Nos últimos anos, a Alemanha tem deixado em campo claros sinais de desnorte e vulnerabilidade. Löw tem inventado e inventado, sem sucesso, mas uma inspiração, a que também poderemos chamar uma pequena cópia do 3-4-1-2 do Chelsea de Thomas Tuchel, pode ter salvo a Mannschaft mesmo a tempo. Há um dado que distingue esta Alemanha de todos os outros principais candidatos e que não deve ser ignorado: com Neuer, Süle, Kimmich, Goretkza, Müller, Gnabry e Sané, os germânicos têm a vantagem de ter a base de um clube importada para a selecção, com tudo o que isso significa a nível de rotinas, e tendo especial importância uma vez que o Bayern Munique é uma das melhores equipas da actualidade. Além dos 7 jogadores referidos, mesmo Hummels e Kroos já não jogam em Munique (cidade e estádio que acolhe os 3 jogos da Alemanha) mas já jogaram no Bayern.
Se em 4-3-3 havia uma série de dúvidas para Löw e a defesa parecia sempre excessivamente desprotegida, além de por exemplo Müller (reintegrado, tal como Hummels) não ser potenciado a 100%, o 3-4-1-2 resolve muita coisa.
Visto que a Eslovénia de Oblak não marca presença neste Euro, pode-se considerar Neuer o melhor guarda-redes deste Euro 2020, e se a defesa actuar de facto com 3 centrais, além de Hummels e Rüdiger (óptimo ano no Chelsea), Ginter pode ter vantagem sobre Süle por conferir maior dinâmica e flexibilidade ao tabuleiro germânico. O sistema ganha muito com Kimmich e Gosens como alas, deixando Kroos como cérebro e Gündogan como seu colega de sector, podendo fazer mais sentido Goretkza para essa posição pela sua dimensão física superior.
E se Tuchel aposta no Chelsea em Mount no apoio a Werner e Havertz, Löw tem a oportunidade de deixar Thomas Müller a assistir uma dupla que pode ser composta precisamente pelos homens do Chelsea, esfomeados para se redimirem depois de uma temporada que acabou em glória clubística mas que em que ficaram ambos bem abaixo das expectativas, sem esquecer os extremos do Bayern, Gnabry e Sané. A dupla que nos parece mais perigosa neste esquema? Gnabry e Havertz.
Destaques Individuais (Previsão):
No estudo das várias selecções, é fácil identificar e elencar claras razões para confiar na França, em Portugal e na Itália. Na Alemanha... não tanto. Ao contrário das restantes 3 selecções, a eleição da Alemanha como semifinalista sustenta-se muito mais no instinto, apoiada pelo factor Bayern Munique e também pelo factor casa na fase de grupos. A Mannschaft até pode acabar este Grupo F em 1.º, mas também pode terminar em terceiro. Ou não fosse o "grupo da morte".
Caso Joachim Löw mantenha o recente 3-4-1-2 em que tudo de repente parece ganhar sentido, Joshua Kimmich e Toni Kroos podem ser 2 dos principais destaques da competição, num esquema em que se torna bastante mais difícil para os adversários condicionar a influência de ambos (dois atletas singulares a nível de QI futebolístico) na engrenagem alemã.
Thomas Müller tem 10 golos em mundiais, mas nunca marcou num Europeu. Aos 31 anos, quer corrigir isso e mostrar o quanto a Alemanha ficou a perder quando Löw o afastou. Poucos jogadores na actualidade assistem como ele (claro que quando se tem Lewandowski como destino da bola é normal que os números sejam altos) e se tiver como função jogar nas costas de 2 avançados móveis, vemo-lo a fazer mossa.
