
Liga NOS - E pelo quarto ano consecutivo, o Benfica sagrou-se campeão português. O 36 dos encarnados, um tetracampeonato nunca antes conquistado pelo clube da Luz, premiou a equipa mais consistente - a partir da 5.ª jornada até à última só deu Benfica na liderança - num ano em que o nível global dos 3 grandes esteve longe de impressionar. Idealmente, gostaríamos que fossem os clubes fora do habitual Top-3 a irem ao encontro da qualidade dos crónicos candidatos ao título, mas o que se verificou foi precisamente o contrário: esteve longe de ser apaixonante o futebol praticado por Benfica, Porto e Sporting.Falar de 2016/ 17 é falar de um Benfica que, com um super-plantel, soube manter-se focado no seu objectivo, ultrapassando as várias lesões que atormentaram o balneário. Rui Vitória, sempre determinado em encontrar soluções sem construir um muro de lamentações, comandou uma equipa que totalizou 82 pontos (menos 6 do que na época passada). O Porto de Nuno Espírito Santo, entretanto despedido, caracterizou-se pela incapacidade de aproveitar os deslizes do líder, e o Sporting caiu drasticamente (os leões somaram menos 16 pontos do que em 2015/ 16, e sofreram mais 15 golos, sendo por isso incapazes de manter o seu estatuto de melhor defesa, e terminando com o dobro dos golos sofridos do grande rival e primeiro classificado).
No Minho, um Vit. Guimarães recordista retirou ao Braga o quarto lugar, e entre as sensações da época a maior foi sem dúvida o Feirense, um patinho feio que virou cisne acabando num absolutamente extraordinário 8.º lugar.
Impossível também não referir a quantidade de vezes que as equipas portuguesas trocaram de treinador ao longo da época. Apenas Benfica, Porto, Sporting, Vit. Guimarães e Vit. Setúbal se mantiveram estáveis, com as restantes 14 equipas a terem pelo menos 2 treinadores (Braga, Belenenses, Arouca, Moreirense e Nacional chegaram mesmo aos 3 treinadores numa só temporada).
Como sempre, a falta de cultura desportiva em Portugal originou muita conversa, sobre tudo menos futebol, mas dentro do campo, os corações voltaram a bater rápido ao ritmo dos intérpretes: Pizzi comandou o campeão, Bas Dost quase apanhou Messi, Ederson e Vaná acumularam defesas impossíveis, Soares evoluiu a olhos vistos, o menino Gelson partiu a loiça toda, Nélson Semedo foi apanhado em excesso de velocidade, Fábio Martins marcou golos de levantar o estádio e Lindelöf marcou aquele livre em Alvalade.
Vamos lá analisar, equipa a equipa, esta Liga NOS 2016/ 17:
BENFICA (1)Em Portugal, o Benfica não tem rival. É o que diz o hino do clube da Luz e foi essa a referência utilizada pela Marca ao tetracampeão português. E a verdade é que a presente época e os resultados obtidos falam por si, confirmando o acentuar da hegemonia, a estabilidade e a consistência.
Estávamos na 5.ª jornada quando - poucas semanas depois dos encarnados terem visto um guarda-redes formado no clube, Bruno Varela, impedir o Benfica de vencer o primeiro jogo da época diante dos seus adeptos - o campeão nacional fez o derradeiro assalto ao 1.º lugar diante do Braga. Conquistado o trono, não mais as águias o largaram. E enquanto Sporting e Porto iam perdendo pontos em terrenos improváveis, os tricampeões distanciavam-se. Se no ano passado o pecado de Rui Vitória foi só ter vencido um jogo contra os dois rivais, este ano, na primeira volta, venceu o Sporting em casa e congelou a distância pontual que tinha no Dragão com um empate aos 90'+2. Tamanha ironia este mundo em que vivemos. Curioso verificar que nesta edição o líder acabou por ser inclusive a equipa com melhor aproveitamento nos jogos entre os 3 grandes (6 pontos conquistados, sem qualquer derrota nessa tríade, contra os 5 de dragões e leões). As águias podiam ter resolvido o tetracampeonato relativamente cedo, mas uma série mais negra em termos de futebol jogado, com reflexo nos resultados, acabou por dar vida ao Porto. A distância entre os dois maiores candidatos ao título de 2016/ 17 chegou a ser de apenas 1 ponto, mas os dragões nunca souberam aproveitar os deslizes.
