Dolorosa a repetição: na época passada o Leicester passou 325 dias (número explicável pela prolongada duração da época, mediante a paragem devido ao confinamento) no Top-4 e 28 dias fora dele. Desta vez, foram 242 dias instalado no Top-4. Desfecho: quinto lugar.
Cada vez mais com postura e discurso de equipa grande, o Leicester beneficiou da grande 1.ª volta do histórico Jamie Vardy e da grande 2.ª volta de Kelechi Iheanacho (é crível que seja o máximo destaque em 2021/ 22). Além dos seus avançados, o silencioso Tielemans emergiu como um dos médios mais regulares em competição e Wesley Fofana (20 anos) mostrou que o clube que descobriu Kanté ou Mahrez continua com uma prospecção de luxo.
WEST HAM (6)
Achámos, no começo da época, que o West Ham corria o risco de descer. Não podíamos estar mais equivocados.
Na época em que David Moyes recuperou a "aura" que perdera em 2013 ao mudar-se de Goodison Park para Old Trafford, revelando não estar à altura - como ninguém estaria - da sucessão de Sir Alex Ferguson, os hammers lutaram pela presença na Champions até ao fim, dando gosto ver a forma como o clube recruta neste momento e impressionando a classificação final como 2.ª equipa com melhor registo caseiro, apenas atrás do campeão Manchester City.
É interessante constatar que das 11 derrotas do West Ham, 8 delas foram contra os supostos Big 6 - Chelsea (2), Manchester United (2), Liverpool (2), Arsenal (1) e Manchester City (1). Fica a ideia que, se o West Ham conseguir desrespeitar a cadeia alimentar nesses confrontos, há margem para fazer tão bom ou melhor em 2021/ 22.
Desta edição, guardamos sobretudo o trabalho imaculado do duplo pivot Declan Rice-Tomas Soucek. Imaginamos que seja muito difícil o clube segurar o trinco britânico mais uma temporada, e Soucek (rei absoluto dos duelos no ar este ano, e uma surpresa de todo o tamanho com os seus 10 golos) deve fazer o West Ham continuar a contratar na República Checa, estratégia que correu com ele e com Coufal.
Cresswell (umas vezes a lateral, outras vezes a central) jogou muito, Antonio, Bowen e Fornals apareceram a espaços, mas no ataque duas palavras chegam para encher os adeptos de boas memórias: "Jesse Lingard". Perdido entre o banco e a bancada no Manchester United, o criativo inglês tornou-se no Inverno um dos reforços da época e renasceu em Londres - 9 golos e 4 assistências, números muito interessantes para quem só jogou meia época. Se vai continuar no estádio olímpico não sabemos, mas seria claramente o melhor para todas as partes.
Destaques: Declan Rice, Jesse Lingard, Tomas Soucek, Michail Antonio, Aaron Cresswell
TOTTENHAM (7)
Temos que ser sinceros: quando a Premier League ia com 12 jornadas e tudo corria bem ao Tottenham, chegámos a pensar que esta poderia ser o regresso de Mourinho. Mas não. Os spurs até iniciaram o campeonato com uma derrota caseira, mas rapidamente colocaram toda a gente em sentido com a dupla Harry Kane e Son Heung-Min a jogar de olhos fechados e uma série de resultados incontornáveis - o 5-2 em casa do Southampton, com póker de Son com 4 assistências de Kane, a goleada de 6-1 em Old Trafford, um "seco" 2-0 na recepção ao City e um destrutivo 2-0 contra o grande rival Arsenal. Corria tudo bem, o Tottenham era líder, Mourinho parecia ter os homens do seu lado, e a narrativa parecia encarrilar, tudo na sequência da estreia de All or Nothing na Amazon.
O momento, no entanto, não durou para sempre. A equipa revelou-se incapaz de segurar e gerir como deve ser vantagens, e de repente já eram 7 derrotas no espaço de 12 jornadas. Mou durou até à jornada 32, saindo mesmo em cima da final da Taça da Liga (decisão difícil de compreender) e até ao final Ryan Mason tentou aguentar o barco.
Ao Tottenham faltou sobretudo capacidade mental e "estofo", algo que Harry Kane (melhor marcador, melhor assistente e Jogador do Ano desta Premier League 2020/ 21) tem, parecendo inevitável a sua transferência para um emblema de Inglaterra que consiga de facto lutar pelo título. O melhor Tottenham viu-se sempre quando se estabeleceu a conexão Kane-Son, embora tenhamos gostado de ver a entrada de Højbjerg (jogador à Mourinho) na equipa, e ficando a ideia que, com outro compromisso e paixão pelo jogo, Gareth Bale podia ter feito estragos de outra magnitude.
