1 de junho de 2021

Balanço Final - Premier League 20/ 21


Depois de uma edição em que o Liverpool, com 99 pontos alcançados, deixou toda a concorrência bem longe, a Premier League viveu diferentes momentos. É que em meados de Dezembro o City já nem entrava nas contas de muitos, que davam como mais provável o bicampeonato dos reds ou até uma proeza do Tottenham, que vivia à data um momento sólido galvanizado pela dupla Son-Kane. Porém, entre as jornadas 14 (19 de Dezembro) e 29 (2 de Março) o City ganhou 15 jogos em 15 possíveis, e a discussão praticamente acabou. Coube ao tempo confirmar.

    Sem se comparar à máquina goleadora de 2018 e 2019 (nessas épocas o City marcou 106 e 95 golos), o City fez do equilíbrio uma das suas armas, revelando o reforço Rúben Dias a sua superlativa importância enquanto patrão. Sem ter um avançado centro capaz de corresponder ao nível do restante elenco, e com Sterling apagado, coube a Foden (vai marcar uma Era!) e a Mahrez lampejos de génio, e a Gündogan o papel de surpreendente regular destaque ofensivo. Claro está que, sempre que houve De Bruyne, aquilo que se viu na turma azul celeste foi KDB+10.

    Com Harry Kane num nível absurdo (máximo goleador e máximo assistente da prova), esta Premier League teve muito Bruno Fernandes, teve um Liverpool que se viu aflito para fechar a época no Top-4, teve um Chelsea - novo campeão europeu - antes e d.T. (depois de Tuchel), embora as duas dimensões sempre com Mason Mount em grande, saindo valorizados técnicos como David Moyes e Marcelo Bielsa, e tendo apenas 4 equipas trocado de treinador ao longo das 38 jornadas. Batamos palmas a isso.

    O Sheffield United provou-se, ao contrário do que esperávamos, uma das piores equipas do passado recente da Premier League, o Arsenal falhou a Europa num humilhante 8.º lugar, o Everton não cresceu como as primeiras jornadas levavam a crer (e até se deixou ultrapassar pelo Leeds), tudo isto no ano em que Mourinho saiu in media res, Nuno Espírito Santo sai agora no fim, e Roy Hodgson despede-se do Crystal Palace aos 73 anos.

    Acompanhem-nos então numa análise à época das 20 equipas da Premier League, sistematizando ideias-chave, o que correu bem, o que correu mal, quem brilhou e quem desiludiu:


 MANCHESTER CITY (1)

    Pela 3.ª vez em 4 anos o Manchester City é campeão de Inglaterra. Dono da hegemonia possível em terras de Sua Majestade - 5 campeonatos em 10 anos - o City viveu uma jornada emocionante, que acabou com Guardiola a inventar e a ser dominado por Tuchel na final da Liga dos Campeões (1.ª vez que os citizens chegaram lá, agora falta ganhar numa próxima vez) mas que teve a nível interno um percurso de sonho.
    Na decisão entre os favoritos Liverpool e Manchester City, é certo que os reds acumularam mais lesões, mas não deixa de ser verdade que também Pep não pôde contar com o seu melhor jogador (Kevin De Bruyne) durante largo período e o suposto maior goleador da equipa (Agüero) apenas jogou 554 minutos durante todo o campeonato. A diferença fez-se, em grande medida, a nível de centrais. Porque o Liverpool perdeu van Dijk, e o City descobriu "o seu van Dijk" em Rúben Dias, reforço do ano em Inglaterra e MVP dos campeões.
    Com sucessivas inovações e simplificações do génio que quis complicar na final do Estádio do Dragão, o City arrasou a concorrência com total dominância - zero derrotas entre as jornadas 10 e 29, tendo chegado mesmo a atingir uma sequência de 15 vitórias seguidas. Foden e Mahrez trocaram as voltas aos adversários com o seu reportório técnico, Gündogan marcou como nunca, João Cancelo mostrou finalmente a sua qualidade ao futebol inglês, Stones subiu o nível contagiado por Rúben Dias, e De Bruyne foi De Bruyne, quando conseguiu manter as lesões afastadas.
    Temos muita curiosidade para ver que reforços se vão juntar a esta Dream Team, à qual tantas vezes só parece faltar um super ponta-de-lança como Kane ou Haaland, embora não disséssemos que não a ver Grealish e Nuno Mendes de azul celeste.

