2 de fevereiro de 2015

100 Melhores Personagens de Filmes - Nº 75



Filme: Cinema Paradiso
Actor: Philippe Noiret

por Miguel Pontares


   
    Tal como a personagem que apresentámos no 76.º lugar (Carl Fredricksen, Up), voltamos a ter um homem rabugento, um mentor que não o procura ser mas é, uma figura paternal para uma criança curiosa. E se a Disney nos ofereceu 15 minutos iniciais mágicos com a vida de Carl e Ellie, Alfredo foi o responsável por aquele que muitos entendem ser a mais bela cena final que o Cinema já teve. Lá chegaremos.
    É preciso entrarmos na máquina do tempo e viajarmos até 1988 para falarmos de Cinema Paradiso, filme italiano realizado por Giuseppe Tornatore. Embora haja gostos para tudo e filmes que nos marcam mais e outros menos, se alguém não sentir nada ao ver Cinema Paradiso pode-se depreender que sofre de uma maleita grave, não possuindo um coração no interior do seu corpo.
    A presença nesta constelação com 100 capítulos de Alfredo (Philippe Noiret), com aquele semblante que parecia ter sido desenhado por Uderzo, é a melhor forma de representar toda a magia daquele que foi oscarizado como Melhor Filme Estrangeiro em '90. Homem de sermões e raspanetes vários, mas também de palavras e conselhos sábios, Alfredo era o projeccionista do cinema local de Giancaldo, na Sicília. Circunstâncias da vida acabam por colocar o pequeno Salvatore no seu caminho e, depois de muitos atritos, Alfredo começa a ensinar ao seu aprendiz como projectar filmes. Salvatore Di Vita, alcunhado 'Totò' (sim Salvio, não és o único) cresce ao lado do rezingão Alfredo, e acaba por salvar a vida do mentor num incêndio ocorrido no cinema, que ainda assim condena Alfredo a uma vida apenas com 4 sentidos, perdendo a visão.
    A magia do clássico italiano está na simplicidade das pequenas coisas. Na forma como um já crescido Salvatore desenvolve a sua capacidade cinematográfica ao lado do cego Alfredo, na eterna espera de 'Totò' pela sua Elena, noite após noite de olhos postos na sua janela.
    Alfredo, o homem que acreditava mais do que ninguém no potencial de Salvatore, derrete o coração mais áspero com aquele presente/ recordação, o modo como Tornatore remata a película. Uma ode ao beijo e ao amor, sob a forma de uma compilação que reunia todos os beijos - que o padre local proibia serem exibidos no Cinema - cortados no passado.
    O actor Philippe Noiret é quem melhor personifica o que o filme representa, num Alfredo que foi inspirado no projeccionista Mimmo Pintacuda, o homem que influenciou a carreira do realizador Giuseppe Tornatore, que perante este raciocínio era Salvatore, tal como a cidade de Giancaldo foi baseada na Bagheria, onde Tornatore nasceu e cresceu.
    Há poucos momentos na História do Cinema com a força daquela cena final. Naquele carrossel de paixão, a imortalizar o beijo como mais ninguém conseguiu, Salvatore faz as pazes com o seu passado - acompanhado pela banda sonora de Ennio Morricone - e Alfredo mostra-nos porque é que ocasionalmente o Cinema pode ser.. um paraíso.

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Nota Editorial: A compilação/ organização e ordem das personagens deste Top é responsabilidade de Miguel Pontares e Tiago Moreira. Os textos tiveram a colaboração de Daniel Machado, Lorena Wildering, Nuno Cunha, Sara Antunes Santos e Carolina Moreira.
Foram tidos em consideração filmes lançados até 20 de Novembro de 2014. Mais informamos que poderão existir spoilers relativos às personagens e/ ou aos filmes que elas integram, passíveis de constar na defesa e caracterização de cada uma das 100 personagens.

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