Falar de 2016/ 17 é falar de um Benfica que, com um super-plantel, soube manter-se focado no seu objectivo, ultrapassando as várias lesões que atormentaram o balneário. Rui Vitória, sempre determinado em encontrar soluções sem construir um muro de lamentações, comandou uma equipa que totalizou 82 pontos (menos 6 do que na época passada). O Porto de Nuno Espírito Santo, entretanto despedido, caracterizou-se pela incapacidade de aproveitar os deslizes do líder, e o Sporting caiu drasticamente (os leões somaram menos 16 pontos do que em 2015/ 16, e sofreram mais 15 golos, sendo por isso incapazes de manter o seu estatuto de melhor defesa, e terminando com o dobro dos golos sofridos do grande rival e primeiro classificado).
No Minho, um Vit. Guimarães recordista retirou ao Braga o quarto lugar, e entre as sensações da época a maior foi sem dúvida o Feirense, um patinho feio que virou cisne acabando num absolutamente extraordinário 8.º lugar.
Impossível também não referir a quantidade de vezes que as equipas portuguesas trocaram de treinador ao longo da época. Apenas Benfica, Porto, Sporting, Vit. Guimarães e Vit. Setúbal se mantiveram estáveis, com as restantes 14 equipas a terem pelo menos 2 treinadores (Braga, Belenenses, Arouca, Moreirense e Nacional chegaram mesmo aos 3 treinadores numa só temporada).
Como sempre, a falta de cultura desportiva em Portugal originou muita conversa, sobre tudo menos futebol, mas dentro do campo, os corações voltaram a bater rápido ao ritmo dos intérpretes: Pizzi comandou o campeão, Bas Dost quase apanhou Messi, Ederson e Vaná acumularam defesas impossíveis, Soares evoluiu a olhos vistos, o menino Gelson partiu a loiça toda, Nélson Semedo foi apanhado em excesso de velocidade, Fábio Martins marcou golos de levantar o estádio e Lindelöf marcou aquele livre em Alvalade.
Vamos lá analisar, equipa a equipa, esta Liga NOS 2016/ 17:
BENFICA (1)
Em Portugal, o Benfica não tem rival. É o que diz o hino do clube da Luz e foi essa a referência utilizada pela Marca ao tetracampeão português. E a verdade é que a presente época e os resultados obtidos falam por si, confirmando o acentuar da hegemonia, a estabilidade e a consistência.
Estávamos na 5.ª jornada quando - poucas semanas depois dos encarnados terem visto um guarda-redes formado no clube, Bruno Varela, impedir o Benfica de vencer o primeiro jogo da época diante dos seus adeptos - o campeão nacional fez o derradeiro assalto ao 1.º lugar diante do Braga. Conquistado o trono, não mais as águias o largaram. E enquanto Sporting e Porto iam perdendo pontos em terrenos improváveis, os tricampeões distanciavam-se. Se no ano passado o pecado de Rui Vitória foi só ter vencido um jogo contra os dois rivais, este ano, na primeira volta, venceu o Sporting em casa e congelou a distância pontual que tinha no Dragão com um empate aos 90'+2. Tamanha ironia este mundo em que vivemos. Curioso verificar que nesta edição o líder acabou por ser inclusive a equipa com melhor aproveitamento nos jogos entre os 3 grandes (6 pontos conquistados, sem qualquer derrota nessa tríade, contra os 5 de dragões e leões). As águias podiam ter resolvido o tetracampeonato relativamente cedo, mas uma série mais negra em termos de futebol jogado, com reflexo nos resultados, acabou por dar vida ao Porto. A distância entre os dois maiores candidatos ao título de 2016/ 17 chegou a ser de apenas 1 ponto, mas os dragões nunca souberam aproveitar os deslizes.
Na fase final da Liga, viveram-se momentos tensos para o lado da Luz. Sob imensa pressão, Rui Vitória e os seus jogadores souberam (mais uma vez) blindar o balneário, resistindo à guerra jogada fora de campo, capaz de condicionar a arbitragem, e a todos os temas extra-futebol que voltaram a poluir o futebol português, uma consequência da falta de cultura desportiva em Portugal e do tempo de antena dado aos intervenientes errados. Ainda assim, viu-se novamente a fibra do grupo orientado por RV, com a equipa a embalar na recta final (na temporada passada, 12 vitórias consecutivas, nesta zero derrotas nas últimas 15 jornadas) e a acabar por selar o destino do campeonato com um empate em Alvalade e uma difícil vitória em Vila do Conde. Dois jogos de absoluta e similar importância.
Posto isto, é bem provável que o defeso seja quentinho no inferno da Luz, e que os cofres voltem a ficar recheados. Nesta época, Pizzi (que até nem deve ter assim tantos interessados) foi quem agarrou a batuta e orquestrou o ritmo do futebol praticado pelo Benfica. Com 4250 minutos em 52 jogos disputados ao longo da época, o general geriu os tempos da equipa e inventou muitos desequilíbrios com os seus passes a rasgar (ninguém em Portugal criou tantas oportunidades de golo como ele). Sem nunca se esconder, assumindo o jogo, fez-se MVP desta edição depois de tantas vezes ser criticado e pouco consensual entre os próprios adeptos. Depois, é impossível reflectir sobre este tetracampeonato sem falar de Ederson - um monstro, no bom sentido, claro. O brasileiro, imperial no um-contra-um e brilhante a distribuir jogo tanto com a mão como com o pé (que pontapé!), manteve o Benfica vivo em várias ocasiões, decidindo sozinho vários jogos com o seu misto de tranquilidade e loucura. O nº 1 benfiquista despediu-se de Portugal na final da Taça, mas pode não ser o único... Nélson Semedo, alegadamente cobiçado pelo Barcelona (fica difícil segurar um jogador quando clubes destes entram na corrida), foi incansável durante todo o ano. Correu, correu, correu e correu... Deu uma profundidade brutal ao flanco direito, evoluindo a nível defensivo, e voltando a exibir toda a sua velocidade e capacidade no drible. Mas a conquista do tetra não era possível sem o amuleto das águias. Fejsa é certamente um cyborg. Com menos lesões do que o habitual, o sérvio voltou a equilibrar a equipa, ajudando Pizzi como ajudara Renato Sanches, e passeando pelo campo a sua inacreditável capacidade física, dominando o seu sector com uma perna às costas. Esteve em todo o lado.
