28 de maio de 2016

Barba no Euro: Os Nossos 23 (Inglaterra)

    Depois de Portugal, 'Os Nossos 23' viram-se para terras de Sua Majestade. A Inglaterra, selecção que guarda más memórias de Portugal entre 2004 e 2006, está há muito afastada dos grandes palcos e dos grandes momentos a nível internacional. É preciso recuar ao Euro 96 (quando os ingleses foram anfitriões) para encontrar uma geração inglesa que tenha alcançado umas meias-finais; o histórico recente não é famoso (em 2008 nem se qualificaram para o Euro, no Mundial 2010 ficaram-se pelos oitavos, em 2012 caíram nos quartos, e finalmente no Mundial 2014 ficaram em último no grupo da morte, atrás de Itália, Uruguai e da surpreendente Costa Rica). Roy Hodgson, seleccionador de 68 anos, orienta a equipa desde Maio de 2012, mas nunca encheu as medidas - o britânico já promoveu inúmeras estreias, chamando nomalmente quem merece, mas em termos qualitativos ilustra o momento do futebol inglês em termos de treinadores (Alan Pardew e Eddie Howe são provavelmente os melhores, um deles um treinador de nível médio, e o segundo ainda muito jovem).
    Certo é que a Inglaterra chega à fase final com 10 vitórias em 10 jogos (31 golos marcados e apenas 3 sofridos) num grupo que continha a Suiça e a Eslovénia como principais adversários. Em França, Rooney e companhia partem como favoritos num grupo bastante homogéneo - País de Gales, Rússia e Eslováquia - e dos mais difíceis de prever. Sem contar com os lesionados Welbeck, Butland (o primeiro teria lugar pela importância na qualificação, e o 2.º pelo nível apresentado seria uma séria ameaça para Hart) e ainda Oxlade-Chamberlain, Hodgson convocou 26 jogadores, já perdeu Delph, tendo ainda que retirar 2 (o mais lógico será a dupla sair do trio Townsend, Wilshere e Rashford, sem afastar a hipótese Sturridge, que tem deixado os ingleses em alerta com a sua condição física).
    Nos nossos 23 há poucas diferenças relativamente à realidade - o que reforça a justiça da maioria dos eleitos -, e é no onze inicial que cometemos a nossa maior ousadia, uma que não acreditamos que Hodgson seja capaz. Embora Inglaterra tenha normalmente pouco "estofo" nas fases finais, desta vez a possibilidade de aproveitar dinâmicas desenvolvidas ao longo de toda a época, apostando em alguns elementos do Tottenham e do Liverpool (curiosamente duas equipas muito intensas, ou não fossem orientadas por Pochettino e Klopp), pode ser um factor benéfico.


A Convocatória



  • Guarda-Redes: Joe Hart (Manchester City), Ben Foster (West Brom), Fraser Forster (Southampton)
  • Defesas: Kyle Walker (Tottenham), Nathaniel Clyne (Liverpool), Chris Smalling (Manchester United), Gary Cahill (Chelsea), John Stones (Everton), Danny Rose (Tottenham), Aaron Cresswell (West Ham)
  • Médios: Eric Dier (Tottenham), Jordan Henderson (Liverpool), Danny Drinkwater (Leicester City), James Milner (Liverpool), Ross Barkley (Everton), Dele Alli (Tottenham)
  • Extremos: Adam Lallana (Liverpool), Raheem Sterling (Manchester City), Michail Antonio (West Ham)
  • Avançados: Wayne Rooney (Manchester United), Jamie Vardy (Leicester City), Harry Kane (Tottenham), Daniel Sturridge (Liverpool)
Lista de Contenção: Tom Heaton (Burnley), Ryan Bertrand (Southampton), Phil Jagielka (Everton), Mark Noble (West Ham), Jesse Lingard (Manchester United), Theo Walcott (Arsenal), Troy Deeney (Watford)