Destaques: Harry Kane, Son Heung-Min, Pierre Emile Højbjerg, Gareth Bale, Hugo Lloris
ARSENAL (8)
A repetição do oitavo lugar do ano passado é a constatação que o Arsenal está muito, muito longe do nível que fizera integrar o Top-4 entre 97 e 2016. Os gunners (semi-finalistas da Liga Europa) vivem uma crise existencial, não sendo assim tão fácil dizer se seria mais conveniente um "abanão" com treinador de créditos firmados (e quem é que se arrisca a abraçar o projecto?) e uma revolução no balneário, ou dar tempo a Arteta e deixá-lo desenvolver Saka, Smith Rowe e Gabriel Martinelli.
Seguramente não terá ajudado a intermitência de Aubameyang na equipa, passando de 22 golos (marca das últimas duas épocas) para apenas 10 tentos, e também por aí se explica a soma de 55 golos/ época que a equipa conseguiu. Pela positiva, o estatuto de 3.ª melhor defesa, a vincar a ideia que Arteta é principalmente um treinador que consegue anular bem os adversários, explicando-se assim a sua apetência para jogos a eliminar.
Com pouco para festejar, salvou-se nesta época o futebol alegre de Bukayo Saka, a maior utilização do talentoso Emile Smith Rowe, a boa média de golos por minuto de Lacazette e o final de temporada de Nicolas Pépé.
Há muito para fazer, e temos muitas dúvidas que os gunners consigam no espaços dos próximos 2 anos encurtar distâncias e alcançar, pelo menos, o Top-6. Fica lançado o desafio.
Destaques: Bukayo Saka, Antoine Lacazette, Emile Smith Rowe, Rob Holding
LEEDS UNITED (9)
Quem joga no Leeds United, corre mais, durante mais tempo e forma mais acutilante (sprinta muito mais que todas as restantes equipas). No regresso à Premier League 17 anos depois, o Leeds replicou a fórmula que o fez arrasar no Championship, preservando o seu futebol fisicamente exigente e apaixonante para qualquer adepto neutro. Marcelo Bielsa é, como sabemos, uma autêntica personagem, e Ellan Road (em 2021/ 22, com adeptos novamente, vai ser um dos terrenos mais complicados da prova) viu a sua equipa, entregue a El Loco, passar do 2.º escalão directamente para um impressionante nono lugar. Se não fosse o sexto lugar do West Ham, equipa que até prevíamos que terminasse abaixo deste Leeds, esta seria a equipa-sensação.
Olhando para o plantel, esta foi a época em que Patrick Bamford calou toda a gente, provando não estar condenado ao rótulo de "avançado que só funciona no Championship". Com um total de 17 golos, o mesmo número que Son, ficou apenas atrás de Bruno Fernandes, Salah e Kane na lista de melhores marcadores. No entanto, os principais destaques surgiram na hora de equilibrar o tabuleiro de jogo - Kalvin Phillips revelou-se um dos melhores 6 do campeonato e não conseguimos imaginar melhor intérprete para a posição mais difícil e importante do esquema de Bielsa; Stuart Dallas foi uma espécie de Azpilicueta do Leeds, revelando brutal competência e QI futebolístico em várias posições; e Illan Meslier exibiu qualidades raramente vistas num guarda-redes com apenas 21 anos. Podíamos destacar também Ayling, Harrison ou Klich, mas talvez nos tenha fascinado mais a suavidade com que Raphinha entrou nesta equipa, assumindo sempre o jogo e acabando por ser o principal desequilibrador numa das equipas mais marcantes desta Premier League.
Destaques: Patrick Bamford, Kalvin Phillips, Stuard Dallas, Illan Meslier, Raphinha
EVERTON (10) Um pouco à imagem do Aston Villa e do Southampton, o Everton começou muito bem mas foi Sol de pouca dura. O que é que aconteceu àquela equipa que à 15.ª jornada estava em 4.º lugar a apenas 3 pontos do primeiro? Se tivéssemos que identificar apenas um responsável: James Rodríguez. O Everton deslumbrou no arranque, com o colombiano renascido e altamente influente, bem protegido por Allan e Doucouré e em incrível sintonia com Digne, Richarlison e Calvert-Lewin, mas com o tempo James desapareceu, e o Everton minguou.