No ataque encarnado, e embora esperássemos maior rendimento por parte dos extremos, vários jogadores foram importantes em diferentes momentos. Mitroglou resolveu jogos atrás de jogos com a sua frieza, com o seu tau-tau e a sua pokerface, Jonas regressou da lesão para espalhar magia e Raúl voltou a resolver jogos cruciais. O mexicano parece ter nascido para marcar golos decisivos.
Prever o próximo ano é, para já, difícil. À procura do penta o Benfica manter-se-á estável e confiante (ganhar ajuda muito), mas pode ver o seu elenco a ficar bastante despido. Veremos como colmata essas saídas a chamada "estrutura". Somente com jovens valores já no clube, ou com intenso ataque ao mercado?
Em Portugal, o Benfica não tem rival. É o que diz o hino do clube da Luz e foi essa a referência utilizada pela Marca ao tetracampeão português. E a verdade é que a presente época e os resultados obtidos falam por si, confirmando o acentuar da hegemonia, a estabilidade e a consistência.
Estávamos na 5.ª jornada quando - poucas semanas depois dos encarnados terem visto um guarda-redes formado no clube, Bruno Varela, impedir o Benfica de vencer o primeiro jogo da época diante dos seus adeptos - o campeão nacional fez o derradeiro assalto ao 1.º lugar diante do Braga. Conquistado o trono, não mais as águias o largaram. E enquanto Sporting e Porto iam perdendo pontos em terrenos improváveis, os tricampeões distanciavam-se. Se no ano passado o pecado de Rui Vitória foi só ter vencido um jogo contra os dois rivais, este ano, na primeira volta, venceu o Sporting em casa e congelou a distância pontual que tinha no Dragão com um empate aos 90'+2. Tamanha ironia este mundo em que vivemos. Curioso verificar que nesta edição o líder acabou por ser inclusive a equipa com melhor aproveitamento nos jogos entre os 3 grandes (6 pontos conquistados, sem qualquer derrota nessa tríade, contra os 5 de dragões e leões). As águias podiam ter resolvido o tetracampeonato relativamente cedo, mas uma série mais negra em termos de futebol jogado, com reflexo nos resultados, acabou por dar vida ao Porto. A distância entre os dois maiores candidatos ao título de 2016/ 17 chegou a ser de apenas 1 ponto, mas os dragões nunca souberam aproveitar os deslizes.
Na fase final da Liga, viveram-se momentos tensos para o lado da Luz. Sob imensa pressão, Rui Vitória e os seus jogadores souberam (mais uma vez) blindar o balneário, resistindo à guerra jogada fora de campo, capaz de condicionar a arbitragem, e a todos os temas extra-futebol que voltaram a poluir o futebol português, uma consequência da falta de cultura desportiva em Portugal e do tempo de antena dado aos intervenientes errados. Ainda assim, viu-se novamente a fibra do grupo orientado por RV, com a equipa a embalar na recta final (na temporada passada, 12 vitórias consecutivas, nesta zero derrotas nas últimas 15 jornadas) e a acabar por selar o destino do campeonato com um empate em Alvalade e uma difícil vitória em Vila do Conde. Dois jogos de absoluta e similar importância.
Posto isto, é bem provável que o defeso seja quentinho no inferno da Luz, e que os cofres voltem a ficar recheados. Nesta época, Pizzi (que até nem deve ter assim tantos interessados) foi quem agarrou a batuta e orquestrou o ritmo do futebol praticado pelo Benfica. Com 4250 minutos em 52 jogos disputados ao longo da época, o general geriu os tempos da equipa e inventou muitos desequilíbrios com os seus passes a rasgar (ninguém em Portugal criou tantas oportunidades de golo como ele). Sem nunca se esconder, assumindo o jogo, fez-se MVP desta edição depois de tantas vezes ser criticado e pouco consensual entre os próprios adeptos. Depois, é impossível reflectir sobre este tetracampeonato sem falar de Ederson - um monstro, no bom sentido, claro. O brasileiro, imperial no um-contra-um e brilhante a distribuir jogo tanto com a mão como com o pé (que pontapé!), manteve o Benfica vivo em várias ocasiões, decidindo sozinho vários jogos com o seu misto de tranquilidade e loucura. O nº 1 benfiquista despediu-se de Portugal na final da Taça, mas pode não ser o único... Nélson Semedo, alegadamente cobiçado pelo Barcelona (fica difícil segurar um jogador quando clubes destes entram na corrida), foi incansável durante todo o ano. Correu, correu, correu e correu... Deu uma profundidade brutal ao flanco direito, evoluindo a nível defensivo, e voltando a exibir toda a sua velocidade e capacidade no drible. Mas a conquista do tetra não era possível sem o amuleto das águias. Fejsa é certamente um cyborg. Com menos lesões do que o habitual, o sérvio voltou a equilibrar a equipa, ajudando Pizzi como ajudara Renato Sanches, e passeando pelo campo a sua inacreditável capacidade física, dominando o seu sector com uma perna às costas. Esteve em todo o lado.
No ataque encarnado, e embora esperássemos maior rendimento por parte dos extremos, vários jogadores foram importantes em diferentes momentos. Mitroglou resolveu jogos atrás de jogos com a sua frieza, com o seu tau-tau e a sua pokerface, Jonas regressou da lesão para espalhar magia e Raúl voltou a resolver jogos cruciais. O mexicano parece ter nascido para marcar golos decisivos.
Prever o próximo ano é, para já, difícil. À procura do penta o Benfica manter-se-á estável e confiante (ganhar ajuda muito), mas pode ver o seu elenco a ficar bastante despido. Veremos como colmata essas saídas a chamada "estrutura". Somente com jovens valores já no clube, ou com intenso ataque ao mercado?
Destaques: Pizzi, Ederson, Nélson Semedo, Fejsa, Mitroglou
Quem nasceu na década de 90 estranha a (falta de) atitude e competitividade deste Porto. Até há bem pouco tempo tínhamos um Porto avído por vitórias e que jamais vacilava contra equipas de menor dimensão e nos momentos decisivos. A imagem desse Porto já não se vê há 4 (quatro!) anos. A nós, que crescemos com um Porto dominador, essa falta de chama no Dragão causa-nos alguma confusão.