    Entre os postes, praticamente tudo igual. Impossibilitados de levar Jack Butland, que caso não se tivesse lesionado seria o nosso titular, apostamos em Joe Hart, Fraser Forster, demarcando-nos de Hodgson na chamada de Ben Foster, do West Brom, em vez de Heaton, o melhor guardião do Championship esta temporada. Embora Butland tenha sido o melhor GR inglês este ano, importa recordar os grandes jogos que Hart fez na Champions, e o impacto que o regresso de Forster teve na confiança e nos resultados do Southampton.
    Para o sector defensivo, imitámos o modus operandi do seleccionador e escolhemos apenas 7 jogadores, algo que se torna possível graças à polivalência do ex-leão Eric Dier. Para a direita as chamadas de Kyle Walker e Nathaniel Clyne são inquestionáveis, enquanto que do lado oposto a concorrência é muito mais apertada - Danny Rose e Aaron Cresswell estiveram acima de quaisquer outros em 2015/ 16, batendo Ryan Bertrand e jogadores com poucos jogos como Leighton Baines e Luke Shaw. No coração da defesa, o melhor central inglês esta temporada, Chris Smalling, acompanhado por Gary Cahill, cuja época esteve longe de ser brilhante, embora enquadrado neste elenco pode voltar ao seu melhor nível, sendo ainda um elemento importante nas bolas paradas ofensivas. Entre Jagielka e o colega toffee John Stones, damos prioridade ao central de 21 anos, pela qualidade que oferece na construção e porque o futuro passa por ele.
    Apostando num 4-4-2 losango (o melhor esquema para conciliar os principais talentos ingleses), é crucial ter várias soluções para o corredor central do meio-campo, elementos tacticamente maduros e que saibam sempre o que fazer à bola. Para o vértice mais recuado, Eric Dier e Jordan Henderson oferecem ao jogo abordagens bastante distintas - o médio defensivo do Tottenham é sobretudo um "tampão", cortando linhas de passe e fazendo a equipa respirar, enquanto que Henderson (viveu uma época instável em termos físicos) acrescenta maior qualidade como lançador, organizando a equipa a partir de trás. A fantástica época do campeão Danny Drinkwater torna-o uma presença obrigatória, ele que embora não deva ter muitos minutos, ganha importância em momentos de contenção, funcionando como segundo médio num duplo pivot. O faz-tudo James Milner seria sempre um dos primeiros jogadores a incluir na convocatória, por poder actuar em praticamente todas as posições do miolo, e neste meio-campo as despesas mais ofensivas, com capacidade de aceleração e uma meia distância de qualidade, estão entregues a Dele Alli e Ross Barkley. Alli (20 anos) é um daqueles jovens que tem tudo para marcar a próxima década, e parte na pole position para ser titular, relegando Barkley para o banco uma vez que ambos têm bastante em comum.
    O losango permitiria aos ingleses fugir ao seu tradicional 4-4-2 clássico com extremos muito verticais e pouco jogo interior, pelo que só levamos 3 jogadores para o corredor, e os três bastante diferentes. Adam Lallana, dos 3 o único que lançaríamos a titular, é o mais maduro, aquele que melhor sabe guardar a bola e que melhor sabe decidir (quer em transição, quer em ataque organizado). Raheem Sterling é do nosso lote de 23 o jogador que menos merecia aqui constar atendendo à fraca época - esperávamos muitíssimo mais dele no seu ano de estreia no Manchester City -, mas um jogador com a sua qualidade técnica, velocidade e vertigem a desequilibrar teria sempre que ser incluído. Por fim, e embora Hodgson o tenha ignorado (fica a ideia que Hodgson não viu os jogos do West Ham, porque Cresswell e Antonio mereciam estar nos 23, e numa lista de 26 Mark Noble também cabia), Michail Antonio é o nosso wildcard, pela confiança, pelos números (8 golos e 7 assistências), pela pujança e por ser um daqueles jogadores que qualquer treinador gosta (cresceu imenso com Bilic e, destes 3 extremos, seria aquele que levaria mais a sério as suas tarefas defensivas, ele que chegou a jogar várias vezes a lateral).
    Por fim, não havia outra hipótese senão levar este quarteto de luxo: Wayne Rooney, Jamie Vardy, Harry Kane e Daniel Sturridge. Roy Hodgson tem uma boa dor de cabeça, com o capitão e melhor marcador de sempre (52 golos) de Inglaterra, Rooney, a poder ser utilizado inclusive no meio-campo, e Sturridge (cuja condição física ainda não nos convenceu, embora o seu virtuosismo técnico e eficácia o façam brilhar mesmo sem os rasgos de outrora) a poder servir de agitador do jogo, ele que não costuma perdoar quando tem uma oportunidade. Seja como for, a dupla Vardy-Kane connosco seria sempre a titular, quer pelos golos que representam - Vardy marcou 24, Kane 25 -, quer pela confiança que têm apresentado, juntando a tudo isto o facto de terem tudo para "casar" na perfeição.

O Onze

        É provável que Hodgson aposte, pelo menos na estreia diante da Rússia (e dependendo também das experiências que forem feitas nos amigáveis), num 11 bastante semelhante ao nosso. No entanto, se nós deixamos o capitão Wayne Rooney no banco, é quase impossível que o seleccionador inglês faça o mesmo.
    Para a baliza é Hart. Com Butland disponível, a nossa escolha seria o guarda-redes do Stoke, mas atendendo às opções existentes, caberá a Joe Hart dar sequência às grandes exibições que fez na Champions League, em jogos de altíssimo nível e responsabilidade. Na defesa, a dupla Smalling-Cahill parece-nos ser a mais sólida para o centro, e nos laterais o mais inteligente é apostar nos dois spurs, Kyle Walker e Danny Rose. Sobretudo na 2.ª metade da época foram duas autênticas locomotivas, e já estão habituados a servir Kane no ataque.
    Seguindo para o ataque, nas 6 posições restantes, temos um trio de elementos do Liverpool, uma dupla do Tottenham que se entende de olhos fechados, e claro, Jamie Vardy, cuja electricidade, capacidade de pressionar, velocidade e dom de explorar as costas das defesas adversárias, fazem dele um jogador de fácil convívio em campo, funcionando como verdadeiro exemplo e ponto de contágio e concentração por nunca se desligar do jogo. Pelo menos contra Rússia, País de Gales e Eslováquia (diante de selecções como Alemanha, França ou Espanha seria difícil a Inglaterra surgir sem Dier), a melhor fórmula seria Henderson (se no estágio e nos amigáveis não parecer a 100%, Dier deve avançar) mais recuado, com Lallana e Milner mais abertos - Lallana com maior liberdade e influência no último terço, e Milner como elemento de equilíbrio constante. Estes 3 pupilos de Klopp serveriam de cortina para soltar a juventude de Dele Alli, ele que tão bem se entende com o colega de equipa Harry Kane. Embora haja várias alternativas, é muito difícil pensar num modelo de jogo funcional e relativamente equilibrado, capaz de ter em campo Alli, Vardy e Kane, um trio que deixaria a Inglaterra sempre mais perto do golo e de criar jogadas de perigo constantemente.
    Este é o nosso 11, embora reconheçamos que a experiência de Rooney será determinante para o grupo, podendo inclusive ocupar uma das posições do losango, enquanto que para agitar e mexer com o jogo teríamos sempre Sturridge, Barkley, Sterling ou Antonio.


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