Destaques: Rúben Dias, Ilkay Gündogan, Kevin de Bruyne, Phil Foden, João Cancelo


 
MANCHESTER UNITED (2)

    No ano do quase, o Manchester United ficou em segundo atrás do seu rival citadino e perdeu a final da Liga Europa frente ao Villarreal. No ano do quase, todas as derrotas da Premier League surgiram em Old Trafford, sendo como tal os red devils a única equipa com 0 derrotas fora. Mas antes este quase, uma posição acima na tabela em comparação com 19/ 20, do que aquilo que o United apresentara em 2019, 2017, 2016, 2015 e 2014.
    Liderados por Bruno Fernandes, os pupilos de Solskjaer sentiram muitas saudades do seu público no Teatro dos Sonhos, deixando Crystal Palace, Tottenham, Arsenal, Sheffield United (sim, a sério), Leicester City e Liverpool vencer enquanto visitantes. A distância final para o rival City explica-se também através da enorme quantidade de empates (11). No rectângulo de jogo, Bruno Fernandes realizou época de sonho (18 golos e 12 assistências na Premier League é muita fruta), Luke Shaw foi quase sempre o 2.º melhor jogador da equipa atrás do médio português, destacando-se ainda Rashford, Maguire ou Wan-Bissaka. Dean Henderson ganhou a baliza a De Gea (réu na final da Liga Europa), van de Beek e Alex Telles foram tiros ao lado do que a equipa realmente precisava, Cavani acabou bem, e no geral esperava-se mais de Martial, Pogba, Greenwood e McTominay.

Destaques: Bruno Fernandes, Luke Shaw, Marcus Rashford, Harry Maguire, Aaron Wan-Bissaka

 LIVERPOOL (3)

    O Liverpool era o principal favorito ao título, procurando um bicampeonato que não acontecia desde 1983. Mas o que se viu foi uma desilusão. Momento-chave da época: quinta jornada, com o centralão Virgil van Dijk a sair lesionado aos 11 minutos após choque com Jordan Pickford. O holandês não mais regressou, e a sua lesão foi apenas uma de muitas no centro da defesa, que acabou por obrigar Jürgen Klopp a experimentar mais de uma dezena de emparelhamentos de centrais.
    O Top-4 só ficou assegurado bem perto do final, com o guarda-redes Alisson a marcar um golo determinante nos últimos jogos, e é curioso relembrar que os reds conseguiram este ano golear por 7-0 (em casa do Crystal Palace) mas também sofreram uma humilhante goleada de 7-2, na visita ao Aston Villa, ainda com van Dijk disponível mas com Adrián a (não) fazer de Alisson.
    Salah marcou muito mas brilhou pouco, Mané realizou a sua pior época em muito tempo, Alexander-Arnold, Robertson e Alisson baixaram o nível, e Thiago Alcântara ficou muito longe de corresponder às expectativas, embora possa atingir a sua redenção com nova oportunidade em 21/ 22. No meio de tudo isto, além da despedida a Wijnaldum (sai a custo zero), um dos rostos essenciais deste fantástico Liverpool dos últimos anos, deve-se elogiar o nosso Diogo Jota, que entrou na equipa como se sempre tivesse sido treinado por Klopp, e promete continuar a fazer das suas.

Destaques: Mohamed Salah, Diogo Jota, Fabinho, Trent Alexander-Arnold

 CHELSEA (4)

