Steven George Gerrard nasceu em Whiston, no Merseyside, a 30 de Maio de 1980. Aos nove anos de idade integrou a Academia de formação do Liverpool, já o seu clube do coração, e em 1998 (18 anos de idade) fez o seu primeiro jogo como jogador profissional do clube que entoa apaixonadamente: You'll Never Walk Alone.
Nasci em 1991 e quis o destino que o futebol me chamasse a sério em 1997/ 98, primeiro por cá atraído pelo vermelho forte e hipnotizante, clube da família, numa altura em que João Pinto, Poborský e Nuno Gomes davam cor a um clube deprimido e (ainda) sem rumo. E depois, internacionalmente. Como tantos miúdos coleccionei cromos e mais cromos, descobri jogadores uns a seguir aos outros, e no ano de 2000, em grande parte graças ao senhor Panini, já tinha os nomes de meia Europa de craques na ponta da língua ao acompanhar de perto uma Champions (ganha por um Real Madrid pré-galácticos) e o Euro-2000. Foi por volta de 1999 que o Manchester United, historicamente gigante rival do Liverpool, me escolheu como seu fiel adepto, uma paixoneta a anos-luz do amor pelo Benfica, em parte pela épica final ganha ao Bayern, em parte porque já então me fascinava uma equipa vinda da cantera, fiel às suas origens: Giggs, Beckham, Scholes, Butt e os Neville, os meninos de Sir Alex.
Steven Gerrard começou a jogar pelo Liverpool com regularidade em 2000, ano no qual fez parte da Selecção que perdeu 3-2 com Portugal na fase de grupos. Gerrard, o número 16 dessa Inglaterra, não saiu do banco nesse jogo, e só faria 29 minutos nesse Europeu. Tive a sorte de acompanhar a carreira de Gerrard desde o início, numa conjuntura que a fez coincidir com a altura em que comecei a gostar de futebol. O jogador que vestiu as camisolas 28 e 17 antes de assumir o 8 dos reds já era capitão de equipa em 2003 (23 anos), mas foi em 2004/ 05 que chegou o ponto mais alto da sua carreira. Numa altura em que já tinha ganho a Taça UEFA (marcou na final contra o Alavés), as taças inglesas e várias distinções individuais, Gerrard ajudou o Liverpool a passar a fase de grupos da Champions com um golaço ao Olympiacos e conduziu o seu clube, passando por Leverkusen, Juventus e Chelsea (tanto que jogou Luis García nessa Champions..), até à mágica final de Istambul.
Na Turquia aconteceu uma daquelas finais que não se esquece mais. O AC Milan, uma constelação com Maldini, Kaká, Shevchenko, Crespo, Pirlo, Seedorf, Rui Costa, Cafu ou Nesta, ganhava por 3-0 ao intervalo. A final parecia entregue, até que aos 54 minutos o norueguês Riise cruzou para a área, encontrando um cabeceamento certeiro do capitão. Se há imagens no Futebol que não me abandonam, uma delas é certamente Gerrard a incentivar os colegas, puxando pelos adeptos, com a braçadeira de capitão a deslizar ao longo do braço enquanto corria até ao meio-campo. O seu golo e a capacidade contagiante de um líder nascido para inspirar os colegas de equipa levou o Liverpool a empatar o jogo nos 6 minutos seguintes, ganhando depois nas grandes penalidades numa reviravolta épica. Única.
Um feiticeiro chamado Zinedine Zidane disse em 2009 que considerava Steven Gerrard o melhor jogador do mundo. Não pela sua enorme qualidade de passe, pelos seus desarmes ou por ser um médio capaz de fazer vários golos mas por juntar a tudo isto a inata e rara capacidade de dotar a sua equipa de uma confiança e fé indescritíveis. José Mourinho quis levar Gerrard para o Chelsea, quis levá-lo para o Inter e depois para o Real Madrid. Gerrard nunca aceitou abandonar o Liverpool. O ídolo de Daniele De Rossi, líder pelo exemplo, foi também o meu ídolo desde sempre. O único jogador capaz de retirar de mim a expressão "é o meu jogador preferido", mesmo tendo acompanhado as carreiras de craques como Zidane, Ronaldinho, Rui Costa, Aimar, Bergkamp, Iniesta, Scholes ou Messi. O que é que me chamou à atenção em Steven Gerrard? Não sei ao certo. Talvez o facto de eu em miúdo também ter o cabelo curto e castanho claro, talvez a forma apaixonada como logo no início da carreira pegava na bola e a equipa o seguia, sempre com as costas ligeiramente curvadas e um pontapé fulminante pronto para disparar a qualquer momento. Talvez tenha sido o destino a fazer-me escolher um jogador que viria a ser um exemplo na modalidade, uma lição para a vida.
