E assim se passaram 38 jornadas do melhor futebol do planeta. A Barclays Premier League disse adeus no último fim-de-semana, colocando um ponto final numa época em que o Chelsea foi a equipa mais consistente e com "estofo" de campeão.
Se 2012/ 13 e 2013/ 14 foram, respectivamente, os anos de Gareth Bale e Luis Suárez, tendo ambos os atletas rumado à Liga BBVA na temporada seguinte, o melhor jogador de 2014/ 15 deve continuar por terras de Sua Majestade. Na edição em que o lendário Steven Gerrard se despediu de Anfield e dos relvados ingleses, destacaram-se as equipas de Londres (Chelsea e Arsenal) e os rivais de Manchester; mas são os jogadores que nos trazem aqui hoje. Tal como há 1 ano atrás, chega a altura de indicarmos as nossas preferências: o nosso 11 do Ano, o Melhor Jogador e Melhor Jogador Jovem, o Treinador do Ano e algumas categorias acessórias. Apenas faz sentido referir que em nenhuma das categorias mais fortes se repete um vencedor do ano passado, havendo apenas um repetente no onze do ano. Vamos lá a isto.
Guarda-Redes: Ao contrário da época passada, na qual não houve um super guarda-redes, este foi o ano do espanhol. David De Gea foi incrivelmente regular, agigantou-se num sem-número de jogos, coleccionando defesas impossíveis e tornando-se o principal jogador do Manchester United. Os Red Devils devem em parte a sua classificação ao guardião que o Real Madrid quer comprar, depois deste segurar resultados e dar vários pontos ao clube de Old Trafford com exibições monstruosas. Para além de De Gea, Fraser Forster brilhou na baliza do Southampton (posição onde faltava qualidade na equipa até à sua chegada) e Courtois esteve ao seu nível, embora por vezes menos testado graças ao quarteto à sua frente. Lloris e Adrián completam o lote de 5 guardiões, num campeonato onde também Ospina (fundamental na 2.ª volta do Arsenal), Hart e Fabianski se apresentaram com qualidade.
Lateral Direito: Até metade da época Nathaniel Clyne seria provavelmente o escolhido para o lado direito da defesa, mas o sérvio que gostava de jogar a central acabou por se revelar o elemento mais consistente. Possivelmente o lateral direito mais regular no futebol europeu ao longo de 2014/ 15, Ivanovic realizou a sua melhor época em Inglaterra. Golos, assistências e a brutal disponibilidade física do costume, tanto a defender como a ajudar no ataque. Clyne cresceu muito e poderá dar o salto neste Verão, Emre Can - ora a lateral direito ora a central do lado direito num conjunto de três - esteve irrepreensível, enquanto que Janmaat e o irlandês Coleman (muito abaixo de 13/ 14, quando foi o melhor nesta posição) alternaram entre bons jogos e jogos razoáveis.
Defesa Central (Lado Dto.): O nosso português José Fonte, capitão do Southampton, foi uma das figuras da equipa-sensação da Premier League, e o melhor entre os centrais que actuaram do lado direito no eixo. Com mais de meia equipa a mudar à sua volta, José Fonte mostrou enorme consistência, soube escamotear as fraquezas do seu jogo e foi o líder de uma das 2 melhores defesas do campeonato. De resto, Skrtel e Koscielny não sabem realizar uma má temporada, Cahill atravessou um período difícil (chegou a perder o lugar para Zouma) embora de um modo geral tenha estado bem, e Scott Dann (melhor a partir da chegada de Pardew) fecha as nossas preferências.
Defesa Central (Lado Esq.): O eleito era indiscutível. Embora não sejamos fãs do central inglês, figura do Chelsea com mais de 450 jogos pelo clube, era impossível não nos rendermos perante as evidências. Terry liderou o Chelsea numa época em que por vezes se falou mais da qualidade defensiva dos blues do que ofensiva e juntou golos importantes a tudo isto. Jagielka foi um dos escassos destaques de uma desilusão chamada Everton; Alderweireld conseguiu a sua 1.ª boa temporada desde que abandonou o Ajax, enquanto que Ashley Williams (a força, liderança e garra do costume) e Vertonghen completam um quinteto onde John Terry não deu hipótese à concorrência.