    Vencedores da Champions League 2021/ 22. Na época do Chelsea é simplesmente impossível não identificar um momento-chave: a troca de Frank Lampard por Thomas Tuchel no comando técnico.
    Em Setembro apontávamos o Chelsea ao 3.º lugar essencialmente pelos seus reforços de sonho (Werner, Havertz, Ziyech, Chilwell e Thiago Silva), numa altura em que Mendy ainda não tinha sido confirmado. Abramovich deu óptima matéria-prima ao médio com mais golos na História da Premier League, agora treinador, e com isso reduziu-lhe também a margem de erro. Lampard durou 18 jornadas, e quando Tuchel chegou os blues ocupavam o 10.º lugar do campeonato. Seguiu-se História. Após estabilizar a equipa a nível defensivo (nos primeiros 10 jogos de Tuchel, o Chelsea sofreu apenas 2 golos no campeonato), o técnico alemão procurou aprimorar o seu 3-4-1-2 e os resultados foram bastante evidentes com masterclasses tácticas em que o ex-PSG e Dortmund conseguiu derrotar, entre as várias competições, por exemplo Guardiola (2x), Simeone (2x), Zidane, Klopp, Mourinho e Ancelotti.. tudo isto sem sofrer qualquer golo.
    Os dados estão lançados para uma época em que o Chelsea quererá lutar pelo 1.º lugar da Premier League, e no fundo em 21/ 22 jogadores como Werner e Havertz (quase flops este ano) acabarão por parecer reforços ao serem finalmente aproveitados e "entendidos" desde o começo.
    Mason Mount foi sem margem para dúvidas o grande destaque dos blues esta época, sobressaindo N'Golo Kanté (e de que maneira!) nos jogos finais da Liga dos Campeões, importando enaltecer o papel de Mendy na segurança defensiva da equipa e de Ben Chilwell como o reforço de campo que menos dificuldades revelou a entrar na equipa. 

Destaques: Mason Mount, N'Golo Kanté, Edouard Mendy, Ben Chilwell, Kurt Zouma

 LEICESTER CITY (5)

    Dolorosa a repetição: na época passada o Leicester passou 325 dias (número explicável pela prolongada duração da época, mediante a paragem devido ao confinamento) no Top-4 e 28 dias fora dele. Desta vez, foram 242 dias instalado no Top-4. Desfecho: quinto lugar.
    Os foxes celebraram a conquista da FA Cup, e o falhanço do objectivo Champions à beira do fim não deve beliscar nada do que o clube tem feito. Brendan Rodgers tem nas mãos um projecto em que todas as decisões são muito bem pensadas e, olhando para o futebol jogado em campo, é de esperar que os campeões de 2016 continuem nos próximos anos envolvidos na luta pelos lugares cimeiros.
    Cada vez mais com postura e discurso de equipa grande, o Leicester beneficiou da grande 1.ª volta do histórico Jamie Vardy e da grande 2.ª volta de Kelechi Iheanacho (é crível que seja o máximo destaque em 2021/ 22). Além dos seus avançados, o silencioso Tielemans emergiu como um dos médios mais regulares em competição e Wesley Fofana (20 anos) mostrou que o clube que descobriu Kanté ou Mahrez continua com uma prospecção de luxo.

Destaques: Jamie Vardy, Kelechi Iheanacho, Youri Tielemans, James Maddison, Wesley Fofana

 WEST HAM (6)

    Achámos, no começo da época, que o West Ham corria o risco de descer. Não podíamos estar mais equivocados.
    Na época em que David Moyes recuperou a "aura" que perdera em 2013 ao mudar-se de Goodison Park para Old Trafford, revelando não estar à altura - como ninguém estaria - da sucessão de Sir Alex Ferguson, os hammers lutaram pela presença na Champions até ao fim, dando gosto ver a forma como o clube recruta neste momento e impressionando a classificação final como 2.ª equipa com melhor registo caseiro, apenas atrás do campeão Manchester City.
    É interessante constatar que das 11 derrotas do West Ham, 8 delas foram contra os supostos Big 6 - Chelsea (2), Manchester United (2), Liverpool (2), Arsenal (1) e Manchester City (1). Fica a ideia que, se o West Ham conseguir desrespeitar a cadeia alimentar nesses confrontos, há margem para fazer tão bom ou melhor em 2021/ 22.
    Desta edição, guardamos sobretudo o trabalho imaculado do duplo pivot Declan Rice-Tomas Soucek. Imaginamos que seja muito difícil o clube segurar o trinco britânico mais uma temporada, e Soucek (rei absoluto dos duelos no ar este ano, e uma surpresa de todo o tamanho com os seus 10 golos) deve fazer o West Ham continuar a contratar na República Checa, estratégia que correu com ele e com Coufal.
    Cresswell (umas vezes a lateral, outras vezes a central) jogou muito, Antonio, Bowen e Fornals apareceram a espaços, mas no ataque duas palavras chegam para encher os adeptos de boas memórias: "Jesse Lingard". Perdido entre o banco e a bancada no Manchester United, o criativo inglês tornou-se no Inverno um dos reforços da época e renasceu em Londres - 9 golos e 4 assistências, números muito interessantes para quem só jogou meia época. Se vai continuar no estádio olímpico não sabemos, mas seria claramente o melhor para todas as partes.