O início desta Liga NOS não foi famoso. À derrota com o Sporting e ao empate com o Tondela, o Porto acrescentou 3 empates consecutivos (Vit. Setúbal, Benfica e Belenenses) causando grande preocupação na Invicta. Mas, depois de quase arredados na corrida pelo título, a equipa portista e os adeptos começaram a partilhar com Nuno Espírito Santo a crença de que era possível. Quando? Vitória ao cair do pano sobre o Braga, com um golo do miúdo Rui Pedro (marcou, e evaporou-se depois novamente para a equipa B). A partir daí, iniciou-se uma nova vida, com maior dinâmica (fundamental a "injecção Soares"), vitórias umas atrás das outras e vários jogos sem sofrer golos. O Benfica começou a escorregar e o antigo Porto parecia estar de volta.
À 19.ª jornada, com a derrota do Benfica em Setúbal, o Porto festejava uma vez que se via a apenas 1 ponto do líder. Mas isso foi o mais perto que os azuis e brancos conseguiram estar do primeiro lugar. Na jornada 26, depois de novo deslize encarnado (empate na Mata Real) o Porto desperdiçou uma soberana oportunidade de passar para a frente - a pressão fez-se sentir e João Carvalho (emprestado pelo Benfica ao Vit. Setúbal) marcou no Dragão porventura o golo mais importante desta edição 16/ 17.
Mas a falta de chama de que acima falávamos evidenciou-se sobretudo na Luz. No "jogo do título" o Benfica surpreendeu pela positiva, e foi Iker Casillas a manter o Porto vivo. Péssimo Raio-X do clube portista, a preferir conservar o empate, festejando-o, revelando tremenda falta de ambição (absurdo abdicar de uma oportunidade para passar a depender unica e exclusivamente de si próprio) e confiando que o Sporting seria capaz de derrotar o grande rival semanas depois. Tal não aconteceu e os índices anímicos caíram ainda mais, com a distância pontual a chegar mesmo aos 6 pontos.
A aposta em NES revelou-se um falhanço. O antigo guarda-redes trabalhou bem o sector defensivo da equipa, mas nunca soube incutir um espírito guerreiro, acabando a equipa por ser muitas vezes um vazio de ideias, à espera que uma bola bombeada para Soares ou um lance de génio de Brahimi chegasse para vencer. Não se pode aceitar que o discurso inicial (jogar cada jogo para a vitória) tenha sido depois substituído por um "Nós sabemos é que o adversário vai ter um jogo muito difícil para a semana". Um treinador ganhador não pode cair no erro de se fiar nas derrotas alheias e tem que mostrar trabalho dentro de campo, ganhando os seus jogos sem olhar a quem. Curioso também termos chegado a um ponto, e isso funcionou durante algum tempo a favor de Nuno, em que parece dar-se mais importância ao trabalho de um treinador (discurso) na sala de imprensa do que em campo, talvez por muita gente não ser capaz de detectar o que é ou não uma equipa bem treinada.
E não se pode ignorar este dado: o único jogador do plantel do Porto que sabe o que é ser campeão em Portugal chama-se Maxi Pereira. É muito grave a falta de mística no clube, visível apenas em jogadores como Danilo e Marcano, ambos exemplares toda a temporada. Casillas destacou-se nos jogos grandes; Soares revolucionou o ataque, principalmente mal chegou ao clube, e Brahimi carregou a equipa com a sua qualidade técnica.
Chega agora a altura de encontrar o substituto de Nuno Espírito Santo, já apresentado como treinador do Wolves. O herdeiro parece ser um de 3 homens: Sérgio Conceição (que está a forçar a sua saída do Nantes por "motivos pessoais"), Paulo Sousa (que rescindiu com a Fiorentina) ou Pedro Martins (que, segundo o presidente do Vitória, continua com o seu futuro em aberto). Marco Silva era a melhor hipótese, mas as exigências do português não agradaram de todo aos dirigentes dos dragões. O futuro do clube vai depender e muito das escolhas feitas durante os próximos dias.
SPORTING (3)
Estávamos certos no início da época quando ordenámos o Top-3 como se veio a concretizar.
O 3.º lugar para os leões era o que se perspectivava mais provável: o facto do Sporting ter perdido algumas jóias da coroa (João Mário e Slimani) e do capitão Adrien ter ficado um pouco magoado com o fecho das portas quanto à sua saída para a Premier League eram um indício de que as coisas podiam não correr de feição em Alvalade. Os problemas foram aumentando e as guerras internas foram subindo de tom. Enquanto isto transparecia para o público geral, Bruno de Carvalho preocupava-se em gritar e apontar o dedo ao rival da Segunda Circular. A culpa é do Benfica, tornou-se então uma frase célebre no futebol português. Efectivamente, a culpa dos resultados não era do Benfica, nem dos árbitros. Bem vistas as coisas, o futebol praticado pelo clube leonino piorou substancialmente - a venda de João Mário e a época miserável de Bryan Ruiz fez desaparecer o incrível jogo interior do clube em 15/ 16 - e à medida que os resultados desfavoráveis apareciam, Bruno de Carvalho perdia o controlo e envolvia-se em algumas peripécias graves. Tanto dentro do balneário do Sporting (Adrien e William tiveram que apaziguar os adeptos com declarações) como com dirigentes adversários (presidente arouquense). Muitas distracções e muita instabilidade, que acabou por se fazer sentir no desempenho dos jogadores. O plantel nunca respirou saúde e não conseguiu corresponder às expectativas altas dos seus adeptos, perfeitamente naturais considerando a época passada.
Num ano em que Bas Dost fez 34 golos em 31 jogos e onde Gelson (rei das assistências) se confirmou como um dos maiores talentos portugueses em ascensão, a justiça deste 3.º lugar é incontestável. Até Jorge Jesus, que tanto gosta de massajar o seu ego, este ano acabou por dar o braço a torcer. Assumiu que os outros foram melhores e que todos precisavam de trabalhar mais para tornar o Sporting num candidato ao título. Pode-se considerar 2016/ 17 um ano em que os pés voltaram à terra após uma temporada de 2015/16 de grande futebol que fez sócios e simpatizantes sonhar.
Muita coisa necessita de mudar para que o Sporting volte ao nível em que se apresentou no ano passado. E tudo começa na coesão, firmeza e nível da sua estrutura.