Lateral Esquerdo: Se no lado direito a batalha foi Ivanovic-Clyne, do lado esquerdo da defesa houve três grandes nomes esta época - Ryan Bertrand, Azpilicueta e Cresswell. O lateral que o Chelsea emprestou ao Southampton, e que entretanto os saints já compraram em definitivo, foi um dos jogadores que mais evoluiu esta época; Azpilicueta voltou a demonstrar que é um dos melhores laterais do mundo a defender (perfeito sentido táctico, forte no 1 para 1) e Cresswell mostrou a qualidade do Championship ao passar de melhor lateral esquerdo no escalão secundário para um dos melhores na Premier. O camaleão táctico Daley Blind foi uma das armas de van Gaal para equilibrar a equipa, quer a lateral quer a médio defensivo, e optámos por dar a Alberto Moreno uma vaga que poderia também pertencer a Leighton Baines ou Danny Rose.
Médio Centro: Não era difícil prever que, no conjunto de médios com características mais defensivas, Matic seria rei e senhor do seu lugar. O 21 de José Mourinho foi até metade da época um dos melhores jogadores do campeonato e ninguém se esquecerá da derrota do Chelsea em casa do Newcastle no 1.º jogo em que a equipa se viu privada de Matic, suspenso. O antigo jogador do Benfica é nesta altura provavelmente o melhor médio defensivo do mundo, e pode-se considerar um dos "obreiros" deste título dos londrinos. Faz a sua equipa respirar com a rapidez com que pressiona em zonas-chave, tirando oxigénio e a bola aos adversários. Jordan Henderson, para além de ter sido o melhor jogador do Liverpool esta temporada, mostrou estar preparado para receber o testemunho de Steven Gerrard, Schneiderlin teve uma preponderância no Southampton semelhante à de Matic no Chelsea, salvas as devidas proporções. Francis Coquelin resolveu um sério problema do Arsenal e ajudou a equipa a crescer a partir do momento em que agarrou a titularidade na jornada 19, e o veterano Cambiasso foi um dos principais motivos pelos quais o Leicester garantiu a manutenção, nunca deixando de acreditar.
Médio Centro: O homem que mudou o Chelsea. Quando no Verão o Chelsea contratou o antigo jogador do Arsenal ao Barcelona por 33 milhões de euros achámos que este seria o reforço-chave para o Chelsea vencer o campeonato. Não nos equivocámos. Fàbregas chegou às 19 assistências e pautou o ritmo com que o Chelsea foi derrotando os adversários jornada após jornada. Entre os principais médios de características ofensivas era impossível deixar de fora Coutinho, sinónimo de grandes golos e diversos momentos de magia e técnica em estado puro. Sigurdsson foi o melhor dos cisnes, embora tenha sofrido com a saída de Bony, Ramsey só não fez mais porque voltou a acumular pequenas lesões e Ander Herrera jogou sempre bem, acabando por ser um dos melhores do ano no Manchester United. Esperávamos francamente mais de Yaya Touré, bem como de Ross Barkley. E se Siem de Jong desiludiu mas por estar sempre lesionado, chega a ser arrepiante o facto de ser justo não colocar Di María (poderia fazer sentido, tacticamente, considerá-lo aqui ou a extremo).