Vivemos numa época em que a sociedade parece doente em alguns momentos, a fé na Humanidade está desacreditada. No Futebol, os jogadores são encarados como máquinas ajustadas e trabalhadas rumo à perfeição, em direcção a um moneyball numérico. Esses mesmos jogadores, influenciados pelos empresários ou pelas tendências, querem na sua maioria desesperadamente experimentar outros campeonatos, ganhar títulos em equipas com maior projecção. E, por isso, quando vemos um jogador como Steven Gerrard a dizer adeus, todos ficamos mais pobres. Órfãos, mesmo. Ao longo de 17 temporadas (mais de 25, considerando o tempo nos escalões jovens) a servir o clube de Anfield, Gerrard passou os 700 jogos pelo clube (acima de 500 na liga), totalizou 114 internacionalizações por Inglaterra, fixou-se como 5.º melhor marcador da História do clube, manteve-se fiel até não ver o seu contrato a ser renovado uma última vez. É ainda o único jogador que pode afirmar ter marcado golos nas finais da Champions, Taça UEFA (agora Liga Europa), FA Cup (mágica a sua final contra o West Ham) e Taça da Liga Inglesa; e é o jogador com mais golos "europeus" do Liverpool. Todos os verdadeiros amantes de futebol terão torcido para que Gerrard e Suárez conseguissem vencer na época passada a Liga Inglesa, competição que o capitão nunca ganhou e que foge ao emblema de Anfield Road desde 1990. A sorte não esteve do seu lado, como em muitas outras ocasiões. Mas Gerrard nunca foi jogador de museus ou de livros de recordes, foi um jogador que nos preenche a alma por inteiro e reserva um lugar especial na nossa memória e no nosso coração. Com a fidelidade de quem já se retirou (Giggs, Maldini, Scholes ou Puyol nos tempos recentes) ou de figuras em actividade como Totti, De Rossi, Iniesta, Xavi e Messi. Mas, mesmo assim, Gerrard é diferente. Porque o difícil é amar quando nem tudo são rosas, e aceitar que, independentemente de tudo, a paixão é incondicional. Como a de um adepto ou de um homem que olha para a mulher da mesma maneira ao fim de 50 anos de casamento.
"Sermos o que somos e tornarmo-nos no que somos capazes de ser é a única finalidade da vida". Este lema sábio do escocês Robert-Louis Stevenson traduz na perfeição a vida e carreira de um atleta e homem singular. Steven Gerrard foi até hoje consistência. Nas suas exibições, na sua garra e no índice de trabalho. Foi até hoje coerência. Porque para liderar é preciso ser um exemplo, ser íntegro, leal e genuíno. Foi até hoje lealdade. Nunca aceitou as investidas aliciantes de Sir Alex Ferguson ou José Mourinho. Manteve-se fiel aos seus princípios e valores, ao seu clube e procurou ser sempre mais - individual e colectivamente. Aspirou sempre a ganhar mais um jogo, a lutar por cada bola, a marcar mais um golo de livre, de meia distância ou a isolar um colega com um extraordinário passe de ruptura, sempre vestindo a única camisola que quis envergar.
Não ganhou tantos títulos como outros, é verdade. Mas ganhou um respeito sem igual. De colegas, rivais e adeptos. Stamford Bridge aplaudiu-o de pé, Anfield preparou-lhe uma despedida tocante, e neste fim-de-semana será o Stoke City a ter as honras de ver Gerrard pisar os relvados ingleses pela última vez. Quando inquirido sobre qual o jogo que mais o marcou, o 8 do Liverpool respondeu "o primeiro", e em 2006 confessou que cada vez que entra em campo, o faz pelo primo Jon-Paul, com 10 anos a mais jovem vítima da tragédia de Hillsborough, numa altura em que Steven tinha oito anos.
Steven Gerrard foi até hoje um símbolo. E uma braçadeira. Porque ele é e será o emblema de uma cidade onde o futebol se vive e joga de uma maneira especial, e porque não há ninguém a quem a palavra capitão sirva tão bem como a Steven Gerrard. O meu ídolo, o capitão do meu Futebol. Obrigado por me ensinares em campo como devo ser fora dele. E quando calçar as chuteiras será sempre com o teu 8 e as tuas 7 letras inscritas no vermelho das minhas costas. E tal como eu, tantos outros por esse mundo fora, porque há algo garantido para sempre:
You'll Never Walk Alone.