A defesa alemã deixa-nos de pé atrás, mas Manuel Neuer é um dos melhores (será entre ele e Courtois) ou mesmo o melhor guarda-redes entre os presentes nesta competição e um senhor como ele faz toda a diferença nos grandes jogos. Uma vez mais, apoiados na ideia de que o 3-4-1-2 é para manter, Robin Gosens terá carta branca para correr e correr pelo flanco esquerdo, entrando pela grande área com frequência e tentando imitar os números que atinge pela Atalanta, e na dupla da frente, Gnabry é a aposta mais segura mas algo nos diz que o elegante Kai Havertz (não esquecer que praticou o melhor futebol da sua curta carreira como falso 9 no Leverkusen), autor do golo da final da Champions, pode-se afirmar como um dos jovens da competição.
3. PORTUGAL
(Previsão: Meias-finais, eliminado pela Alemanha)
- Guarda-Redes: Rui Patrício (Wolves), Anthony Lopes (Lyon), Rui Silva (Granada)
- Defesas: João Cancelo (Manchester City), Nélson Semedo (Wolves), Rúben Dias (Manchester City), Pepe (Porto), José Fonte (Lille), Raphael Guerreiro (Borussia Dortmund), Nuno Mendes (Sporting)
- Médios: João Palhinha (Sporting), Danilo Pereira (PSG), William Carvalho (Bétis), Rúben Neves (Wolves), João Moutinho (Wolves), Renato Sanches (Lille), Sérgio Oliveira (Porto), Bruno Fernandes (Manchester United)
- Extremos/ Avançados: Bernardo Silva (Manchester City), Pedro Gonçalves (Sporting), Rafa (Benfica), Gonçalo Guedes (Valência), Diogo Jota (Liverpool), Cristiano Ronaldo (Juventus), João Félix (Atlético Madrid), André Silva (Eintracht Frankfurt)
Seleccionador: Fernando Santos;Baixa: Pedro Neto.
Forças: Melhor dupla de centrais do Euro 2020; Mentalidade vencedora garantida com Ronaldo, Rúben Dias, Pepe e Bruno Fernandes; Geração claramente superior à de 2016, sabe sofrer e fechar os caminhos para a baliza, mas conta com velocidade e criatividade na frente;
Fraquezas: Melhor 11 deve ser encontrado e ajustado ao longo da competição; Perseguição de CR7 ao recorde de Ali Daei servirá de motivação mas pode prejudicar a tomada de decisões; Titularidade de Raphael Guerreiro contra algumas selecções é um convite à exploração das suas costas;
Equipa-Base (4-3-3): Rui Patrício; J. Cancelo, Rúben Dias, Pepe, R. Guerreiro (N. Mendes); Danilo (João Palhinha), R. Sanches, B. Fernandes; Bernardo, Diogo Jota, C. Ronaldo
Que sejamos bicampeões e que Fernando Santos deixe de fumar! Desde que FS abraçou o desafio de ser seleccionador nacional em 2014, Portugal perdeu por 12 vezes em 84 jogos. No entanto, 8 dessas derrotas aconteceram em jogos amigáveis, o que significa que apenas França (Liga das Nações), Ucrânia (Qualificação Euro 2020), Uruguai (Mundial 2018) e Suiça (Qualificação Mundial 2018) derrotaram a Selecção das Quinas. Apenas uma derrota em fases finais.
Embora Portugal tenha obrigação de praticar um melhor futebol (pela brutal qualidade do elenco actual e porque qualquer equipa que jogue bem está sempre mais perto de ganhar) estamos preparados para que a selecção não nos preencha como as de 2000 ou 2004, mas saiba sofrer, lutar e
matar na Hora H.
Num 4-3-3 sem grandes segredos, Portugal deve ver o seu 11 afinado à medida que o Euro 2020 se desenrolar, sendo provável a fixação de Nuno Mendes como titular e a gradual estabilização da melhor fórmula para o trio de médios, com 5 jogadores (Danilo, Palhinha, William, Neves e Renato) interessados em garantir lugar na dupla de médios que farão companhia a Bruno Fernandes.