Destaques: Declan Rice, Jesse Lingard, Tomas Soucek, Michail Antonio, Aaron Cresswell

 TOTTENHAM (7)

    Temos que ser sinceros: quando a Premier League ia com 12 jornadas e tudo corria bem ao Tottenham, chegámos a pensar que esta poderia ser o regresso de Mourinho. Mas não. Os spurs até iniciaram o campeonato com uma derrota caseira, mas rapidamente colocaram toda a gente em sentido com a dupla Harry Kane e Son Heung-Min a jogar de olhos fechados e uma série de resultados incontornáveis - o 5-2 em casa do Southampton, com póker de Son com 4 assistências de Kane, a goleada de 6-1 em Old Trafford, um "seco" 2-0 na recepção ao City e um destrutivo 2-0 contra o grande rival Arsenal. Corria tudo bem, o Tottenham era líder, Mourinho parecia ter os homens do seu lado, e a narrativa parecia encarrilar, tudo na sequência da estreia de All or Nothing na Amazon.
    O momento, no entanto, não durou para sempre. A equipa revelou-se incapaz de segurar e gerir como deve ser vantagens, e de repente já eram 7 derrotas no espaço de 12 jornadas. Mou durou até à jornada 32, saindo mesmo em cima da final da Taça da Liga (decisão difícil de compreender) e até ao final Ryan Mason tentou aguentar o barco.
    Ao Tottenham faltou sobretudo capacidade mental e "estofo", algo que Harry Kane (melhor marcador, melhor assistente e Jogador do Ano desta Premier League 2020/ 21) tem, parecendo inevitável a sua transferência para um emblema de Inglaterra que consiga de facto lutar pelo título. O melhor Tottenham viu-se sempre quando se estabeleceu a conexão Kane-Son, embora tenhamos gostado de ver a entrada de Højbjerg (jogador à Mourinho) na equipa, e ficando a ideia que, com outro compromisso e paixão pelo jogo, Gareth Bale podia ter feito estragos de outra magnitude.

Destaques: Harry Kane, Son Heung-Min, Pierre Emile Højbjerg, Gareth Bale, Hugo Lloris

 ARSENAL (8)

    A repetição do oitavo lugar do ano passado é a constatação que o Arsenal está muito, muito longe do nível que fizera integrar o Top-4 entre 97 e 2016. Os gunners (semi-finalistas da Liga Europa) vivem uma crise existencial, não sendo assim tão fácil dizer se seria mais conveniente um "abanão" com treinador de créditos firmados (e quem é que se arrisca a abraçar o projecto?) e uma revolução no balneário, ou dar tempo a Arteta e deixá-lo desenvolver Saka, Smith Rowe e Gabriel Martinelli.
    Seguramente não terá ajudado a intermitência de Aubameyang na equipa, passando de 22 golos (marca das últimas duas épocas) para apenas 10 tentos, e também por aí se explica a soma de 55 golos/ época que a equipa conseguiu. Pela positiva, o estatuto de 3.ª melhor defesa, a vincar a ideia que Arteta é principalmente um treinador que consegue anular bem os adversários, explicando-se assim a sua apetência para jogos a eliminar.
    Com pouco para festejar, salvou-se nesta época o futebol alegre de Bukayo Saka, a maior utilização do talentoso Emile Smith Rowe, a boa média de golos por minuto de Lacazette e o final de temporada de Nicolas Pépé.
    Há muito para fazer, e temos muitas dúvidas que os gunners consigam no espaços dos próximos 2 anos encurtar distâncias e alcançar, pelo menos, o Top-6. Fica lançado o desafio.

