7 de junho de 2018

Barba no Mundial: Os Nossos 23 (Argentina)

Num patamar abaixo de favoritos lógicos e sustentados como o trio formado por Espanha, Alemanha e Brasil, e até da França, a Argentina só pode ser vista como potencial aspirante a ganhar o Mundial 2018 por um motivo: Lionel Messi.
    País de futebol apaixonante, dos dribles imparáveis e de vendavais ofensivos, a Argentina será das selecções presentes na Rússia a mais traumatizada. Afinal, Messi e companhia perderam não só a final do último Mundial como as duas últimas Copas Américas contra o Chile.
    Daí resultaram coisas boas e coisas más: o craque do Barcelona tem correspondido e carregado a equipa  e Sampaoli (excelente trabalho no Chile, sem desiludir em Sevilha) será um dos melhores treinadores presentes na competição. Por outro lado, há uma Messidependência atroz - o peso nos ombros do 10 argentino será gigante neste certame, e não havia necessidade disso face às opções ao dispor do seleccionador -, juntando-se a isso algumas escolhas incompreensíveis por parte do técnico, que deixou por exemplo Icardi e Garay de fora dos 23.

    Convém lembrar que a Argentina se apurou tangencialmente, acabando por atirar para fora do Mundial o Chile (juntamente com a Itália, sem esquecer a Holanda, um dos grandes ausentes), mas em 18 jogos da fase de qualificação a selecção das pampas marcou apenas 19 golos, sofrendo 16. Em jeito de comparação, o Brasil de Tite - equipa que passeou autenticamente na qualificação sul-americana, marcou 41 golos, e apresentou uma diferença de golos 10 vezes superior à da Argentina. Até selecções como o Equador ou o Perú marcaram mais do que a Argentina.
      Com uma equipa profundamente desequilibrada, só mesmo o factor Messi (acreditamos que o argentino vá estar num nível estratosférico, mas que mesmo assim deverá ser insuficiente quando lhe surgir uma equipa a sério pela frente) pode manter a esperança argentina viva, desafiando as probabilidades e as casas de apostas. Mas atenção, o grupo com Croácia, Islândia e Nigéria é um dos dois mais interessantes e imprevisíveis do torneio!

    Respeitamos Jorge Sampaoli mas, aqui entre nós, a Argentina ficava bastante melhor servida com estes vinte e três:


A Convocatória

  • Guarda-Redes: Gerónimo Rulli (Real Sociedad), Franco Armari (River Plate), Nahuel Guzmán (Tigres)
  • Defesas: Gabriel Mercado (Sevilha), Eduardo Salvio (Benfica), Ezequiel Garay (Valência), Nicolás Otamendi (Manchester City), Federico Fazio (Roma), Nicolás Tagliafico (Ajax), Marcos Acuña (Sporting)
  • Médios: Javier Mascherano (Hebei China Fortune), Lucas Biglia (AC Milan), Leandro Paredes (Zenit), Éver Banega (Sevilha), Giovani Lo Celso (PSG), Manuel Lanzini (West Ham)
  • Extremos: Lionel Messi (Barcelona), Alejandro Gómez (Atalanta), Ángel Di María (PSG)
  • Avançados: Mauro Icardi (Inter), Kun Agüero (Manchester City), Paulo Dybala (Juventus), Lautaro Martínez (Racing)
Lista de Contenção: Agustín Marchesín (América MX), Mateo Musacchio (AC Milan), Marcos Rojo (Manchester United), Enzo Pérez (River Plate), Diego Perotti (Roma), Ángel Correa (Atlético Madrid), Gonzalo Higuaín (Juventus)

Actualização: Depois da publicação deste nosso artigo, ficou-se a saber que Lanzini falhará o Mundial depois de ter sofrido uma rotura do ligamento cruzado anterior do joelho direito. Perante isto, seria Ángel Correa o nosso escolhido. 

    A lesão de Sergio Romero, suplente no Manchester United, afastou aquele que seria muito provavemente o titular da Argentina na prova. Nas nossas contas, não nos baralhou tanto na medida em que já pensávamos já entregar a baliza a Gerónimo Rulli. O guarda-redes da Real Sociedad de 26 anos é o melhor guardião argentino hoje em dia, e roça o escândalo Sampaoli não o ter colocado nem sequer na pré-convocatória.
    Franco Armani (meia Argentina pede a titularidade do guarda-redes do River Plate) e Nahuel Guzmán completam as nossas escolhas, onde não nos parece fazer sentido existir espaço para Caballero, um dos três que Sampaoli leva à Rússia.

    Na defesa, e no meio de tantas indefinições - é muito mais difícil prever o onze com que a Argentina irá jogar no 1.º jogo do que o dos favoritos bem preparados como a Espanha, o Brasil ou a Alemanha - salta à vista uma ausência criminosa, Ezequiel Garay. O central do Valência, um dos destaques do Mundial 2014, seria titular de caras e poderia formar uma dupla de excelência com Nicolás Otamendi. Connosco, o antigo jogador do Benfica seria inclusive um dos primeiros nomes da lista. Às opções para o centro da defesa juntamos Federico Fazio, ele que chegou às meias-finais da Champions esta época, preferindo depois beneficiar do facto do capitão sem braçadeira desta equipa poder jogar também a central. Ligeiramente abaixo falaremos dele.
    Num sector em que as opções são incomparavelmente inferiores às que existem alguns metros à frente, para laterais o quarteto composto por Gabriel Mercado, Eduardo Salvio, Nicolás Tagliafico e Marcos Acuña (quatro jogadores que Sampaoli também escolheu) mostra bem a diferença da Argentina para outras equipas: basta pensar em jogadores como Marcelo, Kimmich ou Jordi Alba... Não é certo se Sampaoli irá jogar com uma linha de 4 (Mercado, Fazio, Otamendi e Rojo) ou se optará por colocar três centrais. Nesse cenário, Salvio e Acuña fazem mais sentido como alas.

