17 de dezembro de 2015

Revisão: 'Fargo' (2.ª Temporada)

Criado por
Noah Hawley

Elenco
Patrick Wilson, Kirsten Dunst, Jesse Plemons, Ted Danson, Jean Smart, Jeffrey Donovan, Bokeem Woodbine, Angus Sampson, Zahn McClarnon, Cristin Milioti, Rachel Keller, Nick Offerman

Canal: FX

Classificação IMDb: 9.0 | Metascore: 96 | RottenTomatoes: 100%
Classificação Barba Por Fazer: 88


- Abaixo podem encontrar Spoilers - 

A História: 

    Poucas séries televisivas conseguem actualmente a regularidade de 'Fargo'. A série do FX nasceu no mesmo ano de 'True Detective', potenciando comparações desde o berço. E o que é certo é que, se no primeiro combate só o super-Rust Cohle teve capacidade para nivelar a balança e proporcionar um empate, no conjunto a distância - fundamentada pelo argumento de cada episódio e da história no seu todo, pela construção de personagens, pela qualidade na realização - é cada vez maior, favorável a 'Fargo'.
    Depois de uma primeira temporada marcada por Lorne Malvo, o protótipo perfeito de um vilão Coen, e Lester Nygaard, capaz de levar o calculismo e a premeditação a um limite assustador, o conjunto de personagens e actores mudou.
    No centro de tudo temos, desta vez, uma disputa territorial entre a família de criminosos Gerhardt e a máfia de Kansas City. Os Gerhardt's vêem-se enfraquecidos depois do patriarca e cabecilha Otto ter um AVC, o que se revela uma oportunidade para a malta de Kansas. Entretanto, o irmão mais novo dos Gerhardt's e ovelha negra da família, Rye, comete um triplo homicídio e acaba ele próprio morto por uma cabeleireira, Peggy Blumquist (Kirsten Dunst). Peggy e Ed (Jesse Plemons), cómicos e desajeitados, procuram escapar ilesos depois de se envolverem de forma involuntária num fogo cruzado entre grandes grupos de crime organizado; e o polícia Lou Soulverson (Patrick Wilson) e o seu sogro e xerife Hank Larsson (Ted Danson) deparam-se com um triplo homicídio por resolver, e um Gerhardt desaparecido, percebendo só mais tarde o enquadramento geral.

    Noah Hawley tem um produto de qualidade sustentada em mãos. 'Fargo' mistura comédia, drama, crime e thriller como ninguém mais consegue, interligando personagens e crimes com astúcia.
    Pensando só nos actores mais conhecidos, muito provavelmente Kirsten Dunst, Patrick Wilson e Ted Danson não seriam os primeiros actores que nos passariam pela cabeça para esta segunda temporada, mas todos eles valorizam a série e parecem perfeitos para o papel. A explicação é simples: um casting sem falhas, e uma construção de personagens com profundidade e pormenores, que se reflecte depois no excelente trabalho dos actores.
    A qualidade desta 2.ª Temporada de 'Fargo' - que atinge o clímax ligeiramente antes da season finale - sai reforçada pela dinâmica interna dos Gerhardt's (há entre eles traidores, e quem, entre os irmãos, queira tornar-se chefe da família a todo o custo) acompanhados pelo índio Hanzee (Zahn McClarnon), pela bizarra relação do casal Blumquist, e por Lou Soulverson, o principal ponto de ligação com a primeira temporada. Sim, esta season passa-se vários anos antes, entregando a investigação ao pai - aquele senhor pacato, vivido e sábio que tinha um restaurante - de Molly Solverson.
    O facto de introduzir um tema como os UFO's torna-se absolutamente secundário, mesmo que desempenhe um papel crucial no clímax do episódio 9, e o objectivo de Hawley mantém-se: misturar o universo mirabolante de personagens com crimes verdadeiros que aconteceram, relatando-os como ficaram escritos para a História. A Realização (6 realizadores envolvidos nos 10 episódios) mantém a bitola sempre bem alta, introduzindo uma nova assinatura em termos de edição, combinando planos paralelos da mesma personagem ou dos momentos de várias personagens.
    Dito de forma simples, Noah Hawley sabe contar uma história. E quando um actor entra em 'Fargo' acontece sempre algo especial, como se estalássemos os dedos e o actor imediatamente incorporasse um universo muito próprio. Porque 'Fargo' tem uma arte, uma estranha arte muito particular, que bebe muito do imaginário dos irmãos Coen (produtores executivos).
    