Na fase final da Liga, viveram-se momentos tensos para o lado da Luz. Sob imensa pressão, Rui Vitória e os seus jogadores souberam (mais uma vez) blindar o balneário, resistindo à guerra jogada fora de campo, capaz de condicionar a arbitragem, e a todos os temas extra-futebol que voltaram a poluir o futebol português, uma consequência da falta de cultura desportiva em Portugal e do tempo de antena dado aos intervenientes errados. Ainda assim, viu-se novamente a fibra do grupo orientado por RV, com a equipa a embalar na recta final (na temporada passada, 12 vitórias consecutivas, nesta zero derrotas nas últimas 15 jornadas) e a acabar por selar o destino do campeonato com um empate em Alvalade e uma difícil vitória em Vila do Conde. Dois jogos de absoluta e similar importância.
Posto isto, é bem provável que o defeso seja quentinho no inferno da Luz, e que os cofres voltem a ficar recheados. Nesta época, Pizzi (que até nem deve ter assim tantos interessados) foi quem agarrou a batuta e orquestrou o ritmo do futebol praticado pelo Benfica. Com 4250 minutos em 52 jogos disputados ao longo da época, o general geriu os tempos da equipa e inventou muitos desequilíbrios com os seus passes a rasgar (ninguém em Portugal criou tantas oportunidades de golo como ele). Sem nunca se esconder, assumindo o jogo, fez-se MVP desta edição depois de tantas vezes ser criticado e pouco consensual entre os próprios adeptos. Depois, é impossível reflectir sobre este tetracampeonato sem falar de Ederson - um monstro, no bom sentido, claro. O brasileiro, imperial no um-contra-um e brilhante a distribuir jogo tanto com a mão como com o pé (que pontapé!), manteve o Benfica vivo em várias ocasiões, decidindo sozinho vários jogos com o seu misto de tranquilidade e loucura. O nº 1 benfiquista despediu-se de Portugal na final da Taça, mas pode não ser o único... Nélson Semedo, alegadamente cobiçado pelo Barcelona (fica difícil segurar um jogador quando clubes destes entram na corrida), foi incansável durante todo o ano. Correu, correu, correu e correu... Deu uma profundidade brutal ao flanco direito, evoluindo a nível defensivo, e voltando a exibir toda a sua velocidade e capacidade no drible. Mas a conquista do tetra não era possível sem o amuleto das águias. Fejsa é certamente um cyborg. Com menos lesões do que o habitual, o sérvio voltou a equilibrar a equipa, ajudando Pizzi como ajudara Renato Sanches, e passeando pelo campo a sua inacreditável capacidade física, dominando o seu sector com uma perna às costas. Esteve em todo o lado.
No ataque encarnado, e embora esperássemos maior rendimento por parte dos extremos, vários jogadores foram importantes em diferentes momentos. Mitroglou resolveu jogos atrás de jogos com a sua frieza, com o seu tau-tau e a sua pokerface, Jonas regressou da lesão para espalhar magia e Raúl voltou a resolver jogos cruciais. O mexicano parece ter nascido para marcar golos decisivos.
Prever o próximo ano é, para já, difícil. À procura do penta o Benfica manter-se-á estável e confiante (ganhar ajuda muito), mas pode ver o seu elenco a ficar bastante despido. Veremos como colmata essas saídas a chamada "estrutura". Somente com jovens valores já no clube, ou com intenso ataque ao mercado?
Quem nasceu na década de 90 estranha a (falta de) atitude e competitividade deste Porto. Até há bem pouco tempo tínhamos um Porto avído por vitórias e que jamais vacilava contra equipas de menor dimensão e nos momentos decisivos. A imagem desse Porto já não se vê há 4 (quatro!) anos. A nós, que crescemos com um Porto dominador, essa falta de chama no Dragão causa-nos alguma confusão.
O início desta Liga NOS não foi famoso. À derrota com o Sporting e ao empate com o Tondela, o Porto acrescentou 3 empates consecutivos (Vit. Setúbal, Benfica e Belenenses) causando grande preocupação na Invicta. Mas, depois de quase arredados na corrida pelo título, a equipa portista e os adeptos começaram a partilhar com Nuno Espírito Santo a crença de que era possível. Quando? Vitória ao cair do pano sobre o Braga, com um golo do miúdo Rui Pedro (marcou, e evaporou-se depois novamente para a equipa B). A partir daí, iniciou-se uma nova vida, com maior dinâmica (fundamental a "injecção Soares"), vitórias umas atrás das outras e vários jogos sem sofrer golos. O Benfica começou a escorregar e o antigo Porto parecia estar de volta.