Quem nasceu na década de 90 estranha a (falta de) atitude e competitividade deste Porto. Até há bem pouco tempo tínhamos um Porto avído por vitórias e que jamais vacilava contra equipas de menor dimensão e nos momentos decisivos. A imagem desse Porto já não se vê há 4 (quatro!) anos. A nós, que crescemos com um Porto dominador, essa falta de chama no Dragão causa-nos alguma confusão.
O início desta Liga NOS não foi famoso. À derrota com o Sporting e ao empate com o Tondela, o Porto acrescentou 3 empates consecutivos (Vit. Setúbal, Benfica e Belenenses) causando grande preocupação na Invicta. Mas, depois de quase arredados na corrida pelo título, a equipa portista e os adeptos começaram a partilhar com Nuno Espírito Santo a crença de que era possível. Quando? Vitória ao cair do pano sobre o Braga, com um golo do miúdo Rui Pedro (marcou, e evaporou-se depois novamente para a equipa B). A partir daí, iniciou-se uma nova vida, com maior dinâmica (fundamental a "injecção Soares"), vitórias umas atrás das outras e vários jogos sem sofrer golos. O Benfica começou a escorregar e o antigo Porto parecia estar de volta.
À 19.ª jornada, com a derrota do Benfica em Setúbal, o Porto festejava uma vez que se via a apenas 1 ponto do líder. Mas isso foi o mais perto que os azuis e brancos conseguiram estar do primeiro lugar. Na jornada 26, depois de novo deslize encarnado (empate na Mata Real) o Porto desperdiçou uma soberana oportunidade de passar para a frente - a pressão fez-se sentir e João Carvalho (emprestado pelo Benfica ao Vit. Setúbal) marcou no Dragão porventura o golo mais importante desta edição 16/ 17.
Mas a falta de chama de que acima falávamos evidenciou-se sobretudo na Luz. No "jogo do título" o Benfica surpreendeu pela positiva, e foi Iker Casillas a manter o Porto vivo. Péssimo Raio-X do clube portista, a preferir conservar o empate, festejando-o, revelando tremenda falta de ambição (absurdo abdicar de uma oportunidade para passar a depender unica e exclusivamente de si próprio) e confiando que o Sporting seria capaz de derrotar o grande rival semanas depois. Tal não aconteceu e os índices anímicos caíram ainda mais, com a distância pontual a chegar mesmo aos 6 pontos.
A aposta em NES revelou-se um falhanço. O antigo guarda-redes trabalhou bem o sector defensivo da equipa, mas nunca soube incutir um espírito guerreiro, acabando a equipa por ser muitas vezes um vazio de ideias, à espera que uma bola bombeada para Soares ou um lance de génio de Brahimi chegasse para vencer. Não se pode aceitar que o discurso inicial (jogar cada jogo para a vitória) tenha sido depois substituído por um "Nós sabemos é que o adversário vai ter um jogo muito difícil para a semana". Um treinador ganhador não pode cair no erro de se fiar nas derrotas alheias e tem que mostrar trabalho dentro de campo, ganhando os seus jogos sem olhar a quem. Curioso também termos chegado a um ponto, e isso funcionou durante algum tempo a favor de Nuno, em que parece dar-se mais importância ao trabalho de um treinador (discurso) na sala de imprensa do que em campo, talvez por muita gente não ser capaz de detectar o que é ou não uma equipa bem treinada.
E não se pode ignorar este dado: o único jogador do plantel do Porto que sabe o que é ser campeão em Portugal chama-se Maxi Pereira. É muito grave a falta de mística no clube, visível apenas em jogadores como Danilo e Marcano, ambos exemplares toda a temporada. Casillas destacou-se nos jogos grandes; Soares revolucionou o ataque, principalmente mal chegou ao clube, e Brahimi carregou a equipa com a sua qualidade técnica.
Chega agora a altura de encontrar o substituto de Nuno Espírito Santo, já apresentado como treinador do Wolves. O herdeiro parece ser um de 3 homens: Sérgio Conceição (que está a forçar a sua saída do Nantes por "motivos pessoais"), Paulo Sousa (que rescindiu com a Fiorentina) ou Pedro Martins (que, segundo o presidente do Vitória, continua com o seu futuro em aberto). Marco Silva era a melhor hipótese, mas as exigências do português não agradaram de todo aos dirigentes dos dragões. O futuro do clube vai depender e muito das escolhas feitas durante os próximos dias.
Destaques: Danilo Pereira, Soares, Marcano, Brahimi, Alex Telles
Estávamos certos no início da época quando ordenámos o Top-3 como se veio a concretizar.
O 3.º lugar para os leões era o que se perspectivava mais provável: o facto do Sporting ter perdido algumas jóias da coroa (João Mário e Slimani) e do capitão Adrien ter ficado um pouco magoado com o fecho das portas quanto à sua saída para a Premier League eram um indício de que as coisas podiam não correr de feição em Alvalade. Os problemas foram aumentando e as guerras internas foram subindo de tom. Enquanto isto transparecia para o público geral, Bruno de Carvalho preocupava-se em gritar e apontar o dedo ao rival da Segunda Circular. A culpa é do Benfica, tornou-se então uma frase célebre no futebol português. Efectivamente, a culpa dos resultados não era do Benfica, nem dos árbitros. Bem vistas as coisas, o futebol praticado pelo clube leonino piorou substancialmente - a venda de João Mário e a época miserável de Bryan Ruiz fez desaparecer o incrível jogo interior do clube em 15/ 16 - e à medida que os resultados desfavoráveis apareciam, Bruno de Carvalho perdia o controlo e envolvia-se em algumas peripécias graves. Tanto dentro do balneário do Sporting (Adrien e William tiveram que apaziguar os adeptos com declarações) como com dirigentes adversários (presidente arouquense). Muitas distracções e muita instabilidade, que acabou por se fazer sentir no desempenho dos jogadores. O plantel nunca respirou saúde e não conseguiu corresponder às expectativas altas dos seus adeptos, perfeitamente naturais considerando a época passada.
Num ano em que Bas Dost fez 34 golos em 31 jogos e onde Gelson (rei das assistências) se confirmou como um dos maiores talentos portugueses em ascensão, a justiça deste 3.º lugar é incontestável. Até Jorge Jesus, que tanto gosta de massajar o seu ego, este ano acabou por dar o braço a torcer. Assumiu que os outros foram melhores e que todos precisavam de trabalhar mais para tornar o Sporting num candidato ao título. Pode-se considerar 2016/ 17 um ano em que os pés voltaram à terra após uma temporada de 2015/16 de grande futebol que fez sócios e simpatizantes sonhar.
