3 de janeiro de 2014

Crítica: American Hustle

A CAMINHO DOS ÓSCARES 2014 
Realizador: David O. Russell
Argumento: David O. Russell, Eric Singer
Elenco: Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Jeremy Renner, Louis C.K.
Classificação IMDb: 7.3 | Metascore: 91 | RottenTomatoes: 93%
Classificação Barba Por Fazer: 77


    O filme começa com Irving Rosenfeld (Christian Bale), baseado no verdadeiro Melvin Weinberg, num quarto de hotel a pôr dedicadamente o seu capachinho e com uma pança à mostra. O actor mestre do disfarce em 'The Prestige' volta neste 'American Hustle' num registo em algumas coisas semelhante - dedicado à causa, racional, ponderado e inteligente. 'American Hustle', de David O. Russell (realizador de 'The Fighter' e 'Silver Linings Playbook') pegou num Ocean's Eleven ou Twelve, fundiu-o com The Departed e obteve 'American Hustle'. O filme tem também qualquer coisa de 'Argo'. Para elevar o estatuto do filme, pegou em 2 actores de 'The Fighter' - Christian Bale e Amy Adams - e na sua dupla sensação em 'Silver Linings Playbook' - Jennifer Lawrence e Bradley Cooper. O resultado? Um filme interessante.
    American Hustle começa em 1978 quando Irving Rosenfeld (Christian Bale) e Sydney Prosser (Amy Adams) se conhecem e apaixonam - bom momento giratório na lavandaria, bem repetido de forma solitária por Christian Bale posteriormente. Os dois tornam-se também parceiros nos esquemas que Irving cria para "sacar" dinheiro a diversas pessoas, passando Sydney por uma identidade falsa "Lady Edith Greensley". Sempre arriscando pouco, até ao dia em que são apanhados por Richie DiMaso (Bradley Cooper), do FBI. DiMaso desenvolve um fraquinho pela personagem de Amy Adams - que ao pé dele mantém o seu sotaque britânico, mantendo-o na mentira - e obriga o par a ajudá-lo com as suas capacidades a apanhar elementos corruptos, numa operação muito maior.
    O esquema maior envolve como epicentro Carmine Polito (Jeremy Renner), que se vê influenciado por Irving - sucessivamente arrependido por explorar a boa vontade de Polito, que só quer o melhor para a cidade - a canalizar dinheiro de um falso investidor árabe conjuntamente com os "tubarões" da cidade que o FBI quer que venham ao de cima. A acção desenrola-se com DiMaso a tornar-se maníaco e a não olhar a meios para atingir os seus fins e Irving planeia no fim o seu derradeiro e brilhante plano. No meio disto tudo há Rosalyn (Jennifer Lawrence), com quem Irving está casado e que se torna o único elemento que pode deitar por terra todo o castelo de cartas com a sua personalidade desconcertante e a sua "boca grande". É excelente a forma como Bale e Cooper, representando diferentes lados da lei, são inversamente diferentes na sua conduta e moral.
    American Hustle tem, desde logo, a ajuda de um elenco incrível. Bradley Cooper aproxima-se do nível de 'Silver Linings Playbook' com ataques descontrolados; Amy Adams faz um papel interessante; a personagem de Christian Bale mantém a cabeça a funcionar durante todo o filme para levar a melhor sobre todos e Jennifer Lawrence tem grandes momentos, numa irresponsabilidade e jeito naive curiosos. O filme é bastante explosivo do ponto de vista interpretativo, com Cooper e Lawrence a repetirem o carrossel de emoções que já tínhamos visto no ano passado.
    A nível de óscares, American Hustle - que foi imensamente nomeado para os Golden Globes - é capaz de amealhar umas 6 nomeações. Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actriz Secundária (Jennifer Lawrence) e Melhor Argumento Original são categorias em que é praticamente garantido, sendo que Christian Bale, Amy Adams e Bradley Cooper podem ainda intrometer-se nas suas categorias, sendo ainda assim Cooper (também envolvido neste filme como produtor) o que pode ter mais esperanças. Jennifer Lawrence - um ano depois de ter sido melhor actriz num filme de David O. Russell - deverá disputar o óscar secundário com Lupita Nyong'o, actriz de 12 Years a Slave. Intrometida, descontrolada, incontrolável, cómica e desbocada - mais um bom papel da famosa Katniss Everdeen.

    É um filme interessante, que em anos mais fortes do cinema não chegaria aos óscares, e catalisado pelo excelente elenco que reuniu. É que para além dos principais nomes já falados há ainda Louis C.K., Michael Peña, Shea Whigham e Robert DeNiro (que não surge nos créditos). Sou suspeito, respeito tudo aquilo que envolve Christian Bale e cada vez mais também Jennifer Lawrence e Bradley Cooper. Não agradará a todos, e só a poucos encherá as medidas, mas é um filme decente num ano pouco rico.

2 comentários:

  1. É um filme que dificilmente entrará logo no "top" da maioria das pessoas, precisamente por demorar a encher as medidas, já que conta parte da história de forma indirecta e subliminar. Mas o David O. Russell aproveitou um bom elenco e conseguiu pegar numa história verídica e transformá-la num filme de Hollywood, sendo que para isso teve de criar algumas coisas de raiz.

    Bem conseguida a cena do Christian Bale a arranjar o capachinho logo no inicio, simbolizando a importância da aparência para o modo de vida da sua personagem. A história da pesca é um dos grandes pormenores do filme também, mais uma vez carregada de simbolismo.

    Em termos cómicos, mérito para o Bradley Cooper, tanto na imitação do seu chefe directo, como na cena em que tenta adivinhar (mais uma vez) qual a moral presente na história da pesca.


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  2. Concordo Nuno. Actualmente confesso que me chateia (embora ao mesmo tempo crie muitas expectativas) quando se vê que um elenco que só pelos nomes conseguirá à priori elevar um filme. Olha-se para o próximo projecto de Terrence Malick - vamos ver se não complica só porque sim - que tem Christian Bale, Ryan Gosling, Natalie Portman, Michael Fassbender, Cate Blanchett, Rooney Mara e Benicio Del Toro ou para o ainda em casting 'Triple Nine' que poderá juntar Christoph Waltz, Casey Affleck, Chiwetel Ejiofor, Blanchett e Michael B. Jordan e pensa-se "oh, está-se mesmo a ver que vai ser um filme do caraças".

    O elenco ajuda muito 'American Hustle'. Mas acho que ao mesmo tempo funciona como inimigo por criar expectativas demasiado elevadas. A cena inicial do Bale é um símbolo do filme e da personagem, totalmente.
    Depois aproximaria a Jennifer Lawrence da personagem do Bradley Cooper (grande cena em que ele imita o chefe), por até terem alguns pontos em comum. De resto, interpretações não muito longe de 'Silver Linings Playbook'.

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