Com a melhor dupla de centrais do Euro 2020 (Rúben Dias e Pepe) a poder revelar-se um factor muito importante, Portugal procurará cruzar apenas através dos seus laterais subidos, transportando em transição com Bernardo ou Renato (quando for titular) e apostando forte na flutuação táctica e comunicação de Ronaldo e Diogo Jota. Bruno Fernandes é o wildcard da equipa, importando que não acuse o cansaço (acabou a época completamente rebentado) e que repita o que fez no amigável contra Israel, conseguindo dar continuidade à importância que tem tido nos seus clubes, um nível que quase nunca tem apresentado ao vestir a camisola da selecção. André Silva e João Félix são excelentes opções para poder lançar.
Destaques Individuais (Previsão):
Portugal tem equipa para se bater com qualquer selecção neste Euro 2020 e, somando tudo o que deve ser ponderado, é realista considerar Portugal, detentor do troféu, um dos 4 principais candidatos a chegar à final. Na nossa previsão, deixamos a Selecção das Quinas nas meias-finais, mas torceremos para estar enganados.
Um dos desafios da nossa Selecção neste Campeonato da Europa é saber jogar sem Cristiano Ronaldo - com jogadores como Bruno Fernandes e Bernardo Silva a assumirem maiores responsabilidades - mas tendo Ronaldo em campo também. O capitão português quer acima de tudo ser bicampeão, sem se ver obrigado a abandonar o jogo decisivo em lágrimas, mas terá metas individuais: basta-lhe 1 golo para desempatar com Platini e tornar-se o maior goleador de sempre em europeus (com a diferença que Platini marcou 9 no Euro 84 e Ronaldo marcou 9 distribuídos entre 2004, 2008, 2012 e 2016) e actualmente com 104 golos está a cinco do recorde do iraniano Ali Daei nas selecções. Quer isto dizer que, se por exemplo Ronaldo marcar 2 golos à Hungria na jornada inaugural, a imprensa portuguesa vai garantidamente passar o resto da competição obcecada com a contagem decrescente até o recorde ser igualado ou ultrapassado. Desde que não afecte o futebol da selecção e motive CR7, nada contra.
Ronaldo está com 36 anos e já sabe o que é ser campeão europeu, mas há 5 craques portugueses que ainda não sentiram esse gosto e têm todos capacidade para brilhar: Diogo Jota pode ser o grande destaque português, parecendo-nos o tipo de jogador que jamais se esconderá nos momentos difíceis, podendo beneficiar da sua óptima leitura a decidir quando aparecer nas costas e da marcação mais cerrada que será feita a Ronaldo; Rúben Dias foi o melhor central do futebol europeu em 2020/ 21 e esperamos que a sua parceria com Pepe seja um dos alicerces da nossa Selecção; Bernardo Silva já estava na órbita da Selecção A em 2016, ao contrário de outros, mas falhou a competição por lesão. O 10 português é o jogador mais mágico e tecnicista e, não tendo realizado uma temporada tão exuberante como outros, pode crescer agora, sendo o jogador "do passe para o passe". Bruno Fernandes é para nós a grande dúvida - carregava o Sporting, carrega o United, mas costuma desaparecer quando joga por Portugal. Oxalá não acuse o desgaste da época que realizou em Manchester e faça muitos jogos no nível que exibiu no particular com Israel. E João Cancelo foi o melhor lateral da Premier League e quererá ser um dos melhores laterais deste Euro 2020. É natural que Portugal canalize muito do seu jogo pela direita, procurando que o lado esquerdo seja o quadrante de concretização e nesse sentido Cancelo pode emergir como o principal desequilibrador português.
Além de tudo isto, o júnior Nuno Mendes é menino para conquistar a titularidade durante a fase de grupos, e no meio-campo temos curiosidade principalmente para acompanhar o equilíbrio e as diferentes soluções que Rúben Neves oferece e o suplemento vitamínico que Renato Sanches poderá ser, pontualmente, para a equipa.