    No miolo, em comum com Sampaoli também escolhemos Javier Mascherano (jogador exemplar e uma inspiração para os colegas, que confiamos que irá surgir uns anos mais novo e com a entrega e pulmão de sempre, agigantando-se perante o contexto; em 2014, Messi foi o melhor da equipa na fase de grupos, mas à medida que a final se foi aproximando foi dando sempre mais Mascherano), Éver Banega, Lucas Biglia, Manuel Lanzini e Giovani Lo Celso. Banega e Biglia já são clientes habituais destas andanças, Lanzini permitia ao seleccionador usá-lo um pouco como uma espécie de Coutinho em termos tácticos, e Lo Celso tem evoluído de forma interessante na Europa, podendo servir de alternativa a Di Maria (facilmente pode ser um dos extremos ou 3.º médio, ligando jogo). Leandro Paredes, do Zenit, também merece a nossa confiança; Sampaoli riscou-o embora tenha estado presente na pré-convocatória.

    Lionel Messi é o 10 deste Mundial em que o número nas costas faz mais sentido (supostamente é extremo, pega no jogo a médio, marca como um avançado, brilhando como mais ninguém na chamada zona 14 do futebol) e Ángel Di María continua a ser um dos jogadores mais importantes na Albiceleste. Depois, Alejandro "Papu" Gómez - sem exageros, é um dos 20 jogadores com mais técnica pura da actualidade - é outra das baixas graves deste certame, sendo inclusive para nós um jogador que na nossa versão desta Argentina estaria facilmente no lote de 14 jogadores mais utilizados.
    À frente, Kun Agüero e Paulo Dybala (não sejam teimosos, é compatível sim com Messi!) são inquestionáveis, e aquele para nós seria o ponta de lança nº 1 desta equipa não vai à Rússia: Mauro Icardi. Aos 25 anos, o avançado do Inter soma apenas 4 internacionalizações por supostos atritos com alguns compatriotas, mas nem Agüero nem Higuaín (sim, a nossa consciência diz-nos para deixarmos de fora o dianteiro da Juventus, porque já sabemos o que aconteceria se tiver uma oportunidade de golo feita numa eventual final) têm hoje a qualidade e frieza de Icardi. Ainda aceitávamos se Icardi não surgisse na pré-convocatória inicial, porque reforçaria à imagem de Benzema na França que não conta para o seleccionador; a sua inclusão para depois ser riscado roça o ridículo e o gozo.
    A nossa convocatória fecha com Lautaro Martínez, um craque que Sampaoli também riscou da pré-convocatória e que se diz que se irá juntar a Icardi no Inter.



O Onze

    A nossa Argentina (a de Sampaoli também, embora com soluções diferentes) permite-nos algumas formas de jogar, mas o 4-3-3 parece-nos o esqueleto que melhor potencia as principais estrelas desta constelação.
    Como já dissemos, na nossa baliza estaria Rulli. No Mundial, nem como 2.º ou 3.º guarda-redes estará.
    A nossa defesa não difere muito da que o seleccionador irá apresentar: Mercado à direita permite soltar mais o lateral do lado oposto (Tagliafico), e no coração a possibilidade de conciliar Garay e Otamendi era tremenda. Com franqueza, passar de Garay para Fazio é um downgrade. E é bastante provável que Sampaoli vá jogar com Marcos Rojo na esquerda e não o lateral do Ajax, Tagliafico.
 
     No meio-campo, tudo começa em Mascherano. Meio perdido no futebol chinês, onde joga e amealha dinheiro com Lavezzi, Gervinho e Hernanes, o combativo médio defensivo de 33 anos é uma pequena incógnita. Mas acreditamos que se transfigure neste contexto, a Argentina bem vai precisar dele. Um meio-campo mais musculado colocaria ao seu lado Banega e Biglia, mas nós preferimos uma alternativa que coloque Di María na linha de três do sector intermédio. Basta recordar o que o médio/ extremo do PSG fazia no esquema do Real Madrid de Ancelotti nessas funções... Existia naturalmente a alternativa de apostar em Lo Celso (tem a intensidade que Lanzini não tem) para este papel, deixando Di María em exclusivo numa das alas mais à frente.
    À frente, embora adoremos Agüero e uma vez que já explicámos que Higuaín (na Rússia é bem possível que seja ele o titular) connosco ficava no sofá, Icardi seria a nossa primeira opção para 9. A seu favor, o facto de ser o mais completo, jogando bem tanto em posse como em transição a explorar as costas da defesa. Um daqueles avançados que marca golos de todas as maneiras e feitios.
    Messi é, até certo ponto, um 10 puro. O último do futebol, alguns dirão. Embora neste Verão, James Rodríguez possa ser algo similar para a Colômbia se replicar o que fez em 2014. Faz todo o sentido preservar os comportamentos que o craque do Barça tem no clube: origem no flanco direito, com liberdade para assumir o esférico bem atrás, gerindo quando põe gelo e quando acelera, caindo em cima dos defesas, combinando com os colegas e expondo a sua brutal qualidade de passe ao ver o jogo mais recuado. Problema: na Argentina não há Suárez, Iniesta ou até Coutinho, jogadores com quem tem assinalável química e empatia futebolística.
    Por fim, e contra a corrente do que os teóricos dizem (é comum ouvir-se que Messi e Dybala são incompatíveis), confiaríamos a última vaga do 11 ao astro da Juventus. Não resultando, havia Papu Gómez, o craque da Atalanta que Sampaoli ignorou.





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