Muita coisa necessita de mudar para que o Sporting volte ao nível em que se apresentou no ano passado. E tudo começa na coesão, firmeza e nível da sua estrutura.
Destaques: Bas Dost, Gelson Martins, Coates, Adrien, Bruno César
VIT. GUIMARÃES (4)
Um clube que correspondeu este ano à dimensão dos seus adeptos. Tivemos dúvidas em relação à posição que atribuiríamos aos rivais minhotos. Equivocámo-nos. O Vitória construiu um plantel à altura do clube e com Pedro Martins - que tanto elogiámos no nossos Prémios BPF - chegou ao tão almejado 4.º lugar. Júlio Mendes reclamou o estatuto de 4.ª maior potência nacional e voltou a afirmar na final do Jamor que é e sempre será o quarto maior de Portugal e que isso se reflecte nos seus adeptos.
Verdade seja dita, o Vitória teve o apoio incondicional dos seus adeptos em todos os jogos. Seja em casa ou fora, para um clube fora dos 3 ditos grandes, o apoio dos sócios e simpatizantes do clube minhoto foi impressionante. E os jogadores corresponderam em campo. Soares e Marega pareciam formar uma dupla mortal para todos os adversários, mas nem mesmo quando o avançado brasileiro assinou pelos dragões os vimaranenses se ressentiram. Hernâni e Hurtado foram também eles exemplares no ataque, tendo o português sido um dos extremos portugueses em melhor forma na 2.ª volta do campeonato. Será uma pena se o Porto não apostar no seu regresso. Bruno Gaspar foi um dos melhores laterais direitos do campeonato, mostrando nível para representar qualquer um dos grandes em Portugal, o que pode nem acontecer, dada a probabilidade de sair para abraçar uma aventura no estrangeiro.Um clube que correspondeu este ano à dimensão dos seus adeptos. Tivemos dúvidas em relação à posição que atribuiríamos aos rivais minhotos. Equivocámo-nos. O Vitória construiu um plantel à altura do clube e com Pedro Martins - que tanto elogiámos no nossos Prémios BPF - chegou ao tão almejado 4.º lugar. Júlio Mendes reclamou o estatuto de 4.ª maior potência nacional e voltou a afirmar na final do Jamor que é e sempre será o quarto maior de Portugal e que isso se reflecte nos seus adeptos.
O futuro parece bem delineado nas palavras de Júlio Mendes. Este Vitória veio para ficar. A questão é com que plantel e com que treinador. O nosso conselho é tentar manter o que for possível manter, a começar por Pedro Martins. O treinador tem a maior parte da responsabilidade pelas boas exibições da equipa e a Direcção deve fazer um esforço para o manter no comando técnico do clube.
Destaques: Marega, Hernâni, Hurtado, Bruno Gaspar, Konan
Uma das grandes desilusões da época. Se em anos anteriores se atribuiu a responsabilidade dos bons resultados a António Salvador, este ano tem que lhe ser apontada a responsabilidade do mau desempenho da equipa. É vergonhoso da parte do presidente bracarense apontar o dedo aos árbitros via conferência de imprensa, quando foi ele próprio a somar tiros nos pés. Claramente uma manobra de atirar areia para os olhos em ano de eleições. Todavia, uma manobra desnecessária. Era mais do que óbvia a sua vitória e só lhe ficava bem admitir os erros e limitar-se a trabalhar para que anos iguais não se repitam no futuro.
A primeira escolha (José Peseiro) não foi feliz, e aquilo que começou torto, não mais se endireitou. Veio Jorge Simão e com a sua personalidade pouco ortodoxa acabou por criar algum mau estar dentro do plantel. Os resultados não sorriam e Jorge Simão - que vinha de peito cheio pelo que havia feito no Chaves - acabou por sair pela porta pequena, somando empates e empates. Para o que restava da época, Abel foi o escolhido (como o havia sido na vitória frente ao Sporting), desta vez com vínculo até 2020.
Em termos exibicionais, Pedro Santos foi o capitão que tudo deixou em campo, evidenciando-se sobretudo no início da época, Rui Fonte cresceu ainda mais como jogador, Battaglia e Assis foram gigantes no meio-campo (o argentino no transporte, o ex-Chaves a encher o miolo) e Marafona evitou o que pôde na baliza.
Veremos como Abel agarra esta oportunidade na próxima temporada, e caberá ao Braga começar a construir o seu plantel de forma mais equilibrada, aproveitando craques como Fábio Martins (brilhou no Chaves) e jovens valores como Xadas ou Pedro Neto. Acreditamos que com Abel o Braga apresentará uma melhoria em termos de resultados, mas não será fácil recuperar o domínio do Minho.
Destaques: Pedro Santos, Rui Fonte, Battaglia, Marafona, Assis
MARÍTIMO (6)
O último sobrevivente insular no nosso campeonato respira saúde e vai à Liga Europa. E deve-o essencialmente a um homem: Daniel Ramos. Estávamos na jornada 5 quando Carlos Pereira deu o murro na mesa e percebeu (cortar cedo o mal pela raíz foi decisivo) que o brasileiro PC Gusmão não servia: o clube da Madeira era o penúltimo classificado, com apenas 3 pontos e 1 golo marcado em cinco partidas. E tudo Daniel Ramos (ex-Santa Clara e Famalicão) mudou.
Entregue ao técnico de 46 anos, o Marítimo veio por ali acima, fazendo do seu estádio um íman de pontos. Nos Barreiros, as duas derrotas da época aconteceram com Gusmão, e no percurso invicto de Daniel Ramos merecem destaque os empates contra Porto (1-1) e Sporting (2-2) e sobretudo a vitória imposta ao campeão nacional (2-1).
A 3.ª melhor defesa do campeonato teve nos centrais Raúl Silva (central goleador, melhor marcador da equipa com 7 golos) e Maurício o seu cerne, apoiados pelo incansável turco Erdem Sen, pelo lateral Patrick Vieira e pelo cada-vez-mais-jogador Fransérgio.
Para a próxima temporada há muito a fazer, mas a prioridade parece ser segurar Daniel Ramos neste projecto - o treinador fez do Marítimo a equipa portuguesa capaz de sair em menos passes e com mais qualidade em transição ofensiva - depois de vários jogadores (Raúl Silva, Fransérgio, Dyego Sousa) já se terem comprometido com o Braga.