4. HUNGRIA
- Guarda-Redes: Peter Gulácsi (RB Leipzig), Ádám Bogdán (Ferencváros), Dénes Dibusz (Ferencváros)
- Defesas: Loïc Négo (MOL Fehérvár), Gergö Lovrencsics (Ferencváros), Bengedúz Bolla (MOL Fehérvár), Endre Botka (Ferencváros), Willi Orbán (RB Leipzig), Ákos Kecskés (FC Lugano), Ádám Lang (Omonia) Attila Szalai (Fenerbahçe), Attila Fiola (MOL Fehérvár)
- Médios: Kevin Varga (Kasimpasa), Ádám Nagy (Bristol City), Dániel Gazdag (Philadelphia Union), Tamás Cseri (Mezokovesdi), András Schafer (FC DAC 1904), László Kleinheisler (NK Osijek)
- Extremos/ Avançados: Roland Sallai (Friburgo) Filip Holender (Partizan), Szabolcs Schön (FC Dallas), Roland Varga (MTK), Csaba Hahn (Paksi), Nemanja Nikolic (MOL Fehérvár), Ádám Szalai (Mainz)
Seleccionador: Marco Rossi;Baixa: Dominik Szoboszlai
Forças: Puskas Arena (único estádio do Euro 2020 com lotação permitida de 100%) contra Portugal e França; Gulácsi é um bom guarda-redes de engate; Nada a perder;
Fraquezas: Sem Szoboszlai a equipa perde magia, transporte e possibilidade de resolver jogos à lei da bomba; Há ouro para explorar nos canais entre Négo e Botka e entre Holender e Attila Szalai;
Equipa-Base (3-4-1-2): Gulácsi; Botka (Lang), Orban, Szalai; Négo, Nagy, Kleinheisler, Holender; Sallai; Szalai, Nikolic
A Hungria teve o azar de calhar num grupo com 3 equipas que apontamos às meias-finais deste Euro 2020. Perante as circunstâncias, os comandados de Marco Rossi são a selecção com menos responsabilidades neste Euro 2020 (até a Finlândia e a Macedónia do Norte têm mais pressão), beneficiando ainda de uma Puskas Arena com capacidade de quase 70 mil espectadores a seu favor contra Portugal e França. É lamentável que Szoboszlai (será a referência desta Hungria na próxima década) não tenha recuperado a tempo, e convém relembrar que actualmente esta selecção já não conta com Dzsudzsak e Gera, dois dos seus melhores jogadores num passado recente, e os responsáveis pelos 3 golos marcados contra Portugal naquele 3-3 de loucos em 2016.
Com o intuito de estragar as contas dos 3 favoritos, a Hungria actuará com 3 centrais, destacando-se nos primeiros metros dois atletas do Leipzig, Gulácsi (será seguramente muito testado neste Grupo F) e Orban; no meio-campo, Nagy e Kleinheisler são os jogadores mais esclarecidos com bola e o posicionamento de Sallai será a principal particularidade a ter em atenção, baixando o jogador do Friburgo em relação à linha de Szalai e Nikolic. No entanto, temos dúvidas que a Hungria insista na sua opção habitual de alinhar com 2 avançados em todos os jogos desta fase de grupos.
Destaques Individuais (Previsão):
Numa Hungria órfã do seu verdadeiro craque (Dominik Szoboszlai), o mais certo é que os destaques individuais sejam pouco expressivos, com cada jogo a ser um tremendo e exigente teste à capacidade húngara de se aguentar viva no jogo e sem golos sofridos.
Numa óptica de adiar o golo e tentar enervar portugueses, franceses e alemães, Peter Gulácsi terá uma palavra a dizer. Há 3 anos era Király o guardião húngaro, e nessa posição o jogador do Leipzig representa um evidente upgrade. Que seja homem do jogo em algum encontro, mas que não seja contra nós.
Figura central no comportamento táctico da formação de Marco Rossi, o amadurecido-mas-longe-de-corresponder-ao-seu-potencial Ádám Nagy pode voltar a ganhar cotação, tal como quando se deu a conhecer ao mundo em 2016, e Roland Sallai (bom final de época na Bundesliga) é capaz de representar o maior perigo ao ser menos policiado do que Szalai.