Extremo Direito: Se Fàbregas foi o melhor reforço na relação qualidade/ preço (33 milhões por um jogador daquela qualidade é uma "pechincha"), Alexis Sánchez terá sido o grande reforço da Premier League, ou seja, entre os recém-chegados aquele que se adaptou melhor e que apresentou maior qualidade em campo. Tal como Fàbregas, Sánchez chegou também do Barcelona e só Hazard foi melhor que ele. Brilhou, levando o Arsenal às costas em conjunto com Cazorla em muitos momentos, e somou golos e assistências, sem nunca perder fulgor e baixar os braços. Alexis começou a época no lado direito (consideramo-lo neste lugar para caber em uníssono com Hazard no onze) e acabou do lado esquerdo, chegando a jogar a avançado. David Silva (melhor época em termos de golos, mostrando o mesmo nível altíssimo em quase todos os jogos), Sterling (esperávamos mais), Mata (brilhou a partir do momento em que van Gaal estabilizou um sistema, colocando-o no flanco direito) e Willian (não teve os números de outros mas mudou o seu jogo para servir os interesses da equipa) são os 4 jogadores que fazem companhia ao chileno.
Extremo Esquerdo: Eden Hazard é o único repetente do 11 do Ano de 2013/ 14. O extremo belga, 10 do Chelsea campeão, não teve a aura de Suárez ou de Bale nas últimas épocas, mas nenhuma estrela brilhou com tanta intensidade como ele ao longo do campeonato. Se Fàbregas mudou o Chelsea e Diego Costa resolveu em definitivo um problema que havia em Stamford Bridge, Hazard manteve-se como o jogador no qual os colegas colocam a bola quando o jogo tem que ser resolvido. É actualmente um dos jogadores mais entusiasmantes no mundo do futebol, que mais arrisca e que tem sucesso ao enfrentar defesas em 1 para 1, não tem os números astronómicos de lendas de outros campeonatos (Messi, Ronaldo..) mas é um jogador aparte em Inglaterra. Santi Cazorla transformou-se esta época, acabando inclusive a jogar mais recuado embora tenha sido um dos 2 motores do Arsenal (a sua exibição na vitória do Arsenal por 2-0 em casa do Manchester City é uma das melhores deste ano); Eriksen mostrou qualidade e mais teria feito se o Tottenham tivesse outras soluções; e por fim, num conjunto de extremos férteis em talento, as pérolas africanas Sadio Mané e Yannick Bolasie tinham que constar entre as nossas escolhas. Craques.
Avançado: Pela primeira vez desde que está na Europa, Agüero é o melhor marcador de um campeonato. A equipa com melhor ataque da Premier League esteve assente sobretudo na magia e qualidade da dupla Agüero/ Silva, mas o nível que estes apresentaram foi surreal. Agüero falhou alguns jogos por lesão e demorou a calibrar depois do interregno, e viveu de períodos (acabou bem a época, e em Outubro-Novembro estava diabólico). Com a saída de Suárez, o avançado argentino passou a ser o herdeiro do uruguaio em termos de qualidade de recepção, finalização e explosão, e é simplesmente impossível não gostar do que Agüero faz em campo. Entre os avançados mais móveis, Rooney revelou-se um verdadeiro capitão (não marcou tantos golos porque chegou a jogar a 8), Danny Ings provou que tem mais do que qualidade suficiente para este escalão e Berahino deu sequência ao seu crescimento como jogador. A integração de Benteke, o mais posicional deste conjunto, visa premiar o belga mantendo vivas todas as alternativas do lote seguinte. E se há coisa que Benteke voltou a provar foi que merece outros voos.
Avançado: Quantos golos teria marcado Diego Costa se não se lesionasse? Nunca saberemos, mas é certo que Agüero teria a vida bastante mais complicada. O conflituoso avançado que Mourinho contratou ao Atlético Madrid chegou a Inglaterra e não pediu licença a ninguém. Diego Costa fartou-se de marcar, mostrou que é o avançado perfeito para a forma de jogar do Chelsea, apaixonou-se à primeira vista por Fàbregas (tantos golos que esta sociedade criou) e mais estragos fará na próxima época. Depois há Harry Kane (ninguém seria capaz de prever o seu crescimento), Charlie Austin (promete agitar o próximo defeso em Inglaterra), Pellè (arrancou e terminou bem a época) e Giroud (é bom, mas o Arsenal precisa de um jogador doutra dimensão).