Destaques: Bukayo Saka, Antoine Lacazette, Emile Smith Rowe, Rob Holding

 LEEDS UNITED (9)

    Quem joga no Leeds United, corre mais, durante mais tempo e forma mais acutilante (sprinta muito mais que todas as restantes equipas). No regresso à Premier League 17 anos depois, o Leeds replicou a fórmula que o fez arrasar no Championship, preservando o seu futebol fisicamente exigente e apaixonante para qualquer adepto neutro. Marcelo Bielsa é, como sabemos, uma autêntica personagem, e Ellan Road (em 2021/ 22, com adeptos novamente, vai ser um dos terrenos mais complicados da prova) viu a sua equipa, entregue a El Loco, passar do 2.º escalão directamente para um impressionante nono lugar. Se não fosse o sexto lugar do West Ham, equipa que até prevíamos que terminasse abaixo deste Leeds, esta seria a equipa-sensação.
    Olhando para o plantel, esta foi a época em que Patrick Bamford calou toda a gente, provando não estar condenado ao rótulo de "avançado que só funciona no Championship". Com um total de 17 golos, o mesmo número que Son, ficou apenas atrás de Bruno Fernandes, Salah e Kane na lista de melhores marcadores. No entanto, os principais destaques surgiram na hora de equilibrar o tabuleiro de jogo - Kalvin Phillips revelou-se um dos melhores 6 do campeonato e não conseguimos imaginar melhor intérprete para a posição mais difícil e importante do esquema de Bielsa; Stuart Dallas foi uma espécie de Azpilicueta do Leeds, revelando brutal competência e QI futebolístico em várias posições; e Illan Meslier exibiu qualidades raramente vistas num guarda-redes com apenas 21 anos. Podíamos destacar também Ayling, Harrison ou Klich, mas talvez nos tenha fascinado mais a suavidade com que Raphinha entrou nesta equipa, assumindo sempre o jogo e acabando por ser o principal desequilibrador numa das equipas mais marcantes desta Premier League.

Destaques: Patrick Bamford, Kalvin Phillips, Stuard Dallas, Illan Meslier, Raphinha

 EVERTON (10)

    Um pouco à imagem do Aston Villa e do Southampton, o Everton começou muito bem mas foi Sol de pouca dura. O que é que aconteceu àquela equipa que à 15.ª jornada estava em 4.º lugar a apenas 3 pontos do primeiro? Se tivéssemos que identificar apenas um responsável: James Rodríguez. O Everton deslumbrou no arranque, com o colombiano renascido e altamente influente, bem protegido por Allan e Doucouré e em incrível sintonia com Digne, Richarlison e Calvert-Lewin, mas com o tempo James desapareceu, e o Everton minguou.
    Perder Carlo Ancelotti será rudo golpe, mas o escolhido como sucessor terá matéria-prima para mais neste inacabado rebranding do Everton em que todos os anos a sensação é a mesma com os toffees: no lançamento do campeonato, muito entusiasmo e expectativa em torno de reforços promissores, no fecho a constatação que continua a faltar afinar muita coisa e a noção que muitos atletas não corresponderam ao esperado.
    No meio da montanha russa que foi a temporada do Everton, os adeptos hão-de se regozijar do facto de não terem perdido com o rival Liverpool (empate caseiro, 2-2, no jogo que tirou Van Dijk de combate, e vitória como visitante em Anfield por 2-0) e da tremenda evolução de Calvert-Lewin.

Destaques: Dominic Calvert-Lewin, Lucas Digne, Richarlison, Michael Keane

 ASTON VILLA (11)

    Num ano, o Aston Villa subiu 6 posições na tabela, mas bem vistas as coisas, o 11.º lugar parece saber a pouco. A equipa da cidade de Birmingham goleou o então campeão Liverpool por 7-2, venceu o Arsenal nas duas voltas, conseguiu 4 pontos nos jogos com o Chelsea e 4 pontos nos jogos com o Everton, e venceu também os spurs fora.
    Impressionou o arranque dos villans, que com 15 jornadas decorridas estavam perfeitamente embrulhados na luta pelo Top-4, e é possível que a impossibilidade de contar com Jack Grealish (capitão e indubitável craque maior) entre as jornadas 25 e 35 tenha afastado o Aston Villa de outros voos.
    O flop Ross Barkley terá sido um dos poucos falhanços, destacando-se Emiliano Martínez entre os postes, sendo mesmo como melhor guardião da prova, com uma muito interessante dupla (Konsa-Mings) à sua frente, e correspondendo Ollie Watkins a todas as expectativas, não acusando o dianteiro britânico mínima pressão na transição do Brentford (Championship) para a Premier League.
    É natural que o Aston Villa perca Grealish a curto-prazo, mas muita atenção ao futuro deste emblema, que deve continuar a revelar bom gosto e sapiência na hora de contratar.