À 19.ª jornada, com a derrota do Benfica em Setúbal, o Porto festejava uma vez que se via a apenas 1 ponto do líder. Mas isso foi o mais perto que os azuis e brancos conseguiram estar do primeiro lugar. Na jornada 26, depois de novo deslize encarnado (empate na Mata Real) o Porto desperdiçou uma soberana oportunidade de passar para a frente - a pressão fez-se sentir e João Carvalho (emprestado pelo Benfica ao Vit. Setúbal) marcou no Dragão porventura o golo mais importante desta edição 16/ 17.
Mas a falta de chama de que acima falávamos evidenciou-se sobretudo na Luz. No "jogo do título" o Benfica surpreendeu pela positiva, e foi Iker Casillas a manter o Porto vivo. Péssimo Raio-X do clube portista, a preferir conservar o empate, festejando-o, revelando tremenda falta de ambição (absurdo abdicar de uma oportunidade para passar a depender unica e exclusivamente de si próprio) e confiando que o Sporting seria capaz de derrotar o grande rival semanas depois. Tal não aconteceu e os índices anímicos caíram ainda mais, com a distância pontual a chegar mesmo aos 6 pontos.
A aposta em NES revelou-se um falhanço. O antigo guarda-redes trabalhou bem o sector defensivo da equipa, mas nunca soube incutir um espírito guerreiro, acabando a equipa por ser muitas vezes um vazio de ideias, à espera que uma bola bombeada para Soares ou um lance de génio de Brahimi chegasse para vencer. Não se pode aceitar que o discurso inicial (jogar cada jogo para a vitória) tenha sido depois substituído por um "Nós sabemos é que o adversário vai ter um jogo muito difícil para a semana". Um treinador ganhador não pode cair no erro de se fiar nas derrotas alheias e tem que mostrar trabalho dentro de campo, ganhando os seus jogos sem olhar a quem. Curioso também termos chegado a um ponto, e isso funcionou durante algum tempo a favor de Nuno, em que parece dar-se mais importância ao trabalho de um treinador (discurso) na sala de imprensa do que em campo, talvez por muita gente não ser capaz de detectar o que é ou não uma equipa bem treinada.
E não se pode ignorar este dado: o único jogador do plantel do Porto que sabe o que é ser campeão em Portugal chama-se Maxi Pereira. É muito grave a falta de mística no clube, visível apenas em jogadores como Danilo e Marcano, ambos exemplares toda a temporada. Casillas destacou-se nos jogos grandes; Soares revolucionou o ataque, principalmente mal chegou ao clube, e Brahimi carregou a equipa com a sua qualidade técnica.
Chega agora a altura de encontrar o substituto de Nuno Espírito Santo, já apresentado como treinador do Wolves. O herdeiro parece ser um de 3 homens: Sérgio Conceição (que está a forçar a sua saída do Nantes por "motivos pessoais"), Paulo Sousa (que rescindiu com a Fiorentina) ou Pedro Martins (que, segundo o presidente do Vitória, continua com o seu futuro em aberto). Marco Silva era a melhor hipótese, mas as exigências do português não agradaram de todo aos dirigentes dos dragões. O futuro do clube vai depender e muito das escolhas feitas durante os próximos dias.
SPORTING (3)Estávamos certos no início da época quando ordenámos o Top-3 como se veio a concretizar.
O 3.º lugar para os leões era o que se perspectivava mais provável: o facto do Sporting ter perdido algumas jóias da coroa (João Mário e Slimani) e do capitão Adrien ter ficado um pouco magoado com o fecho das portas quanto à sua saída para a Premier League eram um indício de que as coisas podiam não correr de feição em Alvalade. Os problemas foram aumentando e as guerras internas foram subindo de tom. Enquanto isto transparecia para o público geral, Bruno de Carvalho preocupava-se em gritar e apontar o dedo ao rival da Segunda Circular. A culpa é do Benfica, tornou-se então uma frase célebre no futebol português. Efectivamente, a culpa dos resultados não era do Benfica, nem dos árbitros. Bem vistas as coisas, o futebol praticado pelo clube leonino piorou substancialmente - a venda de João Mário e a época miserável de Bryan Ruiz fez desaparecer o incrível jogo interior do clube em 15/ 16 - e à medida que os resultados desfavoráveis apareciam, Bruno de Carvalho perdia o controlo e envolvia-se em algumas peripécias graves. Tanto dentro do balneário do Sporting (Adrien e William tiveram que apaziguar os adeptos com declarações) como com dirigentes adversários (presidente arouquense). Muitas distracções e muita instabilidade, que acabou por se fazer sentir no desempenho dos jogadores. O plantel nunca respirou saúde e não conseguiu corresponder às expectativas altas dos seus adeptos, perfeitamente naturais considerando a época passada.
