Realizador: Adam McKay
Argumento: Adam McKay, Charles Randolph, Michael Lewis
Elenco: Steve Carell, Christian Bale, Ryan Gosling, Brad Pitt, Jeremy Strong, Rafe Spall, John Magaro, Finn Wittrock, Hamish Linklater
Classificação IMDb: 7.8 | Metascore: 81 | RottenTomatoes: 88%
Classificação Barba Por Fazer: 82
O primeiro filme que criticamos, sob a alçada da rubrica "A Caminho dos Óscares", pós-nomeações divulgadas, concorre a 5 estatuetas douradas. Mas a isso lá chegaremos. Primeiro que tudo, interessa dizer isto: mesmo que fosse ignorado pela Academia, 'The Big Short' nunca nos passaria ao lado e seria sempre aqui avaliado à nossa maneira. Porque ganhamos todos em vê-lo, e não são duas horas perdidas.
O novo filme de Adam McKay (senhor de comédias como 'Anchorman' e 'Step Brothers') estreou ontem nas salas de cinema portuguesas e não é uma comédia. Tem vários momentos que aligeiram a coisa, mas é sobretudo pautado pelo equilíbrio e pela qualidade - é uma espécie de fusão entre a disciplina e conhecimento de 'Margin Call' com o ritmo de 'The Wolf of Wall Street'.
Tendo por base o livro de Michael Lewis, lançado em 2010, 'The Big Short' segue a queda do sistema imobiliário nos EUA - que dá sentido àquela expressão infantil rebenta a bolha -, a base da crise financeira de 2008. Desta vez, e ao contrário do que faz '99 Homes', acompanhamos os homens que souberam investigar e olhar atentamente, e previram o que viria a acontecer, apostando contra o sistema, com coragem e perseverança, aguardando pelo boom que calaria quem deles duvidou ou com eles gozou.
O investidor Michael Burry (Christian Bale) foi um dos primeiros a prever o que se passaria: apostou tudo contra o sistema, acreditando que a crise hipotecária era inevitável graças às subprime mortgages ou empréstimos de alto risco concedidos pelos bancos. A ousadia pioneira de Burry desencadeia algum falatório, chegando a aposta contra a corrente aos ouvidos de Jared Vennett (Ryan Gosling), um banqueiro que percebendo que Burry está certo, persuade fundos de investimento a seguir este risco, entre os quais um grupo gerido por Mark Baum (Steve Carell). A par de tudo isto, 'The Big Short' acompanha ainda a realidade de dois jovens - Charlie (John Magaro) e Jamie (Finn Wittrock) à busca de lucrar com o cataclismo, com a ajuda do guru financeiro Ben Rickert (Brad Pitt).
Um dos destaques principais de 'The Big Short' é a capacidade que tem de, abordando um tema recheado de termos técnicos, saber explicar ao espectador várias coisas através de uma extraordinária quebra da quarta parede: Margot Robbie num banho de espuma fala directamente connosco, tal como o chef Anthony Bourdain e a cantora/ actriz Selena Gomez; sendo que os dois últimos não aparecerem em banheiras, importa clarificar. Depois, o modo como está editado dá-lhe um enorme ritmo, agarrando o espectador cedo e a toda a velocidade. Mas, acima da visão de Adam McKay e da capacidade de transformar uma história maçuda num filme a não perder, está um elenco de luxo que torna 'The Big Short' um dos filmes obrigatórios do ano. Christian Bale, nomeado pela Academia como actor secundário, beneficia com os traços do homem que representa - o olho de vidro, o dress code improvável no trabalho, e o gosto pela bateria fazem de Burry o destaque do filme, embora o papel de Steve Carell sirva para convencer (de vez! para quem ainda ficou com dúvidas depois de 'Foxcatcher') que o homem pode realmente fazer tudo o que quiser, e bem. Gosling, Pitt, Magaro, Wittrock e outros actores como Rafe Spall e Jeremy Strong contribuem cada qual à sua maneira para um bom todo: 'The Big Short' sabe pôr o pé no travão quando as personagens põem a mão na consciência e compreendem que a sua felicidade e lucro individual será inverso a um mar de problemas sociais e económicos.
Sem tabus e inibições, o filme aborda a corrupção do sistema financeiro, e é um ABC do crash financeiro de 2008, uma aula dada por um daqueles professores que éramos capazes de ouvir durante horas. Está nomeado para Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actor Secundário (Christian Bale), Melhor Argumento Adaptado e Melhor Edição, um conjunto de nomeações que se justificam porque não é fácil pegar neste tema e transformá-lo em bom entretenimento, e fica o conselho: para absorver tudo, quase que se justifica ver 'The Big Short' mais do que uma vez.
