30 de dezembro de 2014

Crítica: Foxcatcher

A CAMINHO DOS ÓSCARES 2015 
Realizador: Bennett Miller
Argumento: E. Max Frye, Dan Futterman
Elenco: Steve Carell, Channing Tatum, Mark Ruffalo, Vanessa Redgrave
Classificação IMDb: 7.0 | Metascore: 81 | RottenTomatoes: 88%
Classificação Barba Por Fazer: 76

    Depois de 'Capote' e 'Moneyball', Bennett Miller está de volta. E pela terceira vez o resultado é um filme bom, sim, mas que não chega a um patamar de excelência. Como os dois anteriores. 'Foxcatcher' aborda a história verídica do trio Mark Schultz (Channing Tatum), wrestler campeão olímpico e mundial, o seu irmão Dave Schultz (Mark Ruffalo), praticante da mesma modalidade mas mais medalhado, e do milionário John du Pont (Steve Carell). A boa vontade de John du Pont leva a que os irmãos Schultz integrem a equipa Foxcatcher, com longa tradição e sucessos noutras modalidades, querendo du Pont afirmar-se aos olhos da sua mãe, achando o dinheiro capaz de comprar tudo, menos a força da relação entre dois irmãos.

    E é de irmãos que se faz o lado luminoso de 'Foxcatcher'. Mark e Dave Schultz, interpretados por Channing Tatum e Mark Ruffalo, são uma dupla de campeões, mas que precisam do apoio um do outro. Sobretudo Mark, o mais novo, do apoio, do treino, das palavras e da orientação do seu melhor amigo e sangue do seu sangue. O lado menos luminoso, ou mais negro, do filme foca-se na relação John du Pont-Mark Schultz, uma espécie de irmandade à força, carregada de complexidades e sentimentos mistos. O destino deste triângulo será porventura sabido por alguns de vocês, mas é melhor não o referir para não estragar o filme a quem não conheça a história.
    O filme de Bennett Miller esteve para ser lançado no ano passado mas foi adiado para este ano. É possível que a decisão se tenha prendido com o facto dos produtores entenderem que nos Óscares 2015 teriam maiores hipóteses, embora a versão pública da SONY tenha sido que o filme precisava de mais tempo, e o que é certo é que Bennett Miller já confirmou em tertúlia com outros realizadores que demorou uma eternidade a editar 'Foxcatcher', na sua clausura criativa. Falando de Óscares, B. Miller tem a seu favor a Academia ter nomeado os seus 2 anteriores filmes, e 'Foxcatcher' é um dos filmes que está na corda-bamba entre figurar ou não nos nomeados da principal categoria. Bennett Miller dificilmente terá hipóteses de estar no Top-5 de realizadores, embora Mark Ruffalo seja praticamente uma garantia como Actor Secundário, e Steve Carell tenha legítimas aspirações de integrar o quadro de actores principais nomeados. Eventualmente poderá figurar em alguns categorias técnicas, como por exemplo a distinguir a maquilhagem que transformou Steve Carell em John du Pont.
    A noção de "transformação" é importante. Para Hollywood, para a Academia, para a crítica especializada e, por influência, para o público em geral. Caiu-se num lugar comum em que quando um actor se reinventa ou transforma então é porque o seu papel foi incrível. Há casos em que isso de facto acontece mas não se deve banalizar ou andar à procura de premiar o actor que emagreceu mais, ou aquele que mudou radicalmente a sua carreira com uma mudança de género. McConaughey deu uma volta de 180º nos seus filmes e papéis, e é um caso de sucesso, mas há transformações e transformações. Steve Carell é, apesar deste raciocínio, uma boa surpresa. O actor que já foi virgem aos 40 anos e que integrou o escritório mais cómico da televisão, surpreende na pele de John du Pont. Não tanto porque se reinventou - até porque curiosamente diversos actores defendem que é mais difícil desempenhar alguns papéis de comédia do que dramáticos - mas porque conseguiu preencher John du Pont de uma dimensão ao mesmo tempo triste, problemática e perigosa. Channing Tatum (impressiona em vários momentos de explosão) fica certamente um passo mais perto de ser verdadeiramente respeitado/ aclamado como actor, embora ainda tenha um longo percurso para se afirmar, e Mark Ruffalo acaba por ter em Dave Schultz a personagem com a qual é praticamente impossível não simpatizar. Claramente um actor que ultimamente tem sabido a que projectos deve dizer sim.

    Um filme cujo valor está assente sobretudo no que os 3 actores dão, e que acaba por ser metaforizado em pequenos momentos-chave: as tentativas de John du Pont em ser aceite aos olhos da mãe, aquele encosto entre irmãos cabeça com cabeça, ou a câmara a captar directamente o testemunho de Dave Schultz (Ruffalo) sobre a importância de du Pont no sucesso da equipa Foxcatcher.
    Deverá figurar em alguma categoria dos Óscares 2015 e, embora não fique para a História, é uma história que só ganhamos em conhecer melhor. 

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