Perder Carlo Ancelotti será rudo golpe, mas o escolhido como sucessor terá matéria-prima para mais neste inacabado rebranding do Everton em que todos os anos a sensação é a mesma com os toffees: no lançamento do campeonato, muito entusiasmo e expectativa em torno de reforços promissores, no fecho a constatação que continua a faltar afinar muita coisa e a noção que muitos atletas não corresponderam ao esperado.
No meio da montanha russa que foi a temporada do Everton, os adeptos hão-de se regozijar do facto de não terem perdido com o rival Liverpool (empate caseiro, 2-2, no jogo que tirou Van Dijk de combate, e vitória como visitante em Anfield por 2-0) e da tremenda evolução de Calvert-Lewin.
Destaques: Dominic Calvert-Lewin, Lucas Digne, Richarlison, Michael Keane
ASTON VILLA (11)
Num ano, o Aston Villa subiu 6 posições na tabela, mas bem vistas as coisas, o 11.º lugar parece saber a pouco. A equipa da cidade de Birmingham goleou o então campeão Liverpool por 7-2, venceu o Arsenal nas duas voltas, conseguiu 4 pontos nos jogos com o Chelsea e 4 pontos nos jogos com o Everton, e venceu também os spurs fora.
Impressionou o arranque dos villans, que com 15 jornadas decorridas estavam perfeitamente embrulhados na luta pelo Top-4, e é possível que a impossibilidade de contar com Jack Grealish (capitão e indubitável craque maior) entre as jornadas 25 e 35 tenha afastado o Aston Villa de outros voos.
O flop Ross Barkley terá sido um dos poucos falhanços, destacando-se Emiliano Martínez entre os postes, sendo mesmo como melhor guardião da prova, com uma muito interessante dupla (Konsa-Mings) à sua frente, e correspondendo Ollie Watkins a todas as expectativas, não acusando o dianteiro britânico mínima pressão na transição do Brentford (Championship) para a Premier League.
É natural que o Aston Villa perca Grealish a curto-prazo, mas muita atenção ao futuro deste emblema, que deve continuar a revelar bom gosto e sapiência na hora de contratar.
Destaques: Jack Grealish, Emiliano Martínez, Ollie Watkins, Tyrone Mings, Anwar El Ghazi
NEWCASTLE (12)
Depois de duas temporadas consecutivas no 13.º lugar, o Newcastle conseguiu subir um degrauzinho. Positivo, com certeza, mas muito aquém das ambições dos seus adeptos e do que o clube mostrava ser capaz de conseguir num tempo não tão longínquo (início do milénio) e que foi ressuscitado mais recentemente de forma fugaz em 2012 quando os magpies tinham Papiss Cissé e Demba Ba. Bons tempos...
Julgamos que a época do Newcastle poderia ter sido superior com Dubravka apto toda a competição, e continua a chatear a incapacidade de Saint-Maximin ou Almirón em manterem um rendimento elevado de forma consistente. Temos bastantes dúvidas que Steve Bruce seja o tipo de treinador capaz de mais do que isto, mas não temos quaisquer reticências em afirmar que é com reforços como Callum Wilson que o projecto pode crescer, justificando-se a aquisição em definitivo do emprestado Joe Willock (7 golos nos últimos 9 jogos).
Destaques: Callum Wilson, Allan Saint-Maximin, Joe Willock
WOLVES (13)
Sétimo em 2018/ 19 e 2019/ 20, seis lugares abaixo em 2021. O Wolves, equipa mais portuguesa da Premier League, atacou pior e defendeu pior, não surpreendendo a consequente descida na tabela. O último ano de NES (segue-se Bruno Lage?) esteve longe de ser pautado pela emoção, justificando-se o decréscimo de qualidade apresentada sobretudo pela perda de Diogo Jota (reforço do Liverpool) e pela gravíssima lesão do abono de família Raúl Jiménez, com o mexicano a perder os sentidos no Arsenal-Wolves de 29 de Novembro, não voltando mais a competir no resto da época.
Sem Jota e Jiménez, e com Fábio Silva ainda muito verdinho, foi Pedro Neto quem marcou pontos e de que maneira. O extremo de 21 anos, ora à direita ora à esquerda, foi sempre o jogador mais e aquele que carregou a equipa para o ataque, sendo custoso vê-lo falhar o Euro-2020 por lesão.
Acreditamos que o Wolves melhore na próxima temporada, mantendo-se bastante fluente no idioma de Camões.
Destaques: Pedro Neto, Conor Coady, Rúben Neves, Adama Traoré