Destaques: Erdem Sen, Raúl Silva, Fransérgio, Maurício, Patrick
RIO AVE (7)
Que bem jogou este Rio Ave. A equipa habitualmente "patrocinada" pelo empresário Jorge Mendes e pela sua Gestifute quis praticar um futebol vistoso desde o começo da época, mas com Capucho (saiu na jornada 10, com os vilacondenses em 12.º lugar) havia uma certa inocência, incapaz de conciliar uma ideia de jogo ambiciosa e com grande propensão ofensiva, com resultados.
A segunda vida do Rio Ave nesta edição deu-se com Luís Castro - treinador com um trabalho desenvolvido de qualidade no Porto B - e os miúdos agradeceram. Embora a experiência de Tarantini e Guedes, e a matreirice de Rúben Ribeiro tenham sido determinantes na caminhada, 2016/ 17 serviu para potenciar vários jovens valores: o croata Krovinovic fez justiça ao número 10 nas costas e revelou-se um craque com um perfume ímpar em Portugal, Gil Dias destruiu várias defesas com toda a sua potência, e Rafa Soares aproveitou o empréstimo para se mostrar aos responsáveis do Porto. Deve-se destacar ainda a boa reacção do clube à venda de um activo importantíssimo na primeira volta (Wakaso, vendido ao Lorient) e a valorização de elementos pouco consensuais no futebol português como Roderick e Petrovic.
Numa época em que a vitória por 3-1 sobre o Sporting, curiosamente ainda com Nuno Capucho, terá sido o ponto alto, o Rio Ave ficou a 1 ponto da Liga Europa, podendo no próximo ano ambicionar uma classificação ainda melhor, sempre com um plantel jovem e atrevido.
Destaques: Krovinovic, Gil Dias, Tarantini, Rafa Soares, Rúben Ribeiro
FEIRENSE (8)
A equipa-sensação de 2016/ 17. Quando fizemos a Antevisão desta época, apontámos o Feirense ao último lugar, 10 lugares abaixo daquele que veio a ser o desfecho de uma das páginas mais bonitas da História do clube. Quando previmos o 18.º lugar, o plantel aparentemente fraco e o factor José Mota (curioso que entre os 3 treinadores mais experientes que arrancaram esta edição, Jesus, Manuel Machado e Mota, os dois últimos estiveram num nível medíocre, podendo-se confundir experientes com "ultrapassados") levavam-nos a crer que a época seria difícil, embora reconhecêssemos que a união e o conhecimento mútuo do plantel poderiam até originar alguma surpresa.
Mas nunca algo assim. A par de Marítimo, Rio Ave, Boavista e Estoril, o Feirense soube dizer basta, apostando na pessoa certa. O interino Nuno Manta Santos (38 anos), depois de uma vida dedicada à Formação do clube, agarrou a oportunidade que teve e convenceu tudo e todos, tornando-se treinador principal basicamente a pedido dos jogadores, rendidos à capacidade do homem que transformou o patinho feio no cisne da I Liga. O empate no Dragão (1-1) para a Taça da Liga acabou por ser o ponto de viragem de uma época em que se fez História.
É simplesmente incrível constatar que desde que entrámos em 2017 só os 3 grandes somaram mais pontos do que a equipa de Santa Maria da Feira. O trabalho de Nuno Manta (mais tarde ou mais cedo, acabará num clube de outra toada) fica também taxativo quando se verifica a recta final do Feirense: 4 vitórias e 1 empate nas últimas 5 jornadas, empatando no Dragão, vencendo o Sporting e derrotando o Vit. Guimarães na cidade-berço. Neste percurso de heróis, o guarda-redes Vaná acumulou defesas impossíveis e reflexos felinos, valorizando-se o colectivo - Vítor Bruno, Luís Machado, Tiago Silva, Flávio Ramos, Ícaro e Etebo cresceram todos com Manta.
Destaques: Vaná, Karamanos, Vítor Bruno, Etebo, Tiago Silva
Destaques: Iuri Medeiros, Edu Machado, Lucas, Renato Santos, Talocha
BOAVISTA (9)
A pouco e pouco, o velho Boavista está a voltar. Os axadrezados, sem que Erwin Sánchez estivesse propriamente a fazer um mau trabalho, também trocaram de treinador a meio da época, e de facto Miguel Leal representou um casamento perfeito, parecendo hoje o clube bem entregue, estável e com margem para regressar devagarinho ao patamar de outros tempos.
O clube do Bessa formou, juntamente com Porto e Vit. Setúbal, o trio de equipas às quais o campeão Benfica não conseguiu ganhar (ai aquele 3-3 na Luz) tanto na primeira como na segunda volta. Para tal, muito contribuiu o sempre inspirado Iuri Medeiros (7 golos e 8 assistências), a mostrar que é simplesmente criminoso se o Sporting não contar com ele na próxima época. Depois de Arouca e Moreirense, foi a vez do Boavista beneficiar do virtuosismo do extremo-direito.
A regularidade exibicional de uma defesa que sofreu tantos golos (36) como Sporting e Braga, teve por base um gigante chamado Lucas, e vários elementos em bom plano - Edu Machado e Tiago Mesquita alternaram na direita, e Talocha impediu os adeptos de sentirem saudades de Afonso Figueiredo. Renato Santos e Fábio Espinho foram igualmente importantes numa equipa muito combativa, bem orientada e à qual faltou apenas um avançado goleador.
ESTORIL (10)
Os mais distraídos pensarão que a época do Estoril foi tranquila e sem pressão. Normalmente, é assim a época de um 10.º classificado. Mas não. À passagem da jornada 28 o Estoril era 15.º e tinha apenas mais 5 pontos do que a primeira equipa posicionada para descer. Como vêem, nem tudo foram rosas.
Globalmente, pode-se dizer que o Estoril (uma das equipas que teve 3 treinadores ao longo de 2016/ 17) errou, mas corrigiu o seu erro atempadamente. O clube da Linha iniciou trabalhos com Fabiano Soares (o bom trabalho da época transacta tinha originado uma renovação até 2020), mas rescindiu com o técnico brasileiro quando o clube, na jornada 13, estava em 11.º. O sucessor, o espanhol Pedro Carmona, revelou-se um verdadeiro fracasso (em 11 jornadas, ganhou uma, empatou duas e perdeu 8), deixando o clube em maus lençóis.
