6 de junho de 2018

Barba no Mundial: Os Nossos 23 (França)

Parece batota. Entre todas as selecções presentes no Mundial - e atenção, porque Espanha ou Alemanha apresentam onzes iniciais mais fortes - nada se compara à dor de cabeça de escolher os elementos para compor as opções ofensivas desta França.
    Os finalistas vencidos do Euro 2016 têm uma geração incrível, e prometem surgir entre os favoritos nos próximos anos largos nas grandes competições. Veja-se: Mbappé (19 anos) e Ousmane Dembélé (21 anos), potenciais futuros bolas de ouro, são foras de série e têm tudo para carregar um país durante anos.
    Antes de partirmos para as nossas escolhas e de elogiarmos Deschamps (nunca consegue fazer tudo bem, mas dentro do possível não escolheu mal os seus 23; difícil também "borrar a pintura" com uma base de recrutamento como esta), convém recordar a qualificação e situar os gauleses no contexto deste Mundial.
    Num grupo muito competitivo, com Holanda e Suécia, a França garantiu o 1.º lugar com 23 pontos. Sete vitórias, dois empates (Bielorrúsia fora e Luxemburgo em casa) e uma derrota (Suécia fora). O percurso, embora suficiente para inclusive contribuir para atirar a "Laranja Mecânica" (3.º lugar no Mundial 2014) para fora, não impressionou. Sintoma disso mesmo os 18 golos marcados, quando a Suécia marcou 26 e a Holanda 21.
    Passada a qualificação, a França teve mais um simpático sorteio, medindo forças na Rússia com Austrália, Perú e Dinamarca. A coisa não fica por aqui: coincidência ou não, se todos os principais favoritos cumprirem a sua obrigação e ficarem em 1.º, as meias-finais podem ter França, Brasil, Espanha/ Argentina e Alemanha...

    Com duas baixas por lesão (Payet e Koscielny), Deschamps estava sempre condenado a cometer algumas injustiças perante o fortíssimo leque de craques desta França. Ainda assim, e tendo levado para o certame a generalidade dos melhores jogadores e aqueles que mais merecia, o seleccionador não deixou de cometer um ou outro disparate. Embora nada se compare à Alemanha não levar Sané e a Bélgica não levar Nainggolan.

    Apenas com quatro diferenças comparativamente com o elenco que a França apresentará daqui a alguns dias, estes seriam os nossos 23 gauleses:


A Convocatória


  • Guarda-Redes: Hugo Lloris (Tottenham), Stéphane Ruffier (Saint-Étienne), Alphonse Aréola (PSG)
  • Defesas: Djibril Sidibé (Mónaco), Raphaël Varane (Real Madrid), Samuel Umtiti (Barcelona), Aymeric Laporte (Manchester City), Presnel Kimpembe (PSG), Benjamin Mendy (Manchester City), Lucas Hernández (Atlético Madrid)
  • Médios: N'Golo Kanté (Chelsea), Steven N'Zonzi (Sevilha), Blaise Matuidi (Juventus), Adrien Rabiot (PSG), Paul Pogba (Manchester United), Nabil Fekir (Lyon)
  • Extremos: Ousmane Dembélé (Barcelona), Thomas Lemar (Mónaco), Florian Thauvin (Marselha), Anthony Martial (Manchester United)
  • Avançados: Antoine Griezmann (Atlético Madrid), Kylian Mbappé (PSG), Olivier Giroud (Chelsea)
Lista de Contenção: Steven Mandanda (Marselha), Mathieu Debuchy (Saint-Étienne), Layvin Kurzawa (PSG), Benjamin Pavard (Estugarda), Corentin Tolisso (Bayern), Kingsley Coman (Bayern), Alexandre Lacazette (Arsenal)

    Vinte e três que impressionam, ou não? Tudo começa em Hugo Lloris, um guarda-redes de qualidade inquestionável embora teime em não se aproximar do patamar onde estão hoje Neuer, De Gea ou Neuer. Como alternativas, Stéphane Ruffier (excelente época na Ligue 1) e Alphonse Aréola. Didier optou por Mandanda ao invés do rufia.
    Na defesa, a lesão de Koscielny não tem o peso que teria outrora. Afinal, a dupla de centrais desta França seria e será Raphaël Varane - Samuel Umtiti. Um luxo, e um dueto equilibrado, que tal como a selecção espanhola vai buscar um central titular do Real Madrid e outro do Barcelona. A surpreendente época de Presnel Kimpembe torna a sua escolha fácil, e a fechar as 4 opções para o coração do sector para nós era imediata a escolha de Aymeric Laporte. Um crime o central do Manchester City não marcar presença no Mundial 2014, ele que aos 24 anos ainda não tem qualquer internacionalização (podia jogar por Espanha, mas jogou pelas camadas de jovens de França e comprometeu-se a representar esse país).
    A nível de laterais, escolheríamos apenas três, uma cartada que nos permite mais à frente não cometer uma injustiça ofensiva. Djibril Sidibé é dono e senhor do lado direito (Debuchy ressuscitou em França, e custa-nos deixar um central-lateral como Pavard de fora), enquanto que no flanco oposto há Benjamin Mendy e Lucas Hernández. Deschamps também os escolheu, tratando-se de jogadores bem diferentes. Mendy muito mais lateral-esquerdo, Lucas muito mais defesa-esquerdo, valendo o lateral do City o risco depois de quase uma época inteira lesionado.

