Argumento: Richard Linklater
Elenco: Ellar Coltrane, Patricia Arquette, Ethan Hawke, Lorelei Linklater
Classificação IMDb: 7.9 | Metascore: 100 | RottenTomatoes: 98%
Classificação IMDb: 7.9 | Metascore: 100 | RottenTomatoes: 98%
Classificação Barba Por Fazer: 87
Demorou 12 anos a realizar, mas Richard Linklater conseguiu a sua obra-prima. Senhoras e senhores, cinéfilas e cinéfilos, apresento-vos 'Boyhood' - até agora o melhor filme desde os últimos óscares e um forte candidato a surgir em algumas categorias na grande noite do cinema em 2015. Originalidade no seu estado puro. Inspirador e profundo.
Quem tem acompanhado a evolução de Richard Linklater (até aqui com os seus Before Sunrise, Before Sunset e Before Midnight como grandes destaques, espaçados 9 anos entre si e sempre com a relação das personagens de Ethan Hawke e Julie Delpy em foco) sabe que Linklater é um mestre nas relações humanas, na forma como explora a interacção, como escolhe as palavras certas, conseguindo incluir sempre construtivamente os actores na construção das suas personagens. Podíamos dizer, considerando a "saga Before" e este 'Boyhood' que Linklater é de certa forma o melhor sociólogo do mundo, e criativo no conceito-chave de alguns dos seus filmes.
'Boyhood' é natural e genuíno, mais real e palpável do que qualquer outro filme que acompanhe o crescimento, uma adolescência. Porquê? Porque tem o jovem Mason (Ellar Coltrane), a personagem principal, interpretado pelo mesmo actor desde 2002 até 2014. Ellar Coltrane que se apresenta a sério ao mundo tendo gravado desde os seus 7 até aos seus 19 anos (embora na personagem o intervalo seja supostamente dos 5 aos 18), dedicando em conjunto com o realizador/argumentista Linklater e as restantes personagens, um conjunto de dias de cada ano civil para a gravação de cenas para 'Boyhood'. Ethan Hawke sempre se referiu a este filme como o 'The Twelve Year Project'.
O resultado final é algo nunca antes visto. É cinema. Assistimos ao crescimento de Mason, da sua mãe (Patricia Arquette) sempre errática na escolha dos seus parceiros, embora uma mãe loba na defesa dos seus filhos, Mason e Samantha (interpretada por Lorelei Linklater, filha do realizador). Há ainda o pai (Ethan Hawke; Johnny Depp está para Tim Burton como Hawke está para Linklater) que, embora apenas aos fins-de-semana e em férias, consegue construir uma relação diferente e especial com os filhos. No fundo, Linklater leva-nos numa viagem que resulta por vários motivos: é uma experiência partilhada carregada de significado, algumas referências temporais (acontecimentos históricos, símbolos de gerações ou a música) ajudam a contextualizar cada altura e a construção das personagens torna-se muito mais rica e complexa do que noutros filmes, acabando nós por acompanhar uma família. Aquele Mason fui eu a crescer, foi o vosso filho ou o vosso irmão.
No final temos 2h45min (uma aceitável edição, por se tratar de 12 anos) a ver um rapaz crescer e a adoptar a sua própria forma de ver o mundo e de percepcionar cada momento. A história é simples e retrata também momentos que todos passámos, acabando por resultar também nessa identificação com o filme. E é bom ver um realizador a inovar, a marcar pela diferença. Outra vez.
A actriz Patricia Arquette disse sobre o filme que mal Linklater lhe perguntou "o que é que vais fazer nos próximos 12 anos?" e lhe explicou o conceito, imediatamente aceitou. E confessou que só lhe custou o fim das gravações, porque por ela continuaria a gravar anualmente sem que ninguém alguma vez visse o filme. Coltrane, o protagonista que ainda não sabe se quer continuar a ser actor, referiu por exemplo que só quando viu o filme ao estar feito no fim é que percebeu que um jogo de basebol que achava ter assistido com o seu pai verdadeiro, tinha-o feito afinal com Ethan Hawke, quando era pequeno.
Ainda estamos muito longe dos óscares, mas pelo conceito (nunca houve nada assim) diferenciador que torna 'Boyhood' um filme aparte e pelos desempenhos dos actores, é bem possível que figure em várias categorias: Melhor Argumento Original parece uma certeza, e depois Melhor Filme e Melhor Realizador também fazem todo o sentido. Patricia Arquette poderá muito bem ver-se nomeada para Melhor Actriz Secundária, tal como Ethan Hawke e Ellar Coltrane (um bom actor quase desde o berço) devem por esta altura ter legítimas aspirações como actor secundário e principal, respectivamente. Se não houve problemas da Academia em nomear Barkhad Abdi na estreia - que mostrou muito menos como actor do que Coltrane mostra agora -, Coltrane para já está bem colocado a não ser que surjam entretanto 5 actores com interpretações superiores.