E foi nesse contexto que surgiu Pedro Emanuel. O antigo treinador do Arouca e da Académica acabou por ser feliz na Amoreira, colocando vários jogadores (muito talento brasileiro) a renderem finalmente o esperado - de repente, um plantel frágil até passou a ter um banco com soluções de qualidade.
Depois de em 2015/ 16 os adeptos terem assistido ao crescimento de um bom ponta-de-lança, Léo Bonatini, o regressado Kléber até acabou como melhor marcador da equipa, mas Paulo Henrique, outro reforço de peso, foi um verdadeiro flop. Mattheus (entretanto contratado pelo Sporting) voltou a mostrar toda a sua classe e visão de jogo, e de resto a recta final serviu para valorizar Carlinhos, Allano ou Bruno Gomes, sempre apoiados por Diogo Amado e Eduardo, e por Ailton, um lateral com muito futebol.
Destaques: Kléber, Mattheus, Ailton, Bruno Gomes, Diogo Amado
DESP. CHAVES (11)
Em Chaves, é uma sorte o clube não ter visto o seu emblema ou o seu estádio contratados pelo Braga. Agora mais a sério, um dos clubes recém-promovidos ao primeiro escalão, apoiado por uma estrutura que pensa o futuro do seu futebol como deve ser, tendo dinheiro para investir, tinha tudo para ser a equipa-sensação desta edição. E sê-lo-ia muito provavelmente se o Feirense não desse uma oportunidade a Nuno Manta.
A época do Chaves começou com Jorge Simão, e terminou com Ricardo Soares (técnico do Aves na próxima época), falando-se insistentemente de Luís Castro como hipótese para assumir o clube de Vila Real em 2017/ 18. No decorrer da época, o Braga assaltou Chaves sem parar: primeiro foi o treinador Jorge Simão, e depois Battaglia, Paulinho e Assis.
O ex-Vizela Ricardo Soares - quanto a nós um treinador mais interessante do que Jorge Simão - foi uma aposta arriscada, mas ganha. É impossível mencionar a época do Chaves sem referir o percurso na Taça - eliminaram o Porto, eliminaram o Sporting, e só caíram nas meias-finais perante o Vit. Guimarães, com Douglas a defender uma grande penalidade, que faria toda a diferença, ao cair do pano.
Embora contando com algumas desilusões (Vukcevic, Luís Alberto e Felipe Lopes), o Chaves serviu de rampa não só para os jogadores que se transferiram para Braga como também para o central Freire. Fábio Martins (o Braga que aproveite e estime este talento) foi o craque de serviço, com vários golos de belo efeito, Nélson Lenho e Braga as vozes de comando e ícones de consistência, brilhando ainda jogadores como Perdigão, Ponck e Renan Bressan.
Destaques: Fábio Martins, Nélson Lenho, Braga, Ponck, Perdigão
VIT. SETÚBAL (12)
Quase todos os anos há um papa-grandes, aquilo a que na Taça se chama um tomba-gigantes. Nesta edição, a maior dor de cabeça para os 3 grandes foi o Vitória de Setúbal de José Couceiro (o único treinador que cumpriu toda a época, fora os técnicos do Top-4 final). Contra o Benfica? 1-1 na Luz, vitória por 2-0 em casa. Contra o Porto? 0-0 em Setúbal, 1-1 no Dragão. E mesmo o Sporting, vitorioso nos dois jogos do campeonato com os sadinos, foi derrotado na fase de grupos da Taça da Liga.
Com um plantel com um orçamento curtinho, o Vit. Setúbal foi sempre uma equipa consciente das suas fraquezas e forças, acabando muitas vezes por promover maus espectáculos, ao quase abdicar de atacar. O elenco, muito português diga-se, teve no guarda-redes Bruno Varela um dos principais destaques, em Mikel Agu o seu tanque de serviço, sem esquecer a temporada de João Amaral (um daqueles jogadores que cresce de época para época), Costinha e Frederico Venâncio.
Edinho marcou uns golinhos, e embora em Agosto passado acreditássemos que esta época seria de explosão para Nuno Santos (não foi), acabou por ser outro jogador emprestado pelos encarnados, João Carvalho, a marcar um dos golos mais importantes deste campeonato.
Destaques: Bruno Varela, Mikel, João Amaral, Costinha, Frederico Venâncio
PAÇOS FERREIRA (13)
Depois do 7.º lugar de 2015/ 16 com Jorge Simão, e do 8.º lugar de 2014/ 15 com Paulo Fonseca, esta época soube a pouco. Na Mata Real, começou Carlos Pinto e acabou Vasco Seabra (33 anos). Nenhum foi péssimo, mas nenhum foi óptimo.
O jovem plantel da equipa da Capital do Móvel tinha obrigação de produzir mais em campo, com vários talentos (Ivo Rodrigues, Gleison e Leandro Silva) a ficarem bastante aquém do esperado.
É certo que muito do que o Paços versão 15/ 16 fez se deveu ao talento individual de Diogo Jota, um dos jogadores que abandonou o clube juntamente com Hélder Lopes, Fábio Cardoso, Bruno Moreira e Pelé, mas havia, ainda assim, matéria-prima para que o clube convencesse os adeptos, e terminasse com algo mais do que apenas 4 pontos de distância para o 17.º classificado e despromovido Arouca.
Bastante evidente a brutal importância de 2 elementos, que praticamente sozinhos carregaram a equipa: Welthon, um super-avançado que não nos surpreenderá se rumar a um dos 3 grandes e que aos 24 anos marcou 11 golos, mostrou saber marcar livres directos, e exibiu um impressionante poderio físico, e Pedrinho, o pequeno criativo da equipa que fez o suficiente para dar o salto para um dos clubes do Minho.
Destaques: Welthon, Pedrinho, Andrézinho, Marco Baixinho
BELENENSES (14)
Julio Velázquez, Quim Machado, Domingos Paciência. Sem grande surpresa, o Belenenses voltou a cair - do 6.º lugar conseguido a meias entre Lito Vidigal e Jorge Simão passou para 9.º na época passada, e desta feita termina uns lugares abaixo.
