Brasil 3 - 1 Portugal: samba de Neymar derrota Portugal em Boston

Brasil 3 - 1 Portugal (Thiago Silva 24', Neymar 35' Jô 50'; Raúl Meireles 18')

  Selecção - Em Boston, no Gillette Stadium, o Brasil de Scolari derrotou há momentos a selecção portuguesa, com um justo resultado final de 3-1, evidenciando o facto do Brasil neste momento ser mais equipa, ressentindo-se Portugal, como qualquer equipa se ressentiria, da ausência de Cristiano Ronaldo.

    Depois de Eusébio e Pelé subirem ao relvado e de Michel Teló cantar para entreter o público presente, foi altura de se começar a jogar futebol, num campo a uma só língua. Foi Portugal a descobrir o Brasil, mas hoje foi claramente o Brasil a única equipa a descobrir o verdadeiro caminho para a vitória. A equipa de Scolari entrou forte - com um meio-campo nuclear em alta rotação constituído por Paulinho, Luiz Gustavo e Ramires - e imprimiu um ritmo forte nos primeiros minutos. Portugal explorava as transições e foi o primeiro a criar verdadeiro perigo - João Pereira cruzou e Raúl Meireles cabeceou ao poste. Poucos minutos depois, a ameaça transformou-se em golo. Veloso rematou, a bola foi parar a Maicon e o lateral da Roma fez um péssimo atraso, oferecendo o golo a Raúl Meireles. O viking português não perdoou.

    O Brasil reagiu muito bem ao golo sofrido e aproveitando uma de várias perdas de bola no meio-campo português (na altura de Veloso) Bernard conduziu a bola em diagonal e serviu Neymar que viu apenas Rui Patrício negar-lhe o golo. Logo a seguir, chegou o empate. Neymar bateu um canto do lado esquerdo, Thiago Silva saltou mais alto e de forma mais determinada que tudo e todos e fez o 1-1. A toada manteve-se, Bruno Alves ainda atingiu Neymar com o cotovelo, Nani quase fez golo de cabeça após bom cruzamento de Vieirinha e, minutos depois, aconteceu o melhor momento do jogo. Nani perdeu a bola de forma displicente no meio-campo, Paulinho conduziu a bola até Neymar e lá foi o craque brasileiro, a correr 40 metros e a deixar Moutinho, Veloso, Pepe e companhia, tudo e todos para trás, até fazer o 2-1 numa correria infernal. Ao intervalo percebia-se claramente que o factor Neymar ia fazendo a diferença, num primeiro tempo em que Portugal não foi senhor do jogo, mas no qual até criou alguns lances de perigo.

    Para os segundos 45 minutos Paulo Bento apenas trocou Pepe por Neto e o arranque foi mau para a nossa Selecção. Novamente Neymar em destaque, a servir Maxwell do lado esquerdo (o lateral brasileiro estava adiantado em relação à linha defensiva portuguesa, mas o fiscal não reparou) e o jogador do PSG só teve que cruzar para Jô encostar a bola na linha de baliza. Todo o lance bem construído e a ser consequência de uma transição bem serenada e acelerada no momento certo por Bernard, Paulinho e Neymar. Com o 3-1 o jogo baixou bastante de qualidade, com várias substituições a sucederem-se. Portugal insistiu num 2 para 1 sobre Neymar, com Veloso a ajudar João Pereira, mas o nº 10 brasileiro saiu-se bem, em noite endiabrada. Do lado português Nélson Oliveira ia tentando remar contra a maré pressionando alto e simplificando várias acções, embora fosse injusta a vida para o avançado cedido pelo Benfica ao Rennes, que seria importante que fosse titular em Outubro contra Israel. Nani esteve bem na finta em situações de 1 para 1, mas muito mal na hora de rematar. Até ao final, Scolari e Paulo Bento foram dando minutos a outros jogadores, com destaque para a estreia de Licá na Selecção A Portuguesa.

    O jogo de hoje, embora amigável, deu para tirar algumas pequenas conclusões. O Brasil é por esta altura uma equipa com uma ideia de jogo e sustentada na força do seu meio-campo. Paulinho, Luiz Gustavo e Ramires são um trio que conjuga intensidade com qualidade com bola, deixando Neymar e Bernard descansarem, guardando-se para rasgos de génio. A dupla Thiago Silva-David Luiz é também uma garantia para Scolari, que hoje nem teve Dani Alves e Marcelo nas laterais, nem Fred na frente. A verdade é que Jô nesta dupla jornada de amigáveis do Brasil consegue somar 3 golos sem praticamente ter que fazer nada.

    Do lado português, que é o que mais nos interessa aferir, há algo que é simples de verificar: Portugal tem tido nos últimos anos 3 jogadores num nível alto e com uma regularidade tremenda, e que estão neste momento fora de forma - João Moutinho e Nani - ou com pouca confiança - Fábio Coentrão. Este trio era um trio que não vacilava jogo após jogo, conseguindo exibições positivas umas atrás das outras, e estão actualmente aquém daquilo que podem dar. Moutinho, Veloso e Pepe hoje estiveram a anos-luz daquilo que jogaram nomeadamente no Euro 2012 e a forma de os acordar poderia ser solicitar sangue fresco no 11 nacional. Vá lá que Paulo Bento hoje estreou Licá, mas poderia ter dado minutos a Adrien e Josué (retirando inclusive Veloso e Meireles, na fase final do jogo). Portugal neste momento não apresenta processos trabalhados, tem abordado pessimamente os cantos a defender e não podemos depender apenas do que Cristiano Ronaldo conseguir retirar do jogo: isso pode resultar com a Irlanda do Norte, mas não resultará contra algumas equipas no Mundial na fase a eliminar, certamente. Vieirinha continua a ser um jogador que simplifica tudo, Meireles hoje foi o melhor elemento português e esteve felizmente bastante melhor do que frente à Irlanda do Norte. Será bastante importante para Portugal que Nani comece a jogar com regularidade no Manchester United. No Brasil, Paulinho impressiona a todos os níveis e Hulk não vai ter a vida fácil com Bernard a jogar a este nível (até Coentrão perceber como o defender, fez o que quis). Neymar, de longe, o melhor em campo. Tire-se o chapéu a Scolari - é mau como treinador, mas exímio como seleccionador.

Barba Por Fazer do Jogo: Neymar (Brasil)
Outros Destaques: Thiago Silva, Luiz Gustavo, Paulinho, Bernard; Raúl Meireles, Nani
Golos:

0-1 Raúl Meireles 18'

1-1 Thiago Silva 24'

2-1 Neymar 35'

3-1 Jô 50'