    No meio-campo, que tanto poderá ser - como verão à frente na constituição do onze - a três ou a dois, o homem dos 3 pulmões e que nos ilude parecendo ter um gémeo em campo tal a sua omnipresença, N'Golo Kanté, é o primeiro nome a inscrever na lista. Paul Pogba é um virtuoso à beira de explodir e Blaise Matuidi um jogador impossível de não incluir, tal a sua fiabilidade e maturidade táctica.
    Entre Steven N'Zonzi, Adrien Rabiot e Corentin Tolisso, connosco ficaria de fora o médio do Bayern. Rabiot esteve fantástico no PSG, sendo mesmo um dos melhores na sua posição esta temporada na Europa, e as características de N'Zonzi beneficiam o imponente médio do Sevilha, um elemento importante a ter para matar alguns encontros.

    Depois, é a festa. Respeitando a questão de Benzema não contar, o ataque começa no melhor jogador do último europeu, Antoine Griezmann. E, perante as diferentes identidades culturais e técnico-tácticas que todas as selecções terão pela frente, recomenda-se contar com um jogador como Olivier Giroud, mais posicional e que oferece o que mais nenhum avançado francês acrescenta (excluído Benzema).
    Mas é nos apoios mais móvies que a dor de cabeça se adensa, uma vez que a fraca época de Lacazette no Arsenal facilita a sua ausência a ponta. A lesão de Payet acabou por "resolver" um trinta e um, no qual Coman tem que ficar à porta. Portanto, há Ousmane Dembélé, Thomas Lemar, Kylian Mbappé, Florian Thauvin, Anthony Martial e Nabil Fékir. Até dói. À vertigem de Dembélé e Lemar, acrescenta-se um dos franceses que realizou melhor época (Thauvin, com 26 golos e 18 assistências), dois híbridos - Mbappé, que arranca para a prova como um dos favoritos a par de Dembélé, Asensio, Sané, Gabriel Jesus e Werner ao troféu de melhor jovem; e Fekir, possível reforço do Liverpool - um capaz de actuar como avançado ou num flanco, e o outro capaz de jogar como médio ofensivo ou a extremo. A fechar as nossas escolhas, Martial, que Deschamps não escolheu (menos grave que Rabiot e Laporte) essencialmente porque a concorrência é melhor. Pessoalmente, preferíamos ter Martial no banco do que Debuchy, Tolisso ou Pavard, e foi isso que pesou. 


O Onze

    Tal como o Brasil, também esta França pode apresentar duas caras. Um esqueleto mais conservador e resguardado, e outro mais destruidor.
    Seja como for, Lloris será sempre o guarda-redes e o nosso quarteto defensivo é similar àquele que Deschamps irá escalar: Sidibé, Varane, Umtiti, Mendy. Com Lucas Hernández à espreita de um lugar no onze se a condição física de Benjamin Mendy não se provar a melhor.

    No meio-campo também é simples escolher Kanté e Pogba. A questão é: faz sentido ter Matuidi ou Rabiot (nos 23 reais, Tolisso) a acompanhá-los? Pode fazer, em alguns jogos. No entanto, se há algo que N'Golo Kanté já nos mostrou é que quanto mais for colocado sobre os seus ombros a nível de raio de acção e cobertura de espaços, mais ele corresponde; parecendo inclusive pior ou rendendo menos quando tem a sua área habitual mais invadida. Nesse sentido, escolher apenas Kanté-Pogba pode retirar o melhor do médio do Chelsea, exigindo sempre muita empatia e constante comunicação com o elegante médio do Manchester United.
    Jogar apenas com dois médios permite entregar os flancos a dois "cavalos", sendo um mais abre-latas que o outro. Connosco, os flancos seriam de Ousmane Dembélé e Thomas Lemar. Essencialmente dada a brutal técnica pura e incrível capacidade de drible do jovem do Barça, e confiando que Lemar tem maior capacidade para equilibrar o tabuleiro de jogo do que Thauvin, por exemplo.
    Na frente, embora Giroud faça sentido ocasionalmente, é impossível dizer não a Griezmann e Mbappé. A elevada dose de mobilidade pode ser prejudicial a um comportamento mais orgânico da França na sua forma de atacar, mas ao mesmo tempo, correndo bem, pode ser um pesadelo para qualquer defesa contrária. A coexistência de Mbappé e Griezmann pode - e não nos incomoda a alternativa - atirar Lemar para fora do onze, "pedindo" o tal 3.º médio (connosco Rabiot) ou até Fekir, um jogador de complexa definição posicional, e que pode oferecer muito nesta nossa versão como uma espécie de 12.º jogador.





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