Sempre com muitos jogadores portugueses no seu plantel, a equipa sofreu ao estar nas mãos dos clubes que emprestam os seus jovens à equipa do Restelo. No arranque da época a baliza parecia estar muitíssimo bem entregue a André Moreira, mas o Atlético nem o deixou chegar a calçar as luvas, depois foi Joel Pereira a abandonar o clube no decurso da época por necessidade do Manchester United de José Mourinho. E a estes dois casos pode-se ainda acrescentar o de João Palhinha, um dos destaques da equipa na primeira volta, entretanto repescado pelo Sporting.
Refém da sua situação, o Belenenses acabou por demorar forçosamente mais a edificar o seu onze-base, faltando sempre alguma estabilidade. Na defesa, Domingos Duarte e Florent estiveram bem, André Sousa acabou por chamar mais à atenção do que nomes como Yebda e Rosell, e na frente Maurides (6 golos em 12 jogos) contribuiu.
As oscilações do Belenenses são uma boa demonstração de quão perigoso é depositar uma fatia significativa do destino em jogadores emprestados; e, aqui entre nós, havia melhores opções do que Domingos Paciência.
Destaques: João Palhinha, Domingos Duarte, Florent, André Sousa
MOREIRENSE (15)
Uma temporada inesquecível em Moreira de Cónegos. Os vencedores da Taça da Liga (chocante vitórias nas meias por 3-1 diante do Benfica, e um penalty de Cauê a derrotar o Braga numa final chata) viram o homem da taça, Augusto Inácio, ser demitido com alguma ingratidão por parte da Direcção, e o seu substituto, Petit, acabou por conseguir pela segunda época consecutiva salvar uma equipa na última jornada.
Curiosidade: Petit começou no Tondela, que acabou salvo na última jornada com Pepa como treinador. E Pepa foi o antecessor de Augusto Inácio, terminando a época no banco inicialmente entregue à equipa técnica de Petit. Vidas cruzadas, que bonito.
Honestamente, manutenção alcançada e Taça da Liga conquistada representam uma época no seu todo bastante positiva, mas em que os adeptos só puderam respirar fundo quando Boateng e companhia derrotaram o Porto por 3-1 nos últimos 90 minutos da época. E a segunda volta poderia ter sido bastante mais serena se o Sporting não "precisasse" de Podence e Geraldes (os craques da equipa na primeira volta). Ao pequeno Podence e a Geraldes, um predestinado que Jesus ignorou, juntaram-se Cauê (o farol da equipa), Boateng (muita atenção a este rapaz), Rebocho e Sagna como jogadores mais marcantes.
Má notícia: Manuel Machado já foi anunciado como treinador na próxima época. É verdade que há um passado de MM em Moreira de Cónegos, no início do milénio, mas é também verdade que treinou as duas equipas que desceram esta época - Nacional e Arouca.
Destaques: Cauê, Boateng, Francisco Geraldes, Podence
TONDELA (16)
Não deve ser nada fácil ser adepto do Tondela... Depois de uma recuperação extraordinária, capaz de garantir a manutenção na época passada após um acordar tardio com Petit, 2016/ 17 foi quase uma fotocópia, imprópria para cardíacos.
Na nossa Antevisão prevíamos que o Tondela voltasse a escapar à descida de forma tangencial, muito graças à capacidade de Petit em dotar as suas equipas daquilo que ele era como jogador - alma de guerreiro, coração, combatividade e resiliência. O Tondela acabou mesmo por sobreviver nos limites, e Petit também, mas em clubes distintos.
Desta vez o milagreiro foi Pepa. Cinco vitórias nas últimas 6 jornadas valeram uma saborosa manutenção - depois de tantas jornadas nas masmorras do último lugar - garantida pelas luvas de Cláudio Ramos (nenhum guarda-redes fez tantas defesas como ele), pelo talento individual e capacidade em 1 para 1 de Murillo, e por outro jovem emprestado pelo Benfica, Pedro Nuno, que carregou a equipa na fase final da época, um pouco como Pica há um ano atrás. Por agora, deixemos os adeptos respirar fundo, e logo se vê o que acontecerá para o ano.
Destaques: Cláudio Ramos, Murillo, Pedro Nuno, Wagner
AROUCA (17)
Queda a pique. Depois de ser a Equipa-Sensação de 2015/ 16, com Lito Vidigal (técnico subvalorizado) a conduzir a equipa ao 5.º lugar, eis que o Arouca desce de divisão.
Como é que isto aconteceu? Bem, a equipa que em 2007 tinha Jorge Gabriel como treinador, até passou a ter um plantel com maior profundidade, preparado para uma eventual presença na fase de grupos da Liga Europa, que não se veio a verificar. Anderson Luís, André Santos, Crivellaro e Kuca foram alguns dos reforços, juntando-se a estes Jorge Intima - o rapaz de 21 anos brilhou tanto (5 golos em 10 jogos) que acabou por rumar ao Saint-Étienne, sofrendo o Arouca com a sua perda.
Neste absoluto falhanço, houve 3 treinadores envolvidos: Lito Vidigal abandonou a equipa, deixando-a em 10.º, para ir treinar em Israel, Manuel Machado perdeu os 5 jogos em que orientou a equipa, e Jorge Leitão não foi capaz de colocar a equipa no caminho certo.
Até bem perto do fim, a descida do Arouca era um cenário que poucos colocavam como possível - o problema é que se calhar também os jogadores, equipa técnica e responsáveis partilharam esse sentimento, "deixando andar" e acreditando que a luta pela manutenção era problema de outros. Quando parecia que entre Tondela e Moreirense, um deles faria companhia ao Nacional, quem desceu foi... o Arouca.
Destaques: Jorge Intima, Kuca, Crivellaro
NACIONAL (18)
Sejamos pragmáticos: com o Nacional a descer, é da maneira que menos equipas terão jogos adiados e problemas com nevoeiro.
Manuel Machado, Jokanovic e João de Deus. O Nacional esmerou-se para ter os piores treinadores da época e a consequência foi o último lugar, vendo ao mesmo tempo o Marítimo a solidificar a sua presença na Liga NOS.
Pior defesa (58 golos sofridos), pior ataque (22 golos marcados, que miséria), menor número de vitórias (4), maior número de derrotas (21). O plantel não fazia prever tal hecatombe, mas tirando os laterais Victor García e Sequeira, o velocista Salvador Agra e pontualmente Hamzaoui e Washington, a equipa nunca correspondeu às expectativas, nem cumpriu os mínimos, acabando por revelar muito menos querer do que Tondela e Moreirense, que lutaram até ao fim.
Destaques: Salvador Agra, Víctor García, Sequeira