Mason veio a gostar de fotografia e o melhor que podemos dizer é que Richard Linklater conseguiu uma fotografia perfeita do que é crescer. Vejam o filme, que é uma das melhores e mais criativas coisas que passou pelo cinema nos últimos anos, e com boa mensagem. Deixemos o tempo premiar 'Boyhood' e torná-lo um clássico.
Demorou 12 anos a realizar, mas Richard Linklater conseguiu a sua obra-prima. Senhoras e senhores, cinéfilas e cinéfilos, apresento-vos 'Boyhood' - até agora o melhor filme desde os últimos óscares e um forte candidato a surgir em algumas categorias na grande noite do cinema em 2015. Originalidade no seu estado puro. Inspirador e profundo.
Quem tem acompanhado a evolução de Richard Linklater (até aqui com os seus Before Sunrise, Before Sunset e Before Midnight como grandes destaques, espaçados 9 anos entre si e sempre com a relação das personagens de Ethan Hawke e Julie Delpy em foco) sabe que Linklater é um mestre nas relações humanas, na forma como explora a interacção, como escolhe as palavras certas, conseguindo incluir sempre construtivamente os actores na construção das suas personagens. Podíamos dizer, considerando a "saga Before" e este 'Boyhood' que Linklater é de certa forma o melhor sociólogo do mundo, e criativo no conceito-chave de alguns dos seus filmes.
'Boyhood' é natural e genuíno, mais real e palpável do que qualquer outro filme que acompanhe o crescimento, uma adolescência. Porquê? Porque tem o jovem Mason (Ellar Coltrane), a personagem principal, interpretado pelo mesmo actor desde 2002 até 2014. Ellar Coltrane que se apresenta a sério ao mundo tendo gravado desde os seus 7 até aos seus 19 anos (embora na personagem o intervalo seja supostamente dos 5 aos 18), dedicando em conjunto com o realizador/argumentista Linklater e as restantes personagens, um conjunto de dias de cada ano civil para a gravação de cenas para 'Boyhood'. Ethan Hawke sempre se referiu a este filme como o 'The Twelve Year Project'.
O resultado final é algo nunca antes visto. É cinema. Assistimos ao crescimento de Mason, da sua mãe (Patricia Arquette) sempre errática na escolha dos seus parceiros, embora uma mãe loba na defesa dos seus filhos, Mason e Samantha (interpretada por Lorelei Linklater, filha do realizador). Há ainda o pai (Ethan Hawke; Johnny Depp está para Tim Burton como Hawke está para Linklater) que, embora apenas aos fins-de-semana e em férias, consegue construir uma relação diferente e especial com os filhos. No fundo, Linklater leva-nos numa viagem que resulta por vários motivos: é uma experiência partilhada carregada de significado, algumas referências temporais (acontecimentos históricos, símbolos de gerações ou a música) ajudam a contextualizar cada altura e a construção das personagens torna-se muito mais rica e complexa do que noutros filmes, acabando nós por acompanhar uma família. Aquele Mason fui eu a crescer, foi o vosso filho ou o vosso irmão.
No final temos 2h45min (uma aceitável edição, por se tratar de 12 anos) a ver um rapaz crescer e a adoptar a sua própria forma de ver o mundo e de percepcionar cada momento. A história é simples e retrata também momentos que todos passámos, acabando por resultar também nessa identificação com o filme. E é bom ver um realizador a inovar, a marcar pela diferença. Outra vez.
A actriz Patricia Arquette disse sobre o filme que mal Linklater lhe perguntou "o que é que vais fazer nos próximos 12 anos?" e lhe explicou o conceito, imediatamente aceitou. E confessou que só lhe custou o fim das gravações, porque por ela continuaria a gravar anualmente sem que ninguém alguma vez visse o filme. Coltrane, o protagonista que ainda não sabe se quer continuar a ser actor, referiu por exemplo que só quando viu o filme ao estar feito no fim é que percebeu que um jogo de basebol que achava ter assistido com o seu pai verdadeiro, tinha-o feito afinal com Ethan Hawke, quando era pequeno.
Ainda estamos muito longe dos óscares, mas pelo conceito (nunca houve nada assim) diferenciador que torna 'Boyhood' um filme aparte e pelos desempenhos dos actores, é bem possível que figure em várias categorias: Melhor Argumento Original parece uma certeza, e depois Melhor Filme e Melhor Realizador também fazem todo o sentido. Patricia Arquette poderá muito bem ver-se nomeada para Melhor Actriz Secundária, tal como Ethan Hawke e Ellar Coltrane (um bom actor quase desde o berço) devem por esta altura ter legítimas aspirações como actor secundário e principal, respectivamente. Se não houve problemas da Academia em nomear Barkhad Abdi na estreia - que mostrou muito menos como actor do que Coltrane mostra agora -, Coltrane para já está bem colocado a não ser que surjam entretanto 5 actores com interpretações superiores.
Mason veio a gostar de fotografia e o melhor que podemos dizer é que Richard Linklater conseguiu uma fotografia perfeita do que é crescer. Vejam o filme, que é uma das melhores e mais criativas coisas que passou pelo cinema nos últimos anos, e com boa mensagem. Deixemos o tempo premiar 'Boyhood' e torná-lo um clássico.