Num ano em que Bas Dost fez 34 golos em 31 jogos e onde Gelson (rei das assistências) se confirmou como um dos maiores talentos portugueses em ascensão, a justiça deste 3.º lugar é incontestável. Até Jorge Jesus, que tanto gosta de massajar o seu ego, este ano acabou por dar o braço a torcer. Assumiu que os outros foram melhores e que todos precisavam de trabalhar mais para tornar o Sporting num candidato ao título. Pode-se considerar 2016/ 17 um ano em que os pés voltaram à terra após uma temporada de 2015/16 de grande futebol que fez sócios e simpatizantes sonhar.
Muita coisa necessita de mudar para que o Sporting volte ao nível em que se apresentou no ano passado. E tudo começa na coesão, firmeza e nível da sua estrutura.

VIT. GUIMARÃES (4)Um clube que correspondeu este ano à dimensão dos seus adeptos. Tivemos dúvidas em relação à posição que atribuiríamos aos rivais minhotos. Equivocámo-nos. O Vitória construiu um plantel à altura do clube e com Pedro Martins - que tanto elogiámos no nossos Prémios BPF - chegou ao tão almejado 4.º lugar. Júlio Mendes reclamou o estatuto de 4.ª maior potência nacional e voltou a afirmar na final do Jamor que é e sempre será o quarto maior de Portugal e que isso se reflecte nos seus adeptos.
BRAGA (5)Uma das grandes desilusões da época. Se em anos anteriores se atribuiu a responsabilidade dos bons resultados a António Salvador, este ano tem que lhe ser apontada a responsabilidade do mau desempenho da equipa. É vergonhoso da parte do presidente bracarense apontar o dedo aos árbitros via conferência de imprensa, quando foi ele próprio a somar tiros nos pés. Claramente uma manobra de atirar areia para os olhos em ano de eleições. Todavia, uma manobra desnecessária. Era mais do que óbvia a sua vitória e só lhe ficava bem admitir os erros e limitar-se a trabalhar para que anos iguais não se repitam no futuro.
A primeira escolha (José Peseiro) não foi feliz, e aquilo que começou torto, não mais se endireitou. Veio Jorge Simão e com a sua personalidade pouco ortodoxa acabou por criar algum mau estar dentro do plantel. Os resultados não sorriam e Jorge Simão - que vinha de peito cheio pelo que havia feito no Chaves - acabou por sair pela porta pequena, somando empates e empates. Para o que restava da época, Abel foi o escolhido (como o havia sido na vitória frente ao Sporting), desta vez com vínculo até 2020.
Em termos exibicionais, Pedro Santos foi o capitão que tudo deixou em campo, evidenciando-se sobretudo no início da época, Rui Fonte cresceu ainda mais como jogador, Battaglia e Assis foram gigantes no meio-campo (o argentino no transporte, o ex-Chaves a encher o miolo) e Marafona evitou o que pôde na baliza.
Veremos como Abel agarra esta oportunidade na próxima temporada, e caberá ao Braga começar a construir o seu plantel de forma mais equilibrada, aproveitando craques como Fábio Martins (brilhou no Chaves) e jovens valores como Xadas ou Pedro Neto. Acreditamos que com Abel o Braga apresentará uma melhoria em termos de resultados, mas não será fácil recuperar o domínio do Minho.
MARÍTIMO (6)
RIO AVE (7)
FEIRENSE (8)
BOAVISTA (9)
ESTORIL (10)
DESP. CHAVES (11)
VIT. SETÚBAL (12)
PAÇOS FERREIRA (13)
BELENENSES (14)
MOREIRENSE (15)
TONDELA (16)
AROUCA (17)
NACIONAL (18)







PORTO (2)

Barclays Premier League - Depois do milagre, depois do Impossível, voltámos à realidade. No campeonato em que não há vencedores antecipados (nos últimos 8 anos nunca o campeão conseguiu renovar o seu título) e em que todos os jogos são disputados nos limites, num ritmo alucinante com tanto de louco como de apaixonante, os favoritos voltaram a instalar-se no topo da classificação.


TOTTENHAM (2)
MANCHESTER CITY (3)

ARSENAL (5)
MANCHESTER UNITED (6)
EVERTON (7)
SOUTHAMPTON (8)
WEST BROMWICH (10)
WEST HAM (11)
LEICESTER CITY (12)
STOKE (13)
CRYSTAL PALACE (14)
SWANSEA (15)


MIDDLESBROUGH (19)
SUNDERLAND (20)