O primeiro filme que criticamos, sob a alçada da rubrica "A Caminho dos Óscares", pós-nomeações divulgadas, concorre a 5 estatuetas douradas. Mas a isso lá chegaremos. Primeiro que tudo, interessa dizer isto: mesmo que fosse ignorado pela Academia, 'The Big Short' nunca nos passaria ao lado e seria sempre aqui avaliado à nossa maneira. Porque ganhamos todos em vê-lo, e não são duas horas perdidas.
O novo filme de Adam McKay (senhor de comédias como 'Anchorman' e 'Step Brothers') estreou ontem nas salas de cinema portuguesas e não é uma comédia. Tem vários momentos que aligeiram a coisa, mas é sobretudo pautado pelo equilíbrio e pela qualidade - é uma espécie de fusão entre a disciplina e conhecimento de 'Margin Call' com o ritmo de 'The Wolf of Wall Street'.
Tendo por base o livro de Michael Lewis, lançado em 2010, 'The Big Short' segue a queda do sistema imobiliário nos EUA - que dá sentido àquela expressão infantil rebenta a bolha -, a base da crise financeira de 2008. Desta vez, e ao contrário do que faz '99 Homes', acompanhamos os homens que souberam investigar e olhar atentamente, e previram o que viria a acontecer, apostando contra o sistema, com coragem e perseverança, aguardando pelo boom que calaria quem deles duvidou ou com eles gozou.
O investidor Michael Burry (Christian Bale) foi um dos primeiros a prever o que se passaria: apostou tudo contra o sistema, acreditando que a crise hipotecária era inevitável graças às subprime mortgages ou empréstimos de alto risco concedidos pelos bancos. A ousadia pioneira de Burry desencadeia algum falatório, chegando a aposta contra a corrente aos ouvidos de Jared Vennett (Ryan Gosling), um banqueiro que percebendo que Burry está certo, persuade fundos de investimento a seguir este risco, entre os quais um grupo gerido por Mark Baum (Steve Carell). A par de tudo isto, 'The Big Short' acompanha ainda a realidade de dois jovens - Charlie (John Magaro) e Jamie (Finn Wittrock) à busca de lucrar com o cataclismo, com a ajuda do guru financeiro Ben Rickert (Brad Pitt).
Um dos destaques principais de 'The Big Short' é a capacidade que tem de, abordando um tema recheado de termos técnicos, saber explicar ao espectador várias coisas através de uma extraordinária quebra da quarta parede: Margot Robbie num banho de espuma fala directamente connosco, tal como o chef Anthony Bourdain e a cantora/ actriz Selena Gomez; sendo que os dois últimos não aparecerem em banheiras, importa clarificar. Depois, o modo como está editado dá-lhe um enorme ritmo, agarrando o espectador cedo e a toda a velocidade. Mas, acima da visão de Adam McKay e da capacidade de transformar uma história maçuda num filme a não perder, está um elenco de luxo que torna 'The Big Short' um dos filmes obrigatórios do ano. Christian Bale, nomeado pela Academia como actor secundário, beneficia com os traços do homem que representa - o olho de vidro, o dress code improvável no trabalho, e o gosto pela bateria fazem de Burry o destaque do filme, embora o papel de Steve Carell sirva para convencer (de vez! para quem ainda ficou com dúvidas depois de 'Foxcatcher') que o homem pode realmente fazer tudo o que quiser, e bem. Gosling, Pitt, Magaro, Wittrock e outros actores como Rafe Spall e Jeremy Strong contribuem cada qual à sua maneira para um bom todo: 'The Big Short' sabe pôr o pé no travão quando as personagens põem a mão na consciência e compreendem que a sua felicidade e lucro individual será inverso a um mar de problemas sociais e económicos.
Sem tabus e inibições, o filme aborda a corrupção do sistema financeiro, e é um ABC do crash financeiro de 2008, uma aula dada por um daqueles professores que éramos capazes de ouvir durante horas. Está nomeado para Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actor Secundário (Christian Bale), Melhor Argumento Adaptado e Melhor Edição, um conjunto de nomeações que se justificam porque não é fácil pegar neste tema e transformá-lo em bom entretenimento, e fica o conselho: para absorver tudo, quase que se justifica ver 'The Big Short' mais do que uma vez.