Filme: Léon, The Professional
Actor: Gary Oldman
por Miguel Pontares
Incomodado por ser perturbado enquanto ouve música, com um "olfacto" singular para detectar quem mente, assim se apresenta Norman Stansfield, o agente corrupto da DEA em León.
O peculiar universo que Luc Besson criou no seu melhor filme - Léon: The Professional - vai desde uma jovem órfã de 12 anos que quer aprender a matar para se vingar, até a um assassino profissional implacável mas fiel ao seu código (No women, no Kids) e à sua rotina diária envolvendo leite e uma planta cuidadosamente estimada e regada. Mas, para além da invulgar relação das personagens de Natalie Portman e Jean Reno, há Norman Stansfield.
O sádico Stansfield ouve Beethoven na sua cabeça, qual Breivik do mundo ficcional, enquanto chacina uma família inteira; é uma montanha russa de imprevisibilidades alternando entre estados de aparente calma e de insanidade inqualificável, governando a sua equipa pelo medo que, também eles, têm dele. Um psicopata, um polícia responsável por apreender droga mas que é, no final de contas, um viciado. Se quiserem pensar que ele não se droga podem dizer a vocês próprios que ele só está a colocar um Smint na boca. Ou melhor, um Pez daqueles que se puxava a cabeça do boneco para trás para tirar o rebuçado. Que boas memórias. Embora fosse um pouco sádico partirmos várias vezes o pescoço ao nosso porta-Pez para conseguirmos saciarmos o nosso desespero por uma guloseima. Tenho para mim que os Pez eram um estágio para futuros fumadores ou piromaníacos, aquilo podia desenvolver um certo tique com isqueiros. Adiante.
Adepto da serenidade que lhe provocam os compositores clássicos como Beethoven, Mozart ou Brahms, antes de iniciar ele próprio uma tempestade de sangue, é capaz de entrar em efervescência ao descobrir que lhe estragaram o fato, tal como é capaz de olhar nos olhos de uma menina de 12 anos, ameaçando-a de morte. Numa boa fotografia da personagem, Stansfield foca os olhos redondos e inocentes de Mathilda, pergunta-lhe se ela valoriza a vida, apenas para a informar que só tem prazer ao retirar uma vida a alguém que queira estar vivo. Emblemático momento da personagem, tal como aquele Everyone gritado de olhar vidrado.
Norman Stansfield não é um daqueles vilões que rapidamente nos assalta a mente quando pensamos nos mais vis psicopatas que o Cinema nos deu. No entanto, é possível ver nele traços - aquele olhar brilhante e louco, aquela imoralidade cruzada com sensibilidade artística - que poderão ter inspirado outros actores em papéis parecidos.
É um daqueles casos em que, embora a personagem por si só já contivesse características para a tornar icónica, o papel de Gary Oldman marca a diferença. O homem que nos últimos anos foi Sirius Black em 'Harry Potter' e Jim Gordon na trilogia 'The Dark Knight' é um camaleão pouco valorizado, pertencente a uma estirpe donde Johnny Depp, Andy Serkis ou Hugo Weaving também fazem parte, mas onde habitualmente é apenas Depp o aclamado como multi-facetado. Aos 56 anos o britânico Gary Oldman é um senhor, mas foi há 20 anos atrás que garantiu a sua imortalidade cinematográfica.
Todos os heróis têm que combater o caos. E Stansfield é o caos em pessoa. Sem piedade, não por necessidade, mas por gosto.
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Nota Editorial: A compilação/ organização e ordem das personagens deste Top é responsabilidade de Miguel Pontares e Tiago Moreira. Os textos tiveram a colaboração de Daniel Machado, Lorena Wildering, Nuno Cunha, Sara Antunes Santos e Carolina Moreira.
Foram tidos em consideração filmes lançados até 20 de Novembro de 2014. Mais informamos que poderão existir spoilers relativos às personagens e/ ou aos filmes que elas integram, passíveis de constar na defesa e caracterização de cada uma das 100 personagens.
O peculiar universo que Luc Besson criou no seu melhor filme - Léon: The Professional - vai desde uma jovem órfã de 12 anos que quer aprender a matar para se vingar, até a um assassino profissional implacável mas fiel ao seu código (No women, no Kids) e à sua rotina diária envolvendo leite e uma planta cuidadosamente estimada e regada. Mas, para além da invulgar relação das personagens de Natalie Portman e Jean Reno, há Norman Stansfield.
O sádico Stansfield ouve Beethoven na sua cabeça, qual Breivik do mundo ficcional, enquanto chacina uma família inteira; é uma montanha russa de imprevisibilidades alternando entre estados de aparente calma e de insanidade inqualificável, governando a sua equipa pelo medo que, também eles, têm dele. Um psicopata, um polícia responsável por apreender droga mas que é, no final de contas, um viciado. Se quiserem pensar que ele não se droga podem dizer a vocês próprios que ele só está a colocar um Smint na boca. Ou melhor, um Pez daqueles que se puxava a cabeça do boneco para trás para tirar o rebuçado. Que boas memórias. Embora fosse um pouco sádico partirmos várias vezes o pescoço ao nosso porta-Pez para conseguirmos saciarmos o nosso desespero por uma guloseima. Tenho para mim que os Pez eram um estágio para futuros fumadores ou piromaníacos, aquilo podia desenvolver um certo tique com isqueiros. Adiante.
Adepto da serenidade que lhe provocam os compositores clássicos como Beethoven, Mozart ou Brahms, antes de iniciar ele próprio uma tempestade de sangue, é capaz de entrar em efervescência ao descobrir que lhe estragaram o fato, tal como é capaz de olhar nos olhos de uma menina de 12 anos, ameaçando-a de morte. Numa boa fotografia da personagem, Stansfield foca os olhos redondos e inocentes de Mathilda, pergunta-lhe se ela valoriza a vida, apenas para a informar que só tem prazer ao retirar uma vida a alguém que queira estar vivo. Emblemático momento da personagem, tal como aquele Everyone gritado de olhar vidrado.
Norman Stansfield não é um daqueles vilões que rapidamente nos assalta a mente quando pensamos nos mais vis psicopatas que o Cinema nos deu. No entanto, é possível ver nele traços - aquele olhar brilhante e louco, aquela imoralidade cruzada com sensibilidade artística - que poderão ter inspirado outros actores em papéis parecidos.
É um daqueles casos em que, embora a personagem por si só já contivesse características para a tornar icónica, o papel de Gary Oldman marca a diferença. O homem que nos últimos anos foi Sirius Black em 'Harry Potter' e Jim Gordon na trilogia 'The Dark Knight' é um camaleão pouco valorizado, pertencente a uma estirpe donde Johnny Depp, Andy Serkis ou Hugo Weaving também fazem parte, mas onde habitualmente é apenas Depp o aclamado como multi-facetado. Aos 56 anos o britânico Gary Oldman é um senhor, mas foi há 20 anos atrás que garantiu a sua imortalidade cinematográfica.
Todos os heróis têm que combater o caos. E Stansfield é o caos em pessoa. Sem piedade, não por necessidade, mas por gosto.
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Nota Editorial: A compilação/ organização e ordem das personagens deste Top é responsabilidade de Miguel Pontares e Tiago Moreira. Os textos tiveram a colaboração de Daniel Machado, Lorena Wildering, Nuno Cunha, Sara Antunes Santos e Carolina Moreira.
Foram tidos em consideração filmes lançados até 20 de Novembro de 2014. Mais informamos que poderão existir spoilers relativos às personagens e/ ou aos filmes que elas integram, passíveis de constar na defesa e caracterização de cada uma das 100 personagens.