Destaques: Jack Grealish, Emiliano Martínez, Ollie Watkins, Tyrone Mings, Anwar El Ghazi

 NEWCASTLE (12)

    Depois de duas temporadas consecutivas no 13.º lugar, o Newcastle conseguiu subir um degrauzinho. Positivo, com certeza, mas muito aquém das ambições dos seus adeptos e do que o clube mostrava ser capaz de conseguir num tempo não tão longínquo (início do milénio) e que foi ressuscitado mais recentemente de forma fugaz em 2012 quando os magpies tinham Papiss Cissé e Demba Ba. Bons tempos...
    Julgamos que a época do Newcastle poderia ter sido superior com Dubravka apto toda a competição, e continua a chatear a incapacidade de Saint-Maximin ou Almirón em manterem um rendimento elevado de forma consistente. Temos bastantes dúvidas que Steve Bruce seja o tipo de treinador capaz de mais do que isto, mas não temos quaisquer reticências em afirmar que é com reforços como Callum Wilson que o projecto pode crescer, justificando-se a aquisição em definitivo do emprestado Joe Willock (7 golos nos últimos 9 jogos).

Destaques: Callum Wilson, Allan Saint-Maximin, Joe Willock

 WOLVES (13)

    Sétimo em 2018/ 19 e 2019/ 20, seis lugares abaixo em 2021. O Wolves, equipa mais portuguesa da Premier League, atacou pior e defendeu pior, não surpreendendo a consequente descida na tabela. O último ano de NES (segue-se Bruno Lage?) esteve longe de ser pautado pela emoção, justificando-se o decréscimo de qualidade apresentada sobretudo pela perda de Diogo Jota (reforço do Liverpool) e pela gravíssima lesão do abono de família Raúl Jiménez, com o mexicano a perder os sentidos no Arsenal-Wolves de 29 de Novembro, não voltando mais a competir no resto da época.
    Sem Jota e Jiménez, e com Fábio Silva ainda muito verdinho, foi Pedro Neto quem marcou pontos e de que maneira. O extremo de 21 anos, ora à direita ora à esquerda, foi sempre o jogador mais e aquele que carregou a equipa para o ataque, sendo custoso vê-lo falhar o Euro-2020 por lesão.
    Acreditamos que o Wolves melhore na próxima temporada, mantendo-se bastante fluente no idioma de Camões.

Destaques: Pedro Neto, Conor Coady, Rúben Neves, Adama Traoré

 CRYSTAL PALACE (14)

    No último ano de Roy Hodgson (73 anos) no comando técnico do Crystal Palace, as águias londrinas oscilaram muito, tendo o soberbo arranque de época sido algo enganador - o extremo Wilfried Zaha foi disso excelente exemplo, levando a crer que chegaria a algo como 15-17 golos quando já contabilizava 5 golos nas primeiras 6 jornadas, mas acabando por marcar 11 no total da competição.
    Não deixa de ser curioso verificar que este 14.º lugar se trata da mesma classificação final de há um ano atrás - 44 pontos em vez dos 43 anteriores - tendo o Palace tido como principal factor constante a segurança conferida por Guaita e a feliz adaptação de Kouyaté ao eixo defensivo. Como dissemos, Zaha arrancou a todo o gás mas perdeu força, e em sentido inverso, Benteke acabou em grande. Temos bastante curiosidade para ver quem será o próximo treinador a chegar ao Selhurst Park, desejando nós que, seja ele quem for, tire o melhor de Eberechi Eze no seu 2.º ano de Premier League.

