro”.
Esta personagem é viciante de tão
rica que é. É uma mulher à frente do seu tempo que se envergonha com as
entradas inoportunas da mãe (BTW aquela senhora é uma excelente actriz porque
me irrita profundamente) e não coabita, sem ser crítica, com a ambição
desmesurada e falsas ostentações.
Com receio de me estar a repetir,
acredito, que todas as pessoas que vêem o filme torcem para que Elisabeth
enxergue o verdadeiro Mr. Darcy e que o próprio seja mais sincero e menos
carrancudo com a mulher que intimamente o arrebata. Pois tal como Elisabeth
explica ao seu amado pai, no final do filme, eles são tão parecidos…. tão
teimosos que só iriam mesmo ficar juntos quando baixassem a guarda e dissessem
(aquilo que uma mulher sonha sempre ouvir) que se enfeitiçaram de corpo e alma.
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Nota Editorial: A compilação/ organização e ordem das personagens deste Top é responsabilidade de Miguel Pontares e Tiago Moreira. Os textos tiveram a colaboração de Daniel Machado, Lorena Wildering, Nuno Cunha, Sara Antunes Santos e Carolina Moreira.
Foram tidos em consideração filmes lançados até 20 de Novembro de 2014. Mais informamos que poderão existir spoilers relativos às personagens e/ ou aos filmes que elas integram, passíveis de constar na defesa e caracterização de cada uma das 100 personagens.