Um Benfica equilibrado, concentrado, maduro, tacticamente quase perfeito e eficaz conseguiu hoje no Estádio do Dragão um passo muito importante rumo ao objectivo do bi-campeonato. Jorge Jesus foi teimoso e colocou Lima (Jonas e Derley, ambos com superior rendimento recentemente ficaram no banco) mas o número 11 do campeão nacional agradeceu o voto de confiança do mister e decidiu o jogo. As águias passarão o ano novo na liderança, têm agora 6 pontos de vantagem sobre o 2.º e 3.º classificados, e - num campeonato tão fácil para equipas como o Benfica e Porto - uma vitória no campo do rival pode revelar-se decisiva. A juntar a tudo isto há o factor (negativo) do campeão nacional estar afastado das competições europeias, que poderá ter impacto na menor sobrecarga física a que os jogadores do Benfica serão sujeitos em 2015.
No jogo de hoje Jesus lançou Lima na frente, com Talisca nas suas costas (embora hoje claramente com indicações para jogar ainda mais próximo de Enzo/ Samaris); Lopetegui optou por Martins Indi e Marcano para dupla de centrais, e Tello foi o escolhido para fazer frente a André Almeida. Depois do apito de Jorge Sousa começou melhor o Porto, e André Almeida viu um cartão amarelo com menos de 2 minutos jogados, o que poderia afectar a performance do jogador, ou o critério do árbitro para o resto do jogo. Não foi o caso. Nos minutos iniciais Óliver e Brahimi procurarem explorar o espaço vazio concedido nas costas da defesa encarnada, e daí surgiu o 1.º lance de perigo - Óliver descobriu Herrera, mas o mexicano não conseguiu rematar da melhor maneira. A primeira parte ia tendo mais Porto, com mais bola mas poucas ideias, e do lado vermelho e branco iam-se cozinhando 2 factores-chave: a perfeição posicional constante de Enzo Pérez, sempre a saber onde estar, onde apertar, onde dobrar; e a magia de Gaitán começou bem cedo, algo recorrente do 10 benfiquista, cada vez mais regular. O Porto não marcou e marcou sim o Benfica, aos 36'. Um lançamento lateral longo - ocorrido só depois de Brahimi respeitar a distância de 2 metros - colocou a bola no coração da área, onde Danilo ficou a dormir, e Lima aproveitou para se antecipar e fazer o 0-1. Ao intervalo a vantagem encarnada não traduzia quem tinha até aí tido o ascendente, mas premiava quem foi mais eficaz e quem soube controlar o jogo de um adversário com mais posse.
Nos segundos 45 a coisa começou dividida - Samaris-Enzo pareciam sempre ligados por um elástico - mas foi o Benfica a marcar novamente. Talisca arranjou espaço, testou Fabiano com um remate à entrada da área, obrigando-o a defender para a frente. Para azar do guarda-redes portista, Lima reagiu instantaneamente e não perdoou, fazendo o 2.º. Lopetegui achou por bem trocar Herrera e Tello pela imprevisibilidade e capacidade técnica de Quintero e Quaresma, mas o Benfica manteve as linhas, e contou também com o desacerto de Jackson Martínez. Ricardo Quaresma acrescentou valor, valeu Samaris a estancar um lance fantástico do 7, e depois, embora Júlio César tenha tido uma noite segura e transmitido segurança à equipa, acabou por ser a barra a exibir-se a bom nível. Jackson Martínez dispôs de dois lances, mas atirou de cabeça, por 2 ocasiões, a bola à trave.
Foi um Benfica estrategicamente afinado, em que se notou a "bagagem" de um colectivo que está cada vez mais talhado para estes momentos. Como dissemos no começo da época o Porto tem efectivamente muitas soluções do meio-campo para a frente mas a sua capacidade defensiva deixa por vezes a desejar (nenhuma dupla de centrais convence); e enquanto o Benfica tiver o trio argentino (Enzo, Gaitán, Salvio) é muito complicado o campeonato fugir aos encarnados. Hoje Gaitán deixou Aimar orgulhoso com vários pormenores dignos de um 10 e Enzo Pérez foi o homem do jogo silencioso. Não teve a magnitude táctica que exibiu no Benfica-Juventus da temporada passada, mas foi fulcral. André Almeida voltou a cumprir, ele que se estabilizasse do lado direito acabaria por ser indiscutível na Selecção, e Samaris terá feito o seu melhor jogo num jogo "a sério". No Porto Alex Sandro foi um dos melhores, e numa noite má para Jackson e Brahimi, foi Óliver que ainda assim deu um ar da sua graça. Sucedendo a nomes como César Brito ou Nuno Gomes, Lima foi o marcador dos 2 golos que decidiram o jogo e, por isso mesmo, merece uma palmadinha nas costas, uma distinção do Barba Por Fazer.
Tivemos um Clássico diferente, com o escudo de campeão a dizer presente. O campeonato é longo, ainda há muitas perguntas para serem respondidas (por exemplo, ficará Enzo em Janeiro?) mas é difícil não considerar o Benfica (ainda mais) favorito depois do jogo de hoje. Um dia no qual os encarnados ganharam pontos aos 2 rivais (o Sporting empatou em casa com o Moreirense) e no qual o seu (?) "menino de ouro" Bernardo Silva deu a vitória ao Mónaco diante do líder Marselha na Ligue 1.
Barba Por Fazer do Jogo: Lima (Benfica)
Outros Destaques: Alex Sandro, Óliver; André Almeida, Samaris, Enzo Pérez, Gaitán