    
A Personagem: Mike Milligan (Bokeem Woodbine).
    Na primeira temporada era indiscutível a eleição de Lorne Malvo (Billy Bob Thornton). Por muito que Lester Nygaard fosse interessante à sua maneira e Molly Solverson uma lead feminina forte, Malvo era doutra dimensão.
    Nesta 2.ª temporada há um maior leque de personagens fortes: Patrick Wilson como Lou Soulverson revela-se tiro certeiro e inesperado, os contributos de Karl Weathers (Nick Offerman) e do xerife Hank (Ted Danson) são sempre bons, e mesmo os papéis de Jesse Plemons e dos "Gerhardt's" Jeffrey Donovan e Angus Sampson podiam fazer deles candidatos a Melhor Personagem. Depois, a força de Molly Soulverson, que nesta temporada aparece apenas como uma pequena criança, reside desta vez em três mulheres - as personagens de Cristin Milioti, de Jean Smart e de Kirsten Dunst. E chegando à outrora Mary Jane podemos falar no pódio de personagens desta temporada de 'Fargo': Hanzee, Peggy e Mike Milligan.
    Qualquer um dos três poderia ser a nossa escolha. Hanzee pelo seu papel no desenrolar dos acontecimentos, pela sua postura e pela sua imagem; e Peggy porque é talvez a alma desta temporada - imprevisível, cómica, desajeitada, irracional, determinada, criminosa, positiva (fully actualized), um turbilhão de coisas.
    Mas ficamo-nos por Mike Milligan. O facto de se fazer acompanhar pelos gémeos Gale e Wayne também ajuda, mas Mike é, nesta temporada, aquela personagem que consegue roubar qualquer cena em que entre. É incrivelmente ambicioso  (curioso o seu destino) e frio, muito ponderado nas palavras e curioso pelo significado delas e por questões filosóficas. Veste-se como se estivesse num western, é um negro a tentar afirmar-se na máfia de Kansas, um exemplo perfeito como desrespeitar o typecasting resulta muitas vezes em tempestades perfeitas. Ah, e é dele o melhor de todos os okay then (o slogan da temporada, claramente).


O Episódio: 09 'The Castle'.
    Feito o enquadramento, e embora o primeiro episódio seja muito bom (talvez não tão forte quanto o piloto da 1.ª temporada), esta season levanta voo na segunda metade. A finale não é nem de perto o melhor episódio, enquanto que os episódios 6 ('Rhinoceros'), 8 ('Loplop') e 9 ('The Castle') mantêm todos a fasquia muito alta. 'Rhinoceros' é bom pelo contributo do actor Nick Offerman, 'Loplop' é o episódio mais cómico, muito focado em Peggy e Ed Blumquist, mas o nono 'The Castle' é capaz de ser o melhor episódio. É, pelo menos, o clímax absoluto no "massacre de Sioux Falls", num episódio narrado por Martin Freeman (actor da primeira temporada, sendo que na finale há outros actores da primeira que fazem uma aparição).
    Para muitos espectadores (para todos, vá) 'The Castle' tem um momento WTF mas no conjunto é muito, muito bom. E já podemos dizer que 'Fargo' tem um mestrado na arte de criar cenas com muita tensão (mais do que uma no talho de Ed, por exemplo).


O Futuro: 
    Tudo o que podemos pedir é mais do mesmo. Infelizmente, já é sabido que em 2016 não haverá 'Fargo', estando já agendado e prometido o regresso em 2017, com novo elenco e um novo setting.
    Daqui a alguns dias faremos, ou no nosso Facebook ou aqui mesmo no blog, um exercício especulativo sobre que actores seria bom ver inseridos neste universo 'Fargo'. Mas já se sabe, as escolhas por parte da produção para 2017 serão improváveis/ impensáveis, mas vão resultar.
    

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