E aos 110 jogos pela Selecção, Ronaldo chegou aos 49 golos, tornando-se
com o bis desta noite o melhor marcador de sempre de Portugal. O objectivo
deste amigável era preparar a Selecção para o confronto com o Gana (embora o
Gana tenha um colectivo muito mais forte e seja uma selecção com cultura e
futebol mais "europeus") e Portugal conseguiu um resultado folgado,
graças a uma 2.ª parte onde tudo saiu bem.
Paulo Bento fez o que devia fazer sempre nestes amigáveis
(e mesmo nas fases de apuramento, nos jogos menos complicados) e lançou de
início os jovens William Carvalho, Rafa e Ivan Cavaleiro, os 2 últimos em
estreia absoluta. Nos primeiros minutos Rafa foi mesmo um dos elementos em
destaque na nossa Selecção, com vários pormenores ao nível do que nos habituou
no Braga, e com uma enorme vontade de mostrar serviço, sem acusar o peso da
camisola das Quinas. Com
uma frente muito móvel (formada por Ronaldo, Rafa e Cavaleiro) Portugal chegou
ao golo aos 21' com o inevitável Cristiano Ronaldo a tornar-se, de forma
isolada, o melhor marcador de sempre de Portugal. Moutinho desmarcou João
Pereira no flanco direito e o lateral, que hoje esteve em grande nível, cruzou
atrasado para onde estava Ronaldo. O resto foi a classe e experiência do melhor
do mundo. Ronaldo rematou de forma fulminante, num golo simples, mas facilitado
pela sua brilhante recepção. A 1.ª parte tornou-se então relativamente "quezilenta" com os jogadores dos
Camarões, incomodados também com algumas maldades de
Fábio Coentrão. Os jogadores africanos foram construindo algumas jogadas de
perigo e marcaram aos 43' com Aboubakar (mostrou qualidade enquanto esteve em
campo) a receber uma bola - estava no limite do fora-de-jogo, talvez posto em
jogo por Coentrão - e a rematar, fazendo a bola passar entre as pernas de Beto.
Os últimos momentos relevantes da 1.ª parte tiveram em Neto o seu protagonista
ao impedir por 2 ocasiões que os Camarões criassem perigo.
Ao intervalo Paulo Bento
trocou Rafa (merecia mais minutos) e Beto por Edinho e Eduardo e
progressivamente Portugal foi crescendo. O guardião Assembé começou então a
tornar-se figura de destaque ao conseguir várias defesas, mas nada podia fazer
quando um defesa saiu entregou a bola a Raúl Meireles que, à entrada da área,
recolocou Portugal na frente. Para o alegre público em Leiria só foi preciso
então esperar mais 1 minuto para ver novo golo. Numa jogada em
velocidade-cruzeiro, Meireles descobriu Ivan Cavaleiro, o "Sturridge"
português temporizou e desmarcou Fábio Coentrão, acabando o lateral esquerdo
por rematar de forma certeira. Portugal manteve-se por cima no jogo e até ao
final existiu quando Ronaldo existiu. O capitão português esteve na origem do
golo de Edinho, rematando e possibilitando a recarga do avançado, e fez ele
próprio o 5-1 final num remate oportuno depois de uma jogada com Antunes.
Vitória justa, expressiva e um teste encarado da forma correcta, rumo ao
Mundial do Brasil.
Tudo é mais simples quando
se tem o melhor jogador do mundo, mas tudo é também mais fácil quando se
consegue ter sangue fresco e
juventude, jogadores a quererem mostrar serviço e agarrar oportunidades.
William Carvalho esteve abaixo do seu nível e regularidade habituais, fez
muitas faltas, acusou algum desnorte em alguns momentos - muito raro nele - mas é a melhor solução
para a posição 6. Há muitos jogadores com os pés do médio do Sporting, mas
muito poucos com a sua cabeça. Enquanto não se acrescenta Fernando (que há
pouco tempo dizia que o seu sonho era representar o Brasil) à equação,
esperemos que William seja titular no Brasil e seria inteligente da parte do
Sporting só o negociar após a competição. Tanto que ajudará ter William a jogar sistematicamente curto e simples, tanto como um pé como com o outro. William será presença garantida no
lote de 23, bem como Rafa, muito provavelmente. O criativo do Braga mostrou
hoje nos 45 minutos que teve que é uma opção válida, um jogador com um ADN
diferente e bastar-lhe-á manter o nível dos últimos meses para aspirar a estar
no Brasil. O caso de Ivan Cavaleiro será mais delicado, embora fosse facilmente
resolvido se o Benfica apostasse mais nele nesta recta final de época. Com
Bruma no "estaleiro", Nani sem andamento e a falta de opções
ofensivas (Hugo Almeida, Postiga e Nélson Oliveira, por diferentes razões, não
são indiscutíveis) Cavaleiro ainda pode sonhar. E Edinho ainda mais hipóteses
terá neste contexto.
De resto, Neto hoje esteve
imperial e assumiu-se como o patrão da defesa na ausência de Pepe e Bruno
Alves. Se será ou não o sucessor de Garay ninguém sabe, mas embora tenha
iniciado o jogo com 1 ou 2 falhas, depois brilhou e fez até lembrar Ricardo
Carvalho num ou outro momento. Para Paulo Bento os 4 centrais parecem sair do
lote Pepe, B. Alves, Neto, Rolando, R. Costa; no entanto embora os 3 primeiros
sejam opções correctas, o último lugar deveria sim ficar entregue a José Fonte
ou Paulo Oliveira. Infelizmente, Fonte parece não contar, tal como Adrien, que
merecia muito mais ter estado hoje presente do que Josué. Dois jogadores que
podem jogar na posição Moutinho, embora Portugal tenha que começar a
trabalhar-se para nos próximos anos ter um jogador mais criativo no trio de
meio-campo, como antes tinha Rui Costa ou Deco. Isto porque os próximos anos
trarão à nossa Selecção 2 talentos ímpares chamados Bernardo Silva e Rony
Lopes. Os laterais de Portugal estiveram hoje em excelente plano, com muita
profundidade e a fazer praticamente tudo bem e, por fim, Cristiano Ronaldo foi
o homem do jogo. Só o futuro dirá os números em que ficarão tabelados os seus
recordes, tanto de jogos pela Selecção, como de golos.
Barba Por Fazer do Jogo: Cristiano Ronaldo (Portugal)
Outros Destaques: João Pereira, Coentrão, Neto; Aboubakar