Destaques: Wilfried Zaha, Eberechi Eze, Vicente Guaia, Cheikhou Kouyaté

 SOUTHAMPTON (15)

    O Southampton foi um caso clássico de 1.ª volta fantástica e 2.ª volta para esquecer. Embalados por uma recta final impressionante em 2019/ 20, os saints entraram nesta edição com tudo e até à jornada 17 o sonho estava bem vivo. À data, a equipa do Sul de Inglaterra ocupava um fantástico 7.º lugar, a 1 ponto do Tottenham, a 3 do Leicester, a 4 do Liverpool e a 6 do Manchester City. Seguiram-se 6 derrotas seguidas e 9 jogos consecutivos sem qualquer vitória, não conseguindo Hasenhüttl nunca mais recolocar os seus homens no caminho certo.
    Com o capitão James Ward-Prowse como principal figura da época, a mostrar de forma recorrente que na Premier League não há ninguém que marque livres directos, indirectos e cantos tão bem como ele, no Southampton brilharam ainda os avançados Danny Ings e Che Adams, embora nenhum deles tenha realizado uma super-época. Faltaram números a Walcott, Djenepo, Redmond e Armstrong (o melhor entre estes) e, naquela que terá sido a época de despedida de Ryan Bertrand após 7 anos como saint, Salisu não teve o impacto que esperávamos, importando sim referir a influência que as prestações do central polaco Jan Bednarek tiveram no melhor período da equipa.

Destaques: James Ward-Prowse, Danny Ings, Che Adams, Jan Bednarek, Stuart Armstrong

 BRIGHTON (16)

    Ainda não foi desta que Graham Potter arrasou na Premier League, mas os sinais continuam lá todos e os mais atentos que seguiram os seagulls em vários jogos desta época sabem que o Brighton foi muito mais do que a tabela mostra agora, fechadas as contas. Puxando a cassete atrás, e indo ao encontro daquele cliché que o futebol a este nível se decide nos detalhes, temos muita curiosidade em imaginar como se teria desenrolado a época do Brighton se tivesse vencido nas primeiras jornadas Chelsea, Manchester United e Tottenham, jogos que perdeu, mas em que os super-favoritos foram dominados e acabaram por marcar sempre contra a corrente do jogo.
    Com uma ideia de jogo ousada e enérgica (não é qualquer equipa que consegue vencer o Leeds United de Bielsa nas duas voltas), o Brighton revelou sempre muita personalidade e teve vários jogadores a evoluírem muito. Tariq Lamptey teria sido seguramente um dos jovens em destaque desta edição se não se tivesse lesionado com gravidade em Dezembro, Yves Bissouma explodiu e é hoje um dos médios mais cobiçados na Premier League, e Ben White justificou o porquê de ter saído tanto cotado do Championship. Em suma, continua a faltar um goleador (nem Maupay nem Welbeck valem os golos que a equipa precisa para dar o salto) e é importante que o clube continue a manter a confiança no técnico com apelido de feiticeiro. Só assim o Brighton poderá crescer e virar equipa-sensação num par de anos.  

Destaques: Yves Bissouma, Lewis Dunk, Ben White, Tariq Lamptey, Leandro Trossard

 BURNLEY (17)

    É uma das leis da Premier League: o Burnley de Sean Dyche é simplesmente incapaz de ir ao fundo. Longe do fulgor de 2017/ 18 (sétimo lugar), a equipa mais inglesa do campeonato inglês, tradicional e conservadora nas suas escolhas, nas características dos seus jogadores e na proposta/ filosofia, mostrou que por mais que a coisa até comece torta, Dyche consegue sempre cumprir os mínimos.
    Com um plantel sempre muito homogéneo, identidade profundamente enraizada (são vários os jogadores há vários anos no clube) e a provar que é preciso sobreviver na Premier League sem grandes reforços, o Burnley fechou a época no 1.º lugar acima da linha de água, mas se tivermos presente que o 12.º classificado ficou a apenas 6 pontos percebemos que não foi muito mau.
    Os destaques foram, de resto, os habituais - Nick Pope defendeu muito, Chris Wood foi o homem-golo, James Tarkowski continuou a mostrar que tem qualidade para muito mais (fala-se na possível concretização do antigo namoro do Leicester City) e o esquerdino Dwight McNeil foi uma excepção, na elegância e no risco, deixando-nos a perguntar o que renderia este extremo inserido noutro contexto.