Nasci em 1991 e quis o destino que o futebol me chamasse a sério em 1997/ 98, primeiro por cá atraído pelo vermelho forte e hipnotizante, clube da família, numa altura em que João Pinto, Poborský e Nuno Gomes davam cor a um clube deprimido e (ainda) sem rumo. E depois, internacionalmente. Como tantos miúdos coleccionei cromos e mais cromos, descobri jogadores uns a seguir aos outros, e no ano de 2000, em grande parte graças ao senhor Panini, já tinha os nomes de meia Europa de craques na ponta da língua ao acompanhar de perto uma Champions (ganha por um Real Madrid pré-galácticos) e o Euro-2000. Foi por volta de 1999 que o Manchester United, historicamente gigante rival do Liverpool, me escolheu como seu fiel adepto, uma paixoneta a anos-luz do amor pelo Benfica, em parte pela épica final ganha ao Bayern, em parte porque já então me fascinava uma equipa vinda da cantera, fiel às suas origens: Giggs, Beckham, Scholes, Butt e os Neville, os meninos de Sir Alex.
Steven Gerrard começou a jogar pelo Liverpool com regularidade em 2000, ano no qual fez parte da Selecção que perdeu 3-2 com Portugal na fase de grupos. Gerrard, o número 16 dessa Inglaterra, não saiu do banco nesse jogo, e só faria 29 minutos nesse Europeu. Tive a sorte de acompanhar a carreira de Gerrard desde o início, numa conjuntura que a fez coincidir com a altura em que comecei a gostar de futebol. O jogador que vestiu as camisolas 28 e 17 antes de assumir o 8 dos reds já era capitão de equipa em 2003 (23 anos), mas foi em 2004/ 05 que chegou o ponto mais alto da sua carreira. Numa altura em que já tinha ganho a Taça UEFA (marcou na final contra o Alavés), as taças inglesas e várias distinções individuais, Gerrard ajudou o Liverpool a passar a fase de grupos da Champions com um golaço ao Olympiacos e conduziu o seu clube, passando por Leverkusen, Juventus e Chelsea (tanto que jogou Luis García nessa Champions..), até à mágica final de Istambul.
Na Turquia aconteceu uma daquelas finais que não se esquece mais. O AC Milan, uma constelação com Maldini, Kaká, Shevchenko, Crespo, Pirlo, Seedorf, Rui Costa, Cafu ou Nesta, ganhava por 3-0 ao intervalo. A final parecia entregue, até que aos 54 minutos o norueguês Riise cruzou para a área, encontrando um cabeceamento certeiro do capitão. Se há imagens no Futebol que não me abandonam, uma delas é certamente Gerrard a incentivar os colegas, puxando pelos adeptos, com a braçadeira de capitão a deslizar ao longo do braço enquanto corria até ao meio-campo. O seu golo e a capacidade contagiante de um líder nascido para inspirar os colegas de equipa levou o Liverpool a empatar o jogo nos 6 minutos seguintes, ganhando depois nas grandes penalidades numa reviravolta épica. Única.
Um feiticeiro chamado Zinedine Zidane disse em 2009 que considerava Steven Gerrard o melhor jogador do mundo. Não pela sua enorme qualidade de passe, pelos seus desarmes ou por ser um médio capaz de fazer vários golos mas por juntar a tudo isto a inata e rara capacidade de dotar a sua equipa de uma confiança e fé indescritíveis. José Mourinho quis levar Gerrard para o Chelsea, quis levá-lo para o Inter e depois para o Real Madrid. Gerrard nunca aceitou abandonar o Liverpool. O ídolo de Daniele De Rossi, líder pelo exemplo, foi também o meu ídolo desde sempre. O único jogador capaz de retirar de mim a expressão "é o meu jogador preferido", mesmo tendo acompanhado as carreiras de craques como Zidane, Ronaldinho, Rui Costa, Aimar, Bergkamp, Iniesta, Scholes ou Messi. O que é que me chamou à atenção em Steven Gerrard? Não sei ao certo. Talvez o facto de eu em miúdo também ter o cabelo curto e castanho claro, talvez a forma apaixonada como logo no início da carreira pegava na bola e a equipa o seguia, sempre com as costas ligeiramente curvadas e um pontapé fulminante pronto para disparar a qualquer momento. Talvez tenha sido o destino a fazer-me escolher um jogador que viria a ser um exemplo na modalidade, uma lição para a vida.
