30 de dezembro de 2015

100 Melhores Personagens de Séries - Nº 79



Série: Orange is the New Black
Actriz: Taryn Manning

por Lorena Wildering


    “Orange Is The New Black” (OITNB) passa-se na prisão federal de Litchfield, no estado de Connecticut. É uma série com selo de qualidade Netflix e muito difícil de catalogar — foi a primeira a ser nomeada tanto para Emmy de Melhor Comédia como para Emmy de Melhor Drama. Esta bipolaridade não se verifica apenas na sua categorização. A palavra-chave de OITNB é simples: diversidade.
    OITNB conta com um dos elencos mais diversificados da televisão actual e faz por quebrar o tema tabu do momento a um nível que muito poucas outras séries conseguem. As personagens, 90% mulheres, acabam por dar destaque a esse mesmo tabu: incluem transexuais, homossexuais, passam pela ricaça e pela miúda das barracas, contam com todos os tipos de cor de pele e nacionalidades. Mulheres latinas, asiáticas, brancas, pretas, um misto de uma e de outra; há cá de tudo. Há mães, filhas, avós, tias, sobrinhas, cunhadas, sogras, namoradas, esposas e amantes — tudo para quebrar as barreiras da sociedade e de Hollywood (algo que o Netflix tem feito muito bem).

    A história começa com Piper Chapman (Taylor Schilling), mas não é uma série que destaque uma só protagonista; Piper é apenas uma peça deste gigante puzzle. Entre uma da grande variedade de personagens, aparece Pennsatucky (Taryn Manning). Quando a conhecemos na primeira temporada, não passava de uma ex-viciada em metanfetamina, meia desdentada (e a outra metade não nas melhores condições), homofóbica, intolerante e dedicada à palavra de Jesus, seu salvador.
    Ao longo das três temporadas que já estrearam, ficamos a conhecer o passado de cada presa através de flashbacks que vão intercalando com a vida na prisão. Cada um permite-nos conhecer melhor quem são estas mulheres e como foram parar a Litchfield e, na maior parte das vezes, passamos a sentir pena em vez da primeira irritação ou indiferença. Pennsatucky não é excepção. Aliás, é, muito provavelmente, a personagem que sofreu um desenvolvimento tão drástico e que mais tem criado um crescente impacto positivo.

    Só na mais recente 3ª temporada é que passamos a conhecer o passado de Pennsatucky. Antes de ser conhecida dessa forma, era Tiffany Doggett. Quando aos 10 anos lhe aparece a primeira menstruação, a primeira reacção da mãe foi adverti-la de que o sexo era como uma picada de abelha e que os homens esperariam isso dela. Esta mãe, que a enchia de bebidas energéticas e café para simular que sofria de déficit de atenção para receber um subsídio estatal, formou uma mulher ingénua e sensível que não percebe o conceito de amor (próprio) e auto-estima. Para Tiffany, o sexo era um meio para arranjar Mountain Dew ou cerveja sem pagar.
    Quando finalmente conhece um rapaz que a trata bem e com respeito, Tiffany demora a compreender o facto de que existem maneiras de receber prazer e poder ser amada por alguém. Os dois acabam por perder o contacto e, mais tarde, Tiffany é presa por ter apontado uma arma a uma enfermeira enquanto ia realizar o seu quinto aborto.
    Quando o novo guarda de Litchfield lhe mostra uma atenção especial, Tiffany sente-se lisonjeada à primeira. Este assegura-lhe de que sente realmente algo por ela, mas acaba por tomar proveito e violá-la em plena prisão. É um episódio que termina com Tiffany calada, de lágrimas a escorrerem-lhe pela face, e com o nosso coração partido.

    Esta temporada serviu para humanizar Pennsatucky, uma mulher influenciada por uma mãe ignorante. Chega a parecer injusto continuar a tratá-la por esse nome. É Tiffany, uma mulher agora mais tolerante (chega a formar uma forte amizade com uma das presas lésbicas, que a defende com unhas e dentes) e afável perante quem a vê. Todas estas mulheres merecem uma ovação de pé pelas interpretações que atribuem a estas personagens, mulheres essas que até há três anos eram desconhecidas aos olhos do público. É real, é honesto, é qualidade Netflix ao melhor nível.                                                                                                                                                        

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Nota Editorial: A compilação/ organização e ordem das personagens deste Top é responsabilidade de Miguel Pontares e Tiago Moreira. Os textos tiveram a colaboração de Lorena Wildering, Nuno Cunha, Cê e SWP.
Foram tidos em consideração séries com pelo menos 1 temporada, concluída a 1 de Outubro de 2015. Mais informamos que poderão existir spoilers relativos às personagens e/ ou às séries que elas integram, passíveis de constar na defesa e caracterização de cada uma das 100 personagens.

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