Destaques: Nick Pope, Chris Wood, James Tarkowski, Dwight McNeil, Ashley Westwood

 FULHAM (18)

    Em Setembro passado acreditávamos que o Fulham era o mais forte candidato a "lanterna vermelha" (último classificado). Os cottagers acabaram por descer, mas mostraram muito mais argumentos do que WBA e Sheffield United, mesmo que no final a distância pontual tenha sido de apenas 2 e 5 pontos respectivamente. Scott Parker pode estar orgulhoso do trabalho realizado, sendo importante recordar que ao contrário de WBA (76 golos sofridos) e Sheff Utd (63), o Fulham fez da defesa uma das suas forças, tendo terminado como apenas a 8ª pior defesa - 53 golos sofridos, números muito próximos de Wolves ou Leicester. Ou seja, além dos 2 companheiros de descida, também Southampton, Crystal Palace, Newcastle, Burnley e Leeds sofreram mais golos do que os londrinos.
    Faltou, claro, marcar golos (apenas 27 tentos) a uma equipa onde Mitrovic se eclipsou, e onde acabou por sobressair a competência do dinamarquês Joachim Andersen no coração da defesa, os rasgos de atrevimento do veloz e por vezes endiabrado Lookman, bem como a pujana de Anguissa.
    Pelo carácter combativo, foi a única das 3 equipas que nos custou um pouco ver descer, embora seja de esperar que o Fulham não demore muito a regressar ao principal escalão do futebol inglês.

Destaques: Joachim Andersen, Alphonse Aréola, Ademola Lookman, Ola Aina

 WEST BROM (19)

    Não é que não esperássemos à partida a descida do WBA (na Antevisão apontámos o West Bromwich precisamente a este 19.º lugar), mas havia matéria-prima para lutar um pouco mais contra um destino que parecia escrito. Tal como no caso do Fulham, os hawthorns nunca deixaram de ter aquilo que parecia no plano teórico um "plantel de Championship" e a fatura foi cara (pior defesa da Liga com 76 golos sofridos).
    O croata Slaven Bilic orientou a equipa durante 13 jornadas, tempo suficiente para a Direcção optar por um novo homem do leme, confiando em Sam Allardyce. Homem habituadíssimo a estas andanças, Big Sam acabaria por somar a 1.ª despromoção da sua carreira.
    Em campo, o ponto alto terá sido indiscutivelmente a vitória por 5-2 em casa do Chelsea, e individualmente Matheus Pereira (11 golos e 6 assistências) foi quem mais fez sorrir os adeptos. Grady Diangana foi uma valente desilusão e Sam Johnstone defendeu tudo o que podia, parecendo-nos suficientemente esclarecedor constatar que o WBA foi a equipa que sofreu mais golos mas Johnstone foi, ainda assim, o guarda-redes com maior nº defesas efectuadas em prova.

Destaques: Matheus Pereira, Sam Johnstone, Callum Robinson

 SHEFFIELD UNITED (20)

    Chegou ao fim o conto de fadas de Chris Wilder ao comando do Sheffield United. Esgotou-se o estado de graça, numa ligação técnico-clube que se iniciou em 2016 e, com casa de partida na League One, escalou todo o Championship e chegou a um sensacional 9.º lugar da Premier League, tudo no espaço de 4 anos.
    Esta época os blades já não eram novidade, e a verdade é que a falta de qualidade individual fez-se notar em demasia, não conseguindo a organização defensiva mascarar debilidades que sempre estiveram lá. Aaron Ramsdale não foi capaz de estar à altura dos milagres que Dean Henderson tinha levado a cabo na baliza do Sheffield em 2019/ 20, e quase choca verificar que a equipa passou de um registo sólido de 14 vitórias, 12 empates e 12 derrotas em 2020 para 7 vitórias, 2 empates e 29 (!) derrotas em 2021. A época acabou com Paul Heckingbottom em substituição de Wilder e depois de há um ano o Sheffield ter complicado e muito a vida aos favoritos nos jogos grandes, desta vez teve relevo apenas uma vitória inesperada em Old Trafford. No geral, os reforços ficaram muito longe de acrescentar algo, Sander Berge passou muito tempo lesionado, elementos como Baldock, Lundstram, Basham e Stevens baixaram muito o nível, salvando-se aqui e ali os golos do trintão irlandês David McGoldrick, com especial gosto por marcar a alguns dos principais emblemas (fez o gosto ao pé contra Manchester United, Tottenham, Chelsea e Arsenal).

Destaques: David McGoldrick, George Baldock, John Egan




por Miguel Pontares e Tiago Moreira

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