Vivemos numa época em que a sociedade parece doente em alguns momentos, a fé na Humanidade está desacreditada. No Futebol, os jogadores são encarados como máquinas ajustadas e trabalhadas rumo à perfeição, em direcção a um moneyball numérico. Esses mesmos jogadores, influenciados pelos empresários ou pelas tendências, querem na sua maioria desesperadamente experimentar outros campeonatos, ganhar títulos em equipas com maior projecção. E, por isso, quando vemos um jogador como Steven Gerrard a dizer adeus, todos ficamos mais pobres. Órfãos, mesmo. Ao longo de 17 temporadas (mais de 25, considerando o tempo nos escalões jovens) a servir o clube de Anfield, Gerrard passou os 700 jogos pelo clube (acima de 500 na liga), totalizou 114 internacionalizações por Inglaterra, fixou-se como 5.º melhor marcador da História do clube, manteve-se fiel até não ver o seu contrato a ser renovado uma última vez. É ainda o único jogador que pode afirmar ter marcado golos nas finais da Champions, Taça UEFA (agora Liga Europa), FA Cup (mágica a sua final contra o West Ham) e Taça da Liga Inglesa; e é o jogador com mais golos "europeus" do Liverpool. Todos os verdadeiros amantes de futebol terão torcido para que Gerrard e Suárez conseguissem vencer na época passada a Liga Inglesa, competição que o capitão nunca ganhou e que foge ao emblema de Anfield Road desde 1990. A sorte não esteve do seu lado, como em muitas outras ocasiões. Mas Gerrard nunca foi jogador de museus ou de livros de recordes, foi um jogador que nos preenche a alma por inteiro e reserva um lugar especial na nossa memória e no nosso coração. Com a fidelidade de quem já se retirou (Giggs, Maldini, Scholes ou Puyol nos tempos recentes) ou de figuras em actividade como Totti, De Rossi, Iniesta, Xavi e Messi. Mas, mesmo assim, Gerrard é diferente. Porque o difícil é amar quando nem tudo são rosas, e aceitar que, independentemente de tudo, a paixão é incondicional. Como a de um adepto ou de um homem que olha para a mulher da mesma maneira ao fim de 50 anos de casamento.
"Sermos o que somos e tornarmo-nos no que somos capazes de ser é a única finalidade da vida". Este lema sábio do escocês Robert-Louis Stevenson traduz na perfeição a vida e carreira de um atleta e homem singular. Steven Gerrard foi até hoje consistência. Nas suas exibições, na sua garra e no índice de trabalho. Foi até hoje coerência. Porque para liderar é preciso ser um exemplo, ser íntegro, leal e genuíno. Foi até hoje lealdade. Nunca aceitou as investidas aliciantes de Sir Alex Ferguson ou José Mourinho. Manteve-se fiel aos seus princípios e valores, ao seu clube e procurou ser sempre mais - individual e colectivamente. Aspirou sempre a ganhar mais um jogo, a lutar por cada bola, a marcar mais um golo de livre, de meia distância ou a isolar um colega com um extraordinário passe de ruptura, sempre vestindo a única camisola que quis envergar.
Não ganhou tantos títulos como outros, é verdade. Mas ganhou um respeito sem igual. De colegas, rivais e adeptos. Stamford Bridge aplaudiu-o de pé, Anfield preparou-lhe uma despedida tocante, e neste fim-de-semana será o Stoke City a ter as honras de ver Gerrard pisar os relvados ingleses pela última vez. Quando inquirido sobre qual o jogo que mais o marcou, o 8 do Liverpool respondeu "o primeiro", e em 2006 confessou que cada vez que entra em campo, o faz pelo primo Jon-Paul, com 10 anos a mais jovem vítima da tragédia de Hillsborough, numa altura em que Steven tinha oito anos.
Steven Gerrard foi até hoje um símbolo. E uma braçadeira. Porque ele é e será o emblema de uma cidade onde o futebol se vive e joga de uma maneira especial, e porque não há ninguém a quem a palavra capitão sirva tão bem como a Steven Gerrard. O meu ídolo, o capitão do meu Futebol. Obrigado por me ensinares em campo como devo ser fora dele. E quando calçar as chuteiras será sempre com o teu 8 e as tuas 7 letras inscritas no vermelho das minhas costas. E tal como eu, tantos outros por esse mundo fora, porque há algo garantido para sempre:
You'll Never Walk Alone.