Série: Orange is the New Black
Actriz: Taryn Manningpor Lorena Wildering
“Orange Is The New Black” (OITNB) passa-se na prisão
federal de Litchfield, no estado de Connecticut. É uma série com selo de
qualidade Netflix e muito difícil de catalogar — foi a primeira a ser nomeada
tanto para Emmy de Melhor Comédia como para Emmy de Melhor Drama. Esta
bipolaridade não se verifica apenas na sua categorização. A palavra-chave de
OITNB é simples: diversidade.
OITNB conta com um dos elencos mais diversificados da televisão actual e
faz por quebrar o tema tabu do momento a um nível que muito poucas outras
séries conseguem. As personagens, 90% mulheres, acabam por dar destaque a esse
mesmo tabu: incluem transexuais, homossexuais, passam pela ricaça e pela miúda
das barracas, contam com todos os tipos de cor de pele e nacionalidades.
Mulheres latinas, asiáticas, brancas, pretas, um misto de uma e de outra; há cá
de tudo. Há mães, filhas, avós, tias, sobrinhas, cunhadas, sogras, namoradas,
esposas e amantes — tudo para quebrar as barreiras da sociedade e de Hollywood
(algo que o Netflix tem feito muito bem).
A história começa com Piper Chapman (Taylor
Schilling), mas não é uma série que destaque uma só protagonista; Piper é
apenas uma peça deste gigante puzzle. Entre uma da grande variedade de
personagens, aparece Pennsatucky (Taryn Manning). Quando a conhecemos na
primeira temporada, não passava de uma ex-viciada em metanfetamina, meia
desdentada (e a outra metade não nas melhores condições), homofóbica,
intolerante e dedicada à palavra de Jesus, seu salvador.
Ao longo das três temporadas que já estrearam, ficamos a conhecer o passado
de cada presa através de flashbacks que vão intercalando com a vida na
prisão. Cada um permite-nos conhecer melhor quem são estas mulheres e como
foram parar a Litchfield e, na maior parte das vezes, passamos a sentir pena em
vez da primeira irritação ou indiferença. Pennsatucky não é excepção. Aliás, é,
muito provavelmente, a personagem que sofreu um desenvolvimento tão drástico e
que mais tem criado um crescente impacto positivo.
Só na mais recente 3ª temporada é que passamos a conhecer o passado de
Pennsatucky. Antes de ser conhecida dessa forma, era Tiffany Doggett. Quando
aos 10 anos lhe aparece a primeira menstruação, a primeira reacção da mãe foi
adverti-la de que o sexo era como uma picada de abelha e que os homens
esperariam isso dela. Esta mãe, que a enchia de bebidas energéticas e café para
simular que sofria de déficit de atenção para receber um subsídio estatal,
formou uma mulher ingénua e sensível que não percebe o conceito de amor
(próprio) e auto-estima. Para Tiffany, o sexo era um meio para arranjar Mountain
Dew ou cerveja sem pagar.
Quando finalmente conhece um rapaz que a trata bem e com respeito, Tiffany
demora a compreender o facto de que existem maneiras de receber prazer e poder
ser amada por alguém. Os dois acabam por perder o contacto e, mais tarde,
Tiffany é presa por ter apontado uma arma a uma enfermeira enquanto ia realizar
o seu quinto aborto.
Quando o novo guarda de Litchfield lhe mostra uma atenção especial, Tiffany
sente-se lisonjeada à primeira. Este assegura-lhe de que sente realmente algo
por ela, mas acaba por tomar proveito e violá-la em plena prisão. É um episódio
que termina com Tiffany calada, de lágrimas a escorrerem-lhe pela face, e com o
nosso coração partido.
Esta temporada serviu para humanizar Pennsatucky, uma mulher influenciada
por uma mãe ignorante. Chega a parecer injusto continuar a tratá-la por esse
nome. É Tiffany, uma mulher agora mais tolerante (chega a formar uma forte
amizade com uma das presas lésbicas, que a defende com unhas e dentes) e afável
perante quem a vê. Todas estas mulheres merecem uma ovação de pé pelas
interpretações que atribuem a estas personagens, mulheres essas que até há três
anos eram desconhecidas aos olhos do público. É real, é honesto, é qualidade
Netflix ao melhor nível.
Nota Editorial: A compilação/ organização e ordem das personagens deste Top é responsabilidade de Miguel Pontares e Tiago Moreira. Os textos tiveram a colaboração de Lorena Wildering, Nuno Cunha, Cê e SWP.
Foram tidos em consideração séries com pelo menos 1 temporada, concluída a 1 de Outubro de 2015. Mais informamos que poderão existir spoilers relativos às personagens e/ ou às séries que elas integram, passíveis de constar na defesa e caracterização de cada uma das 100 personagens.