Para o Barba Por Fazer, Eden Hazard foi o Jogador do Ano. Comparativamente com o leque da PFA, constam aqui Fàbregas, Agüero e David Silva nos lugares de Coutinho, Diego Costa e Kane. O extremo do Chelsea sucede a Luis Suárez depois de uma época na qual nunca se escondeu: foi castigado infinitas vezes pelos adversários sem nunca se queixar, levantou-se sempre determinado a driblar mais um defesa e fazer mais um golo decisivo. Não houve nenhum outro jogador em Inglaterra capaz de ser sempre tão perigoso, demonstrando igual consistência a um nível tão elevado. Alexis Sánchez foi o principal rival em termos individuais de Hazard, Fàbregas uma das figuras deste campeonato, Agüero o melhor marcador (tal como Diego Costa, teria sido bom vê-los sem lesões), sobre De Gea parece parco dizer que foi só o melhor guarda-redes e finalmente, num lugar que poderia ser de Diego Costa, Kane, Cazorla, Matic, Terry ou Henderson, escolhemos David Silva. É certo que o Manchester City teve apenas 2 grandes jogadores esta época, mas ambos encheram os relvados ingleses com uma magia e classe distintas.
Aqui no Barba Por Fazer consideramos candidatos ao título de "Jovem Jogador do Ano" elementos que tenham até 22 anos de idade. Assim, ao contrário da realidade, elementos como Hazard, De Gea ou Courtois não contam para nós. Tudo apontava para este ser um ano fácil para Raheem Sterling suceder aqui no BPF a Luke Shaw. Mas não. Harry Kane transcendeu-se e surpreendeu os adeptos jornada após jornada. A dada altura chegou a conseguir uma sequência de 17 golos em 15 jogos, com um jogo aéreo ao nível dos melhores, instinto matador e aquela sorte (parecia ter íman na grande área adversária) que protege os audazes. Kane arrasou a concorrência, na qual os reds Coutinho e Sterling merecem natural destaque. Os britânicos Berahino (WBA) e Danny Ings (Burnley) assumiram-se como figuras das suas equipas, e por fim elegemos Ward-Prowse (Southampton). Entre os nomeados há jogadores elegíveis para figurarem no próximo ano, mas temos curiosidade de ver por exemplo uma época inteira de Jack Grealish, verificar se Bellerín mantém a titularidade e será interessante se Mourinho emprestar algumas das suas jovens pérolas.
Treinador do Ano: Ok, José Mourinho fez o Chelsea erguer o troféu, mas foi mais impressionante o trabalho do holandês Ronald Koeman. O ex-técnico de Benfica e Feyenoord chegou a St. Mary's, encontrou uma equipa desfeita (Lallana, Lovren, Shaw, Lambert e Chambers tinham todos saído), sem identidade, e reconstruiu-a. A política de contratações foi um sucesso (as apostas em Pellè ou Tadic foram a prova do poder de Koeman na hora de decidir) e o Southampton, que durante muito tempo esteve no Top-4, terminou a época inclusive numa posição melhor do que na época passada, voltando a mostrar um futebol atractivo, com uma defesa extraordinariamente segura. O mérito de Koeman foi evidente também na forma como provou ser um dos treinadores que melhor estudou os adversários - tal como Mourinho -, adoptando pequenas mudanças estruturais ou técnicas (mexeu no seu meio-campo cirurgicamente, escolhendo as peças certas para cada jogo). De resto, José Mourinho voltou a fazer o que melhor sabe: ganhar. Alan Pardew seguiu o coração ao trocar o Newcastle pelo Crystal Palace e conseguiu um trabalho espantoso, salvando o clube tal como Pulis salvou o WBA. Wenger voltou a merecer um lugar de destaque entre os técnicos da temporada, bem como Gary Monk.
Clube-Sensação: Southampton
Desilusão: Newcastle
Most Improved Player: 1. Harry Kane, 2. Ryan Bertrand, 3. Francis Coquelin
Reforço do Ano: Césc Fàbregas (Chelsea)
Flop do Ano: Mario Balotelli (Liverpool)
Melhor Golo: Bobby Zamora (WBA 1 - 4 Queens Park Rangers) (Link)