1 de fevereiro de 2015

Crítica: Wild

A CAMINHO DOS ÓSCARES 2015 
Realizador: Jean-Marc Vallée
Argumento: Nick Hornby, Cheryl Strayed
Elenco: Reese Whiterspoon, Laura Dern, Thomas Sadoski, Gaby Hoffmann
Classificação IMDb: 7.1 | Metascore: 76 | RottenTomatoes: 90%
Classificação Barba Por Fazer: 74



    Reese Whiterspoon foi, porventura, a mulher mais influente no Cinema em 2014. A actriz que venceu o Óscar em 2006 com 'Walk the Line' e que este ano também está nomeada na principal categoria feminina, tentou combater a vastidão de histórias com protagonistas masculinos. E fez a sua parte, lutando como pôde pelo papel das mulheres e actrizes na 7.ª Arte. Produziu 'Gone Girl', acreditando no potencial do livro de Gillian Flynn, entregando a cadeira de realizador a David Fincher e levando a que Rosamund Pike brilhasse; e deu ela própria corpo à história que Cheryl Strayed contou no seu memorial Wild: From Lost to Found on the Pacific Crest Trail.
    'Wild' não é um 'Into the Wild' sem barba, uma versão feminina do filme que exaltou a jornada de Christopher McCandless. É diferente em muitas variáveis, embora partilhe o lado selvagem, a mochila às costas, a comunhão com a natureza, a procura de respostas e a libertação/ realização pessoal por via do desafio. É um filme que se sente de um modo muito específico, cuja realização de Vallée procura fazer-nos experimentar e compreender as epifanias de Cheryl Strayed (Reese Whiterspoon) ao longo da trilha do Pacific Crest. Durante 94 dias e 1.800 km, Cheryl procurou recuperar da perda da sua mãe (Bobbi, interpretada por Laura Dern), vítima de cancro, e reencontrar o seu caminho, depois de devaneios e desvios problemáticos.
    Tudo começa com uma respiração ofegante, uma bota a ser descalçada (num plano que se assemelha à capa do livro de Strayed, bem jogado Vallée!) e uma unha a ser sacrificada. Entre medos, citações de famosos e etapas progressivamente conquistadas, o sumo que se retira no fim é o de uma mulher a reflectir num momento determinante da vida, à procura de se descobrir novamente e a cumprir de vez um luto necessário e adiado.
    A figura Cheryl Strayed e a sua história reservava por si só potencial suficiente mas Reese Whiterspoon preenche as expectativas, conseguindo um dos melhores desempenhos femininos do ano (embora este ano nenhuma actriz chegue ao patamar de Cate Blanchett no ano passado, tal como nenhum actor - numa fornada com uma brutal quantidade num nível Bom - foi tão espectacular como DiCaprio) e o realizador Jean-Marc Vallée confirma definitivamente o seu valor. Depois de um 'Dallas Buyers Club' que valeu óscares a McConaughey e Jared Leto, o realizador canadiano volta a estar ligado a um filme com exigências físicas (embora nada que se compare a DBC), conseguindo uma nova parelha nomeada para as estatuetas douradas. Whiterspoon e Laura Dern estão na corrida - nas 2 únicas nomeações do filme - embora Julianne Moore e Patricia Arquette sejam as favoritas em cada caso. A nomeação de Laura Dern é contestável porque há uma enormidade de desempenhos àquele nível anualmente, embora também seja uma demonstração da fraca colheita da categoria (actriz secundária) em 2015. É impressionante a quantidade de filmes deste ano com protagonistas masculinos, algo que é comum mas que neste ano é particularmente exagerado. E também por esse women power, 'Wild' tem direito a pôr-se em bicos de pés para também ser notado.
    Emana aquela vibração indie, vale por Whiterspoon, embora não consiga ombrear com os melhores frutos do pomar cinematográfico de 2014/ 15. 'Wild' estreia nas salas de cinema portuguesas a 19 de Fevereiro, designando-se 'Livre'. Aquilo que se perde na tradução literal, ganha-se no facto de ser um título que capta bem a ideia do filme.

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